Luta por Democracia, Verba e Direitos “Sacode” 69ª Reunião Anual da SBPC
Olá leitor!
Segue abaixo uma interessante matéria publicada na edição
de Julho do ”Jornal do SindCT“, destacando que Luta por Democracia,
Verba e Direitos “Sacodiu” a 69ª Reunião Anual da SBPC.
Duda Falcão
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Luta por Democracia, Verba e Direitos
“Sacode” 69ª
Reunião Anual da SBPC
Ministro Gilberto Kassab não deu as caras
Pedro Biondi*
Jornal do SindCT
Edição nº 59
Julho de 2017
Reivindicações aprovadas incluem eleições diretas, volta
do MCTI (separado das Comunicações) e a revogação da “PEC da Morte”. O
deslocamento forçado dos quilombolas de Alcântara (MA) foi repudiado na
plenária. Novo presidente da SBPC pediu “esperança e luta”. A luta pela
restauração da democracia e das condições para a pesquisa no Brasil foi o mote
extraoficial da 69ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira pelo Progresso da
Ciência (SBPC), em Belo Horizonte, de 16 a 22 de julho.
Da abertura ao encerramento, passando por conferências e
debates e, ainda, pelos eventos auto-organizados, o posicionamento contra os
ataques à Constituição, a menor verba em 12 anos, a retirada de direitos e a
defesa dos povos tradicionais alinhou falas de pesquisadores e pesquisadoras,
professores e professoras, estudantes e sindicalistas.
O apoio às “Diretas Já” é o teor de uma das 13 moções
aprovadas pelas e pelos participantes da assembleia-geral da entidade, que
também votaram a favor da revogação da Emenda Constitucional 95 (“PEC da
Morte”), que congela os gastos e investimentos públicos até 2036. Outra
manifestação referendada foi pela volta do Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação (MCTI, separado de Comunicações), com a recomposição de seu orçamento.
Mas o ministro Gilberto Kassab não pôs os pés no campus da Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG): foi a primeira edição sem a presença do titular da área
desde 2008. Outro que não apareceu foi o governador Fernando Pimentel (PT).
Sócias e sócios da SBPC aprovaram moções de repúdio ao
deslocamento compulsório de comunidades quilombolas de Alcântara (MA); de apoio
à preservação da Universidade da Integração Latino-Americana (Unila); de
destinação de dinheiro da corrupção para a ciência; e de criação de grupo de
trabalho (GT) contra portaria publicada em 13 de julho pelo Ministério da
Justiça que visa “formular propostas, medidas e estratégias que visem a
organização social das comunidades indígenas e quilombolas”.
“Esperança e luta”
A avaliação do momento político também esteve no centro
da fala de posse do novo presidente da entidade, Ildeu de Castro Moreira. O
físico enfatizou a gravidade da situação e a necessidade de esperança e luta em
torno da educação e da ciência. Pediu mobilização e união “para que a gente
possa tecer uma manhã mais democrática, menos desigual e na qual a ciência, a
tecnologia e a educação possam contribuir ainda mais para o desenvolvimento
econômico e social do país”.
Autora da moção pela realização imediata de eleições para
a Presidência da República, a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG)
organizou ato com essa bandeira na tarde antes da votação. “Vivemos um momento
crítico”, disse ao Jornal do SindCT a presidente da entidade, Tamara Naiz. “Os
dois últimos anos foram terríveis para o Brasil e a ciência, como se fosse uma
desconstrução do nosso futuro. Então, achamos que a comunidade científica
precisa se manifestar, e do lado do povo.”
Se o enfrentamento, ou no mínimo questionamento, do
governo Temer e de seu “desmonte programático” apareceu praticamente como
consenso, o mesmo não se dá quando o assunto é a interação entre instituições
científicas e o capital privado. Enquanto algumas entidades da comunidade
científica louvaram em coro o novo Marco Legal de Ciência e Tecnologia (lei
13.243/16) durante uma mesa-redonda, a crítica duríssima a esse mesmo Marco
Legal foi um dos eixos do seminário autodeclarado “SBPC Paralela”.
O debate oficial convergiu na identificação de um
contexto desfavorável à prática de pesquisa e desenvolvimento, composto por
burocratização, judicialização e taxas de juros que deixam a compra de títulos
da dívida do governo mais rentável do que investimentos. As exposições
apontaram os ministérios da Fazenda e do Planejamento como barreiras aos
avanços.
Contra tal cenário, o Marco Legal foi descrito como uma
“luz no fim do túnel”, uma “revolução” capaz de alavancar a economia. “Nós
acreditamos que a interação universidade-empresa, ou público-privada,
principalmente em se tratando do capital humano ou das infraestruturas, vem em
benefício da sociedade”, disse a presidente da Associação Nacional dos
Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), que
participou da sistematização da proposta de regulamentação.
Diante das perguntas sobre o ato regulatório, ainda não
publicado um ano e meio após a entrada em vigor da lei 13.243/16, o presidente
do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Mario
Neto Borges, afirmou que três pontos estão emperrando a publicação do decreto:
a abertura para a mudança de rubricas, que facilitaria o remanejamento de
recursos; a prestação simplificada de contas, em que projetos que atingiram os
objetivos ficariam sujeitos a fiscalização apenas por amostragem; e a retirada
das parcerias entre as fundações de apoio à pesquisa (FAPs) e as agências
federais do Sistema de Convênios (Siconv). “Sem essas três questões
resolvi-das, é melhor nem assinar”, defendeu.
Em direção oposta, o Marco Legal foi pesadamente
criticado em seminário do Sindicato Nacional dos Docentes nas Instituições de
Ensino Superior (Andes-SN) e do Movimento pela Ciência e Tecnologia Pública. O
evento lançou cartilha sobre os riscos e impactos das novas regras nas
universidades. “Ela institucionalizou uma prática que já existia, de
compartilhamento das estruturas físicas com a iniciativa privada.
E alargou isso, ao permitir o compartilhamento de pessoal
— pesquisadores, professores, técnicos — e do ‘capital intelectual’, do
patrimônio cultural acumulado nessas instituições”, denunciou o professor
Epitácio Macário, dirigente nacional do Andes-SN responsável pela área de
C&T. Macário questiona o próprio conceito de inovação, central na proposta
aprovada. “Ele nasce num momento de crise estrutural, em que o desenvolvimento
das forças produtivas bate no teto de lucratividade do capital. Não compensa
mais o investimento em descobertas, e sim arranjar o que já está produzido, dar
um modelo diferente, uma atitude diferente”, explica.
O SindCT é outra entidade que se opõe firmemente à lei
13.243, por considerar que ela atende aos desejos dos lobbies pró-privatização
do setor de C&T. O sindicato participou de carta que pedia à presidente
Dilma o veto integral do então PLC 77/2015, em função do entendimento de que
representaria “um grave retrocesso que poderá gerar efeitos avassaladores para
a pesquisa pública brasileira”. “Do começo ao fim, a lei mistura público e
privado”, sintetiza o documento.
LIGO e Cemaden
Diversas ações ligadas ao Programa Espacial Brasileiro
foram apresentadas ao público em palestras e na ExpoT&C, mostra das
instituições científico-tecnológicas. O pesquisador Odylio Aguiar, do INPE, por
exemplo, viu sua explanação sobre astronomia de ondas gravitacionais lotar uma
sala de 70 lugares. Ele abordou a colaboração LIGO, que opera dois
interferômetros nos Estados Unidos por meio dos quais, em setembro de 2015,
cientistas captaram a chegada à Terra de ondulações no tecido do espaço- -tempo
— as ondas gravitacionais — de um evento cataclísmico distante. “Foram três detecções
até aqui. Elas nos indicam que os buracos negros existem, que podem formar
pares e se chocar e fundir num tempo menor que a idade do universo”, explica
Aguiar.
Tais observações estão confirmando previsões da teoria da
relatividade de Einstein e preenchendo lacunas na compreensão do cosmos. Bem
mais modesto que os aparelhos situados nos EUA, o Detectômetro Mário Schenberg,
antes instalado no campus da Universidade de São Paulo (USP), agora funcionará
em São José dos Campos, no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
No estande do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas
de Desastres Naturais (Cemaden), era possível conferir as telas da plataforma
Salvar, que reúne os mapeamentos das áreas de risco hidrológico e de
deslizamentos, e dados de pluviômetros, entre outros. O operador de
meteorologia José Felipe Farias destaca a possibilidade de conscientização da
sociedade.
“Dá para ver que o interesse e o conhecimento das pessoas
sobre esses desastres aumentaram”, comenta. “Sabemos que não vamos conseguir
evitar as forças da natureza, mas, atuando com a sociedade e a defesa civil,
conseguimos antecipar muito a ocorrência desses eventos e reduzir seus
impactos.”
AEB e ITA
Na área da Agência Espacial Brasileira (AEB), cartelas de
recortar e colar permitiam às crianças montar satélites e sondas. Alunos de
mestrado e pós-doutorado do INPE ensinavam a confecção de cubesats, como são
mais conhecidos os micro e nanossatélites. Visitando a ExpoT&C pela
primeira vez, a médica Camila Romano descreveu o conjunto como “fantástico”.
“Os meninos ficaram fascinados”, diz, sobre Eduardo, de
16 anos, e Gabriel, de 9. “O fundamental é fomentar esse interesse.” O STEM2D,
que incentiva o ingresso feminino no Instituto Tecnológico de Aeronáutica
(ITA), foi uma das iniciativas expostas no estande do braço de ensino superior
da Aeronáutica. No projeto, universitárias palestram sobre a área de Exatas para
alunas do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e trabalham habilidades como
liderança e comunicação.
Há, ainda, uma espécie de bolsa para as graduandas do
instituto realizarem um projeto técnico. “No ano passado, o primeiro, tínhamos
de 60 a 100 meninas do ensino fundamental participando das oficinas. Em 2017,
foram 240 no primeiro semestre, e esperamos chegar a 300 no segundo”, conta a
tenente Raquel Caratti Piani, que coordena a iniciativa ao lado de cinco
professoras da Engenharia do ITA. O projeto está presente em mais nove
instituições, todas do Hemisfério Norte, e é idealizado e financiado pela
multinacional Johnson & Johnson.
Amazônia em Pauta
O Observatório de Torre Alta da Amazônia (ATTO, na sigla
em inglês) foi assunto de mesa-redonda. Dotado de uma estrutura um metro mais
alta que a torre Eiffel, o projeto monitora, no Amazonas, os impactos das
mudanças globais na floresta ao medir as interações com a atmosfera. Trata-se
de parceria entre Brasil e Alemanha, com investimento inicial de R$ 26 milhões.
A física Luciana Rizzo explicou a importância de
pesquisar o assunto na região: “A atmosfera é bastante peculiar na Amazônia
porque ainda guarda características semelhantes àquela da era pré-industrial na
zona continental. Numa atmosfera bastante limpa, a gente encontra poucas fontes
antrópicas [causadas pela interferência do homem] de emissões de poluentes”.
Luciana apresentou os primeiros resultados científicos da
iniciativa. Um deles foi a descrição de um novo mecanismo de produção de
partículas pelo ecossistema. “A gente não entendia por que não acontecia
nucleação de partículas naturais lá. Descobrimos que são formadas na região de
saída das nuvens convectivas, no alto da troposfera, e trazidas para baixo
sempre que ocorre uma chuva de uma nuvem convectiva”, explica a pesquisadora.
Ela cita a publicação em revistas como a Science e a Nature como evidência do
impacto de descobertas como essa.
*Jornalista, especial para o Jornal do SindCT.
Diretor da AEB Defende Nova Lógica
Para Produção de Satélites no INPE
O diretor de Satélites e Desenvolvimento da Agência
Espacial Brasileira (AEB), Carlos Gurgel, defendeu na 69ª SBPC que o INPE
priorize pequenos satélites, no lugar de produtos como os atuais CBERS e
Amazônia. “Os pequenos artefatos estão fazendo tão bem ou melhor aquilo que os
grandes faziam”, pondera. “Esse mundo da miniaturização precisa ser
considerado. Você pode trabalhar com constelações, em que várias unidades
trabalham com funções complementares.
No sensoriamento remoto, por exemplo, não só a resolução
das imagens é importante, mas também o tempo de revisita.” De acordo com o
palestrante, isso abre um novo mercado, porque exige planos orbitais definidos,
o que não seria viável por meio da tradicional “carona”, em que um lançamento
estratégico é aproveitado para também colocar no espaço equipamentos menores.
Nesse sentido, diz, a oportunidade se estende ao Veículo Lançador de
Microssatélites (VLM), foguete que vem substituindo o Veículo Lançador de
Satélites (VLS) como prioridade da Aeronáutica.
Em sua conferência, Gurgel falou sobre o Globe,
iniciativa internacional da agência espacial norte-americana, a NASA, que
envolve hoje uma centena de escolas brasileiras. O programa promove a
participação na coleta de dados ambientais e na compreensão das dinâmicas
ecológicas. Gurgel conta que houve, no governo, resistência a inserir dados
desse tipo numa base da NASA, mas a atual gestão da AEB entendeu não existir
problema, o que estaria demonstrado na adesão de mais de 110 países. “É uma
colaboração mais educacional”, pontua. (PB)
Fonte: Jornal do SindCT - Edição 56ª – Julho de 2017
Comentário: Bom leitor, a não presença do Ministro Kassab nesta reunião da SBPC eu creio que não seja necessário fazer qualquer comentário, afinal a atitude dele já fala por si só. Assim eu vou aqui me limitar a dois
pontos desta matéria que me incomodaram bastante, e ambos tendo como origem o diretor
de Satélites e Desenvolvimento da nossa Agência Espacial Brinquedo (AEB), o Dr.
Carlos Gurgel. Primeiramente quando o mesmo defendeu que o INPE priorize
pequenos satélites, no lugar de produtos como os atuais CBERS e Amazônia. Em
parte essa visão do diretor da AEB deve ter muito haver com o projeto do VLM-1,
bem como uma tendência mundial de crescimento do uso deste tipo de satélites,
porém abandonar (no Brasil é isto que significa ‘priorizar’, principalmente no
PEB devido ao baixo orçamento) projetos de satélites de maior ponte não é o
caminho e ninguém esta fazendo isto ainda, até porque nem em todas as
aplicações espaciais podem ser utilizados esses pequenos satélites com a mesma eficiência.
Já a segunda questão é a visão curta de que pelo fato de 110 países do mundo
terem aderido o Programa Globe da NASA não haveria problema algum do Brasil
fazer o mesmo. Ora leitor, quer dizer então que se 110 pessoas resolverem pular
pela janela você irá também fazer o mesmo? Não tenho informações amplas sobre os
tipos de dados que estão sendo coletados e repassados a NASA, mas de uma coisa
eu tenho certeza, toda ação da NASA é conduzida com responsabilidade e visão
estratégica. Programa espacial leitor é coisa muito séria, envolve várias áreas
de interesse de qualquer nação que não quer ser coadjuvante inclusive a de
Defesa estratégica, e os EUA sabem muito bem conduzir os seus interesses,
inclusive diante de gente tão inocente ou conivente, sabe-se lá por qual razão.
Estamos ferrados.
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