[Artigo] Uma Perspectiva Sobre o Espaço: Preparando-se para 2075
Prezados amantes das atividade espaciais!
Pois bem, trago a vocês um artigo interessantíssimo de autoria do engenheiro espacial Martin Sweeting, publicado originalmente na edição de outubro da SpaceNews Magazine e republicado em 29 de setembro no portal SpaceNews. O texto aborda os resultados de um relatório recentemente divulgado pela Royal Society — a prestigiosa academia de ciências do Reino Unido — que analisa as perspectivas das atividades espaciais até o ano de 2075. O conteúdo é revelador e nos obriga a refletir sobre o caminho que o Brasil tem seguido. Infelizmente, o contraste é gritante: enquanto outras nações se preparam estrategicamente para um futuro dominado pela inovação espacial, seguimos presos a narrativas vazias, promessas não cumpridas e uma estagnação preocupante. É uma clara demonstração de como parte da nossa gestão científica e política tem nos conduzido rumo a um possível colapso econômico, científico e tecnológico neste setor crucial para o desenvolvimento nacional. Triste realidade para nós, entusiastas do espaço: estamos ficando para trás — e, se nada mudar, estaremos em maus lençóis.
Uma Perspectiva Sobre o Espaço: Preparando-se Para 2075
Por Martin Sweeting*
29/09/2025
Fonte: Portal SpaceNews
Crédito: NASA Ames Research Center / Don Davis
Reconhecendo que o espaço já é um componente integral da sociedade atual, a Royal Society (a academia de ciências do Reino Unido) concluiu recentemente um relatório que explora as possíveis implicações das atividades espaciais até 2075, com o objetivo de estimular discussões sem prever resultados específicos. O relatório destaca o impacto transformador da exploração espacial na indústria, na sociedade e na cultura, comparável às Revoluções Industrial e Digital. O objetivo é preparar governos, reguladores e a sociedade em geral para as oportunidades e riscos que o espaço apresenta — não se trata de prever o futuro (o que seria, de fato, imprudente!), nem de recomendar um caminho específico, mas sim de apresentar a direção das mudanças e onde isso pode nos levar.
Historicamente, a humanidade expandiu-se progressivamente da terra para o mar, o ar e agora para o espaço sideral. Nas próximas décadas, veremos uma exploração crescente além da órbita terrestre próxima, com a possibilidade de estabelecer bases de longo prazo na Lua e em Marte. Avanços em foguetes reutilizáveis de grande porte, aeronaves espaciais de estágio único até a órbita e propelentes ecológicos reduzirão drasticamente os custos e aumentarão o acesso ao espaço. Essas inovações poderão viabilizar a manufatura em grande escala em órbita, reduzindo limitações de tamanho das espaçonaves e possibilitando o transporte suborbital ponto a ponto na Terra, útil para respostas rápidas a desastres ou operações de segurança.
Desenvolvimentos paralelos em robótica, inteligência artificial, computação e biologia sintética transformarão a vida humana. Sistemas de energia no espaço, aproveitando abundante energia solar ou nuclear, poderão sustentar fábricas em órbita, centros de dados e a transmissão de energia limpa para a Terra. Tecnologias de reciclagem desenvolvidas para estações espaciais podem beneficiar o planeta, enquanto a extração de recursos da Lua ou de asteroides poderá criar uma economia circular no espaço, reduzindo os impactos ambientais na Terra.
Esse aumento das atividades espaciais exige acordos internacionais sobre gestão do tráfego espacial e minimização de detritos, semelhantes à Astra Carta ou aos princípios da Iniciativa de Sustentabilidade da Terra e do Espaço. A realocação de indústrias de alta energia para a órbita pode mitigar os desafios ambientais da Terra, aproveitando a microgravidade e a energia espacial. No entanto, atividades na Lua correm o risco de degradar ambientes ainda intocados, exigindo gestão cuidadosa para preservar oportunidades científicas. E o acesso ao espaço deve ser garantido de forma equitativa e sustentável tanto para grandes quanto para pequenos participantes.
Sistemas robóticos e autônomos continuarão liderando a exploração espacial, preparando ambientes seguros para a atividade humana. Plataformas de pesquisa em órbita poderão explorar a microgravidade para desenvolver materiais avançados, medicamentos e produtos biológicos, possivelmente produzindo bens “Feitos no Espaço” para uso na Terra. A ampliação das instalações de pesquisa melhorará a qualidade científica ao permitir experimentos em microgravidade em larga escala e repetíveis, viabilizando que mais grupos terrestres conduzam pesquisas no espaço.
Na Lua, robôs autônomos movidos a energia solar ou nuclear poderão minerar recursos e construir infraestrutura, incluindo bases subterrâneas para proteção contra radiação e temperaturas extremas. Essas bases podem servir como centros de pesquisa científica, atividade comercial e portais para a exploração mais profunda do Sistema Solar. Radiotelescópios localizados no lado oculto da Lua, livre das interferências da Terra, poderão buscar vida extraterrestre. Uma economia lunar com trabalhadores humanos em um ambiente tão remoto e extremo exigirá novos marcos éticos, de saúde e de segurança.
A colaboração internacional entre diferentes estruturas políticas — por mais desafiadora que seja — é vital para o uso seguro, produtivo e equitativo do espaço. Há precedentes históricos como o sistema Cospas-Sarsat, que salvou mais de 60 mil vidas, e o programa Apollo-Soyuz, que permitiu o acesso dos EUA à ISS após o fim do ônibus espacial. No entanto, o número crescente de atores estatais e não estatais ao redor do mundo aumenta a competição por órbitas e frequências de rádio, elevando os riscos de conflitos. O espaço próximo à Terra e a região cislunar já se tornaram arenas geopolíticas, com satélites militares e armas antissatélite sinalizando um potencial crescente de conflitos espaciais. Protocolos robustos, iniciando como diretrizes como a Astra Carta, são essenciais para garantir acesso equitativo a recursos, comunicações confiáveis e prevenção de conflitos, ao mesmo tempo que incentivam a pesquisa colaborativa e o comércio.
Tecnologias desenvolvidas para bases lunares poderão abrir caminho para instalações em Marte, embora a distância (que exige uma viagem de ida e volta de 750 a 1.000 dias) demande maior independência operacional. Inovações em biotecnologia e engenharia biológica para ecossistemas sustentáveis poderão sustentar a presença humana de longo prazo em Marte, com aplicações na Terra em reciclagem de resíduos, saúde e produção de alimentos. A possibilidade de indivíduos nascerem na Lua ou em Marte levantará sérias questões éticas sobre nacionalidade e adaptação fisiológica ao ambiente marciano.
Sistemas robóticos autônomos desenvolvidos para a Lua e Marte poderão construir estações interplanetárias para explorar Vênus, Europa e além, apoiados por redes de comunicação quântica e a laser para transferência de dados segura e de alta capacidade por todo o Sistema Solar.
Até 2075, as ciências planetárias e a astrobiologia talvez esclareçam se existe vida além da Terra. A descoberta de vida relacionada mudaria nossa compreensão sobre a distribuição da vida no universo, enquanto uma origem independente revolucionaria a microbiologia e a biologia aplicada. Por outro lado, a ausência de evidências de vida reforçaria a singularidade da Terra, ressaltando a necessidade de proteger sua biodiversidade e o ambiente habitável. Esses desfechos trariam insights científicos e filosóficos profundos.
As atividades espaciais estão se acelerando globalmente, especialmente no setor privado, impulsionadas tanto por oportunidades comerciais quanto por preocupações com segurança. A conscientização precoce sobre tendências de longo prazo ajudará a sociedade a se preparar para desafios inesperados e tomar decisões informadas para se beneficiar de forma sustentável da combinação entre os ambientes da Terra e do espaço.
Fui criado lendo histórias de ficção científica de Arthur Clarke e outros autores do século XX. As variadas visões que eles apresentaram nos deram imagens de uma gama de futuros possíveis — alguns dos quais se concretizaram, e muitos ainda não — pelo menos por enquanto! No entanto, mais importante que isso, eles nos incentivaram a pensar fora da caixa e a enfrentar algumas implicações possivelmente desconfortáveis, além de futuros empolgantes. Devemos continuar essa tradição.
O relatório completo da Royal Society está disponível em: https://royalsociety.org/news-resources/projects/space2075/
Este artigo foi publicado originalmente na edição de outubro de 2025 da revista SpaceNews Magazine.
* Martin Sweeting ocupa uma Cátedra Distinta em engenharia espacial no Instituto Espacial de Surrey, na Universidade de Surrey, na Inglaterra. Ele tem sido um pioneiro nas técnicas acadêmicas e aplicações comerciais de pequenos satélites desde a década de 1980. Ele presidiu o estudo da Royal Society sobre o Espaço 2075.
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