Série Espaçomodelismo: Entrevista com o Sr. Roberto de Paula da BANDEIRANTE Foguetes Educativos

Olá leitor!

Dando mais uma vez continuidade a série com profissionais ligados a Educação e ao Espaçomodelismo do país, trago agora para você outra entrevista significativa desta série que tem o como objetivo divulgar as ações de profissionais que nas ultimas décadas contribuíram efetivamente para a Educação de jovens e para o desenvolvimento do Espaçomodelismo no país.

Lembrando ao nosso leitor que a ideia nesta série é trazemos para você quinze entrevistas com profissionais do chamado Space Education, sendo que esta será a décima da série, desta vez com o Sr. Roberto de Paula, diretor da empresa BANDEIRANTE Foguetes Educativos de Recife-PE e um dos maiores defensores do Espaçomodelismo no Brasil.

Recentemente durante a realização do “X Mostra Brasileira de Foguete (X MOBFOB)” em Barra do Piraí-RJ, tive a oportunidade de conhecer pessoalmente este senhor de cabelos brancos, e pude constatar no Sr. Roberto uma pessoa tranquila, alegre, bastante comunicativa, e aos 64 anos muita ativa e comprometida com o que faz, qualidades estas que só se encontra em pessoas que buscam contribuir para mudança do ambiente em que vive, no seu caso o setor das atividades espaciais educacionais, transformando assim dificuldades em soluções, bem diferente dos vendedores de ilusões comumente encontrados em nossa destrambelhada Sociedade.

Nesta entrevista para o Blog BRAZILIAN SPACE este paulista nascido na capital do estado nos faz um interessante relato sobre a sua trajetória profissional, bem como nos fala sobre as suas atividades na BANDEIRANTE Foguetes e a sua expectativa para o futuro do PEB e das atividades espaciais educativas no Brasil.

Blog BRAZILIAN SPACE agradece publicamente ao Sr. Roberto de Paula pela atenção e disposição de participar dessa nossa série de entrevistas, bem como também parabeniza-lo por tudo que fez e ainda fará pelas atividades espaciais educativas do país.

Duda Falcão

Sr. Roberto de Paula
BRAZILIAN SPACE: Sr. Roberto de Paula, para aqueles leitores que ainda não o conhecem e ao seu trabalho, nos fale sobre o senhor, sua idade, formação, onde nasceu?

SR. ROBERTO DE PAULA: Hoje dirijo uma fábrica piloto de Aero e Espaço modelismo, a BANDEIRANTE, empresa de direito privado fundada em setembro de 1999.

Minha formação é de Piloto de Aeronaves, tenho 4500 horas de voo totais.

Me formei na Força Aérea Brasileira, saí muito cedo da FAB com 28 anos de idade fui voar na aviação civil onde me aposentei.

Também fui torneiro mecânico, me formei no SENAI, trabalhando na profissão por três anos.

Nasci em São Paulo, capital, no dia 29 de junho de 1952, dia de São Pedro.

NOTA: Prezados leitores, como tenho uma extensa carreira muito interessante e de longas histórias reais com conexões de fatos do passado com o presente, resolvi por uma questão de espaço, colocando links em fatos, pessoas e lugares onde passei, você pode saber mais clicando nos trechos em azul.

Turma do Sr. Roberto no SENAI Anchieta em São Paulo.

BRAZILIAN SPACE: Sr. Roberto antes de falarmos de suas atividades com o Space Education, qual é a sua opinião sobre a atual situação do Programa Espacial Brasileiro (PEB), existe ainda alguma esperança?

SR. ROBERTO DE PAULA: Sim, na minha opinião existe uma saída. A iniciativa privada. Ponto final...

BRAZILIAN SPACE: Sr. Roberto, até onde sabemos o senhor é o dono da única empresa no país que fabrica em escala industrial foguetes educativos para o ensino fundamental e médio, ou seja, a empresa pernambucana “Bandeirante Foguetes Educativos”. Fale-nos como surgiu a ideia da criação desta empresa e por quê?

SR. ROBERTO DE PAULA: Foguetes é uma paixão que nasceu comigo, minha vida é cheia de conexões do passado com o presente, onde vou contar o emocionante porque do nome  BANDEIRANTE.

Eu sou do tempo do Sputnik, no dia 14 de novembro 1957, com apenas 5 anos de idade eu vi o Sputnik passando pelos céus de São Paulo Eu vi o primeiro satélite que o homem colocou em órbita  me lembro deste fato como se fosse ontem, este fato marcou minha vida.

Minha infância e mocidade foi muito conturbada, sabendo fazer pólvora desde a infância e depois como torneiro mecânico, não gostava de estudar minha diversão era na oficina de meu avô, torneando tubos, enchendo e acendendo, também os motores Diesel WB 2,5 cc de aeromodelos, torneando bielas e pistões miniaturas. Agradeço a minha mãe Dona Wanda que me deu uns bons puxões de orelhas e palmadas firmes, afinal sempre reconheci que dei muito trabalho.


Até que num dado momento, nos  meus 19 anos, com a influencia de um grande amigo, o Georg Skaliks hoje engenheiro eletrônico, peguei a fundo nos estudos a fim de fazer um bem para meu futuro.

Parei com minhas atividades micro mecânicas explosivas e me dediquei aos estudos e com 22 anos prestei vestibular para engenharia e juntamente, o concurso para Academia da Força Aérea.

O mais curioso é que o Georg é muito parecido com Santos Dumont, os dois de lado a lado dá pra confundir;


Em janeiro de 1976 saem os resultados das provas, passei no vestibular para engenharia elétrica e também  no concurso para a Força Aérea Brasileira, onde optei para o CFOAV R2, curso de aviadores da Reserva da FAB. (2016 – 40 anos de formatura de minha turma, conheça aqui grandes aviadores, cada um com historias fantásticas, se reúnem num emocionante encontro, com certeza você leitor já foi levado por um deles no comando de aeronaves pelo mundo )


Em 1977 saí 2º Tenente Aviador, servi no 2º Esquadrão Misto de Reconhecimento e Ataque o 2º EMRA em Recife onde usei e treinei os seguintes armamentos:

Tiro aéreo com metralhadoras MAG 7,62mm presas uma em cada asa do avião T-25




O Sr. Roberto aos 23 anos ainda aluno
voando no T-25 da FAB.
O Sr. Roberto aos 23 anos ainda aluno
voando no T-25 da FAB.
 O Sr. Roberto ao lado do seu instrutor Elias e
colegas da turma, e ao fundo o T-25.
O Sr. Roberto no EMRA de Pernambuco tirando foto
segurando com o casulo do T-25.
O Sr. Roberto no vôo de despedida do
Major-Brigadeiro Becker.
O Sr. Roberto com oficiais do 2ᵒ EMRA em 1977.
Em 1980 estava com 750 horas de voo, saí da FAB e entrei para o quadro de pilotos do Governo de Pernambuco onde pilotei os aviões do governo do Estado e os charmosos BANDEIRANTE  e o XINGU prefixo PP-EPE por quase 20 anos, completando 4500 horas de voo totais.

Toda esta história faz parte da paixão pelo que faço, criei uma empresa que seria a pioneira na educação para o espaço, e não poderia ter outro nome a não ser BANDEIRANTE, homenagem ao avião que pilotei e aos grandes desbravadores do interior do Brasil.


BRAZILIAN SPACE: Sr. Roberto, no mês de agosto e setembro passado a Bandeirante Foguetes participou de alguns eventos na Grande Recife que foram divulgados aqui no Blog. Como tem sido a receptividades das escolas de ensino fundamental e médio no estado de Pernambuco com o foguemodelismo educacional, esta em crescimento?

SR. ROBERTO DE PAULA: Os eventos com modelismo de foguetes em Recife não está sendo por acaso.


Também participando da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia em diversas cidades do interior de Pernambuco tivemos um aumento de procura da atividades com oficinas de montagem e lançamentos de foguetes educacionais.



BRAZILIAN SPACE: Sr. Roberto, a Bandeirante esta desenvolvendo novos projetos de motores e foguetes para esta área?

SR. ROBERTO DE PAULA: Sim, estamos com motores para competições CanSats e motores classe G na fase final de testes dinâmicos e certificação.

BRAZILIAN SPACE: Sr. Roberto, nos últimos anos com a criação de novos Cursos de Engenharia Aeroespacial nas universidades brasileiras, o Espaçomodelismo vem se desenvolvendo no país através da criação de grupos de fogueteiros (entre outros) nestas universidades. Qual a sua opinião sobre este novo horizonte de possibilidades para o setor Aeroespacial do país?

SR. ROBERTO DE PAULA: Não é querendo desestimular ninguém, porém motores de foguetes não é tarefa simples e nem fácil de se fazer como tenho visto dezenas de pessoas pensando assim. Eu já fui um deles hà muitos anos atrás, não existe cálculo que se faça e na pratica acontece. É puro ensaio e  erro e com o passar dos anos vai se criando tabelas.

Você faz um motor de foguete, ele funciona, você fica feliz e faz outro igualzinho, o miserável sai diferente do primeiro, isso quando não explode.

E é por isso que muitos grupos de foguetes não irão decolar, se não pensarem em usar motores comercial em paralelo com suas atividades de pesquisa.

Enquanto vão errando em seus motores, vão lançando foguetes com motores comerciais e não parem as suas atividades.

Ocorreu hà uns 35 anos atrás  onde se ouvia com empolgação de clubes de foguetes e pessoas com seus foguetes e depois sumiram do mapa. O problema foram os motores que não tinham.

É ilusão ler, estudar e querer fazer um motor de foguete a curto prazo, sem ter a prática na fabricação e controle de todas as partes do motor, sem contar com explosões que acontecem e pegam todos de surpresa. São coisas muito distintas acreditar que vai funcionar e ter certeza que vai funcionar.

Pesquisar e desenvolver é preciso, hoje o espaço modelismo está diferente de 35 anos atrás,
Hoje temos motores comerciais, confiáveis e seguros que não devem nada aos importados, temos os melhores do mundo como a ESTES.

Não é meta da BANDEIRANTE estimular a fabricação de motores de foguetes e nem lidar com combustíveis.

Estive agora em novembro na IX, X e XI MOBFOG no Rio de Janeiro e o Prof Canalle, coordenador da OBA reuniu um bom numero de experientes fogueteiros, onde discutimos essa questão. Está para nascer alguma coisa na orientação segura de motores de foguetes, onde lembramos que se proibir, aí é que os meninos vão fazer escondido, onde acidentes podem acontecer e se for grave irá desacreditar toda categoria e um prejuízo muito grande para essa atividade em nosso Brasil que ainda está muito carente nessa área.

BRAZILIAN SPACE: Sr. Roberto, um dos frutos deste crescimento sem duvida foi à criação pela UFPR em 2014 do Festival de Minifoguetes de Curitiba, festival este que caminha para se tornar Nacional, creio eu já a partir da sua quarta edição em 2017. Como o senhor viu esta iniciativa criada por esta  universidade paranaense através da visão e da determinação do Prof. Carlos Henrique Marchi?

SR. ROBERTO DE PAULA: Excelente iniciativa, conheci o Prof Marchi já uns 10 anos e foi amor a primeira vista, ele empolgado com a BANDEIRANTE e eu empolgado com os relatórios muito bem elaborados, inclusive testes de motores da BANDEIRANTE e publicado, que me serviu de referencia na organização da BANDEIRANTE. Um casamento perfeito inclusive com direito a umas brigas de vez em quando.

Apesar da distancia Curitiba/Recife, estamos crescendo juntos, ele organiza lá e eu ensaio cá os testes, tendo melhoria da qualidade de nossos motores e do Festival de Foguetes que agora é Brasileiro e o de 2017 terá um avanço com muita inovação tecnológica e motores que estão agora entre os melhores do mundo.

Marchi ! O festival ainda vai ser Festival Internacional de Foguetes, é uma questão de tempo somente.

BRAZILIAN SPACE: Sr. Roberto, também está em curso uma outra iniciativa na área de competição de foguetes no Brasil, ou seja, a Competição Brasileira Universitária de Foguetes (COBRUF), esta, como o nome já diz, aberta apenas para universidades do país. Qual é a sua opinião sobre esta iniciativa que este ano realizará a sua segunda edição e que (a partir de 2015) já foi oficializada como uma associação?

SR. ROBERTO DE PAULA: Conheci de perto a COBRUF, já vinha conversando com a rapaziada um ano antes da versão Beta do evento  que fui convidado e aconteceu no Centro de Lançamentos de Foguetes da Barreira do Inferno.

De 2015 para cá amadurecemos muito, e a COBRUF me impressiona com documentação, planejamento e profissionalismo e da influencia positiva nas universidades brasileiras e na FAB, desenvolvendo tecnologia própria incentivando a industria nacional, comprando produtos nacionais como motores e outros componentes paralelo ao desenvolvimento de novas tecnologias e novos projetos.

Emerson e toda rapaziada da COBRUF, conheci todos e estão de parabéns, um grande abraço a vocês

BRAZILIAN SPACE: Sr. Roberto, este ano durante a sua realização do Festival de Minifoguetes de Curitiba os fogueteiros presentes deram um passo importante na busca pela legalização dessa atividade no país com a criação da Associação Brasileira de Minifoguetes (ABMF) ou BAR (Brazilian Association of Rocketry) na versão em inglês. Como o senhor analisa esta iniciativa e em sua opinião como esta nova iniciativa poderá ajudar no desenvolvimento do Espaçomodelismo no Brasil?

SR. ROBERTO DE PAULA: Estamos caminhando tudo no seu tempo certo, apesar do nosso atraso de mais de 50 anos de nada adiantava uma associação se não tinham foguetes e motores.

Ajudará muito com legislação e documentação de espaço modelismo que no Brasil ainda não tem, mas ano que vem terá.

BRAZILIAN SPACE: Sr. Roberto, falando em legalização do setor, um dos grandes problemas que impedem  a operacionalização eficiente e dinâmica do Foguetemodelismo no país é justamente a sua questão legal junto aos órgãos competentes, sendo neste momento uma das bandeiras de luta da BAR. Como o senhor analisa esta situação?

SR. ROBERTO DE PAULA: A legislação Brasileira no meu ver nunca atrapalhou as atividades com foguetes, muito pelo contrário, a R105 é muito clara e baseada nela a BANDEIRANTE nasceu com os pés no chão. O que é que iam fazer com legislação se nunca acertamos um lote de motores de foguete de vergonha ?

Eu por exemplo já fiz vários lotes de motores de foguetes sem vergonha, falharam muito, passei vergonha e uns amigos meus que estão lendo aqui também passaram comigo. Mas fui atrás até achar o que estava errado, descobri em torno 500 maneiras de como não fazer um micro motor de foguete.

O que estava faltando era uma pessoa que fosse persistente o suficiente e também poder ter dedicação exclusiva, para fazer motores de foguete em série, mesmo sabendo que isso não dá lucro.

Posso contar quantos os que tentaram fazer e não conseguiram, por motivos de várias dificuldades, desistiram, se aposentaram e um até infelizmente já faleceu, o Baranoff, Capitão da Reserva da FAB e um grande incentivador das atividades de foguetes modelismo.

Fico bravo quando começavam a discutir legislação pra poder trabalhar, isso é querer por a culpa na lei.

BRAZILIAN SPACE: Finalizando Sr. Roberto, o senhor teria algo a mais a dizer para os nossos leitores?

SR. ROBERTO DE PAULA: Sim tenho. Aos muitos jovens que são apaixonados pela aviação e pais que tem filhos jovens.

Seja um piloto, ingresse na Força Aérea Brasileira, ou estude em uma escola de aviação, é difícil mas tudo se torna fácil quando você tem um objetivo e persiste, voar é maravilhoso.


Aos que gostam de tecnologias aeroespaciais, se dediquem, estudem faça amigos e troque experiências ajudando e sendo ajudado, façam grupos, hoje temos tecnologias a nosso favor, os fabulosos celulares colocam o mundo em suas mãos. Conheça a EMBRAER, conheça a Avibrás.

A todos os jovens de 8 a 80 anos, estude inglês, as portas se abrirão muito mais largas e oportunidades cairão dos céus.

E por final a todos que estão lendo esta mensagem

“ Nunca desista de seus sonhos”
Roberto de Paula para o BRAZILIAN SPACE 2016

Veja abaixo as outras entrevistas da Série:

1 - Prof. Alysson Nunes Diógenes da UP (Universidade Positivo de Curitiba)

2 - Prof. José Félix Santana do CEFEC (Centro de Estudos de Foguetes Espaciais do Carpina-PE)

3 - Prof. Carlos Henrique Marchi da UFPR (Universidade Federal do Paraná)

4 - Sr. Paulo Gontran Ramos do CEGAPA (Centro Gaúcho de Pesquisas Aeroespaciais)

5 - Sr. Carlos Cassio Oliveira do CEFAB (Centro Experimental de Foguetes Aeroespaciais da Bahia)

6 - Prof. Dr. João Batista Garcia Canalle da UERJ/OBA (Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Olímpiada Brasileira de Astronomia e Astronáutica)

7 - Prof. Eng. José Miraglia da FIAP (Faculdade de Informática e Administração Paulista)

8 - Cel. Milton de Souza Sanches da TURBOMIL Tecnologia de SJC

9 - Prof. Antônio Carlos Foltran da Universidade Positivo (UP) de Curitiba

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