Foco nos Astros Primordiais
Olá leitor!
Segue abaixo uma interessante matéria publicada na edição de julho de 2016 da “Revista Pesquisa FAPESP” destacando que Espectrógrafo
Fabricado no Brasil poderá observar elementos típicos das primeiras estrelas do
Universo.
Duda Falcão
CIÊNCIA
Foco nos Astros Primordiais
Espectrógrafo fabricado no Brasil poderá observar
elementos
típicos das primeiras estrelas do Universo
MARCOS PIVETTA
Pesquisa FAPESP - ED. 245
Julho 2016
© LNA
O Soar vai receber o espectrógrafo Steles …
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Os astrônomos brasileiros deverão contar em breve com um
novo instrumento para observação da radiação emitida por corpos celestes nos
comprimentos de onda da luz visível, desde o ultravioleta até o início do
infravermelho próximo: o espectrógrafo de alta resolução Steles, projetado e
fabricado no Brasil. O equipamento é capaz de obter dados detalhados sobre a
composição química, a temperatura, a velocidade de rotação e a força
gravitacional de estrelas, inclusive daquelas formadas nos primórdios do
Universo, logo após o Big Bang. O projeto chegou a bom termo, mas a conclusão
ocorreu cinco anos após o previsto. Problemas burocráticos, de importação de
componentes, atrasos e erros de fornecedores de peças e pouca experiência na
gestão de uma empreitada desse tipo contribuíram para o atraso.
“Tivemos de aprender com os erros como é gerir a
construção de um instrumento tão complexo”, reconhece o astrofísico Bruno Vaz
Castilho, diretor do Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA) e coordenador
dos trabalhos de construção do espectrógrafo.
Nos próximos dias, o Steles deverá deixar a sede do LNA,
em Itajubá (MG), rumo ao município andino de Vicuña, no norte do Chile. O
destino final do instrumento, que custou R$ 2,5 milhões, é o topo de uma
montanha situada a 2.700 metros acima do nível do mar, o Cerro Pachón. Nesse
ponto privilegiado de observação do céu, o Steles será instalado dentro da
cúpula do Observatório Austral de Pesquisa Astrofísica (Soar), um telescópio
com espelho de 4,1 metros (m), construído e mantido por investimentos do
Brasil, dos Estados Unidos e do Chile. “Em setembro, o Steles deverá receber
sua primeira luz”, prevê Castilho. Se tudo correr como previsto, o acesso ao
instrumento deverá ser aberto a projetos de pesquisadores dos países associados
ao telescópio até o fim deste ano. Por ser sócio do Soar, o Brasil dispõe de
30% do tempo de uso do telescópio.
© LNA
…que será acoplado ao telescópio.
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O Steles é o terceiro instrumento produzido no Brasil
para o observatório internacional. Os dois primeiros foram o espectrógrafo
Sifs, de menor resolução que o Steles, e o filtro imageador sintonizável
brasileiro (BTFI, em inglês), ambos instalados em 2010 no telescópio andino.
Inspirado no Feros e no Uves, dois dos mais potentes espectrográfos mantidos em
sítios chilenos pelo Observatório Europeu do Sul (ESO), o Steles é uma versão
mais moderna de seus congêneres. Pesa 830 quilos, nove vezes menos do que o
Uves. Seu tamanho é metade de seus similares. É quase um quadrado, com 1,80 m
de altura, 1,9 m de largura e profundidade de 60 centímetros. Mais de 5 mil
peças fazem parte do espectrógrafo. A maioria foi projetada no LNA. Do
exterior, vieram toda a parte óptica e uma boa porcentagem da eletrônica. As
estruturas mecânicas, de usinagem e uma parcela da eletrônica foram fabricadas
no Brasil, onde o projeto foi concebido, montado e testado antes de estar
pronto para ser despachado para o Chile.
Dez empresas nacionais participaram da construção do espectrógrafo.
A Equitecs, de São Carlos, por exemplo, fez a estrutura da bancada e suportes
para pendurar no telescópio. A Erominas, de Piranguçu (MG), confeccionou peças
mecânicas e a MedTron, de Santa Rita do Sapucaí (MG), fabricou placas
eletrônicas para o Steles. “Além de capacitar empresas nacionais a se tornar
fornecedoras de peças e serviços para outros projetos de tecnologia
sofisticada, a fabricação do Steles permitiu que vários estudantes aprendessem
técnicas optomecânicas e alguns até fizeram mestrado sobre temas correlatos à
questão da instrumentação”, comenta Castilho.
© LNA
Linhas de absorção registradas no canal vermelho do
instrumento.
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Construir um espectrógrafo como o Steles no Brasil custou
significativamente menos do que se ele tivesse sido fabricado fora do país,
segundo pesquisadores envolvidos no projeto. “O objetivo era fazer um instrumento
de ponta a um custo mais baixo do que se ele fosse construído no exterior”, diz
o astrofísico Augusto Damineli, do Instituto de Astronomia, Geofísica e
Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP). A FAPESP
financiou cerca de metade do custo de construção do Steles. O restante veio do
Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, (MCTIC), do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).
Para Castilho, o preço competitivo do Steles se deve a
alguns fatores: o custo administrativo e o salário, em dólar, dos pesquisadores
e engenheiros envolvidos no projeto são mais baixos aqui do que no exterior;
fabricar as partes mecânicas no país também é mais barato; e o tamanho reduzido
do instrumento permitiu o uso de componentes ópticos menores e de preço mais em
conta. “O Steles vai ter grande impacto na astrofísica brasileira. Poucos
espectrógrafos observam linhas de absorção na região do ultravioleta”, opina
Beatriz Barbuy, professora do IAG-USP. “Com ele, a produção científica do Soar
deve dobrar.”
O otimismo se deve às características do instrumento.
Como todo espectrógrafo, o Steles capta a luz de uma estrela e a separa,
inicialmente, em dois grandes canais (azul e vermelho) e, em seguida, em
diferentes cores (comprimentos de ondas). Certos elementos químicos emitem
radiação em comprimentos de onda muito específicos, de difícil detecção. Esse é
o caso do berílio, que se formou nas primeiras estrelas surgidas após o Big
Bang, há 13,7 bilhões de anos. Sua radiação está numa faixa estreita do
ultravioleta, que, no entanto, deverá ser “vista” com nitidez pelo Steles. A
resolução do novo espectrógrafo do Soar é maior que a de seus concorrentes. Ele
“enxerga” um sinal até 50 mil vezes menor do que o comprimento de onda
observado. O Feros, por exemplo, registra uma linha de absorção no máximo 48
mil vezes menor do que o comprimento de onda.
Projeto
Steles: Espectrógrafo de alta resolução para o Soar (nº 2007/02933-3); Modalidade Projeto Temático; Pesquisador
responsável Augusto Damineli (IAG/USP); Investimento R$
1.104.780,00.
Fonte: Revista Pesquisa FAPESP - Edição 245 - Julho de
2016
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