Trabalho no INPE
Olá leitor!
Recebi no final da noite de
ontem (10/10) mais um interessante artigo escrito pelo pesquisador do INPE,
Mário Eugênio Saturno (este um artigo extra não integrante da Série de Quatro prometida
pelo mesmo – falta um), relatando reduzidamente sua trajetória dentro do
Instituto, relato este de uma época quando o PEB realmente funcionava, apesar
da grave situação econômica que o país enfrentava naquele momento.
Duda Falcão
Trabalho no INPE
Mario Eugenio Saturno*
Tecnologista Senior
Divisão de Sistemas Espaciais
INPE/MCT - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
SJCampos - SP Caixa Postal 515 - CEP 12201-970
Telefone: (012) 3208-7020
Em 9 de outubro de 1985, comecei a trabalhar no INPE.
Havia passado por um longo processo que incluía aprovação pelo governo federal
em Brasília, na época era assim. Era a realização de um sonho, poucos lugares
do Brasil recebiam farto orçamento para desenvolver tecnologia, e tecnologia
espacial.
Foi engraçado quando o funcionário do setor de Recursos
Humanos perguntou como meus amigos chamavam-me, no INPE havia certa
informalidade que tornava o ambiente ainda mais amigável. Fui selecionado para
o grupo de Supervisão de Bordo, nome pomposo para computador de bordo de
satélites. Quando cheguei, já tinham muitos “mários”, cogitavam chamar-me de
Eugênio, ri por não enxergarem a obviedade da situação! Só poderiam chamar-me
pelo sobrenome, Saturno, afinal o instituto era Espacial.
Logo fui encarregado de desenvolver o software do
equipamento de testes dos computadores de bordo do satélite e escrever
juntamente os testes deles e do satélite. Parecia incrível, mas aquele pequeno
Satélite de Coleta de Dados tinha dois computadores ligados por uma rede.
Estudar na Universidade Federal de São Carlos foi uma
vantagem incrível, aprendíamos a pensar e aproveitar software antes que isso
virasse moda nos anos 1990. Quando se montava o modelo de voo do SCD-1, um
problema ocorreu entre o receptor de radiocomunicação e o computador de bordo,
os muitos zeros transmitidos ao computador fazia o receptor perder o
sincronismo e, consequentemente, a comunicação. Todos os gerentes vieram ver o
problema e começaram a debater o problema e sugerir soluções. Quieto do lado,
resolvi rezar um Mistério do meu Terço, então tive um momento de lucidez,
lembrei-me que os telecomandos eram enviados duplicados, se fossem zeros,
bastaria colocar outros números na duplicação e o receptor não perderia
sincronismo.
Também tive um momento de criatividade incrível no
projeto do satélite com a China, o CBERS. Este satélite tem seis computadores
que custam cerca de duzentos mil dólares cada. Em um projeto espacial, é
necessário que se tenha um reserva de cada computador, se todos fossem iguais,
bastaria ter um somente, economizando um milhão de dólares. Imaginei uma
solução, polarizar três pinos do conector e o computador passaria a se
comportar conforme esperado ali. Recebi os parabéns do chefe e o direito de
fracionar minhas férias em 3 partes, para inveja dos colegas.
Ainda desenvolvi um equipamento de testes portátil para
acompanhar o satélite durante a campanha de lançamento do SCD-1 e SCD-2, pois
quando o Brasil contratou o lançamento, o foguete vencedor foi o Pegasus, que é
lançado de um avião.
Tive a oportunidade de ser especialmente convidado para
desenvolver um equipamento de teste suplementar para o equipamento brasileiro
no projeto AQUA da NASA. Um satélite gigantesco.
Há poucos anos fui escolhido para acompanhar o
desenvolvimento do sistema de controle e guiagem do Amazonia-1 na Argentina. E
minha luta final é convencer o INPE a comemorar os 25 anos do SCD-1, nosso
primeiro orgulho, esquecido por todos, gerentes, diretores, ministros,
deputados e senadores, menos por mim e, agora, por você leitor.
*Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot.com)
é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e
congregado mariano.
Segue abaixo os outros artigos dessa Série de Quatro escritos
pelo autor:
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