Medida Fiscal Restritiva Preocupa Ciência e Tecnologia
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo escrito pelo ex-Secretário
Executivo do antigo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e publicado
na edição de fevereiro do “Jornal do SindCT”.
Duda Falcão
CIÊNCIA E TECNOLOGIA – CAPA
Medida Fiscal Restritiva Preocupa
Ciência e Tecnologia
Por Luiz Antônio Rodrigues Elias*
Jornal do SindCT
Edição nº 64
Fevereiro de 2018
Brasil vivenciou, a partir de 2003, uma inflexão em seu
padrão de desenvolvimento, superando importantes restrições ao seu processo de crescimento
econômico.Era urgente buscar a redução de nossa vulnerabilidade externa,
fragilidade fiscal e recuperar a capacidade de investimentos da economia. O
novo padrão de desenvolvimento teve como um dos eixos estruturantes a
constituição de um amplo mercado interno de consumo de massas, concebido como
um vetor dinâmico da economia. Esta estratégica envolveu a implantação de um
conjunto articulado e complementar de políticas públicas, orientadas para a
redução drástica da pobreza, inclusão social e educacional, associado ao
fortalecimento dos instrumentos de planejamento e regulação econômica do estado
brasileiro.
Ênfase também foi conferida pelo Governo Lula, continuado
pela Presidenta Dilma, à geração e apropriação do conhecimento científico e
tecnológico, enquanto motor para redução das desigualdades regionais, para o
fortalecimento de nossa inserção internacional e elevação da competitividade
sistêmica de nossa economia, única forma de conjugar o crescimento com a
inclusão social, construindo por fim, a base para a “sociedade do
conhecimento”. Este novo cenário abriu espaço para avanços importantes na
agenda de CT&I.
Políticas Implementadas
Políticas foram sistematizadas em torno de programas e
ações, no Plano de Ação de CT&I de 2007/2010 e na Estratégia Nacional de
CT&I - ENCTI de 2012/2015. Ambas, com profícua articulação com a política
industrial representada pela Política Industrial Tecnológica e de Comércio
Exterior - PITCE de 2005/2007, pela Política de Desenvolvimento Produtivo - PDP
de 2008 /2010, e pelo Plano Brasil Maior - PBM lançado em agosto de 2011,
Projetos de Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo - PDP e os Projetos de
Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo para o Complexo Industrial da Saúde,
colocando as ações em CT&I como eixos centrais da política de Governo.
O desafio lançado pelos planos e políticas, mencionados
acima, exigiam reconhecer que apesar de termos um enorme potencial em recursos
naturais, não poderíamos nos contentar em sermos apenas exportadores de
petróleo, minério e alimentos. A agenda deveria responder (e respondeu) a uma
nova dinâmica, ou seja, potencializar nossa capacidade científica e
tecnológica, impulsionar inovações na indústria, em manufaturas de alto valor
agregado, reforçando nossa posição competitiva na produção e comércio mundial,
com modelo de governança articulado.
Inflexão
Porém, tivemos uma grave inflexão com a extinção do
Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação, vinculando sua missão à das
Comunicações, ocasionou a desarticulação do sistema e certamente, está elevando
ainda mais, as assimetrias existentes entre nossa economia e dos países
desenvolvidos. A agenda neoliberal tardia e o ajuste fiscal ortodoxo estão
impondo uma forte restrição aos investimentos, perda de recursos orçamentários,
inclusive do maior fundo de apoio à ciência no Brasil o FNDCT - Fundo Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, retrocessos na área de crédito e
de recursos para impulsionar as atividades de pesquisa. Os recursos Finep e
CNPq despencam tenho os dados e os dos institutos apresenta uma queda de mais
de 70% se comparado a 2000.
Desafios
Os desafios futuros são elevados. Nas últimas décadas, a
economia global vem atravessando profundas transformações dos padrões de
concorrência, de produção e consumo. As chamadas “Inovações Disruptivas”, fruto
de persistentes processos interativos entre a ciência e tecnologia estão
promovendo uma reestruturação territorial e organizacional da produção mundial
de manufaturas, paralelamente a um crescente processo de concentração e
centralização da produção em grandes corporações globais.
Assim é necessário repensar os padrões de financiamento,
com fundos públicos e créditos de longo prazo, rediscutir os incentivos fiscais
com foco em setores críticos para nossa economia, como as cadeias de petróleo e
gás, avançar em tecnologias inerentes a nossa biodiversidade, com
sustentabilidade. Avançar de forma decisiva na ciência para a inclusão social
de nossa sociedade.
Portanto é fundamental retomar uma agenda de Estado para
o tema de C&TI com um planejamento que privilegie a articulação da política
tecnológica e industrial, visando a construção de nossa competitividade. O uso
articulado de instrumentos (fiscal-financeiro) regulação, poder de compra e
recursos de longo prazo para as etapas do ciclo de inovação. Metas
compartilhadas em áreas estratégicas deverão ser estruturadas com o setor
científico-tecnológico e o setor privado.
Como enfrentar a nova revolução tecnológica com lento
crescimento e baixas taxas de investimento? Existe um esgotamento do padrão
anterior que reflete os límites do tipo de especialização. É urgente retomar o
tema das mudanças estruturais com uma agenda de políticas voltadas para
impulsionar a ciência brasileira e a inovação.
*Luiz Antônio Rodrigues Elias é ex-Secretário Executivo
do MCTI
Fonte: Jornal do SindCT - Edição 64ª - Fevereiro de 2018
Comentários
Postar um comentário