Luiz Davidovich: “O Ministério da Ciência Foi Demolido”
Olá leitor!
Segue abaixo uma interessante entrevista publicada no
site da "Revista Época" dia (13/05) com o novo presidente da Academia Brasileira
de Ciência (ABC), o Dr. Luiz Davidovich.
Duda Falcão
Vida
Luiz Davidovich: “O Ministério da
Ciência Foi Demolido”
Para o presidente da Academia Brasileira de Ciência, a
fusão do ministério
ao das Comunicações desvaloriza a ciência e ameaça o
futuro do país.
RAFAEL CISCATI
13/05/2016 - 19h50
Atualizado 13/05/2016 - 19h50]
Foto: Divulgação
O professor Luiz Davidovich, presidente da Academia
Brasileira de
Ciências. Para ele, a junção dos ministérios foi equivocada.
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Na tarde de quinta-feira (12), durante uma cerimônia no
Palácio do Planalto, Gilberto
Kassab (PSD) assumiu a liderança de um ministério recém-criado – virou
ministro da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações. O nomão une duas
pastas que, durante os anos Dilma, operaram em separado. Antes de reagir ao
anúncio do novo ministro, a comunidade científica nacional protestou
contra a reestruturação. Desde o final de 2014, a ciência brasileira amarga
a perda de recursos. Entre 2014 e 2015, o orçamento destinado ao Ministério
da Ciência e Tecnologia foi reduzido em 25%. No ano seguinte, a queda
foi de 37%. A contenção tem impacto direto no financiamento das pesquisas – e
na qualidade da ciência feita no Brasil. Pesquisadores brasileiros temem que a
união da pasta com o Ministério das Comunicações aprofunde a crise do
setor: “Foram unidas áreas muito diferentes”, diz Luiz Davidovich,
presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e professor da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. “Houve uma sinalização de que ciência e
tecnologia não são tão importantes”.
Entidades do setor emitiram notas criticando a
reestruturação. Um manifesto encabeçado pela Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência (SBPC) e pela ABC chamou a medida de “artificial”: “É
grande a diferença de procedimentos, objetivos e missões desses dois
ministérios”, diz o texto, divulgado pelas entidades antes que a mudança nos
ministérios fosse confirmada. “A junção dessas atividades díspares em um único
Ministério enfraqueceria o setor de ciência, tecnologia e inovação, que, em
outros países, ganha importância em uma economia mundial crescentemente baseada
no conhecimento e é considerado o motor do desenvolvimento”. Nessa entrevista a
ÉPOCA, Davidovich defende que, embora o corte de ministérios possa ser
uma medida saudável, ele não deveria atingir a ciência: “Em época de crise,
os países desenvolvidos aumentam os investimentos em ciência e tecnologia.
Porque é uma maneira de superar os problemas”, afirma.
ÉPOCA - Há uma lógica na junção entre Ciência e Comunicações?
As áreas são aparentadas?
Luiz Davidovich - Eu não entendo qual a lógica, realmente
não sei. Acho que houve uma orientação mais geral de diminuir o número de
ministérios, o que é uma proposta interessante, saudável. Mas, no caso da
Ciência e Tecnologia e Comunicação, foram unidas coisas muito diferentes. O
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI) tem um leque de missões, e uma agenda
de análises de projetos muito próprios. Por exemplo: o MCTI coordena cerca de
20 institutos de ciência e tecnologia que são voltados para temas de alto interesse
da sociedade brasileira. Há instituto voltado para pesquisas amazônicas. Outro
é voltado para energia nuclear, aplicações em radioisótopos, produção de
rádiofármacos - que são substâncias importantíssimas para a saúde. Há
institutos voltados para a área de astronomia. Outros, voltados para ciências
físicas. Os programas e projetos desses institutos são analisados por comissões
compostas pela comunidade científica e, eventualmente, pela comunidade
empresarial ligada a pesquisa, desenvolvimento e inovação. E esse processo é
avaliado por mérito científico e tecnológico. É essa a rotina de trabalho do
MCTI. Já o ministério das Comunicações tem outra rotina de trabalho. E as
decisões lá tem mais relação com rádio e televisão, correios e telégrafos. Aplica-se
um método de avaliação de projetos que é necessariamente diferente. Essa
junção, por isso, preocupa muito. O MCTI teve uma trajetória de mais de 30 anos
muito bem sucedida. Foi graças a ele que temos agora, por exemplo, fundações de
amparo à pesquisa em todos os Estados da federação. Temos secretarias de
ciência e tecnologia em todos os Estados. O MCTI motivou o grande
desenvolvimento do Brasil. As fundações de amparo e pesquisa são muito
importantes na consideração dos problemas regionais do Brasil. Na aplicação de
ciência e tecnologia para a solução de problemas regionais. A agenda do
ministério das Comunicações é completamente diferente. Foi um erro fazer essa
junção. Foi um erro prejudicial ao futuro do país.
ÉPOCA - Nesse novo ministério, dada a diferença de
agendas das áreas, há o risco de a ciência ser relegada a um segundo plano?
Davidovich - Não sei se isso vai acontecer. Risco sempre
existe. A comunicação é uma área evidentemente política no Brasil. O MCTI já está bastante desfalcado por causa dos
cortes que ocorreram durante o governo Dilma. Não sei como a atenção do
ministro vai ser dividida entre as duas áreas. Acho que existe forte pressão da
Comunicação, mas espero estar enganado. Espero que ele consiga dar a área de
ciência e tecnologia a importância que ela merece.
ÉPOCA - Como a comunidade científica recebeu a nomeação
de Gilberto Kassab ao cargo
Davidovich - Não costumo discutir nome de pessoas. Na
Academia Brasileira de Ciências discutimos perfis - e esperamos sempre que os
nomes indicados adaptem-se a esse perfil. Achamos que o ministro deve
privilegiar o diálogo com a comunidade científica, com a comunidade empresarial
voltada para a área de pesquisa e inovação. E deve ser uma pessoa sensível aos
valores da ciência. Que entenda o papel da ciência e tecnologia para o
desenvolvimento do Brasil. Eu acho que esse papel está mal entendido no Brasil
de hoje. E essa falta de entendimento faz com que o país se atrase de maneira
perigosa em relação a vários países com grande ímpeto desenvolvimentista. O
Brasil aplica cerca de 1,5% do PIB em pesquisa e desenvolvimento. Já incluído o
investimento privado. A União Europeia chegou a um acordo recentemente de que
usará 3% do PIB em 2020. A China empregava 2,05% do PIB em ciência e tecnologia
em 2014. Tem agora um projeto de, em cinco anos, alcançar 2,5% do PIB. A Coreia
do Sul investe mais de 4% do PIB. Israel também. Nós investimos pouco. Com
isso, o país não vai adiante. Você pode fazer ajustes fiscais, pode tomar
medidas econômicas - e algumas são realmente necessárias. Mas isso não basta
para que o país volte a crescer. Você precisa investir forte em ciência e
tecnologia, especialmente em época de crise. E é isso que os nossos políticos têm
dificuldade em entender. Em época de crise, os países desenvolvidos aumentam os
investimentos em ciência e tecnologia. Porque é uma maneira de superar os
problemas.
ÉPOCA - O Brasil sempre sofreu com problemas de
financiamento da ciência?
Davidovich - Houve momentos em que foram feitos
importantes investimentos. De fato, isso precisa ser reconhecido, durante o
governo Lula o investimento aumentou. Os fundos setoriais são uma invenção do
final do governo FHC, mas foram contingenciados pela crise econômica que
vivemos na época. Eles foram liberados no governo seguinte. Foi uma época de
bonança que chegou a ser reconhecida no exterior. A gente colabora com
pesquisadores de fora do Brasil, e o entusiasmo com a ciência nacional era
muito grande. Os cortes recentes e a fusão dos ministérios causam danos sérios
a nossa imagem. Havia muita esperança no deslanchar do país. Isso acabou. Houve
uma sinalização de que ciência e tecnologia não são tão importantes.
ÉPOCA - A junção dos ministérios, então, é um dos sinais
dessa desvalorização?
Davidovich - Sim. O MCTI foi demolido. Ele deixou de ser
um ministério para fazer parte de outro conjunto - e isso prejudica a
interlocução da área com os mais altos poderes da república. São esses os
sinais atuais. Eu espero ser desmentido. Torço para que daqui a pouco tempo a
gente descubra que a ciência e a tecnologia terão apoio forte do governo.
ÉPOCA - Depois de cortes sucessivos no financiamento, a
qualidade da ciência brasileira já foi afetada?
Davidovich - Esses cortes aconteceram mais recentemente.
Eles prejudicam as equipes do futuro. Prejudicam a formação de equipes que
poderão, no futuro, lutar contra epidemias emergentes. Devido aos
financiamentos do passado, temos hoje grupos competentes espalhados pelo
Brasil, habilitados a ajudar a sociedade brasileira em temas muito importantes.
Um exemplo disso é a epidemia de ZIKA - imediatamente, grupos de pesquisadores
se colocaram a pesquisar o vírus para tentar debelar essa doença. Esses grupos
existem porque foram financiados por muito tempo. Se você corta o
financiamento, corta as bolsas de pesquisadores, você impede a formação de
novos profissionais. Isso vai repercutir no futuro. O governo tem de assumir o
papel de liderança e dizer “olha, esse é o país da ciência, esse é o país da
tecnologia”. Não é essa a sinalização que estamos recebendo. E isso pode
prejudicar a nossa habilidade de combater doenças, de explorar recursos
naturais de maneira sustentável, de desenvolver novas tecnologias.
ÉPOCA - Existe uma preocupação quanto a possibilidade de
uma “fuga de cérebros” da ciência brasileira. O temor de que os cientistas, sem
condições de pesquisar no país, busquem oportunidades em instituições estrangeiras.
Esse risco existe?
Davidovich - Isso vai depender muito de como vai se
comportar o governo em relação ao financiamento de pesquisa. Eu e outros
colegas vamos continuar aqui trabalhando porque achamos importante batalhar
pelo país. Porque estamos, assim, contribuindo com esse país que ajudou na
nossa educação. Temos essa visão, de um projeto de desenvolvimento para o
Brasil. Agora, se a situação piora muito, fica difícil. Fica difícil para que
as pessoas trilhem suas carreiras. Já temos alguns cientistas saindo do Brasil
mas, por enquanto, o desejo das pessoas é de ficar e batalhar.
ÉPOCA - O Ministério da Ciência havia negociado um
empréstimo de US$1,4 bilhão com o Banco Interamericano de Desenvolvimento. Com
as mudanças na pasta, já há explicações do que deve acontecer com esse
dinheiro?
Davidovich - Olha, isso é parte do problema - eu não
tenho nenhuma informação sobre os rumos desse dinheiro. E eu sou presidente da
Academia Brasileira de Ciências. Eu lamento que a questão desse empréstimo
esteja sendo levada sem diálogo com a comunidade científica. Nada garante que
esse empréstimo será mantido. Nós o defendemos, como defendemos também a
continuidade de outros programas muito importantes para o Brasil. Por exemplo,
defendemos a continuidade dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia - institutos
virtuais, que reúnem redes de pesquisa, e que estão distribuídos por várias
áreas do conhecimento. São institutos muito importantes e que estão
paralisados, por falta de verbas. O que vai acontecer com eles? Não tenho a
menor ideia. Espero que o governo continue com esse programa. O problema é que
os políticos estão preocupados com outras coisas. Não pensam muito sobre isso,
com raras exceções. Construir redes de pesquisas, como a que esses institutos
formam, é algo muito trabalhoso. Você tem que buscar outros times, tem que
construir protocolos de cooperação. Isso leva muito tempo. Levou anos, mas foi
feito no Brasil. Desmanchar as redes pode levar minutos. Isso é muito grave.
Espero que haja uma reação rápida, para melhorar essa situação de financiamento
da pesquisa.
ÉPOCA - O que o novo ministro deve fazer para recuperar a
ciência nacional?
Davidovich - O primeiro ponto é abrir diálogo com a
comunidade científica e com o setor empresarial que está ligado à pesquisa, ao
desenvolvimento e à inovação. Eu diria que esse é o item zero da lista. Para
tomar conhecimento das propostas que existem, e que estão aí há muitos anos. O
segundo ponto é conseguir reverter os cortes que ocorreram recentemente.
Definir um financiamento decente para um país como o Brasil. Um financiamento
consistente com o papel que a ciência e tecnologia devem desempenhar. Essa é
uma área que tem de ser priorizada, seguindo o exemplo de outros países que, em
momento de crise, aumentam os investimentos no setor.
Fonte: Site da Revista Época - 13/05/2016
aos poucos os Brasileiros vão notando que Afastar a Dilma , não foi um bom negócio, seu sucessor está reduzindo a mamata de 4.OOO servidores públicos até dezembro de 2016, depois dessas medidas e outras a Nação sentirá muita Falta da nossa "Querida Dilma".
ResponderExcluirConcordo plenamente.
ExcluirWikileaks divulgou documentos que mostram colaboração de Temer com os serviços secretos estadunidenses.Nós estamos mais para Paaguay ou para Ucrânia?Que coisa.Não temos serviços de inteligência ou será que eles também foram coapitados?
ResponderExcluirAé???? Cade o Duda reclamando em vermelho e ofendendo a Presidente???? Parabéns. Este Blog trabalhou os últimos anos afinco pelo desfecho que se sucedeu no desmantelamento do MCT para um dendo das comunicações. Para onde vocês acham que vai os parcos recursos agora??? Para custear verba para construir satélites de comunicação e serem entregues as multinacionais como ocorreu com o STAR ONE. Repito: Adoro o Brazilian Space, mas as linhas vermelhas geralmente eu passo longe, o que é uma pena.
ResponderExcluirCaro Pedrão!
ExcluirEspero que continue gostando e que tenha mais atenção quando lê os meus comentários. Não defendo partidos aqui no meu Blog (mesmo porque não existem partidos no Brasil) e sim pessoas quando elas merecem, e desso a madeira naquelas que fazem também por merecer. Sempre defendi a queda da DILMA devido ela ser uma debiloide e ter colocado o país nesta situação, nunca disse que o TEMER seria solução, muito pelo contrario, sempre alertei que não mudaria nada, pois como sempre falei o problema é puramente cultural e esses vermes são tudo farinha do mesmo saco.
Abs
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)
Desculpe Duda, mas você não esta tendo o mesmo afinco em relação ao Temer, parece que vc ainda tem alguma esperança com relação a ele.
ExcluirOlá Rodrigo!
ExcluirComo poderia? DILMA teve seis anos e destruiu o país, TEMER esta a menos de uma semana no poder. Entretanto já disse por diversas vezes e parece que vocês tem preguiça de entender que, DILMA, LULA, FHC, COLLOR, TEMER, ITAMAR são tudo farinha do mesmo saco, populistas de merda, cada um lutando pelos seus interesses e de seus grupos. Volto a dizer, o problema é cultural, precisamos formar cidadãos e enquanto isto não acontecer o Brasil continuará na mão desses vermes, sejam eles amarelos, vermelhos, verdes, azuis e o escambal a quatro. Tá claro agora Rodrigo?
Abs
Duda falcão
(Blog Brazilian Space)
Prezado Duda.
ResponderExcluirAs vezes desejamos tanto chegar ao bom governo, que se esquecemos que isto é uma transição e que temos que aturar o estágio 'meia boca'. Desde a ditadura um governo não investia tanto em aquisição de conhecimento como o últimos governos trabalhistas (incluindo o da Presidente que você exageradamente chama de 'debiloide'). Lembre-se que é um governo tentando avançar e uma elite formada por vários tentando manter o sistema lucrativo apenas para si. Vede os comentários em sua lista acima, e reflita. Creio que perdemos uma oportunidade. Isto que podemos chamar de rebaixamento da C&T para um adendo da Comunicação, e creio que demostra bem o quanto regredimos. O problemas da Globo agora estão formalmente a frente de tudo nesta pasta, e ela vai exigir grana para popularizar a transmissão digital. Reclamamos tanto dos passos curtos que acabamos voltando para trás agora. E é só o começo. Ainda vem a redução de investimentos, fuga dos poucos especialistas para o exterior, prováveis falências e fechamento das poucas empresas como Odebrechtd Defesa, Opto, Visona, Ael e a liquidação dos ativos do governo na Avibrás e na Embraer. Fora o desmantelamento de programas como PROSUB, FX-1 e KC-390. Anote minhas palavras se continuar este governo. É uma pena.
Estou sem palavras Pedrão,
ExcluirNão é por acaso que estamos nessa situação, quem planta colhe. Triste.
Abs
Duda Facão
(Blog Brazilian Space)
a Maçonaria do BRASIL, sabe como ninguém destruir qualquer Governo, abdicou o Imperador Dom Pedro I , abdicou o Imperador Dom Pedro II e agora deu um Golpe no Governo de Dilma, a Maçonaria usa sabotagens, mentiras, fofocas, espionagem, etc.
ResponderExcluir.
Michel Temer é Maçom , Aécio Neves é Maçom , FHC é Maçom , Geraldo Alckmin é Maçom , José Serra é Maçom , Fernando Color é Maçom entre outros, o Povo Brasileiro não sabe votar e não sabe avaliar um Governante .