Copo Menstrual Testado no Espaço Reforça a Saúde de Astronautas em Missões Longas

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Credit: Space Daily
Ilustrativo.

No dia de ontem (04/12), o portal Space Daily noticiou que a astrobióloga portuguesa Ligia Fonseca Coelho e colaboradores demonstraram que um coletor menstrual padrão de silicone pode tolerar condições de voo espacial, abrindo mais uma opção para o manejo da menstruação em missões de longa duração.
 
De acordo com a nota do portal, Coelho, bolsista pós-doutoral 51 Pegasi b em astronomia no College of Arts and Sciences da Universidade Cornell e pesquisadora associada ao Carl Sagan Institute, lidera o AstroCup, um grupo voluntário focado na saúde menstrual no espaço. Ela observou que, à medida que a exploração humana avança em direção à Lua e a Marte, processos fisiológicos básicos exigem sistemas confiáveis para manter as tripulações saudáveis.
 
Para avaliar o desempenho de coletores menstruais em voo espacial, a equipe AstroCup enviou dois coletores de silicone da marca Lunette como carga útil em um foguete não tripulado. Engenheiros aeroespaciais do projeto projetaram um contêiner dedicado que monitorou temperatura, aceleração e umidade ao longo do perfil de voo. A equipe relata seus resultados no artigo One Giant Leap for Womankind: First Menstrual Cup Tested in Spaceflight Conditions, publicado em 2 de dezembro na revista npj Women’s Health.
 
Os coautores do estudo incluem Catarina Miranda, Miguel Morgado e Diogo Nunes, da Universidade de Lisboa, e João Canas, da empresa aeroespacial SpinWorks. Também contribuíram André F. Henriques, também da Universidade de Lisboa, e Adam B. Langeveld, pesquisador visitante em astronomia em Cornell e membro do Carl Sagan Institute.
 
Durante o voo de 9,3 minutos, que incluiu altas acelerações na decolagem e novamente pouco antes da abertura do paraquedas, os coletores menstruais mantiveram sua integridade estrutural e funcionalidade. Coelho afirmou que os coletores experimentaram forças maiores nesse voo não tripulado do que enfrentariam em uma missão tripulada típica, o que oferece uma margem adicional para o desempenho em voos espaciais humanos.
 
Testes pós-voo confirmaram essas conclusões. A imersão em água mostrou que a estrutura dos coletores permaneceu intacta, enquanto um teste separado usando glicerol, um análogo do sangue, demonstrou que os coletores continuaram funcionando como esperado após a missão. Coelho explicou que, por ser a primeira vez que um dispositivo desse tipo voa como carga útil de um foguete, a equipe buscou estabelecer uma metodologia que outros pesquisadores possam replicar com controles consistentes.
 
O trabalho indica que um coletor menstrual comercial de silicone, do tipo já usado na Terra, pode operar em condições de voo espacial. Coelho e colegas também pretendem estimular uma discussão mais ampla em todo o setor espacial sobre saúde menstrual e autonomia médica para astronautas. Ela enfatizou que dispositivos menstruais ainda não foram integrados às operações espaciais e defendeu uma abordagem mais sistemática para fornecer opções.
 
Atualmente, a maioria dos astronautas que menstruam previnem o sangramento em missões de até cerca de seis meses por meio de supressão hormonal. Embora levar absorventes ou tampões descartáveis seja tecnicamente uma opção, gerenciar grandes volumes de materiais de uso único em missões de vários anos para a Lua ou Marte geraria resíduos significativos e desafios logísticos.
 
Prolongar a supressão hormonal para missões de cinco a dez anos ou mais também exigiria armazenar grandes quantidades de medicação. Coelho observou que a NASA está investigando possíveis ligações entre supressão hormonal de longo prazo e coágulos sanguíneos, o que acrescenta outra consideração ao planejamento das missões. Nessas circunstâncias, ter múltiplas opções de cuidados menstruais torna-se essencial, e não apenas uma questão de conveniência.
 
Se nenhuma alternativa viável estiver disponível, astronautas em missões muito longas podem enfrentar pressão para adiar aspectos de sua saúde reprodutiva por muitos anos. Coelho ressaltou que o acesso ao método de cuidado menstrual preferido também pode apoiar a produtividade e o bem-estar psicológico da tripulação durante expedições prolongadas.
 
Astrobióloga portuguesa Ligia Fonseca Coelho.

São necessárias mais pesquisas sobre limpeza e reutilização, mas Coelho sugeriu que pequenos kits de esterilização já usados em acampamentos ou trilhas na Terra podem ser adaptados para o espaço. Ela também destacou as calcinhas menstruais como outra opção simples, alinhada à prática atual, já que astronautas na Estação Espacial Internacional dependem de roupas íntimas descartáveis.
 
Em fevereiro, o AstroCup enviou coletores menstruais com membros da tripulação da Missão Hypatia II, uma expedição simulada a Marte na Mars Desert Research Station, em Utah, para coletar dados sobre usabilidade e reações da equipe. A equipe agora planeja cargas úteis adicionais para continuar testando dispositivos menstruais no espaço, com o objetivo final de colocar uma variedade de produtos na Estação Espacial Internacional.
 
Coelho afirmou que os resultados recentes demonstram que o modelo de coletor menstrual testado está pronto para uso prático no espaço. Ela argumentou que a validação alcançada até o momento fornece uma base para incorporar a saúde menstrual às arquiteturas de missão e para repensar como a autonomia em saúde é definida na exploração espacial.
 
 
Brazilian Space
 
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