Série Espaçomodelismo: Entrevista com Prof. Foltran da Universidade Positivo (UP) de Curitiba
Olá leitor
Dando sequencia a
nossa série com profissionais ligados a Educação e ao Espaçomodelismo Brasileiro,
trago desta vez para você uma interessante entrevista com um jovem professor que
tem contribuído muito para a educação de jovens no Paraná e para o
desenvolvimento do Espaçomodelismo no país.
Trata-se do Prof. Antônio Carlos Foltran da Universidade Positivo (UP) de Curitiba-PR
que, aos 36 anos é integrante da Equipe GREAVE desta universidade
privada da capital paranaense, e ao lado do coordenador da equipe (Prof.
Alysson Diogenes) vem realizando um marcante trabalho na área de ”Space
Education” com esses jovens fogueteiros da UP.
Nesta interessante
entrevista este paranaense de Ponta Grossa de nos faz um pequeno
relato sobre a sua trajetória profissional, e sobre as suas expectativas para o
futuro do PEB e do Espaçomodelismo no país.
O Blog
BRAZILIAN SPACE aproveita para agradecer ao Prof. Antônio Carlos Foltran
pela disposição de participar dessa nossa série de entrevistas e desde já deseja
sucesso em sua trajetória profissional.
Prof. Antôbnio Carlos Foltran. |
BRAZILIAN SPACE: Professor Foltran, para aqueles
leitores que ainda não o conhecem, nos faça um relato sobre o senhor, sua
idade, formação, onde nasceu, e desde quando trabalha na Universidade Positivo
(UP)?
PROF. ANTÔNIO CARLOS FOLTRAN: Meu
nome é Antonio Carlos Foltran, tenho 36 anos e sou nascido em Ponta Grossa,
Paraná. Apesar de gostar de diversas ciências, incluindo a astronáutica e a
astronomia, minha carreira profissional sempre foi relacionada à mecânica:
conclui meu segundo grau no antigo CEFET (atualmente UTFPR) no curso técnico em
Mecânica Industrial. Após um período trabalhando em duas indústrias, uma
metalúrgica e outra madeireira, mudei-me para Curitiba, a fim de cursar a
graduação em Engenharia Mecânica. Durante a graduação trabalhei com vendas de
peças técnicas e depois em siderurgia. Após a graduação trabalhei mais uns anos
com siderurgia até que resolvi fazer um mestrado em Engenharia Mecânica. Depois
me desliguei da indústria e atualmente trabalho como professor no curso de
Engenharia Mecânica na Universidade Positivo.
BRAZILIAN SPACE:
Prof. Foltran, todos nós que somos interessados com o desenvolvimento das
atividades espaciais no Brasil, estamos muito preocupamos com o atual rumo do
nosso ‘patinho feio governamental’. O PEB tem jeito, existe ainda alguma
esperança? Em sua opinião o que pode ser feito?
PROF. FOLTRAN:
Caro Duda, esta pergunta é realmente o calo no sapato daqueles apaixonados pela
astronáutica e pelo nosso querido Brasil. Não consigo perceber nada em curto
prazo que nos faça recuperar o ímpeto que já houve no passado. E agora os
países concorrentes já possuem lançadores eficientes e baratos operacionais.
Sou de uma geração “mais nova”, porém gosto de estudar
nosso passado e de valorizar nossas conquistas. Penso que não há resposta única
e simples. Entretanto acredito que a mudança necessária é tornar o PEB um programa
de estado, ou seja, realmente independente de governos e não sujeito a cortes
de orçamentos nem atrasos de repasse.
Acho necessário que as encomendas sejam regulares a fim
de que as empresas públicas ou privadas se mantenham ativas e sejam focadas no
segmento aeroespacial. Já reparou como os prazos dos projetos de veículos
lançadores, por exemplo, parecem sempre se expandir e sempre atrasam por que os
investimentos previstos simplesmente não são liberados? Sabemos que a
tecnologia espacial é aplicada a diversos outras áreas da indústria.
Na minha visita ao INPE ficou claro que eles têm grande
parte de sua carteira de projetos relativos à indústria automobilística,
eletrônica, telecomunicações, etc. Assim o instituto se mantém relativamente
focado em satélites. Agora fico imaginando como não perder bons profissionais
na área de lançadores, já que é uma área de atuação mais ligada à defesa. Como
alguém que quer ver o foguete voando se sentirá vendo seu objetivo profissional
ir sendo minado por investimentos que não chegam e prazos que se estendem? Este
já foi motivo que me fez encerrar contrato de trabalho com empresas em que
trabalhei.
BRAZILIAN SPACE:
Prof. Foltran, em contrapartida como o senhor avalia o atual momento de
crescimento do Espaçomodelismo no Brasil?
PROF. FOLTRAN: Agora deixemos a tristeza de lado. Como praticante do espaçomodelismo,
me parece estarmos vivendo um período de entusiasmo com este
entretenimento-ciência. Os grupos existentes parecem ter ganhado mais adeptos e
alguns grupos novos surgiram nestes últimos anos. Acho que são sementes
plantadas na geração mais nova e que estão dando frutos. No meu caso foram os
Professores Carlos H. Marchi e Luciano K. Araki, da UFPR que me influenciaram,
assim como meus colegas de mestrados, todos entusiastas do espaçomodelismo.
BRAZILIAN SPACE: Prof. Foltran, é de nosso
conhecimento que o senhor e o Prof. Alysson Nunes Diógenes são os coordenadores
da equipe GREAVE de Espaçomodelismo da UP. Desde quando o senhor está envolvido
com a equipe, e qual foi o seu motivo para se juntar a esta iniciativa?
PROF. FOLTRAN:
Na verdade o coordenador do grupo é o Prof. Alysson Diogenes. Eu entrei para o
grupo de professores do qual o Prof. Alysson faz parte e aí a união foi
natural. Na época lembro-me de ainda participar do Grupo de Foguetes Carl Sagan
da UFPR e todos os meus colegas, de ambas as instituições, diziam ser eu um
espião roubando segredos de uma equipe para contar para a outra. Foi bem
divertido.
Enfim, neste ano e pelos próximos dois anos eu estarei um
pouco distante da equipe porque iniciei meu doutorado (adivinhem: em Engenharia
Mecânica pra variar!). É claro que gosto de participar, mas atualmente já faço
parte do esforço para desenvolver foguetes experimentais, na Equipe Gralha
Azul. Realmente estes próximos anos serão bastante corridos para mim.
BRAZILIAN SPACE: Prof. Foltran, como tem sido para o senhor a experiência de trabalhar ao
lado do elétrico Prof. Alysson e de todos os integrantes da equipe GREAVE?
PROF. FOLTRAN:
Muito legal. O Prof. Alysson adora “fazer um fervo”, mesmo para minifoguetes já
surrados de tanto uso! Posso afirmar que no Brasil, um dos pioneiros dos
foguetes reusáveis é o Prof. Alysson. Os alunos também são ótimos: todos são
dedicados, estudiosos e a maioria possui desempenho acadêmico além da média.
Eles prometem serem os ótimos profissionais que nosso país precisa.
BRAZILIAN SPACE:
Prof. Foltran, quando estive em Curitiba para participar da edição do Festival
deste ano, o senhor e o seu grupo vinham trabalhando no desenvolvimento de uma
pequena versão do VLS-1. Como anda este projeto?
PROF. FOLTRAN: Um
colega professor do nosso curso e “desastrado” conseguiu derrubar o modelo,
danificando-o. Também estou sem um motor com impulso total e empuxo médio
compatíveis com a massa inicial do modelo.
O melhor seria reconstruí-lo de acordo com o que
aprendemos com aquele modelo, pois foi a primeira vez que utilizamos
poliestireno em folhas e peças usinadas em nylon bastante finas para compor as
partes.
Para lançar com o motor que tenho seria necessário
refazê-lo em uma escala menor para que fosse mais leve. Com o andamento do meu
doutorado não estou trabalhando nesta ideia. Espero que algum aluno se
interesse e retome o projeto.
BRAZILIAN SPACE: Prof.
Foltran, sem dúvida nenhuma o maior destaque do Festival deste ano foi à
criação da Associação Brasileira de Minifoguetes (ABMF) ou BAR na versão inglês
(Brazilian Association of Rocketry). Qual a sua opinião sobre esta iniciativa
para o foguetemodelismo do país?
PROF. FOLTRAN:
Como diriam meus colegas que estudam mecânica computacional: n + 1 coisas boas:
Haverá mais divulgação e apoio a eventos, atraindo a geração mais jovem. Com a
normatização dos lançamentos ganharemos em segurança. Com a certificação de
motores, teremos um órgão independente certificando motores para que os modelos
construídos em grupos diferentes possam ser mais bem avaliados, portanto acho
que haverá mais competição entre equipes.
A Associação pretende divulgar o programa espacial é essa
é uma forma de mostrar para a classe política a importância que damos ao PEB.
Representar os interesses dos grupos junto aos órgãos de controle como a
Aeronáutica, por exemplo.
BRAZILIAN SPACE: Finalizando
Prof. Foltran, o senhor teria algo a mais a acrescentar?
PROF. FOLTRAN:
Sim. Aproveitando a deixa sobre o espaçomodelismo quero acrescentar que apesar
do aumento das equipes e do número de participantes, poucos integrantes vão a
fundo pesquisar sobre a tecnologia de foguetes e toda a física e matemática
envolvidas. Eu tive a felicidade de ter sido “treinado” pelo Prof. Marchi para
calcular e tentar prever tudo o que fosse possível, principalmente sobre a
dinâmica de voo. Entretanto é justamente isso que traz grande satisfação quando
conseguimos, já na fase de projeto eliminar problemas e obter já nos primeiros
testes resultados bastante próximos aos teóricos. É importante lembrarmos que o
espaçomodelismo não é apenas entretenimento (exceto para os mais jovens), mas
principalmente ciência.
Veja abaixo as outras entrevistas da Série:
1 - Prof.
Alysson Nunes Diógenes da UP (Universidade Positivo de
Curitiba)
2 - Prof.
José Félix Santana do CEFEC (Centro de Estudos de
Foguetes Espaciais do Carpina-PE)
3 - Prof.
Carlos Henrique Marchi da UFPR (Universidade Federal do
Paraná)
4 - Sr.
Paulo Gontran Ramos do CEGAPA (Centro Gaúcho de
Pesquisas Aeroespaciais)
5 - Sr.
Carlos Cassio Oliveira do CEFAB (Centro
Experimental de Foguetes Aeroespaciais da Bahia)
6 - Prof.
Dr. João Batista Garcia Canalle da UERJ/OBA (Universidade
do Estado do Rio de Janeiro e Olímpiada Brasileira de Astronomia e
Astronáutica)
7 - Prof.
Eng. José Miraglia da FIAP (Faculdade de Informática e Administração Paulista)
8 - Cel. Milton de Souza Sanches da TURBOMIL Tecnologia de SJC
Bacana a entrevista, esperamos que a médio prazo, consigamos incentivar as novas gerações esta paixão.
ResponderExcluirCaro Foltran
ResponderExcluirAcabo de ler sua entrevista, e quero te parabenizar com um motor Classe G da nova geração de motores.
Este motor é para fazer decolar seu VLS
32 mm x 150 mm
O beleza! Enviarei um e-mail pra ti. Obrigado Roberto e grande abraço.
ExcluirFoltran.
Parabéns por esse canal de comunicação aberto aos quatro cantos de imenso Brasil! Mérito seu Duda!
ResponderExcluirGostaria de congratular com Prof. Doutorando Antonio Carlos Foltran pela entrevista e um verdadeiro relato a quantas anda nossa Ciências Espaciais e que devemos nos mobilizar como professores educadores, incentivadores para que nossos docentes se sensibilize e assumam as rédeas do futuro comprometidos com o avanço das Ciências Espaciais. Dentro desse viés com apoio do Dr Marchi da UFPR o CEP (Colégio Estadual do Paraná), veio dar um alento as essas aspirações. Com um grupo denominado CEELL participamos de formação e do 4º Festival próximo passado. Acreditemos que muita coisa mudará. Sucesso em seu doutorado caro Prof MSc Antonio Carlos Foltran.
Subscreve Prof. Paulo Lagos CEELL-CEP.
Olá Prof. Paulo!
ExcluirEndosso as suas palavras e lhe agradeço pelo reconhecimento ao nosso trabalho. Peço-lhe inclusive que entre em contato comigo pelo e-mail: brazilianspace@gmail.com, pois estou precisando falar contigo com certa urgência.
Abs
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)