TARS: A Tecnologia Revolucionária que Pode Acelerar a Exploração do Sistema Solar

Caros leitores e leitoras do BS!
 
No dia 5 de setembro, o canal do portal Olhar Digital no youtube apresentou mais uma edição do "Programa Olhar Espacial", transmitido todas as sextas-feiras às 21h (horário de Brasília) e apresentado pelo astrônomo Marcelo Zurita. Zurita é presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA), membro da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (BRAMON) e coordenador nacional do Asteroid Day Brasil.
 
O tema do episódio foi uma promissora e acessível tecnologia chamada TARS, sigla em inglês para Torque-Activated Radiation Source (Fonte de Radiação Acelerada por Torque). A proposta é ousada: essa tecnologia pode encurtar missões espaciais que atualmente durariam mais de uma década — como uma viagem ao Planeta Netuno — para meros 37 dias.
 
Para discutir o assunto, o programa contou com a participação do divulgador científico Juliano Righetto, que detalhou como o TARS funciona e os avanços que ele pode trazer à exploração espacial. Righetto, que também é ator, roteirista e astrônomo amador, mantém o canal “Somos míopes porque somos breves”, onde compartilha conteúdos sobre astronomia e ciências em geral.
 
(Imagem: xnk / Shutterstock)
Conceito tecnológico TARS é similar às velas solares. Porém, ao invés de viajar pelo cosmos, essa tecnologia dispara sondas em alta velocidade.

Uma Vela Solar com Propósito Diferente
 
O conceito do TARS lembra o das velas solares, mas com uma diferença crucial: em vez de viajar pelo espaço, a estrutura atua como um lançador de sondas em altíssima velocidade.
 
De acordo com a explicação de Righetto, o TARS foi idealizado por David Kipping, astrônomo britânico-americano e professor associado da Universidade de Columbia (EUA). O projeto publicado no servidor arXiv consiste em uma estrutura leve feita de microtubos de carbono, com 63 metros de altura, 7 metros de largura e apenas 1,6 kg. De um lado, a estrutura é escura; do outro, clara. A radiação solar empurra o lado claro, fazendo com que o sistema gire rapidamente.
 
Esse movimento rotacional funciona como um mecanismo de catapulta: quando atinge sua velocidade máxima, o sistema lança microssondas ao espaço.
 
Acelerando Sonhos: De Décadas a Dias
 
Hoje, missões espaciais levam anos para alcançar os planetas mais distantes. Netuno, por exemplo, foi visitado apenas uma vez — pela Voyager 2, em 1989, após 12 anos de viagem. O TARS poderia revolucionar isso.
 
Estudos indicam que o sistema poderia atingir velocidades de até 40 km/s usando apenas a pressão da luz solar. No entanto, com a adição de polos elétricos nas extremidades da estrutura (criando um campo magnético), essa velocidade poderia chegar a impressionantes 1.000 km/s.
 
“Com essa aceleração, uma sonda poderia chegar a Júpiter em apenas uma semana, e a Netuno, em 37 dias”, destacou Righetto.
 
(Columbia University)/R Hurt (Caltech/IPAC))
Lado claro da estrutura seria empurrado pela pressão exercida pela radiação solar, a fazendo girar em alta velocidade. (Imagem: Cool Worlds Lab & D. Kipping.

Desafios Técnicos e Operacionais
 
Apesar do grande potencial, o projeto apresenta desafios. Um deles é o posicionamento orbital da estrutura. Para funcionar corretamente, o TARS precisaria ser posicionado atrás da Terra, em uma órbita levemente inferior. Isso significa que a estrutura tenderia a se aproximar do Sol, mas seria mantida em posição estável pela pressão da radiação solar.
 
Outro desafio é o chamado Efeito Maçaneta, ou Efeito Dzhanibekov — um fenômeno físico que faz com que objetos assimétricos em rotação sofram instabilidades e oscilações. Para contornar isso, Kipping propôs um formato em estrela, com centro largo e extremidades finas, facilitando também a liberação das sondas.
 
Veja abaixo o Efeito Maçaneta na Estação Espacial Internacional:
 
 
Além disso, as missões do TARS seriam, pelo menos inicialmente, só de ida. Isso limita a aplicação para missões tripuladas e exige cálculos extremamente precisos para garantir que as sondas atinjam seus alvos, já que a navegação em alta velocidade é limitada.
 
(Columbia University)/R Hurt (Caltech/IPAC))
TARS lançaria as microssondas a partir de suas extremidades em direção aos planetas alvos no Sistema Solar. (Imagem: Cool Worlds Lab & D. Kipping.

Viável e Econômica
 
Apesar das limitações, Juliano Righetto acredita que o TARS representa uma verdadeira virada de jogo para a exploração espacial. “É uma ideia ainda em fase inicial, mas é barata de ser implementada. Cada vela pesa apenas 1,6 kg, e os custos são baixos em comparação a outras tecnologias”, afirmou.
 
Segundo ele, o primeiro passo seria testar protótipos e velas solares na Estação Espacial Internacional (ISS), em ambiente controlado. Em um estágio mais avançado, tecnologias como o foguete Starship, da SpaceX, poderão ser usadas para lançar estruturas como o TARS ao espaço.
 
 
“Com a Starship operacional nos próximos anos, poderemos enviar esse tipo de tecnologia de forma muito mais barata, viabilizando novas formas de explorar o Sistema Solar”, concluiu.
 
Uma Janela para o Futuro
 
Marcelo Zurita também reconheceu o valor do projeto, mesmo com suas limitações. “As capacidades das microssondas seriam limitadas. Não daria para carregar instrumentos muito potentes, nem transmitir grandes volumes de dados. Mas é um avanço que pode ser construído com as tecnologias que já dominamos”, disse o apresentador do Olhar Espacial.
 
Assista abaixo ao episódio completo do Programa Olhar Espacial exibido em 05/09, com a participação de Juliano Righetto e o tema: TARS, a tecnologia que pode revolucionar a exploração do Sistema Solar.
 
 
Brazilian Space
 
Brazilian Space
Espaço que inspira, informação que conecta!

Comentários