Brasil Lançará Missão à Lua até 2020 Para Estudar Vida no Espaço

Olá leitor!

Segue abaixo a então aguardada matéria do jornal “Folha de São Paulo” postada na edição de hoje (29/11) tendo como destaque a Missão Lunar Garatéa-L divulgada com exclusividade no dia de ontem pelo nosso Blog.

Duda Falcão

CIÊNCIA

Brasil Lançará Missão à Lua até 2020
Para Estudar Vida no Espaço

GIULIANA MIRANDA
Colaboração para a FOLHA
29/11/2016 – 06:00

Foto: Divulgação NASA
Imagem da NASA revelam lado oculto da Lua.

Um time de cientistas de instituições de ponta do Brasil, com parceria da iniciativa privada, pretende lançar até 2020 a primeira missão do país à Lua: um nanossatélite com experimentos científicos.

Batizado de Garatéa-L, ele terá o objetivo de realizar pesquisas para estudar características da vida no espaço.

Os brasileiros pretendem aproveitar um dos nichos mais promissores da exploração espacial: os nanossatélites. Enquanto os dispositivos tradicionais são gerigonças do tamanho de carros populares que facilmente ultrapassam as três toneladas, os chamados “cubesats” são muito mais compactos e podem confortavelmente ficar abaixo dos 8 kg.

“O fato de eles serem pequenos não os torna menos poderosos. Esta é uma área em que muitas empresas estão bastante céticas, mas que hoje recebe bastante investimento. Os bons resultados atraíram as maiores fabricantes do mundo”, explica Lucas Fonseca engenheiro espacial da empresa Airvantis e gerente do Garatéa-L.

O projeto reúne pesquisadores de boa parte dos centro de excelência em espaço do Brasil: o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o ITA (instituto Tecnológico de Aeronáutica), a USP, o LNLS (Laboratório Nacional de Luz Síncrotron),  o Instituto Mauá de Tecnologia e a PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul).

Juntos, os cientistas estão delimitando os detalhes dos experimentos que serão levados ao espaço, mas os projetos iniciais já transparecem a ambição do grupo. Além da pesquisa lunar em si, o Garatéa-L dará ênfase à  astrobiologia, o ramo que estuda as condições de vida no espaço.

A missão custará R$ 35 milhões e a captação de verbas ainda não teve inicio. O financiamento é o principal obstáculo. “É mais fácil fazer ciência de ponta na Lua do que conseguir as verbas necessárias”, diz o líder da missão.

Foto: Editoria de Arte/Folhapress
Imagem da NASA revelam lado oculto da Lua.

“É mais fácil fazer ciência de ponta na Lua do que conseguir as verbas necessárias”, compara o líder da missão.

Nos mais de 50 anos do programa espacial brasileiro, não faltaram planos para explorar o espaço profundo, mas as iniciativas geralmente esbarravam na falta de verbas. Por conta do histórico negativo, a equipe que capitaneia o projeto decidiu buscar fontes alternativas de financiamento, além de pleitear verbas de agencias de fomento.

“É triste, mas o Brasil não honrou seus compromissos. Nem com a NASA para a construção da Estação Espacial Internacional, nem com o ESO (Observatório Europeu do Sul) com os telescópios. Por isso, sendo bem realista, nós optamos por uma via que não dependa de recursos do governo”, justifica o responsável pela missão.

A ideia é criar uma combinação de investimentos privados, tanto através de patrocínio como também de negociação de royalties e direitos de uso do conhecimento gerado e até de eventuais patentes.

BUSCANDO A VIDA

O nome da missão vem do tupi-guarani, em que garatéa significa busca a vida. A nomenclatura foi escolhida devido ao forte componente da missão de estudo da vida. O “L” foi acrescentado no fim para indicar que se trata de uma missão lunar, uma vez que o grupo também conduz a Garatéa em balões de grande altitude (a cerca de 35 km de altura).

Apesar de significar “busca vida”, o cientista principal da missão, Douglas Galante, apressa-se a explicar que não se trata de uma tentativa de encontrar vida no satélite da Terra.

“Já sabemos há muito tempo que a Lua é um ambiente muito hostil à vida. O que nós tentamos fazer agora é usar um satélite na Lua para testar os limites da vida em ambiente hostil”, diz o pesquisador do LNLS (Laboratório Nacional de Luz Síncrotron) em Campinas.

Quando estamos na Terra, seu campo magnético serve como um escudo contra a perigosa radiação que vem do espaço. Fora do planeta, essa defesa contra os efeitos nocivos dos raios cósmicos já não existe. E são precisamente os efeitos disso que os pesquisadores querem analisar.

Embora os detalhes dos experimentos ainda não estejam fechados , o grupo pretende enviar pelo menos dois experimentos para avaliar os danos causados a colônias de bactérias no ambiente inóspito do espaço.

“Deverão ser seis meses de exposição intensa a essa radiação. Algo inédito. Vamos testar a resposta de sistemas biológicos a esse fundo de radiação e outros fatores de estresse”, completa o pesquisador.

A Garatéa-L vai expor mais do que bactérias aos raios cósmicos: estão previstos também experimentos com tecido humano. A ideia é ver também como esse material reage ao ambiente hostil do espaço. Segundo o responsável da missão, é possível que os dados coletados sejam uteis inclusive para auxiliar na preparação de missões tripuladas de longa duração, como uma eventual viagem a Marte.

“O objetivo principal é avaliar o efeito da micro-gravidade e da radiação lunar (espaço profundo) numa cultura de células humanas. Com isso, busca-se entender como essas células se comportam em termos de proliferação, sobrevida e alterações genéticas durante a exposição ao ambiente hostil do espaço”, explica Thais Russomano, médica, pesquisadora de medicina espacial da PUC-RS e uma das responsáveis pelo experimento.

“As analises das células a serem efetuadas durante a missão lunar vão depender da capacidade técnica que estará disponível para tanto. Nós ainda estamos na fase de várias definições”, pondera ela.

DESAFIO

Envolvido na missão Rosetta da ESA (Agência Espacial Europeia) – primeira a conseguir pousar uma sonda em um cometa, em 2014 -, o gerente do projeto Garatéa-L, Lucas Fonseca, diz sempre ter sido um apaixonado pelo espaço e que sempre sonhou em fazer pesquisa de ponta nesta área no Brasil.

“Eu sempre pensei muito em como o Brasil poderia fazer pesquisa em espaço profundo com um valor mais em conta, mais adaptado a nossa realidade. E os cubesats permitem esse tipo de estudo. É revolucionário, a miniaturização permite muita coisa, ao mesmo tempo que é também um grande desafio de engenharia”, diz Fonseca.

A ideia do grupo é usar a miniaturização e experiências anteriores de economia para baratear a missão ao máximo.

Previsto para 2020, o lançamento será uma parceria das agenciais espaciais europeia de do Reino Unido com duas empresas britânicas, dentro de sua primeira missão comercial de espaço profundo – a Pathfinder.

O material será posto em órbita pelo foguete pelo foguete indiano PSLV-C11, o mesmo que enviou com sucesso a missão Chandrayaan-1 para a Lua, em 2008.

Com cerca de 7,2kg o nanossatélite brasileiro terá a companhia de dispositivos semelhantes fabricados por outros países, com diferentes objetivos.

Os responsáveis pelo Garatéa-L, pretendem aproveitar a missão ainda para fazer um trabalho amplo de divulgação científica e popularização da ciência com crianças e, em especial, com jovens mulheres.

A apresentação pública do trabalho será na noite desta terça-feira  (29), na Escola de Engenharia de São Carlos da USP.

ERRATA: Fui informado pelo Eng. Lucas Fonseca após ter publicado a matéria de ontem de que a empresa britânica SSTL terá um prazo de 1 ano pra lançar a missão após entrega das sondas. Sendo assim, a equipe da Missão Garatéa-L terá de entregar o modelo de voo da sonda até Setembro de 2019. Diante disto, muito provavelmente o voo ocorrerá até meados de 2020 e não mais em meados de 2019 como citado por mim na matéria de ontem. Peço inúmeras desculpas aos meus leitores, pois já estava com a matéria pronta desde quarta-feira da semana passada e esta informação só me chegou após a publicação no Blog. Portanto, é por conta disso que esta matéria da Folha de São Paulo aparece com à data de 2020 para o lançamento desta missão. Uma vez mais minhas sinceras desculpas.

Fonte: Site do Jornal Folha de São Paulo - 29/11/2016

Comentários

  1. O Lucas Fonseca está fazendo história no Brasil. Muito bom saber que um profissional desse nível resolveu, mesmo com todas as dificuldades encontradas, permanecer no Brasil. Ainda não tive o privilégio de conhecê-lo pessoalmente, mas na época que iniciei meu mestrado no INPE, ele já comentava sobre possibilidade de uma missão lunar brasileira; maravilhoso saber que a ideia saiu!

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  2. Excelente notícia, agora só gostaria de saber de onde seria lançado, para se obter sucesso total! Não sendo de Alcântara já seria um grande passo!!! Porque pelo visto pelo decorrer dos anos, e pelos fatos lá ocorridos, divulgados na mídia, parece não ser um lugar protegido contra possíveis ameaças contra uma Operação de tão grande importância que seria essa proposta. Creio que despertará o desejo de insucesso por inúmeras pessoas de países concorrentes e também de brasileiros, que infelizmente, apesar de trabalharem na área espacial, remam contra o time e visam somente lucros.

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    1. Olá Observado!

      Leia com atenção a matéria, o lançamento será através de um foguete indiano PSLV-C11, portanto será lançada da Índia.

      Abs

      Duda Falcão
      (Blog Brazilian Space)

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  3. Exatamente como eu acredito, o programa só irá decolar com a iniciativa privada.
    Fico feliz em ver que brasileiros de relevante importância estão fazendo acontecer.
    Parabéns Lucas Fonseca, acredito que o sucesso da missão está garantida

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