Teste do motor S50 nessa sexta-feira, 01/10/2021.

Olá, leitora! Olá, leitor! 

Repercutindo a notícia "Teste do motor S50 – Programa espacial brasileiro terá dia decisivo", publicada no site "Defesa Aérea & Naval", no dia 28/09/2021, reproduzindo matéria do Valor Econômico (), o BS apresenta aqui algumas questões sobre o Motor S-50 e o VLM-1.

O teste programado para o motor S50 para a próxima sexta-feira (01/10/2021), provavelmente pela tarde, é um importante marco para o nosso Programa Espacial Brasileiro (PEB), que tem no acesso ao espaço o seu segmento mais atrasado.

Esquemas e representações do VLM-1. Disponível em: <<https://www.iae.cta.br/index.php/todos-os-projetos/projetos-aeronautica/projetos-vlm-1>>, último acesso: 20/09/2021 12:00h.

Apesar desse teste não representar a finalização do projeto do Veículo Lançador de Microssatélites (VLM), o atingimento de um nível de maturidade tecnológica mais alto para um dos principais componentes do veículo lançador é um importante ponto de controle do projeto, que tem o último agendamento de lançamento previsto para 2025. 

Qual a verdadeira capacidade de carga do VLM-1?

Uma das questões que se apresentam sobre as informações divulgadas do VLM-1 é a sua capacidade de carga útil, considerando o arranjo de dois motores S-50 (no 1o e 2o estágio) e um motor S-44, no 3o estágio.

Vale observar que, originalmente, o VLM-1 foi descrito como um Veículo Lançador com uma capacidade de carga útil de 150 kg em órbitas baixas (provavelmente equatoriais progressivas), conforme visto no ainda vigente Programa Nacional de Atividades Espaciais PNAE (2012 - 2021):

Programa Nacional de Atividades Espaciais PNAE (2012 - 2021), página 28.

Já nas divulgação atual vista na matéria citada, cuja fonte da informação não foi confirmada no texto, o mesmo veículo teria agora uma capacidade de "lançar microssatélites (até 50 Kg) em órbitas baixas equatoriais ou de reentrada atmosférica", o que é uma diferença considerável quando comparado ao valor original (1/3) .

Mesmo não sendo uma fonte plenamente confiável, na Wikipedia o verbete correspondente ao VLM-1 (Veículo_Lançador_de_Microssatélite) traz o valor de carga útil de 200 kg em órbitas baixas (300 km), provavelmente em órbitas equatoriais, e no corpo do texto chega-se a falar em 500 kg em órbitas polares, o que é, a princípio, impensável para esse veículo ou qualquer variante com boosters laterais.

No site atual do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) as informações da página sobre o VLM-1, cuja última atualização ocorreu em 28 de abril de 2020, estranhamente não fazem menção à capacidade de carga útil do mesmo.

Página do IAE sobre o VLM-1. Disponível em: <<https://www.iae.cta.br/index.php/todos-os-projetos/projetos-aeronautica/projetos-vlm-1>>, último acesso: 20/09/2021 12:00h.

Na página sobre o VLM-1 no site da AEB, atualizada em 06/03/2020, a informação sobre a capacidade de carga é 30 kg em órbitas baixas, ou seja, 1/5 do valor nominal original.

Página da AEB sobre o VLM-1. Disponível em: <<https://www.gov.br/aeb/pt-br/programa-espacial-brasileiro/transporte-espacial/vlm-1>>, último acesso: 20/09/2021 12:00h.


Tabela com informações sobre o VLM-1 da página da AEB. Disponível em: <<https://www.gov.br/aeb/pt-br/programa-espacial-brasileiro/transporte-espacial/vlm-1>>, último acesso: 20/09/2021 12:00h.

Essa divergência de informações é preocupante dada a disparidade entre as mesmas.

Olho nos custos

O desenvolvimento de sistemas espaciais de acesso ao espaço (veículos lançadores) e a obtenção dessa capacidade é de valor intangível em termos de autonomia, soberania e domínio tecnológico, já que os custos envolvidos podem ser fortemente relativizados, a depender de quem realize a análise.

Segundo a matéria, o valor investido no desenvolvimento do VLM-1 até então "é estimado em aproximadamente US$ 100 milhões", o que equivale a R$ 544.680.000,00 com a taxa de câmbio atual.

Originalmente o PNAE previu um orçamento para o VLM-1 na ordem de R$ 115.000.000,00, o equivalente a US$ 55.368.319,69, em valores de câmbio de 2012. Esse valor em reais, corrigido pelo IGP-M, corresponderia a R$ 263.487.275,50 em valores atuais. 


Programa Nacional de Atividades Espaciais PNAE (2012 - 2021), página 16 (Adaptado).

Tendo como referencia somente o dólar, considerando que muitos subsistemas, montagens e componentes são indexados à moeda americana, o valor atual do projeto seria de R$ 301.580.163,69 (na paridade R5,45 para US1,00).

Em uma abordagem mais conservadora, calculando uma média dos dois valores corrigidos, temos o custo de R$ 282.533.719,59 ( (263.487.275,50 + 301.580.163,69) / 2).

Assim, levando em conta o valor atual e o valor originalmente previsto para o projeto, o mesmo já excedeu algo entre 80,6% e 92,8% do valor original estimado, além de exceder as previsões temporais em mais de 200% para o lançamento do veículo, inicialmente previsto para 2015 e atualmente agendado para 2025.

Bom teste e sucesso para o S50

Provavelmente, considerando as questões de custo (incluso desenvolvimento) e a capacidade de carga, o VLM-1 não será um veículo lançador competitivo de mercado, mas, com toda certeza, será um importantíssimo validador tecnológico, além de nos elevar ao seleto rol de países que possuem essa capacidade e dominam esse segmento, independentemente se a capacidade de carga útil for de 30 ou 200 kg.

Assim, esperamos que o teste com o motor S50 seja bem sucedido e que o desenvolvimento do VLM-1 alcance um novo patamar nesse difícil domínio, ao tempo em que esperamos ansiosamente pelos voos do veículo de sondagem VS-50.

Saudações e boa leitura! 

Rui Botelho
Brazilian Space

Comentários

  1. Em se tratando de Brasil, dá até medo de pensar em uma auditoria desses valores.

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  2. Olá Prof. Rui Botelho e leitores do BS!

    Mais uma vez lhe parabenizo por este excelente artigo e me junto ao senhor na torcida pelo sucesso deste teste do motor S50. Porém confesso que preciso 'ver pra crer' que realmente o projeto do VLM-1 está avançando, afinal esperávamos muito mais do Ministro Marcos Pontes e as coisas não andaram como se esperava, como se bem nota nesta avaliação do projeto feita pelo senhor em seu artigo. Opções melhores, mais baratas e competitivas de desenvolvimento existiam no país e foram apresentadas ao Ministro Marcos Pontes, mas infelizmente o mesmo não as levou em conta, o que acabou transformando este projeto em apenas um 'demonstrador de tecnologia', quando na verdade o que precisávamos era um foguete, barato, competitivo e funcional. Afinal, o mundo estar voltando pra Lua ainda nesta década e sequer conseguimos ainda colocar um parafuso em órbita. No entanto, olhando pelo lado estratégico desta iniciativa, eu diria que, é melhor do que nada.

    Saudações de um Brasileiro desiludido com o PEB.

    Duda Falcão

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    1. Olá Duda! Poderia disponibilizar quais seriam essas outras opções que foram apresentadas e que eram mais competitivas?

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  3. Será que a adição de um upperstage como o motor l5 ou outro não poderíamos chegar em uma carga útil de uns 100kg?
    O que mais preocupa neste projeto é a grande quantidade de tecnologia estrangeira, segundo o ministério de ciências e tecnologia o índice de nacionalização do motor s-50 é 40%.

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    1. Caro Luiz, Primeiramente, obrigado pela sua participação aqui no BS. Não tenho os número do L5 aqui de cabeça, mas não creio que a utilização do mesmo aumentaria a carga útil do VLM. Com certeza aumentaria a capacidade do veículo de lançar cargas múltiplas em órbitas distintas e a precisão da inserção orbital dessas cargas. Digo isso, porque a adição de um 4o estágio ao VLM implicaria em um aumento de massa que com o novo estágio que impactaria na capacidade de carga útil. Esse trade-off eu não tenho como precisar agora de bate-pronto, mas com certeza vai ter sim. Sobre a nacionalização do motor, creio que a parte do motor-foguete em si tenha um grau de nacionalização bem maior. Salvo engano, o que impacta no nível de nacionalização do sistema de propulsão como um todo são os subsistemas de controle de atitude e da tubeira móvel.

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    2. Primeiramente, todo sucesso do mundo às equipes envolvidas no projeto! Todos precisamos muito que isto dê certo e certamente será um alento em meio a tanto atraso, desinvestimento e falhas recentes.
      Dito isto, em algum documento antigo, citava-se que a substituição do S-44 pelo L-5 aumentaria em cerca de 100 kg a carga útil do VLS-1. Então não é impossível que uma melhoria de desempenho significativa seja obtida com um motor de propelente líquido no terceiro estágio. Isto dependeria também de um vôo de qualificação do L-5, que poderia ser feito com um VS-50.

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    3. Olá amigos do BS!

      Deixem eu fazer um esclarecimento aqui. A ideia básica do IAE para o desenvolvimento do motor-foguete liquido L-5 foi substituir o motor sólido S-44 e proporcionar uma melhor precisão na inserção de cargas úteis em órbita, como bem disse o Prof. Rui Botelho no seu comentário. Para tanto, o motor L5 foi testado em voo durante a realização da 'Operação Raposa', em um foguete VS-30, lançado da Base de Alcântara em 01de setembro de 2014 (veja aqui - https://brazilianspace.blogspot.com/2014/09/operacao-raposa.html) e que deveria ter sido seguido por um segundo voo de qualificação que não ocorreu até hoje. Agora para termos um motor liquido com mais potência que possibilitasse maiores cargas no espaço, o IAE começou a trabalhar em um outro motor liquido denominado L15, que chegou a ser testado em banco de testes a quente, mas nunca voou, e o projeto foi descontinuado por falta de recursos. Posteriormente sob contrato o projeto foi repassado para Orbital Engenharia que começou a desenvolver um motor liquido baseado neste L15, porém o projeto não seguiu também pelo mesmo motivo, falta de recursos do governo. Vale aqui dizer amigos que hoje, tanto a Órbital Engenharia, como as startups brasileiras Acrux Aerospace Technologies e a Edge of Space (e no caso das duas de forma bem mais barata) estão qualificadas para desenvolver motores líquidos úteis para o PEB, inclusive motores verdes, como é o caso da Edge
      of Space, bastando para isso que o Ministro Marcos Pontes tenha a atitude que não teve até agora. Bom é isso.

      Saudações de um Brasileiro desiludido

      Duda Falcão

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  4. Segundo o AEB, o teste foi um sucesso. Depois de tantos problemas e atrasos que tivemos, não só com este projeto, podemos dizer que foi é um marco não só do mesmo, mas para o PEB. Principalmente porque é fundamental para toda as base de foguetes projetados e idealizados.

    Apenas tenho dúvidas a respeito das etapas ainda restantes. Possivelmente este foi o terceiro (ou quarto) motor entregue pela AVIBRÁS, uma vez que o estipulado em contrato apontava que apenas estes passariam pela avaliação de queima em banco de testes no solo.

    Segue a divulgação da avaliação pelo AEB: https://www.gov.br/aeb/pt-br/assuntos/noticias/teste-do-motor-s-50-foi-um-sucesso

    E o vídeo do teste: https://www.defesaaereanaval.com.br/espaco/video-1o-ensaio-do-motor-s50

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  5. sera que já esta previsto primeiro vo vlm 1 2024

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