O Avanço da TLON Space e o Cenário Espacial Argentino-Brasileiro
Segundo vídeos institucionais (link 1, link 2), a TLON já realizou nove testes críticos entre 2021 e 2023, validando sistemas de navegação autônoma, queima de combustível e resistência estrutural. No entanto, uma peça crucial permanece envolta em mistério: a separação de estágios, etapa essencial para atingir a órbita. O "voo 10", mencionado em posts nas redes sociais, seria justamente este teste — mas, até agora, nenhum vídeo ou relatório técnico foi divulgado.
A falta de transparência alimenta dúvidas. Enquanto o Cuatro Vientos anunciava um lançamento "iminente" em maio de 2025, o silêncio da TLON e da CONAE (Comisión Nacional de Actividades Espaciales) deixou a comunidade internacional perplexa.
Espaçoporto Malacara: O Cenário de um Possível Marco Histórico
Localizado na costa atlântica, próximo a Necochea, o Porto Espacial Malacara foi escolhido pela TLON não apenas por sua localização geográfica privilegiada — que permite lançamentos seguros para o sul e leste —, mas também por simbolizar uma ruptura com o modelo tradicional.
Enquanto o Brasil ainda debate a modernização do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), a Argentina aposta em uma infraestrutura enxuta, adaptada à era dos microlançadores. Um vídeo promocional (disponível aqui) mostra as instalações do porto, com torres de serviço modulares e logística simplificada, refletindo a filosofia NewSpace: ágil, privada e orientada para o mercado.
Narrativas: Sucesso ou Especulação?
A ausência de confirmação (ou negação) oficial não impediu que a notícia viralizasse. No LinkedIn, Francisco Boils afirmou categoricamente: "A Argentina já é um país lançador". Já o site Urgente24 ecoou o triunfo, citando "fontes internas". Porém, nenhum dado telemetria, imagens de satélite ou comunicado da CONAE corroboraram a alegação.
Especialistas consultados pelo Brazilian Space expressaram ceticismo, pois "Sem dados técnicos públicos, é impossível validar o feito". Outros, porém, reconhecem o avanço argentino, pois mesmo que este lançamento específico ainda não tenha ocorrido, a TLON está muito à frente das iniciativas brasileiras.
Em verdade, contatos do BS na Argentina informaram que o lançamento, ainda não ocorreu, mas que existe comentários nos bastidores do setor espacial portenhho de que este poderia ocorrer ainda em junho próximo, antes do lançamento do Hanbit-Nano, da sul-coreeana Innospace, a partir do Centro de Lançamento de Alcântara - CLA.
Brasil vs. Argentina: O Preço da Descoordenação
O artigo original do BS não poupou críticas ao Brasil: "Faltou visão, sobrou descaso". De fato, enquanto a Argentina integra CONAE, universidades e startups em um ecossistema coeso, o Brasil patina entre projetos estatais defasados (como o VLM-1) e iniciativas privadas muito aguerridas aos seus projetos, mas subfinanciadas e com entraves técnicos impostos pelos entes governamentais.
A possível ou iminente ascensão da TLON não é um caso isolado. A Argentina cultiva um ecossistema espacial vibrante:
- Empresas Privadas:
-> Epic Aerospace e LIA Aerospace: Testaram rebocadores orbitais em 2024. A LIA, instalada recentemente no país, desenvolve sistemas de propulsão de "última milha" para posicionamento de satélites. Ambas utilizam tecnologia de impressão 3D na produção de motores (https://lia-aerospace.com).
-> VENG: Desenvolve motores 3D para foguetes de médio porte, inclusive para o Tronado II da CONAE (vejam matéria do BS aqui), e participa ativamente de projetos como a constelação Focus (radar SAR em banda X para monitoramento civil e militar) (https://veng.com.ar/proyectos-satelitales/focus/).
-> Satellogic: Referência global em satélites de observação submétricos, a empresa já opera 25 unidades em órbita baixa, com contratos com a NASA e uso estratégico no conflito Rússia-Ucrânia. Seu plano é expandir para centenas de satélites e atualmente é provedora de imagens para a Força Aérea Brasileira - FAB (https://satellogic.com).
-> Innova Space: Startup originada em uma escola técnica de Mar del Plata, já realiza testes bem-sucedidos com o *MDQubesat-2*, satélite focado em IoT para transmissão de dados de áreas remotas. A meta é uma constelação de 100 satélites (https://www.instagram.com/p/C4aw1QYrMHT/).
- Universidades e Inovação Acadêmica:
-> UNLP (Universidad Nacional de La Plata): Desenvolve o *USAT-1*, primeiro CubeSat argentino para missões científicas com tecnologia GNSS. Em fase final de testes, o projeto visa formar estudantes de Engenharia Aeroespacial (https://www.instagram.com/usat.unlp).
-> Universidad de Palermo: Preparando o LABSAT IoT, programado para 2025 em órbita sincrônica solar, com capacidade multibanda para comunicações diretas via celular (https://www.palermo.edu/ingenieria/satelite-labsat-iot/).
-> UNSAM (Universidad Nacional de San Martín): Em parceria com a empresa SPACESUR, lidera a constelação Focus (radar SAR banda X) para monitorar infraestrutura crítica, usando inteligência artificial para prever anomalias (https://veng.com.ar/proyectos-satelitales/focus/).
-> Universidad Nacional de Córdoba: Desenvolve o *µSAT-3*, microsatélite de baixo custo para vigilância territorial, embora enfrente desafios de financiamento e atrasos crônicos (https://unciencia.unc.edu.ar/ingenieria/desarrollan-un-satelite-de-observacion-integramente-cordobes-y-de-bajo-costo/).
Enquanto a Argentina avança com projetos integrados e diversificados, o Brasil ainda patina na regulamentação de investimentos privados devido à malconcebida Lei Geral do Espaço. A pluralidade de iniciativas argentinas – de satélites IoT a radares de dupla aplicação – evidencia uma estratégia espacial madura, alinhando capacitação técnica, segurança nacional e desenvolvimento industrial.
Essa sinergia entre Estado, empresas e academia contrasta com o cenário brasileiro, onde a malconcebida Lei Geral do Espaço ainda engatinha para regular investimentos privados.
Um Alerta para o Brasil — e uma Oportunidade
"Caso essas notícias que nos chegam do país platino venham realmente a se confirmar, o Brasil perderá de forma definitiva a liderança espacial na América Latina — uma posição que já deixamos escapar no setor de satélites e que agora se esvai também na área de foguetes lançadores. Nesse cenário, é justo reconhecer o mérito da TLON Space, da VENG e do povo argentino, que demonstram que qualquer sonho é possível quando há seriedade, competência e comprometimento. Já ao Brasil, resta apenas lamentar. Lamentar a negligência da Força Aérea Brasileira (FAB), a omissão de um Congresso frequentemente corrompido, e a sucessão de governos — desde José Sarney até o atual — que, ao longo de décadas, venderam à sociedade brasileira um sonho que nunca tiveram real intenção de concretizar. Faltou visão, sobrou descaso. Parabéns aos que sabotaram o futuro. Vocês ... conseguiram."
Se a Argentina confirmar seu lugar no "Clube dos Lançadores" , o Brasil enfrentará uma encruzilhada: persistir no modelo estatal fragmentado ou abraçar uma revolução NewSpace, aumentando e, realmente, se integrando com as empresas privadas e startups nacionais.
O Brazilian Space segue apurando o caso. Convidamos leitores a acompanhar nossas atualizações e assistir aos vídeos-chave da TLON (playlist aqui) para formar suas próprias conclusões. Uma coisa é certa: na corrida espacial latino-americana, o tempo de hesitar acabou!
Brazilian Space
Agradecimentos: Agradecemos ao amigo Martin Marteletti pela ajuda na revisão do texto e a complementação de informações
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