NANOSATC-BR2: Brazilian Space apura informações sobre o status do satélite
Olá, leitora! Olá, leitor!
Após o lançamento e a entrada em órbita do NANOSATC-BR2, no final de março deste ano (veja matéria aqui), e da confirmação, logo em seguida, e dos primeiros contatos de rastreio do satélite, começamos a achar estranha a falta de notícias sobre o satélite e o seu comissionamento e entrada em operação.
Em meados de junho deste ano, o Brazilian Space recebeu informes que o nosso mais novo cubesat estaria com problemas de comunicação e que estava se tentando avaliar o problemas e tentando recuperar o controle do mesmo.
Avaliando informes posteriores e considerando o silêncio do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (INPE) e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) sobre o NANOSATC-BR2, decidimos dar entrada com o pedido de acesso a informação (Nr 01217.004816/2021-72), em 13/07/2021, conforme tela abaixo do Sistema Fala Br:
Do périplo para se obter informações nos entes do PEB
No mesmo dia da abertura do pedido de acesso à informação a área responsável pela "transparência" do INPE, reclassificou o chamado para "Solicitação", o que, na prática, muda o prazo do atendimento e, também, desobriga o Órgão de se enquadrar ao previsto na Lei de Acesso à Informação.
Cientes das consequências desse ato fortuito, entramos com um recurso perante a Controladoria Geral da União (CGU), no próprio sistema, no dia 14/07/2021 e tivemos parecer positivo em 19/07/2021, conforme imagens abaixo:
Finalmente, em 03/08/2021, a área técnica do INPE (Divisão de Pequenos Satélites - DIPST / Coordenação de Ensino, Pesquisa e Extensão - COEPE) respondeu de forma técnica, objetiva e bem detalhada sobre os fatos concernentes ao nosso cubesat.
Antes de apresentar a resposta do INPE, a qual encontra-se sob o nosso conhecimento há mais de uma semana, a editoria do Brazilian Space decidiu por não publicar a notícia na semana de aniversário do INPE, de modo a não gerar ilações e aproveitamento político/ideológico contra o BS, suscitando objetivos outros que não sejam apurar e informar a comunidade espacial brasileira sobre o que ocorre no setor.
Nesse condão, enfatizamos que o Brazilian Space é um veículo de informação apartidário e sem nenhum cunho ideológico sinistro, ambidestro ou destro.
Nossa abordagem é técnica, imparcial e impessoal, com foco na boa informação sobre ciência, tecnologia, inovação, educação, mercado, governança e gestão na área espacial e suas correlatas.
A resposta técnica
Segue abaixo a resposta na sua íntegra e o conteúdo de arquivos anexados à mesma:
"Prezado Senhor, 1. O Serviço de Informações ao Cidadão (SIC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) agradece o seu contato. 2. Em atenção à manifestação NUP 01217.004816/2021-72, e em conformidade com o estabelecido no Decreto nº 7.724, de 16 de maio de 2012, que regulamenta a Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, e considerando o teor do pedido informamos que a demanda foi enviada à Divisão de Pequenos Satélites (DIPST) e Coordenação de Ensino, Pesquisa e Extensão (COEPE). Segue a resposta: "O NanoSatC-BR2 foi colocado em órbita pelo veículo lançador Soyuz-2/Fregat-M, em 22 de março de 2021, do Cosmódromo de Baikonour, no Cazaquistão. A primeira telemetria do satélite recebida no Brasil foi decodificada pelo radioamador PY4ZBZ, às 13:48 UTC, 10:48 no horário de Brasília, na terça feira, 23 de março. A primeira recepção na Estação Terrena do INPE em Santa Maria, realizada por alunos da UFSM, ocorreu no horário de 12:17, horário de Brasília, no mesmo dia. Os dados evidenciaram que as baterias do NanosatC-BR2 estavam carregadas. A notícia foi publicada no site do INPE: http://www.inpe.br/noticias/noticia.php?Cod_Noticia=5749 Com esses sinais, a fase de LEOP (Launchand Early OrbitPhase) foi considerada concluída, com sucesso. E a operação da missão entrou na fase de comissionamento, que tem por objetivo verificaras condições operacionais de cada subsistema do satélite, e das cargas úteis. Ao longo de 3 semana, o NanosatC-BR2 transmitiu frames de telemetria, recebidos pelas Estação Terrena do INPE em Santa Maria (RS) e também pela rede de radioamadores, inclusive nos Estados Unidos. Foi possível decodificar frames (beacon) pela Estação Multimissão (EMMN) do INPE em Natal (RN). A análise dos dados demonstrou que o satélite operava em temperaturas muito abaixo da faixa nominal, com oscilações significativas nas frequências uplink e downlink. Por essa razão não tivemos sucesso na decodificação de TC em bordo, o que impossibilitou colocar o satélite em modo nominal, e iniciar o comissionamento das cargas úteis. Na noite de 2 de maio de 2021, foi detectado repetição nos frames de telemetria recebidos, sugerindo um possível travamento no barramento de comunicação entre o computador de bordo e o sistema de comunicação. Muitas tentativas de envio do TC - Power-Cycleforam realizadas com o propósito de reinicializar do Software de Bordo o que permitiria um possível destravamento do barramento I2C. Durante o mês de maio de 2021, o envio sistemático do TC-Power-Cycle foi realizado de forma coordenada, em diferentes frequências uplink, inclusive por algumas Estações de Radioamadores parceiros, sem sucesso. A última atualização dos frames de telemetria realizada no satélite coincide com a passagem do satélite pela região SAMA (Anomalia Magnética da América do Sul) onde os efeitos do fluxo solar são potencializados. Há efeitos que são sentidos por satélites sobre o Brasil que não são sentidos em outras partes do mundo, embora o fluxo solar afete todo o globo. Estudos preliminares realizados recentemente para diagnosticar possíveis causas do mal funcionamento do NanosatC-BR2 apontam para o aumento de atividade solar ocorrido no período, segunda quinzena de Abril/21 e primeira quinzena de Maio/21, que pode ter interferido tanto na comunicação com o satélite quanto na execução do comando ou telemetria em bordo. Vale ressaltar que a causa e efeito dos fenômenos do clima espacial com interferências nas tecnologias embarcadas não são evidências com observações diretas (na maioria dos casos), mas sim sugestões de causa e efeito propostas pela coincidência temporal da provável causa e os efeitos observados. Do ponto de vista solar os fenômenos mais importantes do período foram ventos solares de alta velocidade, de 17 à 22 de abril e explosões intensas no período de 7 à 10 de maio, apresentadas no gráfico ANEXO I das emissões em raios X solares. Sobre a presença de partículas no cinturão de radiação com possibilidades de precipitação na SAMA, a equipe do INPE/EMBRACE produziu o relatório simplificado apresentado no ANEXO II." Arquivos seguem anexos (Anexo I – Gráfico e Anexo II – Relatório) Atenciosamente, Serviço de Informações ao Cidadão NOTA: De acordo com o que estabelece o inciso II do art. 19 do Decreto nº 7.724/2012, Vossa Senhoria poderá apresentar recurso no prazo de 10 (dez) dias para a CGCE e CGGO, contados a partir da ciência desta decisão."
Conclusão
Antes de qualquer coisa, gostaríamos de destacar que o espaço não é um ambiente amigável e simples de se trabalhar e que situações como essa enfrentada pelo NANOSATC-BR2 acontecem com mais frequência do que se imagina.
Além disso, gostaríamos de enfatizar a transparência e cuidado que a equipe da Divisão de Pequenos Satélites teve em prover as melhores informações possíveis, como apresentado acima.
O Brazilian Space e, com certeza, toda a comunidade espacial brasileira se solidarizam com o INPE e a equipe do NANOSATC-BR2, desejando que seja possível encontrar uma solução para o problema de oscilação na frequência de transmissão do satélite, mas, acima de tudo, entendendo a complexidade desse cenário e renovando os nossos votos de confiança e respeito, independentemente do desfecho da questão.
Rui Botelho e equipe do BS.
Excelente,
ResponderExcluirNão vejo problema um projeto não dar certo, contanto que haja transparência, dedicação e competência. As lições aprendidas estão aí, para serem aplicadas. Espero que a AEB siga o exemplo.