25 Anos do SAC-C: O Satélite Que Deu Olhos Próprios à Argentina

Caros entusiastas do BS!
 
Ontem (03/12), o portal ESPACIOTECH noticiou que o Satélite de observação da Terra SAC-C completou 25 anos desde o envio de sua primeira imagem do planeta — um marco que simbolizou o momento em que a Argentina ganhou seus próprios “olhos” no espaço.
 
Créditos: EspacioTech
Primeira imagem do Satélite SAC-C.

Pois então, de acordo com a nota do portal, vinte e cinco anos atrás, uma imagem mudou para sempre a maneira como a Argentina se vê a si mesma. No final dos anos 2000, o satélite SAC-C, recém-lançado ao espaço, enviou sua primeira fotografia da Terra. Era uma cena do nosso planeta como tantas outras, mas tinha algo diferente. Havia sido tirada pelo primeiro satélite argentino operacional de observação, projetado e construído no país sob liderança da CONAE e da INVAP.
 
Fonte: INVAP.
Profissionais da INVAP trabalham na sala limpa durante a integração do SAC-C, que se tornaria o primeiro satélite argentino operacional de observação da Terra.

O SAC-C nasceu de uma ideia ambiciosa para um país latino-americano no final da década de 1990. Fazia parte da série SAC (Satélite de Aplicações Científicas) de demonstradores tecnológicos desenvolvidos pela INVAP para a CONAE em cooperação com a NASA, mas não era apenas mais um. Buscava que a Argentina deixasse de ser usuária de dados espaciais estrangeiros e passasse a gerar suas próprias informações a partir da órbita. Essas informações alimentariam estudos e decisões ambientais, territoriais, de agricultura, hidrologia, costas, vulcões, saúde e gestão de emergências.
 
Em termos técnicos, o satélite pesava 485 kg, tinha uma órbita quase polar a 700 km de altitude e levava a bordo vários instrumentos. Entre eles, câmeras multiespectrais e pancromáticas desenvolvidas na Argentina, além de sistemas para coletar dados de estações em terra. Fazia parte de uma constelação junto com outros satélites internacionais, como os Landsat e o Terra da NASA, o que permitia combinar suas imagens e obter uma visão mais completa do planeta.
 
A missão estava planejada para durar quatro anos, mas acabou operando treze, tornando-se uma lenda tecnológica nacional.
 
Um País em Órbita
 
Embora o SAC-C fosse uma missão científica de observação da Terra, na prática acabou entrando no cotidiano do país. Os dados e imagens do satélite alimentaram mais de 200 projetos científicos e acordos com organismos como o Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA), o Instituto Nacional da Água (INA) e vários ministérios. Serviram para analisar rendimentos agrícolas, estudar costas e áreas úmidas, monitorar vulcões e gerenciar enchentes e emergências.
 
Durante a enchente de Santa Fé de 2003, por exemplo, as imagens ajudaram a entender por onde a água avançava e qual bacia era responsável pelo transbordamento.
 
E depois há a dimensão educativa, na qual o satélite teve um forte impacto por meio do programa 2Mp. A partir de 2004, a CONAE levou imagens do SAC-C a milhares de escolas, para que estudantes do ensino fundamental e médio trabalhassem em sala de aula com cenas satelitais de seu próprio território. Em vez de ver o espaço como algo distante, viam-no como um instrumento para entender o que acontecia em seu bairro, em sua província, em seu país.
 
Fonte: CONAE. 
O SAC-C decolou em 21 de novembro de 2000 da Base Vandenberg, na Califórnia. Viajou a bordo de um foguete Delta II que também levava o satélite estadunidense EO-1 e o nanosat sueco Munin. 

De Satélite a Sistema
 
O SAC-C consolidou o Plano Espacial Nacional e, sobretudo, demonstrou a capacidade espacial argentina. A partir dessa experiência vieram missões mais complexas, como o SAC-D/Aquarius, com cooperação ainda mais ativa com a NASA, e os satélites SAOCOM, equipados com radares de abertura sintética (SAR) em banda L.
 
Paralelamente, foram desenvolvidos os satélites geoestacionários de comunicações ARSAT-1 e ARSAT-2. E mais adiante foram iniciados projetos como o SABIA-Mar, com participação destacada de várias universidades e instituições científicas do país.
 
Nesse quebra-cabeça, o SAC-C foi mais do que o primeiro que fez uma boa foto. Foi o laboratório onde foram testados processos de projeto, integração, ensaios, operação em órbita e cooperação internacional. Ajudou a passar do “fazer um satélite” para “ter um sistema satelital”.
 
Revisitar a Primeira Imagem
 
Revisitar hoje aquela primeira foto do SAC-C é voltar a um momento em que a Argentina decidiu olhar seu próprio território desde o espaço com tecnologia nacional, como parte de uma política de Estado que promovia a ciência local e a soberania tecnológica.
 
Esse satélite, que viveu muito mais do que o previsto, permanece como lembrete do que acontece quando há continuidade, orçamento e equipes trabalhando a longo prazo. Não é preciso enfeitar: nosso país projetou, construiu e operou uma missão complexa durante mais de uma década, superando todas as expectativas.
 
A 25 anos daquela primeira imagem, a questão já não é se a Argentina tem como repetir algo parecido, mas sim o que fará com essa experiência. Se vai se conformar em ver satélites alheios passando por seu céu ou se decidirá continuar lutando para ter, também, seu próprio olhar em órbita.
 
Aproveitamos para agradecer publicamente, desde já, ao nosso amigo e colaborador argentino Martín Marteletti pelo envio desta notícia.
 
Brazilian Space
 
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