Brasil é Despejado de Consórcio Internacional de Astronomia
Olá leitor!
Segue abaixo uma
notícia publicada ontem (12/03) no Blog do Herton Escobar do site do jornal “O
Estado de São Paulo”, destacando que o Brasil foi despejado de Consórcio
Internacional de Astronomia.
Duda Falcão
CIÊNCIA
Brasil é
Despejado de
Consórcio Internacional de Astronomia
Observatório
Europeu do Sul (ESO) rescindiu contrato assinado em 2010
para que o
Brasil se tornasse membro do grupo, garantindo acesso de
astrônomos
brasileiros a alguns do melhores telescópios do mundo e
participação do
país na construção do Extremely Large Telescope, o
maior telescópio
de todos os tempos
Herton Escobar
O Estado de S.
Paulo
12 Março 2018 |
15h00
Foto: ESO
O Observatório
Europeu do Sul (ESO), maior consórcio de pesquisa astronômica do mundo, finalmente
se cansou de esperar pelo Brasil. Sete anos depois de assinar um acordo para
admitir o país como primeiro integrante não-europeu do grupo, o Conselho do ESO
decidiu rescindir o contrato com o governo brasileiro — que, nesse meio tempo,
nunca fez qualquer pagamento nem chegou a ratificar em definitivo o acordo.
“Considerando
ser improvável que a ratificação do Acordo de Acesso seja concluída num futuro
próximo, o Conselho do ESO decidiu suspender o processo até que o Brasil esteja
numa posição de completar a execução do Acordo, possivelmente por meio de uma
renegociação”, diz uma “nota de esclarecimento” divulgada pelo ESO hoje. “Com apoio
unânime de todos os Estados Membros, o ESO continuará aberto a acolher o Brasil
a qualquer momento. Os arranjos vigentes, porém, estarão suspensos a partir de
1 de abril de 2018.”
A entrada do
Brasil para o ESO foi negociada no fim de 2010 pelo então ministro da Ciência e
Tecnologia, Sergio Rezende, como uma forma de garantir o acesso da comunidade
científica brasileira a alguns dos maiores e melhores telescópios do mundo, que
são operados pelo consórcio europeu nos Andes Chilenos — como o ALMA e o Observatório Paranal .
O acordo também previa a participação do Brasil na construção e operação
do Extremely Large
Telescope (ELT), o maior telescópio do mundo,
que está sendo construído agora no Deserto do Atacama.
O valor do
acordo era de EU$ 270 milhões (cerca de R$ 1 bilhão), que o Brasil deveria
pagar em várias parcelas até 2021. Nenhum centavo foi pago, apesar do ESO, numa
demonstração de boa-fé, ter tratado o Brasil como uma espécie de membro
interino durante todo esse período. Mesmo sem a ratificação definitiva do
acordo, os projetos de astrônomos brasileiros eram avaliados pelo grupo — para
fins de obtenção de tempo de observação nos telescópios — como se o Brasil
fosse um estado membro do consórcio, o que oferecia uma série de vantagens
competitivas. Agora, com a rescisão do contrato, os cientistas brasileiros que
quiserem usar os observatórios do ESO terão de concorrer por tempo como
representantes de um país não-membro, o que implica numa disponibilidade tempo
muito menor e critérios muito mais rígidos de seleção.
“A gente perde
muita coisa. O acesso aos telescópios fica bem mais complicado, o que é
lamentável”, disse ao Estado o astrônomo Gustavo Rojas, professor da
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e representante de Divulgação
Científica do ESO no Brasil. Segundo ele, a exclusão vai dificultar o avanço da
astronomia brasileira. “O Brasil nunca vai conseguir construir uma
infraestrutura de pesquisa desse porte sozinho; ou a gente se junta a esses grandes
consórcios internacionais ou vamos ficar para trás.”
Uma das
principais críticas feitas ao acordo era de que ele era caro demais. Rojas
lembra, porém, que ele teria custado menos do que alguns estádios da Copa do
Mundo, com um alto retorno em desenvolvimento científico e tecnológico de longo
prazo para o país. Só a reforma do Maracanã, por exemplo, custou mais de R$ 1,2
bilhão. “É lamentável a falta de interesse dos governantes por um projeto de
ciência e tecnologia para o país”, diz.
Repercussões
Procurado pela
reportagem hoje à tarde, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações (MCTIC) emitiu a seguinte nota: “O MCTIC defende a participação do
Brasil no Observatório Europeu do Sul e faz gestões junto ao Governo Federal
pela confirmação da adesão a esta entidade multilateral.” Numa conversa recente
sobre o assunto, o secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do
MCTIC disse ao Estado que o ministério era favorável à adesão
do Brasil ao ESO, mas infelizmente faltavam recursos orçamentários para
implementar o acordo.
O contrato
chegou a ser aprovado pelo Congresso em maio de 2015, no primeiro ano do
segundo mandato de Dilma Rousseff, e desde então faltava apenas uma assinatura
presidencial para concluir o processo de ratificação. Nem Dilma nem Temer deram
a canetada final.
“Como cientista,
num mundo ideal, claro que eu gostaria de estar em todos os consórcios. Mas
esse acordo com o ESO sempre foi algo muito difícil de ser concretizado, diante
da realidade orçamentária da ciência nacional”, avalia o astrônomo Eduardo
Cypriano, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da
Universidade de São Paulo (IAG-USP). O cancelamento do contrato, segundo ele,
tem o lado positivo de acabar com uma incerteza que se arrastava há anos.
“Agora podemos planejar os próximos passos da astronomia brasileira com mais
segurança”, diz. “O que mais me angustiava era essa incerteza sobre o futuro. A
gente usufruía, mas não contribuía; era uma situação muito incômoda.”
Cypriano é
membro do conselho científico internacional do Giant
Magellan Telescope(GMT), telescópio gigante que está sendo
construído no Chile por um consórcio de instituições de pesquisa dos Estados
Unidos, Austrália, Coréia do Sul e Brasil — representado pela Fundação de Apoio
à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o que garante acesso apenas a
projetos submetidos por cientistas de instituições paulistas. “Nos próximos
anos seria muito positivo se o Brasil passasse a integrar o consórcio em escala
nacional”, ampliando o acesso ao telescópio a pesquisadores de todo o país, diz
Cypriano.
Além do GMT, o
Brasil é membro de dois outros observatórios já operacionais: o SOAR, no
Chile, e o Gemini, com telescópios no Chile e no Havaí.
Defensores da
entrada do Brasil no ESO, porém, dizem que nenhum outro consórcio oferece uma
variedade tão grande de telescópios e equipamentos. “Há muitas coisas que só o
ESO tem”, afirma Rojas. “Vamos continuar trabalhando para tentar reverter
isso de alguma forma no futuro.”
Foto: Herton
Escobar/Estadão
Um dos quatro telescópios de 8 metros que compõem
o VLT
(Very Large Telescope), no Observatório Paranal.
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Fonte: Site do
jornal O Estado de São Paulo - 12/03/2018
Comentário: Como podemos observar nesta matéria existem dentro da Comunidade Astronômica
Brasileira aqueles que defendiam este acordo e os que eram contrários ao mesmo,
isto devido à realidade da mentalidade politica no Brasil. De minha parte acho
que os que eram contrários estavam mais próximos da realidade, mas não pela
falta de recursos (temos recursos mais que suficientes) mas justamente pela
falta de uma governabilidade séria e competente por parte desses energúmenos que
utilizam mal os recursos públicos disponíveis fazendo politicagem, estupidez
administrativa ou mesmo metendo a mão no que não lhes pertence. Aproveitamos para agradecer a nossa leitora Mariana Amorim Fraga pelo envio desta notícia.
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