[Artigo] NASA Vs. Elon Musk: Um Pouso na Lua Nesta Década Está Fora de Questão?
Caros amantes das atividades espaciais!
No dia 25/10, o portal IFLScience publicou um artigo do Dr. Alfredo Carpineti analisando a crescente incerteza em torno da Missão Lunar Tripulada Artemis III, que corre sério risco de ser adiada para além de 2027. O motivo? Os sucessivos atrasos da SpaceX no desenvolvimento da versão lunar de seu trambolho espacial Starship — uma nave que, até onde se sabe, ainda não passou de um projeto de PowerPoint.
Pois bem, minha saudosa mãe costumava dizer: “Santo de casa não faz milagre”, sempre que eu teimava em não seguir uma de suas previsões certeiras. Quando a NASA anunciou mundialmente, com pompa, que havia escolhido esse “trambolho espacial” da SpaceX para o Programa Artemis, este que vos fala foi talvez um dos poucos a se posicionar publicamente contra essa decisão — e por isso, claro, virei alvo de chacota de amigos e desafetos. Mas, como sempre acreditei, o tempo é o melhor juiz.
Hoje, a esperança da NASA para evitar que os americanos percam a nova corrida lunar para os chineses atende pelo nome de Módulo de Pouso Tripulado Mark II, em desenvolvimento pela Blue Origin, empresa de Jeff Bezos. Comicamente, a Blue Origin precisou lutar na justiça para ter seu projeto aprovado — um início nada auspicioso, considerando que a empresa não é exatamente conhecida pela rapidez no desenvolvimento de seus programas. E a verdade é que pouco se sabe sobre o andamento do projeto, que já nasceu atrasado devido à disputa judicial com a própria NASA (que, se não me falha a memória, durou cerca de dois anos).
E agora, NASA, o que fazer às vésperas do voo da Missão Artemis II? No momento (até onde eu sei), todas as esperanças estão depositadas no sucesso do Módulo Robótico Mark I, também da Blue Origin, que deverá ser lançado à Lua ainda este ano — ou, no mais tardar, no início do próximo. Essa missão levará diversos equipamentos à superfície lunar, mas seu principal objetivo será testar o sistema de pouso automático desenvolvido pela empresa, que será utilizado tanto no Mark I quanto no futuro Mark II. O sucesso dessa missão é fundamental para o avanço do projeto tripulado, mas o silêncio da Blue Origin sobre o estágio atual de desenvolvimento do Mark II causa preocupação.
A apreensão aumentou ainda mais após o recente anúncio do administrador da NASA, Sean Duffy (reveja aqui), de que, devido aos atrasos da SpaceX, a agência abrirá novas propostas para missões lunares. Precisa dizer mais alguma coisa?
Amigos e amigas, os russos, pioneiros da exploração espacial, sempre se destacaram por “fazer o difícil pelo caminho mais simples possível” — o oposto do que a NASA fez neste caso, ao apostar em um projeto digno do Universo de Flash Gordon. É inconcebível que uma agência com tamanha experiência em voos tripulados tenha caído nessa armadilha arquitetada por um megalomaníaco, e agora talvez pague um alto preço por isso. Certamente, uma eventual derrota para os chineses não será bem recebida pela sociedade americana — e, como se diz por lá, heads will roll (cabeças vão rolar).
Quanto à Missão Artemis III, que neste momento depende unicamente de um módulo de pouso tripulado para ser viabilizada em 2027, tudo indica que será adiada — a menos que a Blue Origin opere um verdadeiro milagre e consiga concluir, testar e qualificar o Mark II antes de colocar astronautas a bordo. E, convenhamos, isso parece bastante improvável neste momento.
Vale lembrar que o prazo final (se não houver surpresas) não pode nem chegar à 2030, já que a China pretende realizar sua própria missão lunar tripulada até essa data. O tempo está se esgotando — e rapidamente.
NASA vs. Elon Musk: Um pouso na Lua nesta década está fora de questão?
Atrasos, explosões e dramas estão empurrando o próximo pouso lunar cada vez mais para o futuro.
Crédito da imagem: NASA/Alexandra Lipina/Joshua Sukoff/Frederic Legrand - COMEO/Shutterstock.com; modificado por IFLScience
Por Dr. Alfredo Carpineti
25/10/2025
Fonte: IFLScience
O Artemis III, da NASA, pretende levar a humanidade de volta à Lua em meados de 2027. A espaçonave Orion, lançada pelo Space Launch System (SLS), se encontrará com a Starship, da SpaceX, em órbita lunar. Dois astronautas embarcarão na Starship e descerão até a superfície da Lua. Pelo menos, esse é o plano — mas é altamente duvidoso que esse cenário realmente aconteça, em meio a uma briga pública entre o CEO da SpaceX, Elon Musk, e o administrador interino da NASA, secretário de transportes e ex-apresentador da Fox News, Sean Duffy.
Repete-se como um mantra que o espaço é difícil — e é ainda mais difícil fazê-lo com o nível de segurança que esperamos da NASA hoje. Artemis não é o Apollo; o objetivo é voltar à Lua para ficar, e isso exige muito mais esforço. Esses requisitos, somados à importância da missão, já levaram a vários atrasos.
O pouso lunar estava inicialmente previsto para 2024, depois para este ano, e em seguida foi adiado para o próximo. No final de 2024, uma nova data foi definida para meados de 2027, mas uma análise publicada há mais de um ano pelo Escritório de Responsabilidade Governamental (GAO) sugeriu que a missão provavelmente seria adiada para 2028.
Uma razão crucial para o atraso tem sido a problemática Starship da SpaceX. Houve várias explosões do veículo nos últimos testes e, embora o mais recente tenha sido bem-sucedido, o programa ainda está atrasado. Segundo o plano original, a nave já deveria ter demonstrado capacidade de pouso seguro e reabastecimento em órbita.
“A transferência criogênica de propelente em larga escala, de Starship para Starship, é uma capacidade crítica necessária para o sistema de pouso humano da missão Artemis III e Artemis IV”, disse um porta-voz da NASA ao IFLScience no ano passado. A SpaceX não respondeu.
“O teste de transferência de propelente faz parte de uma série de testes, juntamente com revisões detalhadas de design, que fornecerão à NASA dados e evidências para certificar o módulo de pouso. Após a demonstração de transferência, a NASA revisará os resultados e certificará os sistemas antes das missões tripuladas, garantindo a segurança dos astronautas e o sucesso da missão.”
Em meio a esses atrasos, Duffy foi à TV anunciar que a NASA está buscando novos parceiros para o Artemis III, numa crítica direta à lentidão da SpaceX.
“[A SpaceX e Musk] adiam seus cronogramas, e estamos em uma corrida contra a China”, disse Duffy ao programa Squawk Box, da CNBC, nesta semana. “Então, vou reabrir o contrato. Vou permitir que outras empresas espaciais concorram com a SpaceX.”
Até o verão, Elon Musk fazia parte da administração Trump, e seu departamento supervisionava o orçamento proposto pelo governo que devastaria vários programas científicos da NASA. O orçamento previa um aumento temporário de financiamento para voos tripulados, mas deixava claro que o Space Launch System e a Orion seriam cancelados futuramente. Isso forçaria a NASA a depender exclusivamente de empresas privadas para chegar à Lua e depois a Marte — e, no momento, nenhuma empresa tem essa capacidade.
Após a entrevista, Musk lançou insultos infantis contra Duffy (chamando-o de “Sean Dummy”) e disse:“A pessoa responsável pelo programa espacial americano não pode ter um QI de dois dígitos.” Duffy retrucou que “grandes empresas não deveriam ter medo de um desafio.” O candidato mais provável para substituir a SpaceX é a Blue Origin, de Jeff Bezos, que já possui um contrato para futuras missões Artemis.
Uma questão crucial permanece: o cronograma. Embora a Starship ainda não esteja pronta, o módulo lunar Blue Moon, da Blue Origin, também não passou por testes extensivos e ainda não está pronto para ser usado. O módulo tripulado Blue Moon está previsto para 2030, na missão Artemis V. Não está claro se esse cronograma poderia ser adiantado em dois anos e meio para coincidir com o plano original do Artemis III.
A administração Trump vê os planos lunares da China — que, em grande parte, espelham os da Artemis — como uma ameaça. A China planeja pousar taikonautas na Lua até 2030 e realizou vários testes bem-sucedidos neste verão com seu novo foguete e módulo lunar. Duffy quer que o pouso americano aconteça ainda durante o governo Trump, ou seja, antes de 20 de janeiro de 2029, data da próxima posse presidencial nos EUA.
Com três anos e meio restantes, ainda é possível realizar o pouso lunar — mas há um grande “porém”.Tudo precisa dar certo. A SpaceX, a Blue Origin ou outro parceiro comercial precisam passar em todos os testes e cumprir todas as metas. Também será crucial a experiência da Artemis II, a primeira missão tripulada do programa, que levará quatro astronautas — Reid Wiseman, Victor Glover, Christina Koch e Jeremy Hansen — em uma viagem ao redor da Lua pela primeira vez em mais de cinco décadas.
* Dr. Alfredo Carpineti - Senior Staff Writer & Space Correspondent, Alfredo has a PhD in Astrophysics and a Master's in Quantum Fields and Fundamental Forces from Imperial College London.View full profile
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