Projeto Mars One: Ótima Propaganda, Poucos Fatos
Olá leitor!
Segue abaixo um interessante artigo escrito pelo Astronauta
Marcos Pontes e postado dia (01/04) em seu site oficial tendo como destaque o
Projeto MARS ONE. Vale a pena conferir.
Duda Falcão
Projeto Mars One: Ótima
Propaganda, Poucos Fatos
Astronauta Marcos Pontes*
01/04/2015
Propaganda é a alma do
negócio. Funciona para muitos tipos de atividade. Para missões espaciais, a
alma do negócio está na tecnologia baseada em fatos. Os riscos são altos e
“falhar não é opção”. Os sistemas têm de ser capazes de cobrir todas as
condições de operação com reservas e a tripulação tem de ser qualificada e
experiente. O preço de quebrar essas regras: perda da espaçonave e mortes.
Parece demasiado dramático,
mas algumas vezes é necessário apontar a realidade com firmeza.
Nos noticiários recentes,
assisto com certa preocupação o crescimento do interesse popular por alguns
projetos que têm boa propaganda, mas poucos fatos para apoiar as afirmações e
promessas feitas. O público, de certa forma inocente em busca do sonho de ir ao
espaço, acredita e até aposta literalmente a vida nessas “possibilidades”.
Na prática, é algo similar
àqueles comerciais que prometem emagrecimento rápido: “tome esse comprimido e,
sem qualquer dieta ou exercício, você perderá 20 quilos em uma semana!” Parece
engraçado, mas tem gente que acredita nessas coisas! E compra! E toma o tal
comprimido!
O projeto Lynx e o Mars One,
são exatamente como isso. E, por coincidência, hoje (01 de abril) é o dia
perfeito para este tema, pois representa bem a propaganda desses projetos.
Fazem divulgação como se
estivessem prontos para entrar em operação imediatamente e levar turistas ao
espaço, mas o fato é que essa propaganda está muito distante da realidade. O
problema é que, além da imprensa e do público (que não têm obrigação de ter
conhecimento técnico), algumas empresas sérias (como a Volkswagen, a Axe e a
KLM) e até organizações públicas que deveriam saber tudo do setor ou, no
mínimo, ter alguma noção técnica, acreditam na propaganda desses projetos e
embarcam na ideia, ajudando a divulgar e dar "credibilidade" a uma
farsa.
Hoje vamos falar um pouco
sobre o Projeto Mars One e colocar alguns fatos à disposição daqueles que
querem saber da realidade em vez de serem enganados por falsas promessas e
contos de fadas.
Obviamente, sou um entusiasta
e luto a favor da exploração espacial e do desenvolvimento de tecnologia de
ponta. Mas, com a mesma ênfase, não posso ser favorável ao assassinato
anunciado de pessoas inocentes!
A NASA pretende enviar
missões tripuladas a Marte na década de 2030. Para isso, inicialmente inúmeras
análises científicas têm iluminado o caminho entre a Terra e o planeta
vermelho. Esses dados estão sendo usados para o desenvolvimento de sistemas
realistas, capazes de suportar todo o leque de condições desfavoráveis para a execução
da missão e manutenção da vida dos tripulantes para pousar, sobreviver e
explorar cientificamente aquele planeta. Enquanto isso, em Houston, atividades
de treinamento são criadas e desenvolvidas para preparar astronautas
profissionais e com experiência operacional suficiente para encarar e vencer os
desafios que certamente surgirão. Mesmo assim, os riscos serão altos. Assim,
todo nosso esforço é para reduzir os fatores negativos de forma que possamos
realizar a missão com um nível aceitável de sobrevivência e sucesso.
Certamente, eu conheço os riscos envolvidos, mas sou candidato a tripular uma
missão NASA para Marte. Como astronauta profissional, isso é parte do meu
trabalho.
Infelizmente, da mesma forma
que emagrecer 20 kg não pode acontecer por mágica em uma semana, a única
maneira de realizar uma missão espacial da envergadura de uma viagem a Marte
com sucesso é através de muito estudo, trabalho, tecnologia e preparação séria
de tripulação profissional.
O projeto Mars One tem uma
ótima propaganda, mas até agora não apresentou/divulgou as devidas credenciais
técnicas, nem a análise completa dos fatores da missão, nem os contratos
necessários com possíveis fornecedores para desenvolvimento do transporte e dos
equipamentos essenciais para o sucesso da missão.
Dessa forma, no cenário
atual, na verdade ele representa um sério risco não apenas para a vida dos
inocentes que pretendem compor sua tripulação, mas para todo o esforço futuro
de enviar missões tecnicamente viáveis para Marte.
Caso o projeto consiga chegar
até o ponto de decolar com carga humana – e eu sinceramente espero que não – a
provável morte dos passageiros no translado, no pouso ou algumas horas depois
disso, representará uma comoção mundial capaz de também matar qualquer tipo de
tentativa posterior de realizar uma missão internacional tripulada com perfil
semelhante, por mais que seja séria e tecnicamente estruturada. Lembre-se de
que tal missão terá necessidade de contribuição financeira de vários países e
organizações, e, certamente, a repercussão negativa da morte inútil de seres
humanos em uma missão anterior, mesmo que antecipada por especialistas, poderá
inviabilizar a participação desses investidores.
Para aqueles que não conhecem
o Projeto Mars One, ele pretende utilizar tecnologias já desenvolvidas para
enviar espaçonaves para Marte a partir de 2018. Inicialmente serão enviados
sondas tipo “rovers”, seguidos de módulos de apoio à vida e, finalmente, em
2024, seres humanos.
Parece simples, mas basta uma
análise um pouco mais lógica para encontrar diversos pontos de problema.
Uma viagem a Marte com a
tecnologia atual dura diversos meses.
Supondo que as etapas não
tripuladas tenham tido sucesso (apesar do custo necessário ter de ser revisto),
teremos o envio de seres humanos.
Durante o percurso, a saúde
da tripulação será degradada ao extremo com radiação, perda de massa muscular,
perda de densidade óssea e fatores emocionais (especialmente uma tripulação não
profissional). Próximo desafio: o pouso. As técnicas de pouso utilizadas
atualmente para sistemas terão de ser adaptadas para seres humanos.
Supondo que a tripulação
tenha sobrevivido ao voo e ao pouso, a preparação dos módulos no solo para
sustentar a vida precisa ser imediatamente conduzida. Mas, na verdade, a
tripulação precisaria de um hospital!
Supondo que consigam, aí
temos outras questões essenciais como: quantidade e qualidade de alimentação,
água, oxigênio, roupas espaciais que ainda não foram desenvolvidas, condições
emocionais, etc.
Esses são apenas alguns
exemplos óbvios. Na verdade, existe uma grande cadeia de suposições com baixos
percentuais de sucesso que têm de ser multiplicadas para se chegar à
probabilidade de sobrevivência da tripulação. O resultado certamente será um
número inaceitável muito próximo de zero.
Neste artigo não cabe
entrarmos em detalhes técnicos, mas para aqueles mais curiosos, existe um estudo completo feito pelo MIT (Massachusetts Institute ofTechnology), disponível na internet, onde são analisados os aspectos e
dados divulgados do projeto, chegando-se à conclusão da inviabilidade da sua
execução.
Não quero “jogar um balde de
água fria” nos sonhos daqueles que querem ir a Marte. Isso ainda É POSSÍVEL!
Mas infelizmente, por enquanto, com o nível da nossa tecnologia, será
necessário muito estudo, esforço pessoal, trabalho e dedicação por muitos anos
para ser parte do grupo de astronautas profissionais e, mesmo assim, encarar
sérios riscos.
Noutras palavras,
não acredite em comprimidos milagrosos!
*Astronauta Marcos Pontes - Nascido no interior de São
Paulo, em 1963, Marcos Pontes é Astronauta Profissional Especialista de Missão,
formado pela NASA e pela Roscosmos, e permanece à disposição do Brasil. É
Palestrante Motivacional, Coach Especialista em Desempenho Pessoal e
Desenvolvimento Profissional, Mestre em Engenharia de Sistemas, Engenheiro
Aeronáutico pelo ITA, Diretor Técnico do Instituto Nacional para o Desenvolvimento
Espacial e Aeronáutico, Empresário, Consultor Técnico, Embaixador Mundial do
Ensino Profissionalizante, Embaixador das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Industrial, Presidente da Fundação Astronauta Marcos Pontes e Autor de quatro
livros: “Missão Cumprida. A história completa da primeira missão espacial
brasileira”, “É Possível! Como transformar seus sonhos em realidade”,“O Menino
do Espaço. A história do Primeiro Astronauta Brasileiro” e "Caminhando com
Gagarin. Crônicas de uma missão espacial, todos publicados pela editora Chris
McHilliard do Brasil.
Fonte: Site do Astronauta Marcos Pontes - www.mascospontes.com
Comentário: Pois é leitor como havíamos colocado
anteriormente esse projeto é um desatino e para o bem de seus participantes e
da própria história da exploração espacial tripulada humana, o melhor é que ele
fosse imediatamente cancelado. Entretanto causa-me surpresa o fato do nosso astronauta
Marcos Pontes ter colocado o Projeto do Lynx na
mesma situação. O prazo que vem sendo divulgado para o lançamento tripulado da
nave deste projeto nos parece bem prematura, é verdade, mas não acredito que o
Projeto Lynx deva ser comparado com este projeto da MARS ONE, mesmo que envolva
riscos. Afinal todo projeto espacial tripulado ou não envolve grandes riscos,
mas existe uma diferença muito grande dos riscos envolvidos neste desatino chamado
MARS ONE e o Projeto Lynx, que até onde sei é um projeto sério que esta sendo
conduzido dentro dos processos de segurança semelhantes aos adotados pela NASA. Aproveitamos para agradecer ao nosso leitor Ricardo Melo pelo envio deste artigo.
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