O Matemático Brasileiro Que Descobriu Como o Universo Pode Acabar
Olá leitor!
Segue abaixo uma interessante matéria postada ontem (24/11)
no “Portal TERRA” dando destaque ao matemático brasileiro que descobriu como o
Universo pode acabar.
Duda Falcão
ESPAÇO
O Brasileiro Que Descobriu
Como o Universo Pode Acabar
BBC BRASIL.com
24 nov 2016 - 15h59
Atualizado às 16h28
O matemático brasileiro Marcelo Disconzi havia encerrado
um seminário na Universidade de Vanderbilt, no Tennessee (EUA), quando foi
abordado por dois professores de Física da instituição.
Foto: BBCBrasil.com
Muitos cientistas tentam entender criação do Universo,
mas alguns, como
Marcelo Disconzi, buscam respostas para outra pergunta - como
ele irá acabar.
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Thomas Kephart e Robert Scherrer elogiaram o trabalho
apresentado - a solução parcial de uma antiga equação -, mas a dupla tinha em
mente um novo propósito para as teorias do brasileiro. "Você já
pensou em aplicar isso à cosmologia (estudo da origem e estrutura do
Universo)?", questionaram.
A pergunta pegou Disconzi de surpresa. A apresentação,
realizada em abril de 2014, jogava luz em um problema criado nos anos 1950 por
Andre Lichnerowicz (1915-1998), um famoso matemático francês. Trazia uma
solução, uma lógica, e só.
A equação de Lichnerowicz havia sido criada para tentar
descrever o comportamento de fluidos viscosos viajando a velocidades
relativísticas - comparáveis à velocidade da luz.
Quando encontrou a solução, Disconzi não pensou num
efeito prático. Kephart e Scherrer propuseram uma questão: será que a viscosidade
poderia impactar o Universo de alguma forma?
"Achei a ideia interessante, e passamos a nos
encontrar com regularidade", conta o brasileiro. Nas primeiras reuniões,
ele explicou os detalhes da solução. Depois, o trio aplicou a equação a alguns
cenários. O resultado veio no ano seguinte, num estudo que rodou o mundo.
A novidade trouxe à tona a possibilidade natural do Big
Rip - ou "grande ruptura" -, uma das principais teorias sobre o fim
do mundo. Trata-se de um Big Bang - teoria que aponta que o Universo
começou com uma grande explosão - ao contrário.
A ideia propõe que, daqui a exatos 22,8 bilhões de anos,
o Universo estará tão acelerado e disperso que os átomos que formam planetas e
galáxias começarão a se desintegrar.
Foto: Jeremy Teaford/Luiza Guerim / BBCBrasil.com
A teoria do Big Rip surgiu em 2003, mas todas as
tentativas de determinar quando o Universo seria rasgado eram inconsistentes.
Cientistas que se aventuravam a estudar a propagação de
fluidos viscosos, ou de energia escura (forma de energia que acelera a expansão
do Universo), chegavam a um ponto em que, para que o rasgo acontecesse, essas
matérias precisariam viajar a uma velocidade superior à da luz. Só que
nada viaja mais rápido do que a velocidade da luz.
Faltava algo mais consistente para corroborar a teoria. O
estudo de Disconzi, publicado originalmente na revista Physical Review D ,
sugeriu um modo natural, e verossímil, desse fenômeno.
"O que era uma ideia puramente teórica agora é muito
mais provável que corresponda à realidade física", explica Kephart, que
pesquisou o tema com o brasileiro.
Paixão Por Equações
Disconzi, de 37 anos, é um sujeito afável de estatura
baixa, cabeça raspada e olhos cor de mel. Casou-se com a porto-riquenha
Alexandra Valdés, de 35 anos, uma professora de Ciências e Biologia. Os dois
moram em Nashville (EUA), cidade onde, desde 2014, ele ocupa o cargo de
professor assistente de Matemática da Universidade de Vanderblit.
O professor nasceu em Porto Alegre, mas ainda criança foi
morar com a família em Montenegro, no interior do Rio Grande do Sul. Voltou à
capital gaúcha em 1998 para ingressar na Faculdade de Filosofia da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
"Sempre gostei de questões profundas, que
envolvessem pensamento crítico", relembra. A escolha, porém, não lhe
agradou. No semestre seguinte, Disconzi pediu transferência para o curso de
Física.
A faculdade despertou nele uma paixão por pensamentos
abstratos, cálculos e
Ao retirar os títulos, Disconzi percebeu que se
considerava mais matemático d equações. Quando se formou, aproveitou para emendar dois mestrados na UFRGS: um em Física e outro em Matemática, ambos concluídos em 2005.
o que físico.
Foto: Arquivo
pessoal / BBCBrasil.com
Disconzi se dedica às equações diferenciais parciais, que
servem
para descrever comportamentos (ou processos geométricos)
por meio de
diferentes taxas de variação física.
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Ele já estava com o doutorado engatilhado na Universidade
da Pensilvânia quando conheceu Dennis Sullivan, professor do Institute for
Mathematical Sciences, centro de excelência em pesquisa matemática da
Universidade de Stony Brook, em Nova York. De lá, saíram três medalhistas do
Fields, popularmente considerado o "Nobel da Matemática".
"Ele (Sullivan) me contou sobre a tradição de Stony
Brook, especialmente em equações diferenciais parciais, área que estudo. Daí
topei trocar de instituição", sintetiza Disconzi. Após virar PhD, ele
conseguiu lugar no pós-doutorado em Vanderbilt e, posteriormente, uma vaga como
professor assistente.
Sempre vestido com jeans e camisa, ele chega à faculdade
por volta de 7h30. A cafeteira é a primeira coisa que liga quando entra em sua
sala - às vezes até mesmo antes das lâmpadas.
Com 14 metros quadrados, o ambiente é retangular, com
paredes cor de creme, quadro negro, mesa e uma estante em L com cerca de 400
livros. Também há computador, cadeiras e uma confortável poltrona ocre. Tudo é
milimetricamente organizado e limpo.
Como as aulas só ocorrem no primeiro horário das
segundas, quartas e sextas-feiras, Disconzi passa praticamente o dia todo ali.
Revisa lições, atualiza o próprio site, organiza eventos (seminários e
congressos) e, claro, faz pesquisa. Várias, por sinal. O Big Rip é apenas a
ponta do seu iceberg de seus estudos.
Singularidade Matemática
Desde o doutorado, Disconzi se dedica às equações
diferenciais parciais. Elas servem para descrever comportamentos (ou processos
geométricos) por meio de diferentes taxas de variação física.
Por exemplo: numa previsão meteorológica, é necessário
equacionar no mesmo problema diferentes taxas de variação física - pressão
atmosférica, velocidade do vento, temperatura, umidade e assim por diante.
Contudo, nem toda a equação desperta interesse ou possui
um objetivo claro.
Quando matemáticos falam em resolver uma equação,
geralmente querem "provar" que existem soluções, e não que haja uma
fórmula específica para tal. Não raramente, os resultados ficam limitados a
cenários muito específicos.
Foto: Divulgação/Univ. Vandebilt / BBCBrasil.com
Thomas Kephart e Robert Scherrer sugeriram a aplicação
dos
estudos de Disconzi e assinam pesquisa juntamente com brasileiro.
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Imagine o seguinte: os cientistas encontram evidências de
que existiu vida em Marte. A descoberta seria o equivalente a provar a
existência de uma solução - é uma afirmação ampla, geral, que não descreve
detalhes do objeto. Referendar o organismo vivo que teria vivido por lá, com
descrições particulares - se uni ou pluricelular, aquático ou não, inteligente
ou não - seria como escrever a fórmula da solução.
A lógica ocorreu com a teoria da relatividade geral de
Albert Einstein, cujas equações foram criadas pelo físico em 1915 sob critérios
gerais. Nos anos seguintes, a equação foi solucionada de forma fracionada, por
partes, em condições particulares. A união dos resultados em um teorema geral -
ou seja, a fórmula da solução - só apareceu na década de 1950.
Na mesma época, o francês Andre Lichnerowicz montou
equações diferenciais parciais para descrever fluidos viscosos no contexto da
relatividade geral. Foi esse problema que Disconzi solucionou parcialmente,
dois anos atrás, e apresentou como um recém-contratado professor assistente da
Universidade de Vanderbilt.
"O que descobri pode ser considerado intermediário.
Está entre o particular e o geral", explica.
A fórmula era mais valiosa do que ele imaginava.
Fluidos Viscosos
Pensar em um contêiner cheio d'água ajuda a compreender a
conexão entre a solução das equações de Lichnerowicz, descoberta por Disconzi,
e a cosmologia.
A água é feita de moléculas. Nela, existem regiões com
mais matéria (as moléculas) e regiões mais vazias (o espaço entre as
moléculas). Do ponto de vista macroscópico, a água não é vista como um agregado
de moléculas, mas como um fluido distribuído de forma homogênea (sem espaços
entre uma parte e outra).
Do ponto de vista cosmológico, o contêiner representa o
Universo e a água, a energia contida nele. As galáxias são as moléculas de
água. Assim, em vez de pensar o Universo como um aglomerado de galáxias, os
astrônomos passaram a entendê-lo como uma distribuição homogênea de matéria e
energia.
"O ponto crucial é que essa distribuição se comporta
como se fosse um fluido enchendo o Universo", explica Disconzi. "Isso
nos dá a certeza de que o Universo está em expansão - e de forma
acelerada."
Foto: Arquivo pessoal / BBCBrasil.com
Disconzi em ação: trabalho, diz ele, visa construir
argumentações lógicas
para equações, tendo uma "pergunta perfeita"
como ponto de partida.
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Essa expansão, segundo ele, tende a ficar cada vez mais
veloz com o passar do tempo, em virtude da energia emitida por corpos celestes
- que aumentam, assim, a viscosidade do Universo.
A combinação de distribuição de energia e aumento da
viscosidade produzirá uma pressão negativa. Na relatividade geral, o efeito de
uma pressão negativa é gerar uma força que se opõe à força gravitacional. Dessa
forma, as galáxias tendem a se separar, e os planetas ficarão mais e mais
distantes uns dos outros.
No final, projetado para daqui a 22,8 bilhões de anos,
tudo será rasgado em pedaços.
"Esse comportamento incomum é o Big Rip, produzido
por uma taxa de expansão infinita em um tempo finito", diz Robert
Scherrer, coautor do estudo.
Ainda há muito a responder sobre a tese - um novo estudo
do trio já está em análise para publicação em uma revista científica.
Pesquisadores de uma universidade italiana também estão debruçados sobre o
objeto desde a primeira descoberta.
Futuro em Vanderbilt
Quando não lê na escrivaninha ou rabisca o quadro, é na
poltrona ao lado da estante que Disconzi desenvolve seus estudos.
"As pessoas tendem a achar que meu trabalho, por ser
um matemático, é só fazer cálculos", ele diz, demonstrando um leve
ressentimento.
"Na verdade, meu trabalho é construir argumentações
lógicas para as equações, tendo uma pergunta perfeita como ponto de partida.
'Sobre quais hipóteses a equação pode ter solução?'", ilustra.
Disconzi visita pouco o Brasil. Em média, vai a cada dois
anos - embora já tenham se completado três anos desde a última vez em que pôs
os pés no país. Geralmente a incursão começa pelo Rio de Janeiro, onde mora uma
irmã. Depois, vai a Porto Alegre e a Montenegro para visitar o restante da
família.
No Tennessee, o professor de Vanderbilt mora com a esposa
e uma gata, Kaya - diminutivo que homenageia a russa Sofia Kovalevskaya, uma
das primeiras matemáticas de renome, falecida em 1891.
Em casa, Disconzi mantém alguns hábitos típicos dos
gaúchos. Toma chimarrão com frequência, com erva mate comprada na internet.
Churrasco? Só em restaurante brasileiro. "Em casa faço o americano",
ri, reconhecendo em seguida que assar hambúrguer na grelha está longe de um
churrasco legítimo.
Foto: Arquivo pessoal / BBCBrasil.com
O matemático gaúcho com a gata Kaya, batizada em
homenagem
à matemática russa Sofia Kovalevskaya (1850-1891).
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Para o futuro, Disconzi formula maneiras de escrever um
livro em parceria com outros autores - David Sullivan, o professor de Stony
Brook, é um deles. "Não existe um bom livro introdutório sobre equações
diferenciais parciais. Tudo o que há foi escrito para especialistas, e os alunos
ficam perdidos", justifica.
A obra só virá caso seja admitido como professor titular,
o que pode ocorrer em até cinco anos. Se efetivado, também gostaria de propor
um programa de diversidade no Departamento de Matemática, semelhante ao que
existe no de Física.
"Infelizmente, negros, latinos e mulheres ainda
encontram muita desvantagem no meio educacional", lamenta. Ele é único
latino entre os 32 professores de Matemática em Vanderbilt.
O desfecho do mundo, afirma ele, seguirá em seu horizonte
de pesquisas. "O nosso estudo sobre o Big Rip mostra o quanto ainda falta
a gente entender sobre o Universo", suspira. "Vamos seguir
investigando."
O prazo final, assim como o de todo o Universo, deve
expirar em 22,8 bilhões de anos.
Fonte: Portal Terra - 24/11/2016 - http://noticias.terra.com.br/
Comentário: Pois é leitor, está
é mais uma prova (como a que apresentaremos no dia 28/11, tenha um pouco mais de paciência) de que mesmo sendo brasileiros podemos sim, não somos nem melhores e nem piores do que ninguém, mas para que
coisas como estas aconteçam é preciso que você acredite em você mesmo e seja competente
e comprometido com o que o faz. Parabéns ao Matemático Gaúcho Marcelo Disconzi, ele é “GENTE QUE
FAZ”.
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