“É o Maior Centro de Lançamento do Hemisfério Sul”, Diz Coronel Olany
Olá leitor!
Segue abaixo uma interessantíssima entrevista com o Coronel-Aviador
Claudio Olany Alencar de Oliveira, o então na época diretor do Centro de Lançamento de
Alcântara (CLA), postada que foi na edição
de dezembro do ”Jornal do SindCT“. Vale a pena conferir
atentamente esta entrevista.
Duda Falcão
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
ENTREVISTA: COMANDANTE DO CLA
“É o Maior Centro de Lançamento do
Hemisfério Sul”, Diz Coronel
Olany
A Torre Móvel de Integração (TMI) de Alcântara pode
atender a toda uma família
de foguetes suborbitais. O CLA está preparado “para
qualquer atividade de
interesse do Comando da Aeronáutica, IAE e demandas do
PNAE”
Shirley Marciano
Enviada especial a Alcântara
Jornal do SindCT
Edição nº 53
Dezembro de 2016
Vista área do complexo do CLA. |
O Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), situado no
Maranhão, vem passando por um processo de modernização e de reconfiguração da
estrutura, além de haver implantado uma série de medidas de segurança,
atendendo assim parte das recomendações da comissão que investigou as causas da
tragédia de agosto de 2003 — a explosão do Veículo Lançador de Satélites
(VLS-1), que resultou na morte de 21 pessoas da equipe técnica e na destruição
da Torre Móvel de Integração (TMI). É o que relata o coronel-aviador Claudio
Olany Alencar de Oliveira, comandante do CLA, em entrevista concedida com
exclusividade ao Jornal do SindCT na véspera do lançamento do VSB-30,
realizado em 7 de dezembro.
Exemplos das medidas recomendadas e implantadas são o
“Prédio SPL”, que concentra as equipes do Setor de Preparação e Lançamento, e
um outro prédio em forma de bunker onde motores e foguetes permanecem semienterrados.
Inaugurados em janeiro de 2016, eles tiveram sua construção financiada pela
Agência Espacial Brasileira (AEB), a um custo de R$ 16,6 milhões.
“Aqui é o maior centro de lançamento do Hemisfério Sul.
Infelizmente nem todos têm essa visão, mas tem uma localização estratégica, com
uma importância enorme, não só para a Força Aérea, mas para o país como um
todo”, sustenta o coronel Olany. “Hoje o nosso centro se encontra em plena
capacidade operacional. Estou passando o comando em janeiro e entrego o CLA com
a satisfação de tudo estar funcionando”.
Ao comentar os problemas de financiamento do Programa
Espacial, o comandante demonstrou preocupação com a necessidade de reposição da
força de trabalho do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE): “Nós temos os
recursos humanos altamente especializados que estão em vias de se aposentar.
Como a gente vai repor isso daí? Como vai reter pessoal? Então, não é só
dinheiro, mas os recursos humanos. Daqui a pouco vamos perder competência
humana para execução dos projetos”.
Fotos: Shirley Marciano
Oficiais e técnicos acompanham lançamento em 7/12/16.
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Estação meteorológica, “a maior da América do Sul”.
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Qual a sua formação e experiência, que o fizeram chegar ao comando do Centro de Lançamento de Alcântara?
Coronel-Aviador Olany - Eu já tenho uma
certa experiência atuando na área espacial. Fiz engenharia e pós-graduação no
ITA [Instituto Tecnológico de Aeronáutica]. Trabalhei no Instituto de
Aeronáutica e Espaço (IAE), que é onde são desenvolvidos os projetos de
foguetes. Fiz parte do projeto do VLS, do VSB-30 e de várias tecnologias
associadas. Isto me deu uma bagagem importante para atuar do outro lado, que é
a parte operacional do que é desenvolvido pelo IAE. Fui naturalmente preparado para
atuar no CLA. Cheguei em Alcântara em 2013 como vice-diretor e na expectativa
de assumir a direção. Então estou praticamente há quatro anos aqui.
Quais foram os principais desafios enfrentados
no período em que o senhor esteve no CLA?
Olany - Os principais desafios que enfrentamos
nesse período foram a adequação da infraestrutura do centro, atender às
demandas do Comando da Aeronáutica, da AEB e também da Alcântara Cyclone Space
(ACS). Em 2015 houve a denúncia do tratado da ACS, mas antes disso as obras já
tinham parado. Então nós continuamos com o aprimoramento da nossa
infraestrutura, modernização dos sistemas que são utilizados numa operação de
lançamento, deixando o centro preparado para qualquer atividade de interesse do
Comando da Aeronáutica, do IAE e algumas demandas provenientes do Programa
Nacional de Atividades Espaciais (PNAE).
A TMI, construída para o extinto projeto do
VLS-1, está inutilizada ou poderá ser reconfigurada para
outros modelos de foguetes?
Olany - Estamos trabalhando nessa estratégia de reconfiguração.
A TMI inicialmente foi concebida para atender o projeto do VLS. Porém, ela tem
toda condição de atender uma família de foguetes suborbitais, como o futuro
VS-43 (que seria o aproveitamento dos motores do VLS-1 do primeiro e segundo
estágios para testes de controle), bem como o VS-50, que é um foguete
suborbital para certificar o motor do VLM. Então, a torre estaria sendo
aproveitada para lançamentos do VS-43 até o VLM. Para foguetes suborbitais, até
o porte do VSB-30 e VS-40, nós temos os lançadores móveis e um de porte médio
(LPM), que foi danificado no lançamento do VS-40 e a gente está recuperando.
A plataforma utilizada para a Operação Rio Verde
veio do Centro de Lançamento de Barreira do Inferno (CLBI)?
Olany - Sim. A plataforma foi trazida de lá porque
a que temos aqui foi danificada no incidente ocorrido no ano passado, com o
VS-40, na Operação São Lourenço. Então, para viabilizar a Operação Rio Verde
nós trouxemos o lançador móvel do CLBI que já era CLA/CLBI, instalamos e
configuramos. Agora nós vamos ficar em definitivo com os dois lançadores,
porque a perspectiva, por medida de segurança, é de que o CLBI não faça mais
lançamentos de foguetes grandes. A cidade cresceu no entorno do centro e, por
essa razão, o CLBI não lança mais plataformas suborbitais (que são de porte
maior). Vai lançar somente foguetes pequenos e atuar nas atividades de
rastreio, em parceria com o Centro de lançamento de Kourou [na Guiana].
Como está a questão da segurança do CLA?
Olany - Com o relatório de investigação de 2003,
após o acidente com o VLS-1, houve várias recomendações a serem executadas, e
boa parte delas nós já cumprimos. Por exemplo, construímos um prédio de
depósito de propulsores em formato de um bunker semi-enterrado,
específico para enterrar motores e foguetes. Diferente do que acontecia no
passado, quando os motores ficavam no mesmo prédio onde era feita a preparação
de integração de foguete.
Tem também o prédio de segurança do SPL, onde as equipes
ficam concentradas, evitando a dispersão de pessoas andando em setores do SPL
sem necessidade. Assim, criamos um processo para garantir a segurança. Hoje
cada servidor militar só sai do prédio SPL para outro prédio mediante uma ordem
de atividade, sem celulares e sem equipamento. Ou seja, ele vai para executar
uma atividade específica por um período de tempo determinado e na sequência
retorna ao prédio.
Também reconstruímos no final de 2015 nosso posto médico.
Está totalmente equipado, com sala de microcirurgia e laboratórios. Está
plenamente em funcionamento. Tem atendimento operacional, emergencial em todas
as áreas. Então, para o caso de um acidente, seria o primeiro atendimento. Vale
salientar que foram revitalizados sistemas que são utilizados durante uma
operação de lançamento, como de telemetria e telecomando.
Em comparação a outros centros de lançamento,
em que posição está o CLA neste cenário? Está sendo bem
aproveitada a estrutura existente?
Olany - Temos a estação meteorológica mais bem
equipada do país. A informação que me dão é de que seria a maior da América do
Sul. Aqui é o maior centro de lançamento do hemisfério Sul. Infelizmente, nem todos
têm essa visão, mas aqui tem uma localização estratégica, com uma importância
enorme, não só para a Força Aérea, mas considero para o país como um todo.
Não vou dizer que é subutilizado porque uma série de
fatores contribui para isso, dentre eles a falta de recursos. Hoje o nosso
centro se encontra em plena capacidade operacional. Estou passando o comando em
janeiro e entrego o CLA com a satisfação de tudo estar funcionando, como a parte
de sistemas, eletrônica, de controle, de inteligência, com toda a parte de
lançamento funcionando e com os contratos de manutenção vigentes renovados,
além da parte de infraestrutura, processos, onde entra a parte de segurança.
É claro que isso requer uma melhoria contínua. Agora nós
estamos num processo de implantação de certificação do centro na área de
qualidade e depois vamos buscar uma certificação de ISO 9001. Estamos
certificando a parte operacional, mas com vistas a certificar o centro todo.
Então estamos investindo bastante em gestão estratégica.
Sobre o intervalo entre um lançamento e outro,
é possível atender com um intervalo menor para adequar às
necessidades dos experimentadores ligados às universidades?
Olany - O fator que menos influencia é o que
depende do CLA. Aprovamos um novo cronograma para as atividades espaciais, e
isso será usado. Será feita uma revisão do PNAE pela AEB. Temos um cronograma,
mas ele depende do quanto a AEB irá disponibilizar.
Comercialmente, o VSB-30 não é viável no Brasil porque
falta demanda. Agora, se tivesse uma pressão dos acadêmicos, empresas privadas,
aí a AEB teria que injetar recursos. Na verdade, o programa de Microgravidade pode
ser cumprido com o VSB-30, com o VS-40 e outros foguetes. A questão da cadência
de lançamento está diretamente ligada aos recursos que a AEB disponibiliza para
o IAE e para o CLA. Podemos melhorar, mas a segurança para um lançamento está
plenamente operacional. Então, hoje faltam recursos para o IAE, mas não só...
O que mais falta?
Olany - Esse cenário é um pouquinho mais complexo.
Nós temos os recursos humanos altamente especializados que estão em vias de se
aposentar. Como a gente vai repor isso daí? Como vai reter pessoal? Então não é
só dinheiro, mas os recursos humanos. Daqui a pouco vamos perder competência
humana para execução dos projetos.
Quantos servidores civis e militares no CLA?
Olany - Em torno de 1.000 pessoas, sendo 87 civis
e os demais militares. O CLA tem uma infraestrutura muito grande. Tem essa
parte aqui em Alcântara. E lá na Ilha de Santana tem uma estação secundária de
telemetria no município de Raposa, além de uma área de apoio administrativo ao
lado do Aeroporto. Tenho a Vila Residencial, Rancho, Saúde, e parte operacional
em Alcântara e São Luís. A gente depende da maré para manter a rotina de
trabalho aqui em Alcântara. Vamos construir em São Luís um atracador flutuante.
Aí não dependerá de maré para trazer todo mundo para trabalhar todo dia. Tenho
um efetivo que mora em São Luís.
Com relação ao desafio tecnológico da Operação
Rio Verde…
Olany - O VSB-30 já é uma tecnologia dominada. Já
é qualificado na Europa, já é certificado pela Agência Espacial Europeia. O que
a gente aproveita nessas campanhas para testar é a atualização de sistemas que
são utilizados aqui no centro, e o próprio IAE desenvolve alguns experimentos.
A gente está tentando andar com as próprias pernas, porque você sabe que os
outros países não têm interesse nenhum que ingressemos nesse mercado para
competir com eles, principalmente quando se trata de lançamento comercial.
Queremos crescer, nos solidificar e conquistar nossos espaços.
Fonte: Jornal do SindCT - Edição 53ª – Dezembro de 2016
Comentário: Interessantíssima entrevista da nossa
companheira jornalista Shirley Marciano do Jornal do SindCT com o agora ex-diretor do CLA, e a parabenizo pela iniciativa. Bom
leitor, primeiramente devo dizer que o Cel. Olany se equivocou quando disse que
os problemas do PEB são a falta de recursos financeiros e humanos adequados,
pois na realidade estas são consequências, e não a razão de estamos nesta
situação, mas entendo que o coronel devido a sua posição ficou impossibilitado
de ser especifico e dizer a verdade a Sociedade, verdade esta que é simples e
se traduz na falta de COMPROMISSO do governo com este importante e crucial programa
para o futuro de nosso país. Esses vagabundos não estão interessados em construir
nação nenhuma, e jamais apoiariam um programa que exige grandes recursos que
podem ser melhor utilizados em seus programas populistas de merda, há não ser
em alguns projetos pontuais onde seus interesses nefastos se cruzam, como é o
caso do satélite Frankenstein SGDC. Entretanto, esta entrevista trás noticias
interessantes e a que mais me chamou a atenção foi a que confirma o uso da Torre
Móvel de Integração (TMI) do antigo VLS-1 para lançamentos dos novos foguetes
de sondagem VS-43 e VS-50, isto é, se ambos saírem realmente do papel. Outra
coisa que me chamou atenção foi à afirmação do Cel. Olany de que o CLBI só será
usado agora para lançamentos de pequenos foguetes e também na atuação de
atividades de rastreio, esta em parceria com o Centro de Lançamento de Kourou,
na Guiana. Ora leitor, então como fica a intenção do COMAER de instalar no CLBI
o projeto da "Plataforma Hipersônica de Lançamento Orbital (Projeto PhiLO)”???
Não seria esta uma plataforma de lançamento de porte médio??? O projeto passará então para o CLA??? E caso sim, como fica o projeto de transformar o estado do Rio
Grande do Norte num centro de desenvolvimento de Propulsão Hipersônica??? Enfim....
1.000 pessoas em uma estrutura que atua vez ou outra... Qual o total de pessoas, somando-se tudo? Assim é o PEB: desperdício de talentos, de força de trabalho e de dinheiro. Resultado: Pífio. Cada um para seu lado, sem uma coordenação efetiva e sem um projeto desafiante e continuado. Não é um Projeto de Estado, mesmo porque, nossos governantes, além de corruptos, são ignorantes. Assim, o Programa Espacial Brasileiro vai cambaleando!
ResponderExcluiro Brasil irá entregar sua única Base de Lançamento de Foguetes aos Estadunidenses, se o feito for um aluguel que o Capital sirva para a criação de uma nova Base mais próxima da linha do equador, seria uma boa idėia
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