Entrevista: Conheça a Jovem Ana Luísa, a Nossa Aspirante a Astronauta

Olá leitor!

Não é segredo para ninguém que o jovem é o futuro de qualquer nação deste planeta e para tanto a educação de qualidade baseada na CIDADANIA (mola mestra do desenvolvimento de qualquer país comprometido com o futuro), precisa ser implementada com seriedade e comprometimento da sociedade, para assim estimular esse mesmo jovem a construir o futuro desenvolvimentista que este mesmo país sonha um dia alcançar.

No entanto infelizmente no Brasil vivemos numa sociedade egocêntrica, hipócrita e corrupta, mais preocupada com o seu próprio umbigo do que realmente construir uma nação de verdade, não sendo por acaso o governo que temos. Afinal leitor, ‘todo povo tem o governo que merece’ e aqui nesse ‘Território de Piratas’ não seria diferente.

Certa vez o ex-presidente americano Lyndon Johnson disse: “Se há um idiota no poder os que o elegeram estão bem representados”, complementando assim o que já havia dito o seu antecessor, John Kennedy, em seu discurso de posse: “Não pergunte o que a América pode fazer por você, e sim, o que você pode fazer pela América”. A compreensão leitor pelo povo e principalmente pela classe dominante do que seja realmente CIDADANIA e a sua importância para o desenvolvimento de um país como nação, é fundamental para formação daqueles que estarão responsáveis por este mesmo desenvolvimento, seja na área política, seja na área civil como um todo, na área militar, ou na ciência e tecnologia, nunca o eu, sempre o nós, pois nação só se constrói pensando no todo e jamais individualizando interesses.

Entretanto, voltando a nossa juventude (única esperança que ainda resta ao Brasil, desde que compreendam o que foi dito acima) mesmo vivendo no caos, sempre há uma luz no final do túnel, e vez ou outra minha esperança se renova quando tomo conhecimento da existência de jovens promissores como a nossa aspirante a astronauta, a jovem Ana Luísa da Costa Vieira.

Tive a oportunidade de conhecer a jovem Ana quando de minha passagem pela terceira etapa da “X Mostra Brasileira de Foguetes (X MOBFOG)”, organizada que foi em novembro do ano passado, em Barra do Piraí-RJ ,pela Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA). Naquela oportunidade além de ser surpreendido pela notícia, tive uma boa impressão desta jovem determinada, e resolvi assim divulgar a sua história na esperança que a mesma não só a ajude alcançar o seu sonho, bem como também estimular outros jovens a seguir o seu exemplo, se não como aspirante a Astronauta, nas outras diversas profissões necessárias nas atividades espaciais. Afinal leitor, o futuro da humanidade passa incondicionalmente pelo desenvolvimento espacial, e se quisermos nos destacar como nação e termos voz ativa nas questões planetárias futuras, não podemos deixar de estarmos presentes no espaço e de nos descuidar na formação de profissionais nesta área, lembrando sempre da importância da CIDADANIA como peça fundamental desta formação.

Aproveitamos para agradecer publicamente aos pais da jovem Ana Luísa por permitirem que fizéssemos esta matéria sobre a sua história, além de agradecer a jovem Ana pela disposição em responder com brevidade e sapiência as nossas questões. Aproveitamos também para lhe desejar sucesso na sua difícil trajetória até o seu sonho, e estaremos acompanhando e torcendo sempre pelo seu sucesso.

Duda Falcão

A jovem aspirante a astronauta
Ana Luísa da Costa Vieira
BRAZILIAN SPACE: Para aquele leitor que ainda não a conhece senhorita Ana Luísa, nos fale um pouco sobre a senhorita, sua formação, idade e onde nasceu?

ANA LUÍSA DA COSTA VIEIRA: Tenho 17 anos, nasci em Salto, interior do estado de São Paulo, meus pais se separam quando eu tinha 5 anos e toda minha vida estudei em apenas uma escola, o Colégio Divino Salvador de Itu. Foram 15 anos no Divino, do maternal ao “terceirão”, e não tenho queixas a respeito desses anos, tive professores maravilhosos que sempre estavam dispostos a tudo para nos ajudar a concretizar o que sonhamos. Falando em professores, meus pais e meus tios são todos professores, minha mãe é professora de física, meu pai de história e meus tios são professores de geografia. Isso acarretou que eu tive o privilégio de sempre poder aprender algo, nossas viagens em família sempre foram um grande aprendizado, tendo noções históricas e geográficas dos locais visitados. Piscinas, escorregadores, arco-íris e balanços eram aulas de física. Eu sempre tive ao meu alcance muito conhecimento, e eu soube aproveitar isso, já que sempre fui curiosa. Essa curiosidade me levou em direção às “Olimpíadas Científicas”. No 1° Ano do ensino médio, dois professores de física me motivaram nesse caminho,  professora Jossiara e professor Jurandi (Jô e Jura, muito mais que apenas professores), então fiz a prova da OBA, ganhei uma medalha de bronze, e também lançamos foguetes, mas nossos 30m não eram suficiente (kkkk), afinal tudo precisa ser lapidado. Peguei gosto pelas olimpíadas, hoje tenho um total de 10 medalhas (três  da OBA – uma bronze, uma prata e uma ouro; uma prata da MOBFOG; uma prata da Jornada de Foguetes; duas de prata da OBG (Olimpíada Brasileira de Geografia); uma de prata da Olimpíada Internacional Matemática sem Fronteiras; e duas de ouro do CVA (Concurso Verde e Amarelo –concurso de radioamadorismo), uma medalha na categoria fonia e a outra na categoria telegrafia); e dois troféus da Jornada de Foguetes, um de vice-campeãs, e um de campeão. Além destas, as quais fui premiada, já participei de olimpíadas de história, biologia, informática, química, seleções para ter aulas de física na USP e na UNICAMP (inclusive fui pra UNICAMP ter aula de astrofísica no “Física nas Férias” - FIFE), concursos de redação... Tive a companhia de uma amiga, sempre, que compartilhava o mesmo gosto por conhecimento, a Verônica. Agora como uma adolescente normal, gosto de música, livros, me divertir, assistir séries, dançar e estar com meus amigos (sair pra comer na maioria das vezes kkkk). Nesse momento confuso, que é o fim do ensino médio, estou esperando o resultado da Unicamp, e da UFABC ; passei na UFSCar, mas ainda vamos ver o que virá este ano.

BRAZILIAN SPACE: Senhorita Ana Luísa, quando de nossa passagem no ano passado pelo X MOBFOG em Barra do Piraí-RJ, tomamos conhecimento do seu interesse em se tornar a aspirante a Astronauta. Como surgiu essa ideia e o seu interesse pelo espaço?

ANA LUÍSA: Nossa, eu poderia escrever um livro pra responder essa pergunta... Até meus 4 anos morei em um apartamento em Salto, me mudei para uma casa em Itu com 5 anos, mas acostumada a viver em apartamentos eu não tinha amigos na vizinhança, só na escola, então quando eu estava em casa eu brincava ou assistia TV. Quando eu fiz 6 anos eu já havia me cansado dos desenhos, passei a assistir canais como History, Discovery, National Geographic e Animal Planet, eu não saía desses canais, era viciada em programas como: Mythbusters, A Supercâmera, O Universo, Como Construir um Planeta e vários outros, eu programava na TV para assistir todos, e então passei a anotar tudo que via e achava interessante, principalmente do “O Universo”, anotava nomes de galáxias, nebulosas, estrelas, exoplanetas. Depois de anotados os nomes e terminado os programas eu ia para a internet, pesquisava os nomes no “Google” e anotava todas as informações disponíveis em um caderno rosa que tinha um cadeado. Hoje em dia fico surpresa em perceber que a décima quinta anotação é a relatividade geral, escrita de uma forma simples, com alguns erros de ortografia, comparando algo tão complexo como o espaço-tempo e um buraco de minhoca a uma simples folha de papel sendo deformada. E então eu me apaixonei, me apaixonei pela ideia de infinito, pela noção de quão pequenos somos, mas ao mesmo tempo, quão grandes podemos ser, pela ideia de que somos formados por átomos que foram gerados no interior de estrelas, e que tudo são átomos e, então, que somos iguais a tudo e todos fundamentalmente, e mesmo assim tão diferentes. Fiquei apaixonada por foguetes, pela ideia do vácuo, a falta de gravidade, os buracos negros, as distâncias e temperaturas inimagináveis (imagine isso tudo na cabeça de uma criança de 6 anos!) e então parecia que a única coisa que poderia me tornar a pessoa mais feliz do mundo era ser astronauta, e um dia ver a Terra do espaço. Foi um amor que surgiu aos 6 anos, desconstruindo todos os anteriores (bailarina, arqueóloga, montanhista...) e permanecendo em minha mente até hoje.


A jovem Ana Luísa em companhia de sua mãe.

BRAZILIAN SPACE: Senhorita Ana Luísa, como seus pais reagiram a esse seu desejo de se tornar Astronauta?

ANA LUÍSA: Essa é uma parte engraçada, primeiro acharam que era só uma fase, do tipo “sonho de criança”, ou “daqui a pouco ela fala outra coisa”, riam e falavam “é perigoso, você quer mesmo ir pra Lua?”, “é longe, vai ficar muito tempo longe da gente”, esse tipo de coisa. Então a coisa ficou séria, afinal eu não mudava de ideia, as pessoas riam quando eu dizia que queria ser astronauta e eu pouco me importava com o que diziam, já que frases mais sérias eram ditas, como “é impossível, até parece que a NASA iria te selecionar, tem muitas pessoas que querem, por que você seria a escolhida?”, e às vezes a risada das pessoas me irritava, pensava “como essa pessoa pode rir do sonho de alguém?”. Quando fiz 10 anos meus pais me perguntaram se era isso mesmo que eu queria, e respondi firme que sim, falaram então que eu teria que estudar muito, e que eu teria que ser melhor do que sempre fui, desde então me deram livros de exploração espacial e revistas, e eu continuava com meu caderno de anotações e com um estudo cada vez mais aprofundado na área de astrofísica. Neste momento eles também passaram a acreditar nesse sonho.

BRAZILIAN SPACE: Senhorita Ana Luísa, é sabido que tornar-se uma Astronauta não é uma tarefa fácil em nenhum lugar do mundo, principalmente em um país que pouco se tem apoio do governo nessa área como é caso do Brasil. Como a senhorita pretende concretizar esse seu objetivo?

ANA LUÍSA: Sei que não é uma tarefa fácil, mas o fácil raramente me atrai. Pretendo continuar estudando muito, ainda mais agora que entrarei na faculdade, enfrentarei os desafios, um a um, até que eu chegue a me inscrever na seleção e então esperarei. Mas não um “esperar parada”, sem fazer nada, esperarei que a oportunidade venha, buscarei conhecimento incessantemente e mostrarei o motivo de já estar onde estou, e porque quero alcançar meu objetivo. “Persistência e autoconfiança”; duas das coisas essenciais para concretizar qualquer coisa, já o conhecimento abre tantas portas, que eu vejo que é apenas por ele que podemos alcançar nossas ambições. Então eu estudarei, me aprimorarei, e me aprofundarei nos estudos, farei o possível para que esse sonho se realize um dia.

BRAZILIAN SPACE: Senhorita Ana Luísa, o seu incomum desejo para uma jovem brasileira deve estar atraindo a atenção não só de seus familiares e amigos, bem como da Sociedade como um todo. Como tem sido para a senhorita lhe dar com toda essa popularidade?

ANA LUÌSA: Na verdade esse desejo não atraiu a popularidade, afinal não falo pra qualquer pessoa que quero ser astronauta, digo que quero me formar em engenharia, e digo só aos meus amigos próximos e aos meus professores. As pessoas me conhecem mais pela fama de boa aluna, por conta das medalhas em olimpíadas, já que as mesmas são distribuídas em um evento na escola, ou como “a menina dos foguetes”; mas não sabem que o desejo de ser astronauta está por trás de muitos feitos. Mas em geral se eu disser pra qualquer um que quero ser astronauta, eles não tratam isso como algo factível, mas quase como uma piada.

BRAZILIAN SPACE: Senhorita Ana Luísa, caso seu desejo se concretize, a senhorita será a segunda mulher brasileira a ser treinada para ser astronauta (a primeira foi “Veronique Balsan Koken”, selecionada em 2008 e treinada para Missão do instituto “Americans in Orbit” que pretendia comemorar os 50 anos do primeiro americano em orbita, John Glenn, mas que infelizmente não se concretizou – veja aqui e aqui). Diante disto, a senhorita, caso venha realizar o seu sonho, se tornará a primeira Mulher Brasileira no Espaço. Como é viver essa expectativa?

ANA LUÍSA: Nunca fui ligada a títulos, de ser a primeira, a segunda ou qualquer um desses títulos de ordem. Claro que é muito mais emocionante me imaginar realizando tal feito, mas a expectativa gira em torno de me tornar “uma astronauta”


A jovem Ana Luísa em companhia de seu paí.

BRAZILIAN SPACE: A senhorita tem planos de algum dia trabalhar no Programa Espacial Brasileiro?

ANA LUÍSA: Já pensei nisso e poderia trabalhar se pudesse fazê-lo evoluir. Seria uma grande conquista, já que amo o Brasil e queria muito que o seu Programa Espacial se desenvolvesse a um patamar bem mais avançado do que está hoje em dia, e sabemos que o Brasil tem potencial intelectual pra esse crescimento, o que falta é investimento.

BRAZILIAN SPACE: Qual é a sua opinião sobre a atual situação do nosso Programa Espacial?

ANA LUÍSA: Eu não tenho um amplo conhecimento a respeito do Programa Espacial Brasileiro, mas o que sei é que existe uma grande falta de investimentos. O Brasil, um país com localização estratégica para lançamentos e com potencial intelectual, acaba escoando para outros países. Um dado, um tanto quanto assustador, é que, do BRICS (grupo de países emergentes, que se destacam exatamente por se tornarem produtores de novas tecnologias em diversos setores), o Brasil é o que menos investe em tecnologia aeroespacial. O Brasil tem potencial pra crescer, mas o PEB caminha a passos lentos.

BRAZILIAN SPACE: Finalizando, a senhorita teria algo mais a acrescentar para os nossos leitores?

ANA LUÍSA: Meu pai me contou uma história que, quando eu tinha por volta de 4 anos, eu o questionei a respeito de que ser morava dentro de uma concha, que tínhamos em casa, e então ele me disse “Filha, ai mora a curiosidade” e então olhei pra ele com uma expressão um pouco confusa e respondi “Não papai, a curiosidade mora dentro da gente”. É isso, ser interessado, buscar seu sonho, e, principalmente, almejar o infinito, pois quando sonhamos com o infinito e fazemos o possível para alcançá-lo, mesmo que não alcancemos, estaremos entre estrelas. Descobrir aquilo que te torna feliz e faz com que seu coração bata mais rápido, aquilo que faz você se sentir completo. Um instante de vida que você desejaria que não acabasse, então você entendeu o que você nasceu pra fazer. Tive essa sensação na Jornada de Foguetes, as duas vezes que pude estar lá, e quando estava tendo aula de astrofísica na UNICAMP ou nas aulas de aprofundamento no colégio, às sextas-feiras no período da tarde. Saber aproveitar cada oportunidade de aprendizado, tendo consciência de que ainda não sei nada é fundamental, a humildade de se colocar na posição de aprendiz é sempre necessária. Haverá fracassos e quedas, mas cada queda é um aprendizado. Gosto de uma frase de Lincoln “No final, não são os anos da sua vida que contam, mas a vida de seus anos”, porque nossos feitos ecoam na eternidade. Agradeço a oportunidade de estar aqui e ter dado esta entrevista.

Comentários

  1. Parabéns pela ótima entrevista! Marcada por Ciência e emoção.
    Pena que acabou!!!

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  2. Incrível a garra e a clareza daquilo que quer alcançar,uma exceção nos jovens de hoje.
    Parabéns à Ana Luiza e aos seus pais que sempre apoiaram e incentivaram sua curiosidae.
    Sucesso na sua jornada e que vc inspire muitos outros jovens a buscar seus sonhos com tanta determinação.

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