Plasma de Quarks e Glúons Pode Ser Descrito Por Buraco Negro Pentadimensional
Olá leitor!
Segue abaixo uma nota postada hoje (14/01) no site da
Agência FAPESP, destacando que segundo uma simulação computacional conduzida em
conjunto por pesquisadores do Instituto
de Física da Universidade de São Paulo (USP) e do Departamento de Física da
Columbia University, nos Estados Unidos, o Plasma de Quarks e Glúons pode ser
descrito por Buraco Negro Pentadimensional.
Duda Falcão
Notícias
Plasma de Quarks e Glúons Pode Ser
Descrito Por Buraco Negro Pentadimensional
José Tadeu Arantes
Agência FAPESP
14 de janeiro de 2016
(Imagem: Brookhaven National Laboratory,
registrada em 20
de março de 2012)
Por meio de simulação computacional, pesquisadores do
Instituto de Física da Universidade de São Paulo, no Brasil, e do Departamento
de Física da Columbia University, nos Estados Unidos, determinaram pela
primeira vez, de forma quantitativa, como a carga bariônica – definida pela
diferença entre o número de quarks e antiquarks em um dado meio – se difunde
através do plasma de quarks e glúons, produzido nos dois maiores colisores de
partículas da atualidade.
Artigo descrevendo o estudo foi publicado no periódico
Physical Review Letters, assinado por Rômulo Rougemont e Jorge Noronha, da USP,
e por Jacquelyn Noronha-Hostler, de Columbia: “Suppression of Baryon Diffussion
and Transport in a Baryon Rich Strongly Coupled Quark-Gluon Plasma”.
O trabalho foi apoiado pela FAPESP, por meio da bolsa de
pós-doutorado de Rougemont, orientada por Noronha, Cálculo das propriedades do
plasma de quarks e glúons a temperatura e densidade bariônica finitas via
holografia, e da bolsa de pesquisa no exterior de Noronha, Aspectos dinâmicos
do quark-glúon plasma fortemente acoplado.
Supõe-se que o plasma de quarks e glúons tenha
predominado no Universo durante uma pequeníssima fração de segundo após o Big
Bang, muito antes que o processo de expansão e consequente resfriamento do
cosmo reconfigurasse várias vezes seu conteúdo material e energético, até
chegar ao estágio atual. Fazendo o caminho inverso, é possível produzir o
plasma de quarks e glúons a partir da matéria ordinária, aquecendo-a a
temperaturas milhares de vezes superiores à mais alta temperatura registrada no
Sol.
Porém, no ambiente terrestre, o patamar de energia
necessário para isso só é alcançado, e por um ínfimo lapso de tempo, nas
colisões ultrarrelativísticas [isto é, próximas da velocidade da luz] de
núcleos pesados, produzidas nos dois maiores colisores de partículas da
atualidade, o Large Hadron Collider (LHC), na Europa, e o Relativistic Heavy
Ion Collider (RHIC), nos Estados Unidos.
“Simulando em computador as propriedades de 250 mil
buracos negros pentadimensionais, calculamos como a carga bariônica se difunde
através desse plasma quando o sistema passa a conter mais matéria do que
antimatéria”, disse Noronha à Agência FAPESP. “Para isso, utilizamos um modelo
teórico baseado na chamada ‘dualidade holográfica’, que estabelece uma
surpreendente equivalência entre certas teorias quânticas definidas no
espaço-tempo usual, de quatro dimensões estendidas, e a física de supercordas
em um espaço-tempo curvo, de cinco dimensões estendidas.”
Dualidade Holográfica
A “dualidade holográfica”, descoberta pelo físico
argentino Juan Maldacena em 1997, é considerada uma das maiores revoluções da
física teórica em anos recentes, porque possibilita que alguns fenômenos
quânticos de difícil entendimento no espaço-tempo usual, de quatro dimensões,
sejam estudados como hologramas de fenômenos gravitacionais mais simples
ocorrendo em um espaço de cinco dimensões.
Esses fenômenos pentadimensionais são descritos pela
teoria de supercordas, que é, atualmente, a principal candidata à teoria da
gravitação quântica, superando o problema até agora insolúvel de compatibilizar
a teoria quântica com a teoria da relatividade geral, os dois pilares da física
contemporânea. Os partidários da teoria de supercordas consideram que ela
poderá desempenhar um papel fundamental no entendimento de configurações em que
a matéria-energia se encontra comprimida em densidades extremas, como no
universo primordial ou no interior de buracos negros.
“A teoria de supercordas preconiza que as partículas
fundamentais que identificamos no Universo correspondam, na verdade, a
diferentes modos de vibração de minúsculas cordas existindo em um espaço-tempo
de 10 dimensões. Como o Universo a que temos acesso por meio dos instrumentos
de observação e dos experimentos se apresenta como um espaço-tempo com quatro
dimensões estendidas [as três direções espaciais e o tempo], conjectura-se que
as seis dimensões extras previstas pela teoria de supercordas devam estar
compactadas em objetos extremamente reduzidos, que não podemos sondar
diretamente com a tecnologia atual”, explicou o pesquisador.
Em princípio, haveria um grande número de compactações
possíveis para as dimensões extras, a cada uma correspondendo um universo diferente.
O universo conhecido seria apenas um deles.
“O que Maldacena descobriu foi uma importante relação
matemática entre certas teorias quânticas definidas no espaço-tempo plano
usual, de quatro dimensões estendidas, e supercordas existindo em um contexto
formado pela composição de um espaço-tempo curvo de cinco dimensões estendidas
[chamado de ‘Anti-de-Sitter’ ou AdS] e uma hiperesfera com cinco dimensões
compactadas. A relação matemática descoberta por Maldacena recebe o nome de
dualidade holográfica”, informou Noronha.
Uma das principais aplicações da “dualidade holográfica”
é utilizar as propriedades físicas de buracos negros definidos em um espaço AdS
pentadimensional para calcular, de forma aproximada, as características do
plasma de quarks e glúons, produzido experimentalmente nos dois grandes
colisores.
“A expressão ‘plasma de quarks e glúons’ precisa ser
melhor explicada”, ponderou o pesquisador. “A palavra ‘plasma’ designa um gás
de íons, isto é, de partículas eletricamente carregadas. Ao passo que os glúons
são eletricamente neutros e os quarks possuem carga elétrica fracionária (o que
os distingue de todas as demais partículas, que apresentam carga elétrica
inteira ou nula).
Outro aspecto bastante peculiar dos quarks e glúons é
que, sob as condições habitualmente observadas na natureza, essas partículas
fundamentais se encontram confinadas no interior de partículas compostas,
chamadas de hádrons, como os prótons e os nêutrons, que compõem os núcleos
atômicos. Quando núcleos atômicos pesados, compostos por vários prótons e
nêutrons, são colididos a altíssimas energias, como ocorre no LHC e no RHIC, os
quarks e os glúons são temporariamente liberados, formando o meio que, por
comodidade, chamamos de plasma de quarks e glúons.”
“Esse ‘plasma’ corresponde, de fato, a gotículas de
volumes minúsculos, com raios da ordem de 10-15 metros, e temperaturas
altíssimas, em torno de 250 mil vezes a temperatura do centro do Sol, estimada
em 107 Kelvin. De fato, essas gotículas, formadas nos grandes colisores,
constituem o fluido mais perfeito, de menor tamanho e mais quente já produzido
pelo ser humano. Duram apenas uma diminuta fração de segundo, antes que o
resfriamento faça com que os quarks e glúons sejam novamente confinados em
hádrons. Esse meio corresponderia à condição do universo poucos instantes após o
Big Bang”, descreveu Noronha.
No trabalho publicado na Physical Review Letters,
Rougemont, Noronha e Noronha-Hostler utilizaram a dualidade holográfica e a
simulação computacional para investigar, pela primeira vez na literatura, como
a carga bariônica se difunde através do plasma de quarks e glúons. E calcularam
também a condutividade associada a essa carga, além de outras grandezas
observáveis, de grande importância para a caracterização física desse estado da
matéria.
O artigo “Suppression of Baryon Diffussion and Transport
in a Baryon Rich Strongly Coupled Quark-Gluon
Plasma”(http://dx.doi.org/10.1103/PhysRevLett.115.202301), assinado por Rômulo
Rougemont, Jorge Noronha e por Jacquelyn Noronha-Hostler, publicado no
periódico Physical Review Letters, pode ser lido no endereço http://journals.aps.org/prl/abstract/10.1103/PhysRevLett.115.202301.
Fonte: Site da Agência FAPESP
Comentários
Postar um comentário