Série Espaçomodelismo: Entrevista com o Coordenador da Equipe GREAVE da Universidade Positivo (UP) de Curitiba
Olá
leitor!
A
partir de hoje o Blog BRAZILIAN SPACE dá início a uma série de entrevistas com profissionais ligados a
educação e ao Espaçomodelismo Brasileiro, profissionais que tem nas ultimas décadas contribuído efetivamente para
a educação de jovens e para o desenvolvimento do Espaçomodelismo no país, ações extremamente positivas que ajudam na formação não só de
bons profissionais nas áreas de Mecânica, Física, Química, Elétrica, etc... bem como também e principalmente na formação de cidadãos, tipos
de indivíduos hoje cada vez mais difícil de encontrar em nossa destrambelhada e
corrupta sociedade, não sendo por acaso o caos político, econômico, social e
moral em que estamos vivendo, afinal quem planta, colhe.
Nesta
série pretendemos apresentar quinze entrevistas até o final deste ano, sendo esta primeira com o jovem Prof.
Alysson Nunes Diógenes, do Departamento de Mecânica da
Universidade Positivo (UP) de Curitiba-PR, e coordenador da Equipe GREAVE desta universidade privada paranaense, um
jovem extremamente comprometido com o que faz, carismático, cheio de energia, dinâmico
e originado do nordeste brasileiro, mais precisamente do mesmo estado da federação (RN) onde surgiu nos anos 60 o
primeiro centro de lançamento do Programa Espacial Brasileiro
(PEB), na época denominado de Centro de Lançamento de Foguetes
da Barreira do Inferno (CLFBI),
e hoje conhecido apenas pela sigla CLBI.
Na sequencia da série pretendemos apresentar
entrevistas com o Prof. Dr. João Batista Garcia
Canalle, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(UERJ) e coordenador da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA),
o Prof. José Félix Santana, do Centro de
Estudos de Foguetes Espaciais do Carpina (CEFEC) e pioneiro do PEB e do Espaçomodelismo Brasileiro, o Sr. Paulo
Gontran Ramos, do Centro Gaúcho de Pesquisas Aeroespaciais
(CEGAPA) e pioneiro do Espaçomodelismo Brasileiro, o Sr. Carlos Cássio Oliveira, do Centro Experimental de
Foguetes Aeroespaciais da Bahia (CEFAB) e pioneiro do Espaçomodelismo Brasileiro, o conhecidíssimo Prof.
Carlos Henrique Marchi, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o Cel. Milton de Souza Sanches (a confirmar), ex-servidor do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) e pioneiro do PEB e do Espaçomodelismo Brasileiro, o Prof. Eng. José Miraglia, ex-diretor da empresa Edge of Space e professor da Faculdade de Informática e Administração Paulista (FIAP), o
Sr. Roberto de Paula
(a confirmar),
da empresa Bandeirante Foguetes de Recife-PE, o jovem, dinâmico e promissor Prof.
Antônio Carlos Foltran, também da Universidade Positivo (UP) de
Curitiba, o Prof. Dr. Eduardo Matos Gemer (a confirmar), da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) campus de Curitiba, o Prof. Júlio Cesar Guedes Antunes (a confirmar) do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG) de Montes Claros-MG, o Dr. José Bezerra Pessoa Filho (a confirmar),
do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), colaborador do Programa AEB Escola da
Agência Espacial Brasileira (AEB) e professor colaborador do Curso de
Engenharia Aeroespacial do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), e
finalizando na área de pequenos satélites educativos, o Prof. Cedric Salloto
(a confirmar), do Instituto Federal
Fluminense (IFF) de Campos dos Goytacazes-RJ, e o internacionalmente conhecido Prof. Cândido Osvaldo de Moura (a confirmar), da Escola Municipal Tancredo de Almeida
Neves de Ubatuba-SP.
Duda Falcão
O Prof. Alysson Nunes Diógenes demonstrando o seu bom gosto para leitura. |
BRAZILIAN SPACE: Professor Alysson, nos faça um
relato sobre o senhor, sua idade, formação, onde nasceu, trajetória
profissional e desde quando o senhor trabalha na Universidade
Positivo (UP)?
PROF. ALYSSON NUNES DIÓGENES: Eu
tenho 37 anos, sou engenheiro eletricista e doutor em engenharia mecânica.
Nasci em Mossoró-RN, neto de um homem analfabeto e extremamente inteligente que
criou 14 filhos e deu faculdade a 13 deles. Filho do oitavo desses 14, que me
foi um exemplo de hombridade. Me formei em engenharia elétrica na UFC em 2000 e
ingressei no mestrado em engenharia biomédica na UFSC. Após o mestrado
trabalhei por 2 anos na empresa ESSS com processamento de imagens e CFD. Em
2005 ingressei no doutorado em engenharia mecânica, também na UFSC, na área de
dinâmica dos fluidos. Após o doutorado fui contratado como pesquisador em 2009
na UFPR e posteriormente, em 2012, como professor substituto no curso de
engenharia mecânica também na UFPR. Em 2013 fui contratado pela Universidade
Positivo e é onde estou até hoje como professor do curso de Engenharia Mecânica
na área de ciências térmicas.
BRAZILIAN SPACE: Prof. Alysson, como surgiu à sua
ideia da criar um grupo de Espaçomodelismo na Universidade Positivo (UP) e por
quê?
Logo da Equipe GREAVE |
BRAZILIAN SPACE: Prof. Alysson, quantos alunos e professores estão atualmente envolvidos
com as atividades do seu grupo GREAVE na UP?
PROF.
ALYSSON: Atualmente
somos 2 professores (eu e o prof. Antonio Calos Foltran, também da engenharia
mecânica) e 18 alunos das engenharias mecânica, civil, elétrica e do curso de
design envolvidos diretamente e outros 4 professores (todos da engenharia
mecânica) envolvidos indiretamente, além do corpo de técnicos, que fazem um
trabalho sensacional e não poderiam ser esquecidos na menção.
BRAZILIAN
SPACE: Prof.
Alysson, desde 2014 o Prof. Marchi da UFPR e seu Grupo de Foguetes vem
promovendo o Festival de Minifoguetes de Curitiba. A partir da edição deste ano
(a terceira da história), a Universidade Positivo (UP), ao lado da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), resolveram então apoiar este importante
evento para o Espaçomodelismo Brasileiro. Como sucedeu este apoio por parte da
UP e por quê?
PROF.
ALYSSON: Nós (UP e
UTFPR) já fazíamos parte da organização desde a segunda edição. Apenas
aprofundamos a parceria. Eu entendo que não somos concorrentes, e sim parceiros
no desenvolvimento da ciência no Brasil. Para que ciência seja feita, seja em
que área for, é necessário (no mínimo) pessoas com capacidade e massa crítica
(quantidade de pessoas com capacidade). Por mais brilhante que o prof. Marchi
seja – e é – ele ainda é só um. Quando nos juntamos, fazemos um trabalho
melhor. E isso tem beneficiado a todos, não somente o festival, mas as
pesquisas que fazemos em conjunto. Exemplos disso são o crescimento do número
de lançamentos e equipes participantes no festival, mas também as trocas de
alunos, cursos e palestras entre UFPR, UP e UTFPR. O prof. Marchi tem alunos
egressos da UP entre seus pós-graduandos, o prof. Germer participou da mesa
redonda. Enquanto interagimos, crescemos todos. A participação na organização
do festival é a consequência de pesquisadores que trabalham juntos numa linha
de pesquisa e se entusiasmam com a ciência e seus desenvolvimentos.
Enfatizo, Duda. Iniciativas como a que participo, do festival e as
interações que temos durante o restante do ano, e também destaco a Olimpíada
Brasileira de Astronomia e Astronáutica, com o prof. João Canalle, da UERJ, me
dão esperança de um dia deixarmos de ser um país exportador de minério de ferro
e comprador de aço, exportador de soja, carne de gado, frango e porco e
importador de Iphone e computadores. Um país que propaga ser meramente
turístico, carnavalesco e futebolesco. Anualmente sou humilhado por propagandas
como a da Nissan, “tecnologia japonesa fabricada no Brasil”. Nós temos potencial
para ter a nossa tecnologia! Eu não quero morrer sem ver meu país produzir
tecnologia brasileira e exporta-la pelo mundo. Inclusive – e principalmente –
na área de foguetes.
BRAZILIAN SPACE: Prof. Alysson, como já dito
anteriormente o Festival de Minifoguetes de Curitiba teve realizada
recentemente a sua terceira edição. Como o senhor avalia a edição do Festival
deste ano, e em sua opinião o que pode ser feito para melhorar as próximas
edições?
PROF.
ALYSSON: Em minha
opinião, o festival foi excelente. Tivemos várias novas equipes participando e
um número absurdo de lançamentos. Para o próximo ano devemos melhorar a
segurança – já muito boa – e o procedimento de fiscalização dos motores e
inscrição. Além disso, queremos disponibilizar altímetros melhores e mais
baratos para as equipes.
BRAZILIAN
SPACE: Prof.
Alysson, como o senhor avalia a participação de sua equipe GREAVE na edição do
Festival deste ano?
PROF.
ALYSSON: Foi acima
da expectativa. Fazemos um trabalho sério com os alunos em pesquisa e
preparação da equipe para o festival, mas 4 primeiros lugares, um segundo e um
terceiro foi um resultado excelente. Sempre fica a tristeza de termos perdido
dois foguetes e de uma explosão de motor. Os três foguetes estavam muito bons e
poderiam ser premiados, mas fica a satisfação de um trabalho bem feito.
Maquete do foguete VLS em desenvolvimento pela Equipe GREAVE. |
BRAZILIAN SPACE: Prof. Alysson, durante a realização
do Festival deste ano surgiu à possibilidade do uso de Minifoguetes nos eventos
da OBA (Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica). Como o senhor
analisa esta possibilidade de levar aos jovens estudantes do ensino-médio as
atividades com minifoguetes?
PROF.
ALYSSON: Excelente.
Em países mais desenvolvidos que o nosso, atividades de foguetemodelismo são
realizadas desde o ensino fundamental. Tudo isso ajuda no ensino de física e
matemática e ajuda a desenvolver uma mentalidade voltada para a ciência. Duda,
eu penso que bolsas não mudam o país. Elas socorrem a necessidade imediata de
provisão do cidadão. Mas a mudança vem de iniciativas como essa. Com a
popularização de eventos como a OBA, eu creio que efetivamente possamos ter um
salto na educação do nosso país e, por consequência, o país sairá da pobreza.
Eu tomo a liberdade de me mostrar como exemplo de como, em duas
gerações, a educação retirou uma casal (meus avôs) da pobreza e trouxe
prosperidade a seus filhos, da qual eu, que sou a terceira geração, desfruto.
Passo longe de ser rico, mas caso meu avô não tivesse a visão de educar em casa
e na escola, todos os seus filhos, minha situação provavelmente seria como a de
tantos brasileiros miseráveis que são pobres financeiramente e intelectualmente,
sendo a segunda o pior tipo de pobreza.
Assim sendo, reafirmo que iniciativas como essa não são somente
essenciais para tirar o país da pobreza, mas afirmo que o país não se
desenvolverá sem iniciativas como esta.
BRAZILIAN SPACE: Prof. Alysson, durante a
realização do Festival foi ministrada uma palestra pela equipe “ITA Rocket
Design”, do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), sobre o histórico da
participação da mesma nos EUA na competição internacional de foguetes universitária
denominada IREC. Existe pretensão da Equipe GREAVE no futuro de participar deste
evento internacional?
PROF.
ALYSSON: Sim. Como
mencionei, o objetivo da nossa equipe é desenvolver a ciência dos foguetes. O
ponto alto deste desenvolvimento para os próximos anos é a participação no
IREC. Desejamos que isso aconteça antes de 2020. Não temos pretensão, todavia,
de fazermos isso sozinhos, e para tal, desde 2015 estamos trabalhando em
parceria com a UFPR e esperamos em breve irmos juntos com um foguete
Paranaense.
Alguns integrantes da Equipe GREAVE. |
BRAZILIAN SPACE: Prof. Alysson, sem dúvida nenhuma
(na opinião do Blog) o maior destaque do Festival deste ano foi à criação da
Associação Brasileira de Minifoguetes (ABMF) ou BAR na versão inglês (Brazilian
Association of Rocketry). Como o senhor analisa esta nova iniciativa, e quais
são as suas expectativas sobre a mesma?
PROF.
ALYSSON: Da mesma
forma, a iniciativa é excelente, em especial pela forma que a ABMF surge. Não
somos burocratas, sindicalistas ou meros entusiastas, e sim, cientistas que se
unem. Há algumas dezenas de expectativas, mas destaco duas: a organização de
uma revista periódica sobre foguetes (o Brasil não tem. Há a Journal of Aerospace Technology and
Management – JATM, que mescla todas as tecnologias aeroespaciais) e o
aumento da nossa representatividade como corpo de cientistas junto aos órgãos
competentes, como a aeronáutica para organização dos lançamentos e dar
estrutura para novos grupos de foguetemodelismo que possam surgir. Óbvio que
não tenho expectativa de que isso aconteça a curto prazo, mas a médio prazo
(cinco anos), tenho uma excelente expectativa.
BRAZILIAN SPACE: Professor Alysson, a sua
iniciativa de criar uma equipe de Espaçomodelismo dentro de Departamento de
Mecânica da UP é sem dúvida um grande exemplo a ser seguido por outras
instituições universitárias do País. Diante disto, o senhor estaria disposto a
realizar palestras sobre a sua experiência, caso existam instituições interessadas,
e em caso positivo, o que essas instituições devem fazer para entrar em contato
com o senhor?
PROF.
ALYSSON: Com
certeza, Duda. Estou à disposição. O meu email é diogenes@up.edu.br e dentro de uma
programação, estou disposto a conversar sobre nosso histórico e o
desenvolvimento de uma ciência genuinamente brasileira.
BRAZILIAN SPACE: Finalizando Prof. Alysson, o
senhor teria algo a mais a dizer aos nossos leitores?
PROF.
ALYSSON: Duda,
encerro com uma palavra de incentivo. O primeiro passo para termos uma ciência
de qualidade, e por consequência, sairmos da pobreza, é acreditarmos que
podemos. Há várias dificuldades, baixo orçamento, falta de cultura científica,
e tantas outras. Mas em vez de simplesmente lamentarmos, se dermos um passo de
cada vez, dominando ciências básicas, depois intermediárias, depois ciência
avançada, nós podemos deixar de ser um país agrário e nos tornarmos O país mais
desenvolvido do mundo e sem dependermos de governo ou política alguma. Nós
temos o mais difícil: o material humano. Enquanto países como Estados Unidos e
toda a Europa precisam importar cérebros, nosso povo é criativo e inteligente.
Por fim, uma sugestão. Caro leitor, que tal se em vez de
simplesmente reclamar do nosso governo (parar de reclamar seria pedir demais), que
tal fazer alguma coisa? Há escolas no seu bairro? Que tal criar o Grupo Amador
de Foguetemodelismo do seu bairro? É mais barato do que você pensa e há dezenas
de tutoriais na internet. E que tal fazer isso por amor ao Brasil e como um
retorno à sociedade? Um grande abraço, Duda.
Parabéns Alysson!
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