Ciência Perde Metade da Verba para 2017
Olá leitor!
Segue abaixo uma interessante matéria publicada na edição
de Abril do ”Jornal do SindCT“, destacando que a Ciência perdeu
metade da verba em 2017.
Duda Falcão
NOVOS CORTES ORÇAMENTÁRIOS
Ciência Perde Metade da Verba para 2017
O setor de C&T é mera nota de rodapé na lista de
prioridades do governo Temer.
Em época de crise econômica, projetos importantes do INPE
e do IAE
passam a ter futuro incerto
Shirley Marciano
Jornal do SindCT
Edição nº 56
Abril de 2017
Alvo da Lava Jato, Kassab não cumpriu o que prometeu.
|
No dia 30 de março, a ciência brasileira sofreu mais um
duro golpe em seu orçamento, quando o governo federal anunciou como será
distribuído, entre os diferentes setores, o novo corte de R$ 58 bilhões no
Orçamento da União para 2017. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles,
informou que poderão ser contingenciados R$ 4,6 bilhões na rubrica “Ciência e
Tecnologia”, montante que corresponde a quase 53% do total de R$ 8,7 bilhões
previstos para investimentos e custeio em pesquisa e atividades afins no âmbito
do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e de
outras pastas. É o menor orçamento dos últimos 12 anos, e não há expectativa de
melhora para os próximos anos. A Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP),
órgão ligado ao MCTIC, perdeu 27% de seu orçamento.
Em diversas ocasiões, Luiz Davidovich, presidente da
Academia Brasileira de Ciência (ABC), vem alertando sobre o equívoco que
consiste em reduzir o orçamento destinado ao setor a pretexto de conter crises.
Ele sustenta que as ações deveriam ser em sentido contrário: “A tesourada nas
áreas de conhecimento é um erro estratégico. Outros países afetados pela crise
global têm adotado uma opção diametralmente oposta: aumentam o investimento em
ciência e tecnologia, ao invés de reduzi-lo. Eles sabem que esse é o melhor caminho
para sair da crise de forma sustentável”.
Ainda não se sabe como será dividido o prejuízo,
internamente ao MCTIC. Os cortes, possivelmente, não serão lineares. Os
impactos nos institutos e nos seus respectivos projetos só serão conhecidos
após essas definições. É possível que grandes projetos, como o segundo Satélite
Geoestacionário de Defesa e Comunicação (SGDC- 2), a ser desenvolvido pela joint-venture
Visiona, fique em banho-maria até que a crise seja superada, pois seu custo
chegará a R$ 2bilhões.
Quando fechávamos esta edição, o SGDC-1, montado pela
empresa franco-italiana Thales Alenia Space por encomenda da Visiona,
encontrava-se havia semanas em Kourou, Guiana Francesa, pronto para ser
lançado, o que não ainda não acontecera em razão de uma inédita série de greves
e protestos naquele país. A decisão do governo de privatizar o uso do satélite,
entregando seu controle a operadoras de telecomunicações, é um atentado ao
Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) e fere a normatização do projeto (leia
p. 6).
Lobby
Outro projeto que consumirá enorme verba é o Sirius,
vinculado ao Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNSL) e ao Centro Nacional
de Pesquisas de Energia e Materiais (CNPEM). O Sirius está sendo construído em
Campinas, no interior de São Paulo, e seu orçamento é de R$ 1,5 bilhão. Elé
objeto de muito lobby junto ao governo por parte do CNPEM, “organização
social” (OS) dirigida por cientistas politicamente influentes, e possuidores de
laços históricos com o PMDB governista: os físicos Rogério Cézar de Cerqueira
Leite e Marco Antonio Raupp. Mas, se estes projetos estão sob a mira da tesoura
de Michel Temer e Henrique Meirelles, imagine-se o que vem para os projetos de
institutos que não dispõem de padrinho.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
planeja lançar dois satélites até o final de 2018: o Sino-Brasileiro de
Recursos Terrestres (CBERS-4A) e o Amazônia-1.
É possível que haja prioridade na entrega do CBERS dentro
do prazo para não azedar a relação com a China, mas o destino do Amazônia-1 é
incerto.
O corte no orçamento de C&T também deve afetar os
projetos do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), pertencente ao
Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), vinculado à
Aeronáutica (Ministério da Defesa). Lembrando que a situação do instituto já é
muito ruim, porque escasseiam recursos até mesmo para a manutenção dos prédios,
água e luz.
O ministro Gilberto Kassab (PSD), agora formalmente
indiciado no STF em razão de delações relacionadas à Operação Lava Jato, parece
não dispor de muito prestígio no núcleo duro do governo. Só conseguiu prometer
que não haveria cortes, não conseguiu evitá-los. A realidade mostra que a
educação e a ciência estão no rodapé da lista de prioridades do atual governo.
Prioridades
A pedido da reportagem, a gerência do CBERS, o INPE
e a AEB pronunciaram-se sobre os cortes que afetaram diretamente 44% do
orçamento do MCTIC. Foi reiterado o status de prioridade conferido
aos satélites CBERS-4A e Amazônia-1. Todos os dirigentes consultados
disseram acreditar na manutenção do cronograma atual do satélite
desenvolvido em cooperação com a China.
“Ainda estamos avaliando o impacto do corte orçamentário.
No momento estamos trabalhando para iniciar a integração do
CBERS-4A, conforme cronograma acordado com o parceiro chinês, e o
lançamento está mantido para 2018”, declarou ao Jornal do
SindCT Antonio Carlos de Oliveira Pereira Junior, gerente do
CBERS.
“Com relação aos recursos para os satélites
Amazônia1 e CBERS 4A, tivemos uma reunião com a AEB para definir
um corte mínimo possível, de forma a manter o cronograma.
Conseguimos acordar um corte de cerca de 15%, que não inviabiliza
a continuidade dos projetos, afetando mais os contratos dos
lançadores, que podem ser pagos mesmo após o lançamento”, disse
o diretor do INPE, Ricardo Galvão. “Esse acordo ainda tem que ser
referendado pelo MCTIC”.
Quanto ao orçamento recebido diretamente do MCTIC,
“através de ações sob governança do INPE”, a direção do
instituto ainda não recebeu orientação do ministério quanto ao
montante do corte efetivo. “Estamos trabalhando um plano
emergencial supondo um corte de 30%; mas não temos nenhuma garantia
sobre este valor”, esclareceu Galvão.
“A despeito do valor anunciado como corte para a
área de C&T, nosso ministério ainda está trabalhando com os
números finais para cada organização a ele vinculada. Assim, não
será possível discutir neste momento o impacto sobre os projetos
do INPE e do DCTA”, afirmou Petrônio Noronha Souza, diretor
de Política Espacial e Investimentos Estratégicos da AEB. “Na falta
dessa definição, e considerando a prioridade que a AEB atribui
aos projeto do CBERS-4A e Amazônia-1, não é possível falar em
atraso de lançamento no momento”, completou.
Fonte: Jornal do SindCT - Edição 56ª – Abril de 2017
Comentário: Bom leitor, quem planta colhe e tudo que está
acontecendo hoje no país (não só na ciência e tecnologia) é fruto de um erro
cometido pelos militares na segunda metade da década de 80 quando devolveram o
governo para uma sociedade que não estava preparada para governar, e o resultado
tá ai. E muito simples, estamos pagando o preço de nossa estupidez.
Comentários
Postar um comentário