O anuncio das empresas selecionadas para operar em Alcântara e o provável primeiro lançamento a partir do CLA

Olá, leitora! Olá, leitor!

No dia 28/04/2021, em cerimônia conduzida pelo Estado Maior da Aeronáutica (EMAER) / Comando da Aeronáutica (COMAER) / Ministério da Defesa (MD) em parceria com a Agência Espacial Brasileira (AEB) / Ministério da Tecnologia, Ciência e Inovações (MCTI), foram anunciados os nomes da empresas selecionadas para operar com lançamentos orbitais e sub-orbitais a partir do Centro Espacial de Alcântara (CEA).

Com duração aproximada de um pouco mais de 30 minutos, o evento que contou com a participação do Presidente Jair Bolsonaro e demais autoridades das duas pastas, órgãos vinculados e do governo, bem como de representantes das empresas selecionadas e demais autoridades civis e militares, foi transmitido ao vivo pelo youtube:

Vídeo da cerimônia de divulgação.

Seguindo com palestras resumidas sobre o CEA, o processo e critérios da seleção as empresas selecionadas, três americanas (Hyperion, Orion AST e Virgin Orbit) e uma canadense (C6 Launch).

Imagem do slide com os nomes das empresas selecionadas e as respectivas instalações / sítios associados.

Das 4 empresas, a mais conhecida e a única que possui um veículo operacional (com 1 lançamento bem sucedido de 2) é a Virgin Orbit. 

A Hyperion, que até o dia da apresentação do resultado não tinha nem mesmo um site, é uma subsidiária do grupo Theia e, pelo que apuramos, não desenvolveu o seu veículo lançador (Sprite), que, salvo engano, foi encomendado às empresas "irmãs" Scorpius e Microcosm.

Imagem da concepção esquemática do veículo lançador Sprite


Salvo o caso de informações mais recentes terem sido omitidas, pelo material publicado pela Microcosm Inc. em 2014 (veja aqui). com a proposta de uma família de lançadores da família Scorpius, os voos dos protótipos de testes foram todos sub-orbitais.

Vasculhando na internet, a última referencia confiável que encontramos sobre o andamento desse projeto foi de agosto de 2018 nos slides da apresentação "Small Launch Vehicles: A 2018 State of the Industry Survey", (veja aqui) de Carlos Niederstrasser (todos os direitos reservados). Nessa apresentação o autor informa que o status do projeto do Demi Sprite (uma versão menor do Sprite), que deveria ter voado em 2017, era desconhecido. 


Imagem do slide da apresentação "Small Launch Vehicles: A 2018 State of the Industry Survey", com destaque em amarelo para o nome do veículo Demi Sprite.
Fonte: Niederstrasser (2018).

Já empresa canadense C6 Launch, que não é citada na apresentação de Niederstrasser (2018),  possui um projeto de veículo chamado C6 Launch System. Em informações no site e na página do LinkedIn da empresa, deixam claro que o projeto ainda está nos testes estáticos dos motores em escala real.

Imagem da concepção artística do C6 Launch System.
Fonte: C6 Launch.

Imagem da publicação do teste estático do motor em escala real do C6 na página do LinkedIn da C6 divulgada há 2 semanas.
Fonte: C6 no LinkedIn.

Assim, como a Orion AST só vai executar lançamentos sub-orbitais e os veículos (Demi) Sprite (Hyperion) e C6 (C6 Launch) devem estar com um Nível de Maturidade Tecnológica (TRL - Technology Readiness Level) entre 5 e 7 (só devendo voar dentro de 3 anos ou mais), somente a Virgin Orbit teria condições de efetuar um lançamento dentro do prazo estimado pelos entes do PEB, no segundo semestre de 2022.

O Launcher One e o provável primeiro lançamento do CLA

Em particular, o sistema de lançamento da Virgin Orbit é baseado em uma aeronave Boeing 747-400 adaptada, denominada Cosmic Girl, que carrega o veículo lançador Launcher One em um "pod" adaptado na sua asa esquerda, motivo pelo qual a área que será cedida para exploração é o aeroporto do Centro de Lançamentos de Alcântara (CLA).

Imagem do lançamento do Launcher One.
Fonte: RAF.

Guardadas as especificidades de cada projeto, o sistema de lançamento do Launcher One (Air launch to orbit) é igual ao antigo veículo lançador americano Pegasus, que lançou o primeiro satélite governamental nacional: o Satélite de Coleta de Dados - 1 (SCD-1). 

Diferente dos lançadores convencionais, no sistema "Air launch to orbit" o veículo lançador é carregado por uma grande aeronave (avião), que o leva até uma certa altitude e o libera (na horizontal) para o início de sua ascensão até a inserção à órbita.

No caso do sistema da Virgin Orbit, quando a Cosmic Girl alcança a altitude estimada de 35.000 pés (~12.000m), esta libera o Launcher One que, logo após, inicia a ignição do motor do seu 1o estágio, ascende até o acionamento do 2o estágio e a inserção orbital da carga útil (payload).

Por esse motivo acreditamos que o primeiro lançamento do CLA será realizado por esse sistema de lançamento. Além disso, considerando o fato do lançador já ser operacional, excetuando os problemas legais descritos na matéria "AEB publica novo Edital de Chamamento Público para operação no CEA: Uma confissão pública de ilegalidade e a mesma incompetência de sempre", o lançamento inaugural do CLA poderia acontecer ainda este ano.

Por outro lado, analisando o cenário nacional e a capacidade de carga e características do Launcher One, inferimos que, superados os problemas legais para contratualização da operação das empresas selecionadas para utilizarem as instalações do CLS, o primeiro lançamento poderia ser dos 2 satélites radar de abertura sintética (SAR - Synthetic Aperture Radar) adquiridos pelo COMAER em dezembro de 2020 (veja aqui).

Isso seria possível, pois o Launcher One foi desenvolvido para lançamentos de pequenos satélites em órbitas heliossíncronas (SSO - Sun-synchronous orbit), com capacidade de carga de 300 kg até 500 km de altitude. Aliado a isso, o motor do 2o estágio do lançador tem capacidade de múltiplas ignições.

Assim, os dois SAR Iceye - X2, de 85 kg de massa cada um (~200 kg para os dois satélites, mais acopladores e outros sistemas de integração com o 2o estágio do veículo lançador), teoricamente, poderiam ser lançados em órbitas com oposição de 180 graus entre si, em um único voo.

Imagem concepção artística do Iceye X-2.
Fonte: ESA.

Por serem satélites ligados ao Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE), da Força Aérea Brasileira / MD, a contratação da Virgin Orbit poderia se dar por contratação direta, sem a obrigatoriedade de um processo licitatório, o que facilitaria sobremaneira a operação.

Então, fazendo essa previsão, esperamos que as empresas selecionadas, em especial a Virgin Orbit e a AEB/EMAER, solucionem o problema ocorrido com o Edital de Chamamento Público de 2020 (nem que seja via uma nova submissão ao Edital de Chamamento de 2021) e que isso permita que as operações a partir do CLA se iniciem, dentro da legalidade, o mais rápido possível.

Rui Botelho
(Brazilian Space) 

Comentários

  1. Olá Prof. Rui Botelho!

    O senhor está certo, muito provavelmente será a Virgin Orbit a primeira dessas empresas a realizar uma missão espacial orbital neste novo CEA. Inclusive em uma postagem de minha autoria quando era o editor no blog, eu já havia levantado essa hipótese, após ter escutado e interpretado um dos discursos desse fraco presidente desta Agência Espacial de Brinquedo (AEB). Fico na torcida para que os problemas legais apresentados pelo senhor venham a ser equacionados o mais breve possível, para que assim finalmente esse troço (CLA/CEA) possa cumprir a missão para qual foi criado, trazendo benefícios ao país e a Sociedade Brasileira como um todo.

    Abs

    Duda Falcão

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  2. É melhor a Avibras acelerar....lendo o que esses caras fazem parece que fazer foguete é como fazer pão quente , fazem na forma que o cliente pede e na quantidade pedida !!!!!!!?
    Parece mais fácil passar as medidas de carga e alcance a eles e ter o trabalho apenas de colar a bandeirinha do Brasil.
    Fica parecendo que estamos na era do Buscapé

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