Constelação Arandú: Estaria a Akaer, realmente, desenvolvendo uma constelação de 16 satélites?

Olá, Entusiastas do BS!


Na última semana o BS obteve informes, através de publicações internacionais nas redes sociais, de que a empresa Akaer estaria envolvida um projeto / iniciativa de desenvolvimento de uma constelação de satélites denominada "Constelação Arandú". Apesar da Akaer ter uma presença mais marcante no segmento aeronáutico, principalmente no mercado internacional (de onde vem a maioria das receitas da empresa) e de estar envolvida com o desenvolvimento do projeto VLN-Akr e de sistemas ópticos para o satélite SatVHR da Visiona, essa suposta nova empreitada nos deixou perplexos, haja visto que, exceto em redes sociais de fora do Brasil, nunca houve no Brasil, até onde apuramos, nenhuma menção  de que a empresa estaria pensando em desenvolver satélites próprios, quem diria, uma constelação.

As informações que obtivemos veem de postagens das redes sociais da "New Zealand Brazil Business Chamber - NZBBC" (Câmara de Negócios Nova Zelândia - Brasil), publicadas a cerca de 1 mês (abril/2025) e à semana passada (veja a 1a publicação aqui e a 2a publicação aqui). Segundo as publicações, é um projeto / iniciativa coordenado pela empresa brasileira Akaer e consiste no desenvolvimento e lançamento de 16 satélites de órbita baixa, com o objetivo de fornecer dados para aplicações como monitoramento agrícola, vigilância de fronteiras, análise climática e observação de infraestruturas de mineração.

Extratos de tela do perfil da New Zealand Brazil Business Chamber - NZBBC no LinkedIn (Links acima)

A execução da Arandú envolveria parcerias internacionais. Empresas da Nova Zelândia, com experiência em tecnologias espaciais, colaboram no desenvolvimento de componentes específicos da constelação. Paralelamente, a Akaer estabeleceu diálogos com a Barzan Holdings, entidade ligada ao fundo soberano do Catar, para explorar possíveis investimentos e trocas de conhecimento em sistemas de defesa e segurança. Um encontro entre o CEO da Akaer, Cesar Silva, e o CEO da Barzan, Mohammed Al Marri, realizado no Rio de Janeiro, marcou a discussão sobre os termos dessa cooperação.

O projeto também contemplaria interações com instituições acadêmicas. Estudantes do Executive MBA da Massey University (Nova Zelândia) visitaram as instalações da Akaer para conhecer detalhes técnicos da iniciativa. A constelação está planejada para operar em órbitas entre 400 e 800 km de altitude, com satélites equipados para capturar e transmitir informações em tempo real. A implementação da Arandú segue sem divulgação pública até o momento. 

Considerando a falta de informações públicas em conteúdo nacional, o Brazilian Space enviou uma solicitação de informações à Akaer no dia 11/05/2025, através dos seus canais oficiais de contato, conforme texto e confirmação de recebimento da empresa abaixo, mas, até momento, a empresa não cumpriu com a sua mensagem de retorno (?"Retornaremos o mais breve possível"?).

Mensagem enviada à Akaer e resposta padrão do site da empresa (Fonte: Brazilian Space)

As publicações citam ainda que a Akaer também está envolvida na criação de um veículo lançador de satélites de fabricação nacional, parte do esforço do Brasil para ampliar sua capacidade tecnológica no setor espacial, e infere, nas entrelinhas, algum tipo de associação da constelação com uma suposta capacidade (ainda não consolidada), da própria Akaer, de acesso autônomo ao espaço. Se essa inferência tiver um fundo de verdade, considerando as capacidades de carga útil iniciais do VLN-Akr, estaríamos falando em satélites entre 5 a 20 kg de massa (algo entre Cubesats 3 a 12U, por exemplo).

Concepção artística do VLN-Akr (Fonte: Brazilian Space)

Sobre a Akaer

Fundada em 1992 e sediada em São José dos Campos (SP), a Akaer destaca-se como uma das principais empresas brasileiras de engenharia e tecnologia para os setores de Defesa e Aeroespacial. Com mais de 30 anos de experiência, a empresa ampliou sua atuação internacional, tendo como projetos de referência no campo aeronáutico, dentre outros, a modernização das asas do avião P-3AM Orion da FAB e a participação no caça de treinamento HÜRJET (TAI) da Turquia.

No campo espacial, como já mencionado, temos como destaques a empresa liderando o desenvolvimento do Veículo Lançador de Nanossatélites (VLN-AKR), a câmera ST30CAM para o satélite de observação terrestre SatVHR e  câmera OPTO 3UCAM para o nanossatélite VCUB 1.


Sobre a New Zealand Brazil Business Chamber (NZBBC) 

New Zealand Brazil Business Chamber (NZBBC) é uma organização bilateral criada para fortalecer relações comerciais e promover parcerias estratégicas entre empresas do Brasil e da Nova Zelândia. A NZBBC busca ampliar a cooperação em setores como tecnologia, agronegócio e manufatura avançada, com iniciativas que tem o potencial de gerar mais de US$ 100 milhões em receita.

A câmara organiza eventos de networking e apoia a expansão de mercados por meio de projetos como o "Project Southern Cross". A estrutura da NZBBC inclui lideranças diversificadas e comitês setoriais e opera como uma plataforma de integração econômica e cultural.


Reflexões sobre a Constelação Arandú e o silêncio da Akaer

A revelação do projeto Constelação Arandú, via canais internacionais como a NZBBC, levanta questões relevantes sobre transparência e estratégia de comunicação da Akaer. Por que uma iniciativa de tamanha envergadura, que promete ampliar a capacidade espacial brasileira, não foi divulgada oficialmente no Brasil, seja em redes sociais ou comunicados institucionais? A ausência de informações locais contrasta com a visibilidade internacional, gerando incertezas sobre o alinhamento do projeto com políticas públicas ou interesse nacional explícito.

Outro ponto de atenção é a aparente exclusividade de parcerias estrangeiras. Enquanto estudantes da Massey University (Nova Zelândia) e empresas como a Barzan Holdings (Catar) são mencionados como colaboradores, não há menção a universidades, institutos de pesquisa ou indústrias brasileiras no desenvolvimento da constelação. Qual é o papel das instituições nacionais em um projeto que, em tese, visa fortalecer a soberania tecnológica do país?

Por outro lado, se confirmado que a Akaer pretende utilizar seu VLN-Akr para lançar os satélites da Arandú, isso representaria um avanço significativo para o veículo lançador, validando sua sustentabilidade operacional e atratividade comercial. No entanto, a falta de confirmação oficial deixa dúvidas sobre a viabilidade técnica e os prazos reais, especialmente considerando que o VLN-Akr ainda está em fase de desenvolvimento.

Akaer, reconhecida por sua expertise internacional em defesa e aeronáutica, precisa esclarecer urgentemente essas lacunas. Projetos espaciais de impacto nacional demandam não apenas competência técnica, mas também diálogo aberto e comunicação assertiva com a sociedade e integração com o ecossistema local de inovação. Nesse tocante temos o exemplo do projeto MLBR, que vem atuando e se comunicando muito bem com sociedade e, em contraponto, o projeto do VLN-Akr que se arrasta em uma névoa que, diferentemente do que acontece com o MLBR, só faz as pessoas suspeitarem e não apoiarem a iniciativa.

Sendo assim, até que a Akaer mude a sua estratégia de comunicação (inclusive com a imprensa e os divulgadores do setor), a Constelação Arandú permanecerá envolta em questionamentos legítimos — tanto sobre a sua factibilidade, seus objetivos e sobre seu legado para atender as necessidade do Brasil no segmento.


Rui Botelho
Editor-chefe do Brazilian Space

Agradecimentos: Ao nosso apoiador Lin, pelo envio das informações que levaram à apuração do BS.


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