O Avanço da TLON Space e o Cenário Espacial Argentino-Brasileiro

Olá, Entusiastas do BS!

Dando continuidade ao trabalho de apuração sobre o quão perto a Argentina está de se tornar um Estado Lançador, através do lançamento do veículo lançador Aventura I, da startup argentina, TLON Space (veja aqui), o Brazilian Space vem procurando especialistas do setor na Argentina e pessoas com conexões com a TLON Space para averiguar tal novidade surpreendente.
A notícia que ecoou como um foguete em ascensão alardeou que a Argentina estaria prestes a se tornar (ou já teria se tornado) o primeiro país da América Latina a dominar o ciclo espacial completo, graças ao Aventura I. A informação, divulgada pelo site Cuatro Vientos em 8 de maio de 2025 e repercutida por fontes como o LinkedIn de Francisco Boils, colocou o Brazilian Space em alerta. Diante das controvérsias — até agora, nenhuma confirmação oficial foi publicada pela TLON ou por agências argentinas para esclarecer: a Argentina realmente entrou ou vai entrar no "Clube dos Países Lançadores"?
Este artigo mergulha nas evidências, nos silêncios e nas lições que esse episódio traz para o Brasil.

O Aventura I: Entre Inovações e Interrogações

Aventura I não é um foguete comum. Com apenas 10 metros de altura e menos de uma tonelada, o microlançador da TLON Space carrega consigo 18 inovações patenteadas, como o motor ECOSTAR — que substitui turbobombas tradicionais por uma eletrobomba de alta eficiência (vídeo demonstrativo, set/2023) — e uma fuselagem de fibra de carbono que desafia a gravidade.

Segundo vídeos institucionais (link 1link 2), a TLON já realizou nove testes críticos entre 2021 e 2023, validando sistemas de navegação autônoma, queima de combustível e resistência estrutural. No entanto, uma peça crucial permanece envolta em mistério: a separação de estágios, etapa essencial para atingir a órbita. O "voo 10", mencionado em posts nas redes sociais, seria justamente este teste — mas, até agora, nenhum vídeo ou relatório técnico foi divulgado.



A falta de transparência alimenta dúvidas. Enquanto o Cuatro Vientos anunciava um lançamento "iminente" em maio de 2025, o silêncio da TLON e da CONAE (Comisión Nacional de Actividades Espaciales) deixou a comunidade internacional perplexa.

Espaçoporto Malacara: O Cenário de um Possível Marco Histórico

Localizado na costa atlântica, próximo a Necochea, o Porto Espacial Malacara foi escolhido pela TLON não apenas por sua localização geográfica privilegiada — que permite lançamentos seguros para o sul e leste —, mas também por simbolizar uma ruptura com o modelo tradicional.


Enquanto o Brasil ainda debate a modernização do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), a Argentina aposta em uma infraestrutura enxuta, adaptada à era dos microlançadores. Um vídeo promocional (disponível aqui) mostra as instalações do porto, com torres de serviço modulares e logística simplificada, refletindo a filosofia NewSpaceágil, privada e orientada para o mercado.

Narrativas: Sucesso ou Especulação?

A ausência de confirmação (ou negação) oficial não impediu que a notícia viralizasse. No LinkedIn, Francisco Boils afirmou categoricamente: "A Argentina já é um país lançador". Já o site Urgente24 ecoou o triunfo, citando "fontes internas". Porém, nenhum dado telemetria, imagens de satélite ou comunicado da CONAE corroboraram a alegação.

Especialistas consultados pelo Brazilian Space expressaram ceticismo, pois "Sem dados técnicos públicos, é impossível validar o feito". Outros, porém, reconhecem o avanço argentino, pois mesmo que este lançamento específico ainda não tenha ocorrido, a TLON está muito à frente das iniciativas brasileiras.

Em verdade, contatos do BS na Argentina informaram que o lançamento, ainda não ocorreu, mas que existe comentários nos bastidores do setor espacial portenhho de que este poderia ocorrer ainda em junho próximo, antes do lançamento do Hanbit-Nano, da sul-coreeana Innospace, a partir do Centro de Lançamento de Alcântara - CLA.

Brasil vs. Argentina: O Preço da Descoordenação

O artigo original do BS não poupou críticas ao Brasil: "Faltou visão, sobrou descaso". De fato, enquanto a Argentina integra CONAE, universidades e startups em um ecossistema coeso, o Brasil patina entre projetos estatais defasados (como o VLM-1) e iniciativas privadas muito aguerridas aos seus projetos, mas subfinanciadas e com entraves técnicos impostos pelos entes governamentais.

A possível ou iminente ascensão da TLON não é um caso isolado. A Argentina cultiva um ecossistema espacial vibrante:

- Empresas Privadas:

-> Epic Aerospace e LIA Aerospace: Testaram rebocadores orbitais em 2024. A LIA, instalada recentemente no país, desenvolve sistemas de propulsão de "última milha" para posicionamento de satélites. Ambas utilizam tecnologia de impressão 3D na produção de motores (https://lia-aerospace.com).

-> VENG: Desenvolve motores 3D para foguetes de médio porte, inclusive para o Tronado II da CONAE (vejam matéria do BS aqui)e participa ativamente de projetos como a constelação Focus (radar SAR em banda X para monitoramento civil e militar) (https://veng.com.ar/proyectos-satelitales/focus/).

-> Satellogic: Referência global em satélites de observação submétricos, a empresa já opera 25 unidades em órbita baixa, com contratos com a NASA e uso estratégico no conflito Rússia-Ucrânia. Seu plano é expandir para centenas de satélites e atualmente é provedora de imagens para a Força Aérea Brasileira - FAB (https://satellogic.com).

-> Innova Space: Startup originada em uma escola técnica de Mar del Plata, já realiza testes bem-sucedidos com o *MDQubesat-2*, satélite focado em IoT para transmissão de dados de áreas remotas. A meta é uma constelação de 100 satélites (https://www.instagram.com/p/C4aw1QYrMHT/).

- Universidades e Inovação Acadêmica:

-> UNLP (Universidad Nacional de La Plata): Desenvolve o *USAT-1*, primeiro CubeSat argentino para missões científicas com tecnologia GNSS. Em fase final de testes, o projeto visa formar estudantes de Engenharia Aeroespacial (https://www.instagram.com/usat.unlp).

-> Universidad de Palermo: Preparando o LABSAT IoT, programado para 2025 em órbita sincrônica solar, com capacidade multibanda para comunicações diretas via celular (https://www.palermo.edu/ingenieria/satelite-labsat-iot/).

-> UNSAM (Universidad Nacional de San Martín): Em parceria com a empresa SPACESUR, lidera a constelação Focus (radar SAR banda X) para monitorar infraestrutura crítica, usando inteligência artificial para prever anomalias (https://veng.com.ar/proyectos-satelitales/focus/).

-> Universidad Nacional de Córdoba: Desenvolve o *µSAT-3*, microsatélite de baixo custo para vigilância territorial, embora enfrente desafios de financiamento e atrasos crônicos (https://unciencia.unc.edu.ar/ingenieria/desarrollan-un-satelite-de-observacion-integramente-cordobes-y-de-bajo-costo/).

Enquanto a Argentina avança com projetos integrados e diversificados, o Brasil ainda patina na regulamentação de investimentos privados devido à malconcebida Lei Geral do Espaço. A pluralidade de iniciativas argentinas – de satélites IoT a radares de dupla aplicação – evidencia uma estratégia espacial madura, alinhando capacitação técnica, segurança nacional e desenvolvimento industrial.

Essa sinergia entre Estado, empresas e academia contrasta com o cenário brasileiro, onde a malconcebida Lei Geral do Espaço ainda engatinha para regular investimentos privados.

Um Alerta para o Brasil — e uma Oportunidade

"Caso essas notícias que nos chegam do país platino venham realmente a se confirmar, o Brasil perderá de forma definitiva a liderança espacial na América Latina — uma posição que já deixamos escapar no setor de satélites e que agora se esvai também na área de foguetes lançadores. Nesse cenário, é justo reconhecer o mérito da TLON Space, da VENG e do povo argentino, que demonstram que qualquer sonho é possível quando há seriedade, competência e comprometimento. Já ao Brasil, resta apenas lamentar. Lamentar a negligência da Força Aérea Brasileira (FAB), a omissão de um Congresso frequentemente corrompido, e a sucessão de governos — desde José Sarney até o atual — que, ao longo de décadas, venderam à sociedade brasileira um sonho que nunca tiveram real intenção de concretizar. Faltou visão, sobrou descaso. Parabéns aos que sabotaram o futuro. Vocês ... conseguiram."

Se a Argentina confirmar seu lugar no "Clube dos Lançadores" , o Brasil enfrentará uma encruzilhada: persistir no modelo estatal fragmentado ou abraçar uma revolução NewSpace, aumentando e, realmente, se integrando com as empresas privadas e startups nacionais.

Brazilian Space segue apurando o caso. Convidamos leitores a acompanhar nossas atualizações e assistir aos vídeos-chave da TLON (playlist aqui) para formar suas próprias conclusões. Uma coisa é certa: na corrida espacial latino-americana, o tempo de hesitar acabou!

Brazilian Space

Agradecimentos: Agradecemos ao amigo Martin Marteletti pela ajuda na revisão do texto e a complementação de informações

Brazilian Space
Espaço que inspira, informação que conecta!

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