O Papel dos Gases na Evolução das Galáxias
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo postada hoje (04/01) no site da “Agência
FAPESP” destacando que um estudo conduzido por astrônomos brasileiros e espanhóis
publicado no “Monthly Notices of the Royal Astronomical Society” procurou estimar o papel dos gases na evolução
das Galáxias.
Duda Falcão
Notícias
O Papel dos Gases na Evolução das Galáxias
Peter Moon
Agência FAPESP
04 de janeiro de 2017
(Imagem:Andrômeda/NASA)
Estudo sobre a queda do gás interestelar indica que todas
as galáxias, das pequenas às gigantes, formaram-se em
intervalos de tempo muito
próximos.
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Um dos temas
mais fascinantes da cosmologia trata do estudo da evolução das galáxias. O
objetivo é compreender como as nuvens primordiais de gás, no Universo
recém-nascido, condensaram-se até formar estrelas e galáxias – e como estas
evoluíram até se tornar espirais magníficas como a Via Láctea.
Um trabalho de
astrofísicos brasileiros e espanhóis, publicado no Monthly Notices of the Royal
Astronomical Society, procurou estimar como, ao longo de bilhões de anos,
processou-se a queda do gás interestelar das regiões externas do disco em
espiral em direção ao núcleo galáctico, atraído por sua tremenda força
gravitacional.
Descobrir qual
a taxa da queda do gás interestelar no tempo e no espaço é fundamental para
saber a razão de formação de estrelas – pois é daquele gás que elas são feitas.
Ou seja, quanto mais gás cai através do disco, mais estrelas se formam e mais
brilhante se torna a galáxia.
Mas há um
problema. Os instrumentos básicos dos astrônomos para estudar a evolução
galáctica são os observatórios. Só que, salvo raras exceções, a tecnologia
atual não permite a observação de galáxias quando o Universo era jovem, ou
seja, quando tinha metade da idade atual, que é de aproximadamente 13,8 bilhões
de anos.
“A imagem é
muito tênue, difusa, de baixa resolução. Isso é problemático, principalmente
quando se sabe que a primeira metade da vida do Universo foi o período mais
dinâmico na evolução das galáxias”, disse Oscar Cavichia, professor do Instituto de Física e
Química da Universidade Federal de Itajubá, um dos autores do estudo.
Para tentar
entender como eram as galáxias quando jovens, os pesquisadores usaram o cluster
computacional Alphacrucis, instalado no Instituto de Astronomia, Geofísica e
Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP).
Trata-se de um
dos maiores aglomerados de processadores (são 192 servidores que agregam 2.304
processadores) unicamente dedicados ao estudo da Astronomia. Inaugurado em
2012, o Alphacrucis é um dos maiores supercomputadores do Brasil e foi
adquirido com apoio da FAPESP.
“Fizemos
simulações de 144 modelos diferentes de queda de gás. Eles variavam, por
exemplo, de acordo com a massa e o tamanho da galáxias. A potência
computacional do Alphacrucis permitiu que realizássemos todas as simulações ao
mesmo tempo, em vez de separadamente, o que economizou muito tempo e acelerou o
trabalho”, disse Cavichia.
Foram feitas
simulações com galáxias espirais hipotéticas de três tamanhos. Médias, como a
vizinha Triângulo (M33), que tem 40 bilhões de estrelas. Grandes, como a Via
Láctea, com 400 bilhões de estrelas. E gigantes, como a vizinha mais próxima,
Andrômeda (M31), com 1 trilhão de estrelas.
As simulações
envolveram a queda do gás naqueles três tipos de galáxias a partir da sua
formação inicial, quando o Universo contava apenas 1 bilhão de anos (redshift
6), e prosseguiram ao longo do tempo para estimar o que acontecia quando o
Universo tinha 1,5 bilhão de anos (redshift 4), 3 bilhões (redshift 2),
6 bilhões (redshift 1) e 9 bilhões de anos (redshift 0,5).
Redshift, ou “desvio para o vermelho”, é a alteração na forma como a frequência
das ondas de luz é observada em função da velocidade relativa entre a fonte
emissora e o receptor.
Também se
procurou analisar a variação da queda do gás a partir da distância que ele se
encontrava do núcleo galáctico, sob argumento de que quanto mais perto do
núcleo maior é a gravidade e mais rápida a queda. Por outro lado, quanto mais
longe do núcleo, menor é a gravidade e mais lenta a queda.
“A hipótese do
trabalho era de que as galáxias de maior massa se formariam mais rapidamente do
que as de menor massa, pois quanto maior a massa da galáxia, maior é a sua
força gravitacional”, disse Cavichia.
“Da mesma
forma, nossa hipótese sugeria que o gás deveria cair mais rapidamente nas
partes internas da galáxia do que nas externas”, disse o pesquisador que teve
bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado da FAPESP.
Gases em Queda
O resultado
das simulações foi na direção do que os astrofísicos esperavam, mas trouxe uma
surpresa. “A queda do gás é mais ou menos constante, com exceção das regiões
centrais”, contou Cavichia.
De fato,
quanto mais próximo do núcleo da galáxia está o gás, mais acelerada é a sua
queda. E, conforme teorizado, o gás cai de forma mais lenta nas galáxias de
menor massa.
Mas isso não
quer dizer que as galáxias pequenas se formaram mais lentamente do que as
grandes – e as grandes, por sua vez, mais devagar do que as gigantes. “O que a
simulação revelou foi que todas as galáxias, tanto gigantes quanto grandes e
pequenas, capturam gás a uma taxa muito similiar à medida que o tempo passa”,
explicou Cavichia.
A maior parte
do gás interestelar disponível para a formação de novas estrelas já teria caído
quando o Universo completou 9 bilhões de anos, o que está de acordo com as observações
astronômicas.
O passo atual
dessa pesquisa é estudar a abundância química de elementos, como por exemplo o
oxigênio, nos discos das galáxias simuladas. O objetivo é determinar a
quantidade correspondente de cada elemento químico no gás presente nos discos
formados e avaliar se a similaridade observada na taxa de queda de gás para
galáxias de diferentes massas tem algum reflexo na distribuição dos elementos
químicos ao longo do tempo nestas galáxias.
O artigo
The role of gas infall in the evolution of disc galaxies (doi:
10.1093/mnras/stw1723), de Mercedes Mollá, Ángeles I. Díaz, Brad K. Gibson,
Oscar Cavichia e Ángel-R. López-Sánchez,
pode ser lido por assinantes em https://mnras.oxfordjournals.org/content/early/2016/07/18/mnras.stw1723?related-urls=yes&legid=mnras;stw1723v1
Fonte: Site da Agência FAPESP
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