Flutuações Quânticas Auxiliam Cientistas na Investigação da Matéria
Olá leitor!
Segue abaixo uma interessante matéria postada dia (05/08)
no site do “Jornal da USP”, destacando que Flutuações Quânticas auxiliam
cientistas na investigação da matéria.
Duda Falcão
CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
Flutuações Quânticas Auxiliam
Cientistas na Investigação
da Matéria
Físicos desvendam mistérios da matéria por meio de
experimentos
com colisões de núcleos pesados em aceleradores de
partículas
Por Denis Pacheco
Jornal da USP
05/08/2016
Foto: Divulgação/CERN
Um dos locais do experimento, o Large Hadron Collider
(LHC),
na Europa, o maior acelerador de partículas no mundo.
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Numa área considerada entre as mais básicas da
ciência, como a física de partículas, cada descoberta é valiosa para a
compreensão do todo. Revistas de grande impacto, como a Physical
Review Letters, são vitrine das novas peças somadas ao quadro que
poderá elucidar o funcionamento da matéria. Recentemente, um físico da USP
acrescentou sua contribuição ao quebra-cabeça. Jorge Noronha é um dos
autores de artigo relatando experimentos que colidiram núcleos de
metais pesados a velocidades próximas à da luz, fazendo vir à tona
partículas chamadas quarks e glúons.
A série de experimentos foi conduzida no interior
dos dois maiores e mais famosos colisores de partículas da atualidade, o Large
Hadron Collider (LHC), na Europa, e o Relativistic Heavy Ion Collider (RHIC),
nos Estados Unidos. Físicos teóricos e experimentais puderam observar o
comportamento de jatos produzidos nas colisões ultrarrelativísticas (classificadas
assim pela velocidade em que ocorrem) de íons pesados.
Foto: Divulgação/IF
Jorge Noronha, do Instituto de Física da USP,
pesquisa a
Física Nuclear de Altas Energias.
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A priori, o experimento colidiu núcleos pesados de
metais como ouro, usado em especial por pesquisadores no RHIC, e o chumbo,
utilizado nas experiências no LHC. Ao colidirem os núcleos de chumbo,
partículas elementares que os constituem (os quarks e os glúons) se fizeram
notar.
Publicado pela Physical Review Letters no final de
junho, o trabalho jogou luz sobre mais um dos múltiplos enigmas que
cercam este infinitesimal universo. Mas para compreender a magnitude da
experiência conduzida em escala microscópica, uma série de conceitos precisam
ser destrinchados.
Engenharia Reversa
Em meados de 1973, os cientistas David Politzer, Frank
Wilczek e David Gross foram os responsáveis pelo desenvolvimento da
Cromodinâmica Quântica (QCD). Em física teórica, a QCD é a teoria das
interações fortes, uma força fundamental que descreve a interação entre quarks
e glúons, que por sua vez constituem os hádrons como os prótons, nêutrons e
píons. A área é uma parte crucial do modelo padrão da física de partículas.
Num espaço microscópico – região não muito maior do que o
tamanho de um próton, que tem em média 10−15 metros – uma
grande quantidade de energia é dispersada pela colisão. Após o impacto, o calor
dentro do colisor se eleva dramaticamente, chegando a atingir temperaturas da
ordem de 100 mil vezes a do Sol. Em consequência, os núcleos pesados “derretem”
e liberam quarks e glúons, que produzem imediatamente um sistema conhecido como
“plasma de quarks e glúons”, cuja duração é extremamente breve.
É nesse sistema que cientistas concentraram sua atenção
para tentar compreender, de forma reversa, como esses quarks e glúons produzem
os prótons e nêutrons, elementos que constituem 95% da matéria conhecida
atualmente.
Plasma de Quarks e Glúons
O universo, explica o professor, é formado
aproximadamente por 68% de energia escura, 27% de matéria escura e 5% de
matéria conhecida, aquela descrita pelo modelo padrão. “Desses 5%,
aproximadamente 95% são relacionados aos quarks e glúons. Basicamente toda
nossa massa vem deles e de suas interações”, aponta.
“Para se ter uma ideia, no começo do universo, de acordo
com cosmólogos, mais precisamente microssegundos após o Big Bang, o universo
era cheio desse plasma”, esclarece ele. Conforme a temperatura altíssima do
universo foi baixando, e ele foi se expandindo e esfriando, a matéria foi se
modificando em diferentes modelos.
Há pouco menos de 15 anos, a comunidade internacional de
cientistas passou a investigar de perto o plasma de quarks e glúons gerado
pelos experimentos modernos. Comportando-se como “um líquido que tem efeitos de
viscosidade muito pequenos”, pontua o físico, o plasma foi primeiramente
presumido como um sistema uniforme, liso e sem flutuações.
Posicionando detectores de partículas ao redor do
sistema, físicos experimentais passaram a registrar, no espaço observável pelas
medições, qual era a dinâmica das partículas que cruzavam o plasma por meio de
jatos.
“Imagine que uma partícula está passando como um jato
sobre o plasma de quarks. Como um dedo cortando uma poça de água”, ilustra
Noronha. “O que medimos é quanto de energia o jato perde quando passa
através daquele meio. Isso nos diz o quão denso o sistema era e o
quanto de energia o jato perde quando está passando”, revela ele, ao
indicar que os jatos agem como uma sonda indicativa das propriedades da
matéria.
Flutuações Quânticas
Era também necessário entender como a matéria se
comportava e evoluía no espaço e tempo até chegar aos detectores. A princípio,
observou-se que a matéria se comportava em padrões similares, chamado fluxo
elíptico. Entretanto, são vários os padrões de distribuição angular das
partículas: elíptico, triangular, quadrangular e outros. Compreender por que o
padrão elíptico era predominante conduziu os cientistas a olharem mais fundo na
alegada uniformidade do plasma.
“Por mais de dez anos todos calculavam que o plasma não
tinha flutuação, era liso. O jato passava e cientistas encontravam a
distribuição de partículas. Ao longo dos anos, entendemos que o fluido que é
construído não é uniforme”, conta Noronha. “Foram constatadas as chamadas
flutuações quânticas, que são a causa da densidade de energia ser composta por
‘cumes’ e ‘vales’. São eles que fazem diferença conforme o jato vai passando”,
salienta.
A partir da inclusão do efeito das flutuações quânticas,
tornou-se possível entender a magnitude do fluxo elíptico associado
à passagem de jatos pelo plasma de quarks e glúons, o que ajudará a
compreender as propriedades dinâmicas do plasma, como ele se move no espaço e
no tempo.
Aplicações e Futuro do Campo
Noronha revela que um novo artigo já está sendo escrito.
Dessa vez, mais longo e com mais detalhes que irão fundamentar novos
experimentos. “Vamos propor novas observações para entender melhor ainda como
esses jatos perdem energia, como esses fluidos são feitos”, aponta ele.
Além disso, pesquisadores querem investigar mais
profundamente a conexão desse que é considerado “o menor, mais quente e mais
perfeito fluido já feito” com o jato. “Se você coloca mais viscosidade, o que
acontece? Ainda não sabemos e queremos entender quão viscoso o plasma realmente
é”, revela.
Para os astrônomos, o trabalho pode ajudar a desvendar
mais mistérios sobre as origens do universo. Entender quais seriam as
consequências cosmológicas desses jatos no plasma primordial é uma das
principais indagações, especula o cientista.
Na USP, pelo menos cinco físicos teóricos e três físicos
experimentais estão trabalhando na investigação desses fenômenos. No Brasil, a
comunidade que participa desses experimentos se estende por diversas outras
universidades, chegando a organizar suas próprias conferências e conduzir
pesquisas em conjunto.
Especificamente para a física, descobertas como essa são
responsáveis por mudanças consideráveis que aproximam campos anteriormente
separados. “A Física Nuclear antes era um pouco distinta da Física de
Partículas ou das Altas Energias”, lembra o professor. “Com experimentos como
os do LHC, a energia dessas colisões é tão alta que ambas as físicas estão se
misturando em algo novo”, esclarece, ao pontuar que para trabalhar nesse tipo
de pesquisa é exigida dos especialistas uma boa compreensão de ambas as áreas.
Para a física, um domínio em constante transformação, “a
barreira que existia entre áreas ficou muito menor”, finaliza Noronha.
Mais informações: site http://jorgenoronha.wixsite.com/physics,
email noronha@if.usp.br,
com Jorge Noronha
Fonte: Site do Jornal da USP de 05/08/2016 -
http://jornal.usp.br
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