Com teste inédito, programa espacial terá dia decisivo
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Segue abaixo a notícia "Com teste inédito, programa espacial terá dia decisivo", publicada no site valor/globo, no dia 27/09/2021.
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Brazilian Space
Com teste inédito, programa espacial terá dia decisivo
Cerca de R$ 100 milhões já foram aplicados no desenvolvimento do motor S50 que será usado no lançamento de foguetes à órbita terrestre
Por Daniel Rittner — De Brasília
27/09/2021 05h01
Motor S50: desenvolvimento contou com participação da Avibras, uma das principais indústrias de defesa do país — Foto: Divulgação
Prioritário no programa espacial brasileiro, o desenvolvimento do
veículo lançador de microssatélites (VLM-1) dará um passo decisivo nesta
semana. Foi marcado para sexta-feira, em uma unidade do Instituto de
Aeronáutica e Espaço (IAE) na divisa dos municípios paulistas de São
José dos Campos e Jacareí, o principal ensaio do motor que permitirá o
efetivo lançamento dos foguetes à órbita terrestre. Todas as atenções
dos engenheiros e cientistas estão voltadas para o teste.
Cerca de R$ 100 milhões já foram aplicados no desenvolvimento do motor
S50, com tecnologia nacional, ao longo dos últimos 12 anos. Ele deverá
funcionar plenamente, em uma simulação do que vai ocorrer em voo mais
adiante, por até 84 segundos. Se tudo der certo, estará vencida uma
etapa crucial para a conclusão do VLM-1, prevista para 2025. Eventuais
falhas não são necessariamente um revés no projeto, servem para corrigir
problemas, mas podem provocar alongamento do prazo.
“Hoje, quando se fala em acesso ao espaço para colocar satélites em
órbita, o nosso carro-chefe é esse motor. O ensaio será determinante
para calibrar os nossos esforços com vistas às fases seguintes”, disse
ao Valor o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Carlos
Moura, admitindo ansiedade pela chegada da data.
Já houve testes menos complexos com outros protótipos, a fim de
verificar aspectos como a trepidação e a resistência dos materiais, mas
vem pela frente o ensaio mais amplo até agora - uma simulação, em terra,
do desempenho do motor no futuro lançamento na base de Alcântara (MA).
Moura recorre a uma imagem simples para explicar quais são os objetivos
na sexta-feira: “Imagine uma bexiga bem grande, que você enche quase até
o limite de estourar, soltando a pontinha logo em seguida. Se soltar de
uma vez só, vai esvaziar rápido e descontroladamente. Se soltar de
fininho, o ar sair aos poucos, devagar. Você vai no limite. O motor que
leva ao espaço é mais ou menos isso.”
“Há um casulo, feito de materiais compostos, dimensionado para suportar
uma pressão muito grande. São 12 toneladas de propelente que vão queimar
numa velocidade calibrada, durante 84 segundos, de forma contínua. Não
pode haver um pico e voltar de repente. O ensaio no chão vai observar
justamente isso: se a velocidade de queima, se o empuxo estão conforme
as nossas previsões, se o propelente (combustível) teve as prioridades
calculadas em laboratório, se o comportamento do invólucro resistirá.
Agora, tudo será testado de uma vez só”, afirma Moura.
O projeto VLM-1 tem sido desenvolvido por meio de uma parceria entre
Brasil e Alemanha, com o objetivo de lançar microssatélites (até 50
quilos) em órbitas baixas equatoriais ou de reentrada atmosférica. No
início, brasileiros e alemães planejavam fazer seus motores
paralelamente.
Depois, a Alemanha decidiu se concentrar em outros componentes. A
evolução do motor acabou ficando exclusivamente com o Brasil. Houve
participação ativa da Avibras, uma das principais indústrias de defesa
do país, no desenvolvido do S50 - contratada mediante recursos
orçamentários da AEB. Todo o desenvolvimento do veículo lançador de
microssatélites é estimado em aproximadamente US$ 100 milhões.
O foguete poderá levar ao espaço não apenas microssatélites, mas também
um conjunto maior de nanossatélites (inferior a 10 quilos). Ter um
lançador próprio dará muito mais autonomia ao Brasil para alocar, quando
quiser e na órbita mais adequada, os equipamentos que deseja para fins
específicos. “Quando você pega uma carona com um amigo, nem sempre desce
no melhor lugar. Teremos mais autonomia.”
Os microssatélites - ou nanos - podem ter várias aplicações: na defesa
civil (alertas para desastres nacionais), na proteção do meio ambiente
(detecção rápida de incêndios) na agricultura de precisão (com coleta de
dados sobre clima e pragas por meio de sensores no campo), em
comunicação remota (em áreas não cobertas pela telefonia convencional),
em defesa (monitoramento das faixas de fronteira e movimentação de
barcos que fazem pesca ilegal).
Alguns equipamentos chegam a ter o tamanho de uma caixa de sapatos. Um
dos pequenos satélites, por exemplo, se encarregará de fazer em breve o
mapeamento de todo o litoral do Rio Grande do Norte para verificar a
localização exata dos melhores pontos para futuras torres eólicas - em
termos de intensidade e direção dos ventos, umidade, nível das marés.
Ao colocar os satélites na órbita mais apropriada, diz Moura, há um
ganho de eficácia na chamada “taxa de revisita” - intervalo de tempo
entre uma passagem e outra do equipamento sobre aquele mesmo ponto na
Terra. Assim, em vez de demorar algumas horas ou até mesmo alguns dias,
pode-se ter um intervalo mais curto e monitoramento mais preciso.
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