Corte de Gastos no INPE Faz Pesquisadores Deixarem Santa Maria

Olá leitor!

Segue abaixo uma grande e preocupante reportagem publicada dia (23/07) no site do jornal “Diário de Santa Maria” da cidade gaúcha de Santa Maria, tendo como destaque as grandes dificuldades enfrentadas pelo Centro Regional Sul de Pesquisas Espaciais (CRS) do INPE devido ao corte de ‘gastos’.

Duda Falcão

ECONOMIA E POLÍTICA

Corte de Gastos no INPE Faz
Pesquisadores Deixarem Santa Maria

Redução em 44% no orçamento da unidade prejudica
pesquisas e rotina de quem trabalha no local 

Jaqueline Silveira
jaqueilne.silveira@diariosm.com.br
23/07/2017 | 14h10
Atualizada em 23/07/2017 | 14h21

Foto: Charles Guerra / Diário de Santa Maria

Corte de Gastos Esvazia Pesquisas do INPE

Responsável por fazer pesquisas sobre clima e tempo, a previsão é de dias sombrios no Centro Regional Sul de Pesquisas Espaciais (CRS) do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), localizado na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

Sem recursos para a manutenção e funcionamento, o CRS vê seu patrimônio científico – a produção de pesquisas – atingido diretamente pelos cortes feitos pelo governo federal. A partir de 2012, o Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações promoveu uma redução no orçamento do INPE, que no centro de Santa Maria atingiu 60% dos recursos. 

Já neste ano, ocorreu um corte de mais 44% em cima do orçamento já enxuto, prejudicando em cheio o trabalho (leia mais nas páginas 12 e 13) dos pesquisadores. Dos R$ 2 milhões necessários ao ano para seu funcionamento, o CRS receberá em 2017 somente R$ 300 mil.

Pulsante pela sua produção de pesquisas, o CRS está mais silencioso e também mais vazio diante da situação que enfrenta. Faz parte do trabalho do Centro Regional Sul de Pesquisas Espaciais, por exemplo, a coleta de dados para aperfeiçoar os modelos de previsão do tempo para a Região Sul.

As pesquisas também fornecem informações para a melhoria das previsões sazonais, ou seja sobre o clima em cada estação. Esses dados são disponibilizados em boletins e auxiliam órgãos e institutos ligados à agricultura na orientação dos produtores. O trabalho feito pelos pesquisadores possibilita, ainda, cooncluir que a onda de calor que ocorreu neste mês no Rio Grande do Sul não foi consequência de mudanças climáticas, mas, sim, de um bloqueio atmosférico, impedindo o avanço da frente fria, conforme explica o chefe do CRS, Ronald Buss de Souza.

Camada de Ozônio

Ainda faz parte do trabalho do Centro Regional Sul de Pesquisas, entre outros, o monitoramento da camada de ozônio. A partir das pesquisas, o CRS tem condições de disponibilizar dados que são de interesse da população, informando sobre os dias que exigem mais proteção dos raios ultravioletas.

Mas essas e outras pesquisas estão devagar ou quase parando diante das dificuldades operacionais do centro. Com os recursos minguados, os funcionários terceirizados para a secretaria e apoio administrativo foram dispensados. Como consequência, a biblioteca e a secretaria do prédio estão fechadas. De terceirizados, só há um motorista e os funcionários da limpeza, mas que também já foram reduzidos, conforme o chefe do CRS. Dos 12 servidores contratados, restam só oito para a limpeza do prédio de três andares. A rede de internet é lenta e, muitas vezes, dificulta o acesso e até o baixamento de dados necessários ao trabalho dos pesquisadores. Os telefones também estão com problemas, mas, assim como no caso da internet, não há dinheiro para a manutenção. 

Os laboratórios também estão prejudicados e alguns até vazios. Os grupos de trabalho estão perdendo profissionais pela falta de condições de trabalho. Já os cinco carros do CRS estão parados na garagem por falta de combustível. 

– A situação nunca foi tão grave quanto este ano. É uma situação calamitosa, a gente basicamente não tem condições de operar – comenta o chefe do Centro Regional Sul de Pesquisas Espaciais, desolado com realidade que convive ultimamente no CRS.

Profissionais Desestimulados

Em tom melancólico, Ronald, que é oceanógrafo, diz que o que o deixa ainda mais angustiado diante da situação é a partida de pesquisadores talentosos para centros maiores, como São Paulo e Minas Gerais, e até para o Exterior. 

– O mais triste para mim é ver as pessoas indo embora de Santa Maria. Nossos pesquisadores estão desestimulados e estão indo embora – relata ele.

Com doutorado em Meteorologia concluído em março, Rose Freitas voltou para casa em Pelotas, Zona Sul, enquanto aguarda uma bolsa que não saiu no primeiro semestre deste ano como ela esperava. Ela trabalhou por seis anos no CRS e lamenta a situação. 

– É bem triste, um centro bem estruturado, mas estar dessa forma. Ver a falta de investimento no centro é muito triste – comenta Rose.

10 Projetos em Andamento

O curso de Meteorologia da UFSM, conforme o chefe do CRS Ronald de Souza, tem dado um suporte importante para a continuidade das pesquisas diante das dificuldades do centro. Atualmente, o Centro Regional Sul tem cerca de 10 projetos de pesquisas que mantem com recursos do próprio INPE ou de agências externas. Para o funcionamento do prédio, circulam entre 300 e 350 pessoas do CRS e da UFSM, entre pesquisadores, estudantes e funcionários. 

Além do prédio na UFSM, o CRS tem o suporte do Observatório Espacial, localizado no interior do município de São Martinho da Serra, para a coleta de dados atmosféricos e espaciais. A exemplo do prédio no campus, a estrutura está precária. Segundo Ronald, não há servidores lotados no local e cabe a um técnico-administrativo da universidade cuidar de toda a infraestrutura e patrimônio do observatório, por meio do convênio com a UFSM.

Direção do INPE reconhece problemas, mas diz que não tem dinheiro

Coordenadora dos centros regionais do Inpe, Fátima Mattiello diz que o instituto tem conhecimento da situação do CRS de Santa Maria e que foi a verba de apoio à infraestrutura para pesquisas que teve corte de 44%, atingindo a manutenção e o funcionamento, como a limpeza.

– A vertente de recursos humanos não está tão abalada – afirma ela, referindo-se, principalmente, a pesquisadores.

Fátima admite, entretanto, que possa faltar pessoal para algum trabalho de mapeamento. Ela explica que boa parte das pesquisas é de anos anteriores, como o nanossatélite de 2014, e que, no momento, a continuidade dos projetos não seria afetada. Já em 2018 a situação tende a se agravar em relação às pesquisas, segundo Fátima.

– A gente come hoje, o que plantou ontem – exemplifica a coordenadora dos centros regionais do INPE.

Quanto aos pedidos de manutenção no CRS, conforme Fátima, estão na lista de prioridades, no entanto não há dinheiro para resolvê-los imediatamente. O fechamento da biblioteca (foto), segundo ela, é consequência da falta de bibliotecário, já que os funcionários terceirizados foram dispensados. De acordo com a coordenadora, o Inpe solicitou “uma complementação orçamentária” ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e aguarda uma resposta.

Por dentro do Centro Regional Sul de Pesquisas Espaciais

* O Centro Regional Sul de Pesquisas Espaciais (CRS) é vinculado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) que, por sua vez, é ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC)

* O CRS funciona em um prédio localizado no campus em um terreno doado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

* O prédio de três andares tem aproximadamente 11.511 m2 de área divididos em auditório, biblioteca, laboratórios, salas de pesquisadores, setor administrativo e salas de reuniões

* O CRS desenvolve pesquisas sobre engenharias, tecnologias e informática; observação da terra; ciências da terra, do sistema solar e do espaço exterior e terrestre; clima e tempo, com foco da Região Sul, Oceano Atlântico e Antártica

* Nesse trabalho dos pesquisadores, incluem-se, por exemplo, trabalhos no oceano que ajudam na previsão do tempo e clima do Brasil e Antártica

* O CRS também coleta dados sobre a camada de ozônio na atmosfera, fornecendo dados que são úteis para informar à população sobre os dias que exigem mais proteção dos raios ultravioletas

* Além do prédio no campus, o CRS tem o Observatório Espacial, no interior de São Martinho, que dá suporte para a coleta de dados dos pesquisadores

* O CRS ainda é a sede do Projeto Antártico do Inpe e foi sede do Campus Brasil do Centro Regional de Educação em Ciências e Tecnologias Espaciais para a América Latina e Caribe (Crectealc) entre 2007 e 2012. O Crectealc funcionou no INPE a partir de 1997 e foi encerrado, por falta de recursos, em 2017

* O CRS tem cerca de 10 projetos em andamento mantidos com recursos do INPE e de agências externas como a AEB (Agência Espacial Brasileira), a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), PROANTAR (Programa Antártico Brasileiro)

Muitos Problemas

1. A partir de 2012, o Ministério da Ciência e Tecnologia promoveu cortes ao INPE, que no CRS chegaram a 60% do orçamento, afetando diretamente as pesquisas

2. Recentemente, o ministério fez um novo corte ao orçamento de 44% em cima dos 60%. Com um orçamento mais enxuto, as pesquisas nos centros vinculados ao INPE, como é o caso do CRS, praticamente ficaram inviabilizadas

3. O Centro Regional Sul de Pesquisas Espaciais localizado no campus da UFSM está com sua estrutura operacional prejudicada pela falta de recursos, especialmente para a manutenção

4. Com exceção da limpeza e de um motorista, não há mais terceirizados no CRS. Os serviços de secretaria, apoio administrativo e biblioteca não funcionam mais. Todo o acervo de livros do INPE e da UFSM no prédio está trancado sem poder ser usado pelos pesquisadores e estudantes

Sem Manutenção de Equipamentos, Laboratórios Têm Funcionamento Prejudicado

* Os 5 carros do CRS estão parados há um ano por falta de combustível e manutenção. Recentemente, foi feito o seguro dos veículos

* Dos R$ 2 milhões que o CRS necessitaria no ano para seu funcionamento, só R$ 300 mil virão em 2017

* Falta manutenção dos telefones que estão com problemas

* A conexão da internet é lenta e, muitas vezes, não permite que pesquisadores acessem ou baixem dados

* Dos 12 funcionários para a limpeza do prédio de 3 andares, restam só 8, os demais foram dispensados

* Desestimulados, pesquisadores estão deixando o campus da UFSM e procurando grandes centros, como São Paulo e Minas Gerais, ou até o Exterior

* Os grupos de pesquisas têm perdido profissionais pela falta de condições de trabalho

* Vários contratos com fornecedores foram redimensionados para que o CRS possa pagá-los diante da falta de recursos

* Um grupo de trabalho entre pesquisadores do INPE e professores da UFSM foi montado para que novas soluções que viabilizem a pesquisa no CRS sejam encontradas. A UFSM poderá assumir parte dos custos em troca da infraestrutura para abrigar seus servidores e projetos de pesquisa

Compartilhamento de espaços e custos por INPE e UFSM deve ser a alternativa

O convênio entre a Universidade Federal de Santa Maria e o INPE para o compartilhamento do prédio do CRS se encerrou em abril deste ano. Já em 6 de junho deste ano foi expedida uma portaria criando um grupo de trabalho, constituído por pesquisadores do CRS e professores da UFSM, para elaborar um novo convênio e, como consequência, viabilizar as pesquisas. A coordenadora dos centros regionais do Inpe projeta que em três meses o convênio deve ser fechado entre o instituto e a universidade. 

Pela parceria, a UFSM ajudaria a pagar os custos gerais de manutenção, como conta de luz, limpeza e vigilância, proporcionalmente ao espaço utilizado pela instituição de ensino. O compartilhamento dos custos, conforme Fátima, ajudaria o CRS a economizar recursos para fazer investimentos. 

– Nós estamos ajudando a dividir espaço e responsabilidade. É do interesse da universidade a continuidade do Inpe forte – destaca o reitor reeleito da UFSM, Paulo Burmann, sobre o convênio que está sendo elaborado e com “boas chances” de fechar logo.

Cortes na UFSM preocupam

O contingenciamento no orçamento feito pelo Ministério da Educação (MEC) este ano não só preocupa a UFSM, como já teve consequências, como a redução de funcionários terceirizados. O orçamento da universidade para este ano é de R$ 1,1bilhão e, neste momento, conforme a Pró-Reitoria de Planejamento, faltaria a liberação de R$ 20 milhões para investimentos, o que inclui obras em andamento, como a continuidade da construção do campus de Cachoeira do Sul. Já em verba de custeio, que nada mais é do que os recursos para manutenção da UFSM, faltam ser liberados R$ 30 milhões.

Com menos dinheiro nos cofres, a Reitoria começou a tomar medidas para se adequar à nova realidade. E iniciou pelos servidores terceirizados. Em abril, foram reduzidos 27 postos de vigilância, que tinham dois funcionários em cada um. Já em maio, foram feitas dispensas nos setores de limpeza, de portaria e de recepcionista.

– Estamos fazendo ajustes que não afetem o funcionamento da universidade – diz o pró-reitor de Administração, José Carlos Segalla, sobre a atual situação da UFSM.

Como a universidade tem prédios novos (o Centro de Convenções é um deles), o que implicaria numa área maior de trabalho e num acréscimo nos contratos, foi feita uma readequação para evitar mais gastos. Alguns locais que recebiam limpeza cinco vezes por semana, exemplifica Segalla, foi reduzido para duas. Somente lugares que exigem limpeza diária estão recebendo o serviço todos os dias. Com esses ajustes não precisou reajustar os contratos. 

– Não podemos aumentar, não temos de onde tirar dinheiro – afirma o pró-reitor. 

O reitor Paulo Burmann acrescenta que a universidade está fazendo uma redução de despesas gerais e os contratos terceirizados estão em constante reavaliação diante das finanças da UFSM, no entanto, ele acredita que no próximo mês, o MEC poderá dar uma resposta positiva às universidades com a liberação do orçamento integral.

– Continuamos nessa expectativa de reverter – adiante ele.

Em caso de os cortes se confirmarem a UFSM terá problemas, por exemplo, para concessão de bolsas, funcionamento do Restaurante Universitário e fazer obras.


Fonte: Site do jornal Diário de Santa Maria (RS)

Comentário: Bom, primeiramente empregar recursos em pesquisas científicas e tecnológicas nunca foi e nunca será gastos e sim investimento, mas enfim... isso é uma outra história. Quanto à situação, a mesma fala por si só, é terrível, mas é a realidade de um país sob a direção de populistas de merda. E o pior é que a incompetência e a falta de comprometimento vão continuar existindo e tudo que foi alcançado neste centro, bem como os investimentos feitos vão acabar numa lata de lixo, e os vagabundo responsáveis comendo pizza. Mas o que se pode esperar de um povo que nem mesmo a sua mídia sabe distinguir gastos de investimentos??? Fazer o que??? Isto é BRAZIL ZIL ZIL ZIL ZIL

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