BRICS Quer Paz e Cooperação no Espaço
Olá leitor!
Segue abaixo outro artigo
escrito pelo Sr. José Monserrat
Filho e postado pelo companheiro André Mileski ontem (12/07) em seu no Blog Panorama Espacial.
Duda Falcão
BRICS
Quer Paz e Cooperação no Espaço
José Monserrat Filho*
"A
coexistência pacífica entre as nações é impossível sem a aplicação universal,
escrupulosa e coerente dos princípios e normas amplamente reconhecidos do
Direito
Internacional.” Declaração de Ufá, Ponto 6, 7ª Cúpula do
BRICS, 09/07/2015
A ameaça de
guerra no espaço e a oportunidade e a necessidade da cooperação espacial entre
os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) mereceram
atenção especial na Declaração de Ufá1 (Ponto 32), principal produto da 7ª
Cúpula do foro, reunida em 9 de julho, na cidade russa de Ufá – fundada em 1574
e distante 1567 km de Moscou.
A Declaração,
com cerca de 50 páginas, apresenta os resultados da parceria em suas inúmeras
áreas de colaboração (no período de 2014-2015) e, sobretudo, as posições
assumidas pelo BRICS com relação às cruciais questões globais da atualidade.
Realizada sob
o tema “Parceria BRICS – Um Fator Pujante de Desenvolvimento Global”, a 7ª
Cúpula do BRICS decidiu “aprimorar ainda mais nossa parceria estratégica com
base nos princípios de abertura, solidariedade, igualdade, entendimento mútuo,
inclusão e cooperação mutuamente benéfica”. O evento acordou em “intensificar
os esforços coordenados para responder a desafios emergentes, garantir a paz e
a segurança, promover o desenvolvimento de maneira sustentável, enfrentando os
desafios da erradicação da pobreza, da desigualdade e do desemprego, em
benefício de nossos povos e da comunidade internacional”.
Quanto às
atividades espaciais, a Declaração vai direto ao âmago da crise atual no setor:
a possibilidade de guerra no espaço, que vem sendo reiterada por altas patentes
de grandes potências.
Diz ela:
“Reafirmando que a exploração e o uso do espaço exterior devem ter finalidades
pacíficas, enfatizamos que as negociações para a conclusão de um acordo ou
acordos internacionais para evitar uma corrida armamentista no espaço exterior
são uma tarefa prioritária da Conferência do Desarmamento e apoiamos os
esforços para iniciar um trabalho substantivo, entre outros, baseado no projeto
atualizado de tratado para a prevenção da instalação de armas no espaço
exterior e da ameaça ou do uso da força contra objetos no espaço exterior,
apresentado pela China e pela Federação da Rússia.”
Neste sentido,
reitera-se “que o espaço exterior deve ser livre para exploração pacífica e
para o uso de todos os Estados com base na igualdade, em conformidade com o
Direito Internacional, e que a exploração e uso do espaço exterior devem ser
realizados para o benefício e no interesse de todos os países, independentemente
de seu grau de desenvolvimento científico ou econômico”, reafirmando as
palavras do Art. 1º do Tratado do Espaço de 1967, que costuma ser definido pela
comunidade internacional como “o código maior das atividades espaciais”.
Para o BRICS,
“todos os Estados devem contribuir para promover a cooperação internacional
sobre a exploração pacífica e o uso do espaço exterior levando em particular
consideração as necessidades de países em desenvolvimento”, conforme consta da
“Declaração sobre a Cooperação Internacional na Exploração e Uso do Espaço
Exterior em Benefício e no Interesse de Todos os Estados, Levando em Espacial
Consideração as Necessidades dos Países em Desenvolvimento”, aprovada pela
Assembleia Geral das Nações Unidas, em 13 dezembro de 1996 (Resolução 51/122).
Na mesma
linha, o BRICS “opõe-se “a medidas unilaterais que podem impedir a cooperação
internacional, bem como atividades espaciais nacionais de países em
desenvolvimento”. E esclarece: “Estamos firmemente convencidos de que a comunidade
internacional deve empreender esforços consistentes para elevar os patamares
básicos de segurança de atividades e operações espaciais e evitar conflitos.”
“Nossos
países” – reconhece a declaração – “podem se beneficiar de oportunidades para
cooperação espacial de modo a promover a aplicação de tecnologias relevantes
para propósitos pacíficos”. E propõe intensificar “nossa cooperação em áreas de
aplicação conjunta de tecnologias espaciais, navegação por satélite, incluindo
GLONASS e Beidou (Compass), e ciências espaciais”.2
O documento
conclui no tópico espacial: “Dessa forma, nossos países podem cooperar na
elaboração de abordagens comuns para essa área. Deve ser atribuída prioridade a
questões relacionadas à segurança de operações espaciais, no contexto mais
amplo de garantir sustentabilidade em longo prazo de atividades no espaço
exterior, bem como a meios e formas de conservar o espaço exterior para fins
pacíficos, que estão na agenda do Comitê da ONU para os Usos Pacíficos do
Espaço Exterior (UNCOPUOS)”.
Cabe destacar
a importância atribuída pelo BRICS às Nações Unidas e ao Direito Internacional.
O encontro enalteceu os 70 anos das Nações Unidas, que se comemoram este ano:
“Reafirmamos nosso forte compromisso com as Nações Unidas, organização
universal multilateral incumbida do mandato de ajudar a comunidade
internacional a preservar a paz e a segurança internacionais, impulsionar o
desenvolvimento global e promover e proteger os direitos humanos.”
É intenção do
BRICS “contribuir para salvaguardar uma ordem internacional justa e equitativa,
baseada nos objetivos e princípios da Carta das Nações Unidas, e de valer-nos
plenamente do potencial da Organização como fórum para um debate aberto e
honesto, bem como para coordenação da política global a fim de prevenir guerras
e conflitos e promover o progresso e o desenvolvimento da humanidade”.
Recordando o
documento final da Cúpula Mundial de 2005, a Declaração reafirma ”a necessidade
de reforma abrangente das Nações Unidas, inclusive de seu Conselho de
Segurança, com vistas a torná-lo mais representativo e eficiente, de modo que
possa responder melhor aos desafios globais”. E frisa: “China e Rússia reiteram
a importância que atribuem ao status e papel de Brasil, Índia e África do Sul
em assuntos internacionais e apoiam sua aspiração de desempenhar um papel maior
nas Nações Unidas.”
A Declaração
considera que “a coexistência pacífica entre as nações é impossível sem a
aplicação universal, escrupulosa e coerente dos princípios e normas amplamente
reconhecidos do Direito Internacional”, pois “a violação de seus princípios
fundamentais resulta na criação de situações que ameaçam a paz e a segurança
internacionais”.
O BRICS
insiste que, “o Direito Internacional provê ferramentas para a realização da
justiça internacional, com base nos princípios da boa fé e da igualdade
soberana. E enfatiza “a necessidade da adesão universal aos princípios e normas
de Direito Internacional em sua inter-relação e integridade, descartando o
recurso a 'critérios duplos' e evitando que os interesses de alguns países
sejam colocados acima dos de outros”.
“Reafirmamos”
– diz a Declaração – “nosso compromisso com o cumprimento rigoroso dos
princípios consagrados na Carta das Nações Unidas e na Declaração de 1970 sobre
Princípios de Direito Internacional relativos às Relações de Amizade e
Cooperação entre os Estados em conformidade com a Carta das Nações Unidas.”
Essa Declaração desempenhou importante papel nos anos da Guerra Fria
(1947-1988).
O BRICS nota
“o caráter global das ameaças e desafios atuais de segurança” e expressa “apoio
aos esforços internacionais para enfrentar esses desafios de maneira que
proporcione segurança equitativa e indivisível para todos os Estados, por meio
do respeito ao Direito Internacional e dos princípios da Carta das Nações
Unidas”.
Os países do
foro se comprometem a continuar os “esforços conjuntos na coordenação de
posições sobre interesses compartilhados a respeito de questões de paz e de
segurança globais para o bem-estar comum da humanidade”. E ressaltam o
“compromisso com a solução pacífica e sustentável de controvérsias, de acordo
com os princípios e objetivos da Carta das Nações Unidas”.
Eles condenam
as “intervenções militares unilaterais e sanções econômicas em violação ao
Direito Internacional e a normas universalmente reconhecidas das relações
internacionais”. E enfatizam que “nenhum Estado deve fortalecer a sua segurança
às custas da segurança de outros”.
“Desenvolvimento
e segurança” – recorda o BRICS – “estão estreitamente interligados, reforçam-se
mutuamente e são fundamentais à consecução da paz sustentável”.
Para o foro,
“o estabelecimento de uma paz sustentável requer abordagem abrangente,
concertada e determinada, baseada na confiança e no benefício mútuos, na
equidade e na cooperação”.
A notória
preocupação do BRICS com as Nações Unidas, as organizações multilaterais e o
Direito Internacional intensifica-se em vista das iniciativas políticas e
militares típicas da Guerra Fria e da corrida armamentista, cada vez mais
frequentes e perigosas à estabilidade global e ao esforço conjunto
indispensável à superação das múltiplas crises nas quais o mundo está imerso.
*
Vice-Presidente da Associação Brasileira de Direito Aeronáutico e Espacial
(SBDA), Diretor Honorário do Instituto Internacional de Direito Espacial,
Membro Pleno da Academia Internacional de Astronáutica (IAA) e Chefe da
Assessoria de Cooperação Internacional da Agência Espacial Brasileira (AEB).
Esse artigo expressa exclusivamente a opinião do autor.
Referências
1) Nota 280 do
Ministério das Relações Exteriores; veja no site www.itamaraty.gov.br.
2) GLONASS e
Beidou são, respectivamente, os sistemas de navegação por satélite, semelhantes
ao GPS norte-americano e ao Galileo europeu. Os sistemas russo e chinês
concluíram recentemente um acordo para cooperação e funcionamento conjunto.
Fonte: Blog Panorama Espacial - http://panoramaespacial.blogspot.com.br/
Se depender do Brasil e seu PEB a paz será eterna.
ResponderExcluirgustavo, o Brasil só tem jorrões pequenos , típicos de festas juninas, o VLS nem sobe até o seu Apogeu.
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