Brasil Concentra Seu Investimento Tecnológico em Um Novo Acelerador de Partículas
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo muito interessante sobre o Projeto Sirius publicado hoje (09/01) no
site “Defesanet.com” destacando que o Brasil irá concentrar o seu investimento tecnológico neste novo acelerador de
partículas.
Duda Falcão
TECNOLOGIA
Brasil Concentra Seu Investimento Tecnológico
em Um Novo Acelerador de Partículas
Revista Época
09 de Janeiro, 2017 - 10:40 ( Brasília )
Quem circula pelo polo de
alta tecnologia de Campinas, no interior de São Paulo, cruza estradinhas
bucólicas pontuadas pelos campi de algumas grandes empresas. São, na maioria,
instalações de concreto, cercadas por imensos estacionamentos e quase monótonas
quando vistas pelo lado de fora.
Um prédio branco salta à
vista: parece um estádio de futebol construído em um lugar improvável.
"Aqui do meio é que você tem uma noção do real tamanho do prédio",
diz o engenheiro Oscar Vigna, um homem alto e vermelho, queimado das muitas
horas passadas sob o sol, supervisionando as obras do prédio que vai abrigar o
Sirius, um equipamento que funciona como um microscópio gigante.
A máquina tem um nome
complicado: acelerador de partículas do tipo síncrotron. É a ferramenta que os
cientistas usam para entender a estrutura atômica das substâncias com as quais
vão trabalhar.
Algo importante para o
desenvolvimento de novos medicamentos, para o aprimoramento de materiais usados
na construção civil, na exploração de petróleo e em uma infinidade de outras
áreas. Uma máquina imensa, usada para desbravar universos em miniatura. Quando
estiver pronto, o Sirius acumulará números parrudos.
O prédio de 68.000 metros
quadrados abrigará um equipamento com formato de anel e circunferência de 500
metros. Para proteger as pessoas da radiação liberada pelo funcionamento da
máquina, planejada para ser a mais avançada desse tipo em todo o mundo, o
conjunto será blindado por 1 quilômetro de paredes de concreto. Uma barreira
com 1,5 metro de espessura e 3 metros de altura.
Dos números do Sirius, o
que mais impressiona é o preço: R$ 1,5 bilhão. É o projeto científico mais
ambicioso já levado a cabo no Brasil. Ou é essa a esperança de seus construtores.
Sua construção ainda está em andamento.
Espera-se que esteja
pronto em 2019. E, com a crise econômica e política que aflige o Brasil, o
gigantismo do projeto parece ameaçado. "O Sirius é prioritário, mas seria
ingenuidade nossa dizer que não há preocupação", afirma o físico António
José Roque, diretor do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (Laboratório
Nacional de Luz Síncrotron), que encabeça o projeto.
Desde que o Sirius
começou a ser discutido em Brasília, em 2008, a ciência nacional foi do melhor
ao pior dos mundos. Entre 2000 e 2013, as verbas para fazer ciência no Brasil
cresceram a patamares inéditos para depois despencar, levadas pelos reveses
econômicos do segundo governo Dilma. Cientistas deixaram o país e projetos
foram postos de lado.
O Ministério da Ciência
não admite que o Sirius esteja ameaçado: "Num momento como o atual, um
projeto como o Sirius traz oportunidades que ajudam o Brasil a sair da
crise", diz a Pasta em nota. Manter as obras dentro do cronograma exigirá
repasses de RS 500 milhões em 2017, nos cálculos do pessoal do LNLS. Mas a
primeira versão de 2017, encaminhada pelo governo ao Congresso, fala em
destinar apenas R$ 365 milhões. Em 2016,0 orçamento proposto pelo governo - R$
270 milhões - já sofrera reduções. Fechou em RS 182 millhões.
O Brasil já conta com um
acelerador de partículas, o UVX, também localizado em Campinas. O projeto
começou em 1985, por iniciativa dos físicos Ricardo Lago e Ricardo Rodrigues.
Foi inaugurado em 1997 com pompa e a presença do então presidente Fernando
Henrique Cardoso.
Era o início do LNLS, uma
instalação com tecnologia avançada e - coisa inédita no Brasil -aberta para ser
usada por pesquisadores de qualquer universidade ou empresa do país e do mundo.
Seus construtores entraram para a história do laboratório como heróis
improváveis: em um país assolado pela inflação, puseram de pé um equipamento
único em toda a América Latina e raro no mundo inteiro.
Mas, no começo dos anos 2000, a máquina dava sinais de cansaço. A tecnologia
avançara e o UVX ficara obsoleto, em comparação a outros síncrotrons espalhados
pelo mundo."Nós sabíamos que precisávamos construir um acelerador
novo", diz José Antônio Brum, diretor do LNLS entre 2001 e 2008. "Era
isso ou fechar as portas." Em 2008, Brum pediu à equipe do laboratório que
desenhasse um pré-projeto do novo acelerador. A proposta foi entregue ao então
ministro da Ciência, o físico Sérgio Rezende, durante uma visita ao
laboratório.
As avaliações
preliminares adiantavam que seria um projeto caro, de RS 600 milhões. Rezende
não se incomodou: "Eu disse ao Brum: "Vá em frente, que a gente
arruma o dinheiro" afirma o ex-ministro.
A ciência brasileira
vinha de uma sequência de anos bons. A virada que tornaria o Sirius possível
começara em 1999, quando o governo FHC criou os fundos setoriais para ciência e
tecnologia. Alimentados por impostos cobrados a certos setores industriais,
eles abasteceriam o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(FNDCT) -hoje, a principal fonte federal para financiamento de pesquisas. Na
época, a maior parte do valor do fundo estava contingenciada.
O bloqueio cairia aos
poucos, em grande parte graças à pressão de Eduardo Campos, que comandou a
Pasta entre o inicio de 2004 e meados de 2005. Em 2004, o contigenciamento
chegava a 57% do fundo. Em 2010, o valor integral estava disponível para ser
aplicado. O orçamento do Ministério da Ciência crescia - com uma ligeira
regressão em 2011."Havia recursos para todo o sistema", diz Rezende.
"Estávamos em posição confortável para aprovar bons projetos."
Os esforços do país
durante a primeira década do século haviam ganhado reconhecimento
internacional. A revista Science publicou, em 2010, um artigo que destacava os
bons resultados dos cientistas brasileiros: o número de crescia.
Com o apoio do governo, o
projeto do Sirius engrenou. Em 2009, o físico Antônio fosé Roque, professor da
Universidade de São Paulo, assumiu a direção do LNLS, Entusiasmado, tornou a
construção do Sirius a prioridade do laboratório.
Conseguiu, inclusive,
trazer o pioneiro Ricardo Rodrigues para o projeto - em 2001, depois de se
desentender com a direção da instituição, Rodrigues deixara o LNLS. Turrão,
convencê-lo a voltar consumiu três almoços distribuídos ao longo de um mês,
"Poucas pessoas no mundo construíram um acelerador do começo ao fim"
diz Roque.
E Rodrigues era uma
delas. Em 2012, o projeto estava maduro, e a equipe convidou um comitê
internacional para avaliar a qualidade do trabalho. Na mesma época, na Suécia,
o governo começava a construção de um síncrotron de quarta geração — uma
máquina que estaria anos à frente do UVX ou mesmo do Sirius.
Para não perder a corrida tecnológica, a equipe de físicos aceitou o desafio de
mudar o projeto. ""Sabíamos que dava para fazer algo melhor",
diz Liu Lin, líder da equipe de física de aceleradores. "Aquele era o
pretexto que faltava." Durante um mês, a equipe de Lin trabalhou em ritmo
de maratona, das 9 às 22 horas.
Chegaram a um projeto que
tornaria a máquina brasileira a mais brilhante do mundo - até mais que a sueca.
Mas o custo cresceu. O Sirius custaria R$ 1,5 bilhão. Em 2012, a cifra não
assustou o Ministério da Ciência e Tecnologia. O Sirius sairia do papel, ainda
que o Brasil destinasse menos à pesquisa e ao desenvolvimento do que a média
mundial.
Naquela época, na soma
dos investimentos privados e públicos, chegávamos a 1,62% do PIB contra 2,13%
em média no mundo. Mas os recursos federais, crescentes nos anos anteriores,
garantiam financiamento constante para pesquisa. "A ciência brasileira vive
aos soluços e 2013 foi nosso último ano bom", diz Helena Nader, presidente
da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
As dificuldades que se
seguiram foram resultado de uma mistura infeliz de problemas econômicos e
planejamento ineficaz. A partir de 2014, mudaram as regras para a distribuição
dos royalties do petróleo - parte dos recursos foi redirecionada ao Fundo
Social, que não tem relação com ciência. Em meio às dificuldades, a comunidade
científica se ressentiu da decisão do governo de usar recursos do FNDCT para
financiar o programa Ciência sem Fronteiras.
Originalmente, o programa
— que bancava o intercâmbio de alunos de graduação em universidades
estrangeiras — deveria receber recursos de um fúndo próprio. Para a comunidade
acadêmica, ele ca-nibalizava o dinheiro disponível para a ciência. Como forma
de conter gastos, o governo diminuiu o orçamento do Ministério da Ciência. Para
piorar, afetadas pela crise, as agências financiadoras estaduais - que tiram
uma percentagem dos impostos arrecadados pelos Estados - também ficaram na
penúria.
Em 2016, numa iniciativa que pegou desprevenida a comunidade brasileira de
pesquisadores, o presidente Michel Temer fundiu o Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação com o Ministério das Comunicações.
Hoje, os cientistas do
país temem os efeitos do teto de gastos no volume de verbas destinadas a
pesquisa. Mesmo nesse contexto de penúria nacional, as obras do Sirius
prosseguiram porque, em 2015, quando o Ministério da Ciência já amargava seu
menor orçamento em nove anos, o então ministro Aldo Rebelo garantiu a inclusão
das obras do Sirius no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Para o
governo, o projeto deveria ser tratado como prioridade.
Em meio a uma crise
econômica, faz sentido apostar tão alto?"É importante que o Brasil tenha
objetivos ambiciosos", diz Caetano Penna, professor da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em política científica. "O
Sirius é um desafio tecnológico que exige o envolvimento de empresas inovadoras",
diz Penna. A construção do Sirius depende da colaboração do LNSL com, ao menos,
40 empresas nacionais. Elas terão de fabricar os componentes que vão compor o
acelerador - peças complexas, cuja fabricação exigirá que invistam no desenvolvimento
de novas tecnologias de produção. "O mais perto disso já visto no Brasil
foi a conquista das águas prolundas pela Petrobras", diz Penna.
Há um consenso entre os
pesquisadores brasileiros de que o acelerador deve ser concluído. Na maior
parte do mundo desenvolvido existe uma vaga noção de que investimento em
ciência significa crescimento econômico futuro. Em 2009, quando a economia
americana patinava, o presidente Barack Obama anunciou que destinaria US$ 21
bilhões adicionais para atividades de pesquisa e desenvolvimento científico,
como parte de seu plano de recuperação da economia.
Não há um consenso quanto
ao retorno desse esforço - os economistas não sabem dizer se US$ 1 aplicado em
ciência resultará em US$ 1 ou mais no futuro. Mesmo assim, na esteira da crise
de 2008, países como Austrália, Canadá, Alemanha e Suécia seguiram o exemplo
americano e aumentaram o financiamento para pesquisa.
O Brasil não faz isso.
Reduziu investimentos científicos na crise. Mas, se o Sirius for até o fim,
isso poderá talvez indicar que o país passou a ver ciência como investimento, e
não despesa.
Fonte: Site Defesanet.com - http://www.defesanet.com.br
Comentário: Pois é leitor, eu acho esse projeto fantástico e não resta
dúvida nenhuma que pode realmente ajudar a Ciência Brasileira dar um salto
muito grande nos próximos anos. Inclusive nas áreas de pesquisas e desenvolvimento
espacial. Quando o projeto foi apresentado à Sociedade Brasileira eu
sinceramente não acreditava que o mesmo saísse do papel, mas a construção do
acelerador seguiu e atingiu até agora um estagio que eu não acreditava que
fosse possível. Porém, a continuidade de sua construção é uma grande incógnita e eu duvido muito que o mesmo fique pronto em 2019 e ao preço que foi orçado
inicialmente. Enfim...
Então acredite Duda, o pessoal do LNLS são uma das classes de cientistas mais sérias do Brasil, eles são respeitados no mundo inteiro. Tenho acompanhado a construção desse projeto dia a dia e posso afirmar que é impressionante a rapidez em que eles subiram o prédio desde o zero em janeiro de 2015.
ResponderExcluirDeixo Aqui o link da câmera ao vivo do local para acompanhar as obras a quem interessar, é só atualizar a página constantemente
http://timelapse.cnpem.br/timelapse.jpeg
Olá Rodrigo!
ExcluirO problema não são os cientistas, estes certamente estão comprometidos. O problema são os políticos que tem o poder de a qualquer momento secar a fonte e colocar tudo a perder. Exemplos não faltam para este temor.
Abs
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)