O Plano Decenal de Cooperação Espacial Brasil-China
Olá leitor!
Segue abaixo um novo artigo do José Monserrat Filho postado
hoje (20/04) no site do “Jornal da Ciência” da SPBC destaque as negociações em
curso visando o “Plano Decenal de Cooperação Espacial Brasil-China” aprovado em
2011 pelos dois países.
Duda Falcão
Notícias
O Plano Decenal
de
Cooperação Espacial Brasil-China
José Monserrat
Filho*
20/04/2012
O
novo embaixador da China no Brasil, Li Jinzhang, ofereceu nesta quarta-feira
sua primeira recepção, para se apresentar ao mundo diplomático, político e
empresarial brasileiro, e também para apresentar o novo adido militar chinês, o
jovem General de Brigada Wang Xiaojun.
O
embaixador Li Jinzhang, de 58 anos, assumiu o cargo em 23 de janeiro último.
Antes de vir para o Brasil, era vice-ministro das Relações Exteriores e aqui
manterá o status de vice-ministro - nível atribuído hoje pelo governo chinês a
apenas 12 países. Serviu em Cuba de 1976 a 1980 e de 1990 a 1993, e na
Nicarágua de 1988 a 1990. Foi embaixador no México de 2001 a 2003. De volta à
China, trabalhou nos setores ligados às relações com a América Latina. Daí seu
fluente espanhol. Em 2006, assumiu o posto de vice-ministro, o terceiro na
hierarquia da chancelaria, depois do ministro e do vice-ministro executivo. Ele
presidiu, pelo lado chinês, duas reuniões do Diálogo Estratégico Brasil-China
(sobre a situação internacional), próprias para diplomatas com nível de vice-ministros,
uma com o embaixador Roberto Jaguaribe e a outra com a embaixadora Maria
Edileuza Fontenele Reis.
Em
seu discurso na recepção desta quarta-feira ele comemorou, com muito bom humor,
o alto nível de cooperação alcançado entre seu país e o Brasil, que tende a
crescer cada vez mais. Desde 2009, a China é o maior parceiro comercial do
Brasil. A ideia comum é ampliar em grande escala a cooperação em áreas
essenciais de ciência, tecnologia e inovação, como nanotecnologia,
biotecnologia, computação e tecnologias da informação e comunicação, e
políticas de inovação. Universidades chinesas deverão receber estudantes
brasileiros com base no Programa Ciência sem Fronteiras.
Cogita-se
de colaboração em áreas de considerável potencial, como mudanças climáticas,
energia nuclear, recursos hídricos, engenharias, ciências dos materiais e
recursos minerais - a China, como se sabe, é grande compradora de minerais
brasileiros; estima-se que ela logo responderá por 50% do consumo de metais
importantes como cobre, zinco, alumínio, níquel, estanho e chumbo; nos últimos
dez anos, seu consumo desses minérios pulou de 10% para 40%.
Brasil
e China também deverão trabalhar juntos na área de bambu, em pesquisa
científica, tecnologia industrial e agregação de valor. Será criado o Centro
Sino-Brasileiro de Tecnologia de Bambu, que certamente trará bons frutos à
nossa economia.
E
a cooperação espacial, como fica? Tudo começou por aí, na segunda metade dos anos
80, com a iniciativa pioneira do então ministro da Ciência e Tecnologia, Renato
Archer. Já temos o programa conjunto de satélites de recursos naturais da
Terra, que já lançou o CBERS-1, CBERS-2 e CBERS-2B, e deve lançar o CBERS-3 em
novembro próximo. Mas a intenção é ir muito mais além. Para tanto, surgiu a
proposta de elaborar um Plano Decenal de Cooperação Espacial, iniciativa
ambiciosa, mas perfeitamente viável e necessária, aprovada pelas altas
instâncias dos dois países em 2011. Em fevereiro deste ano, ficou acertado
criar um Grupo de Trabalho Técnico para preparar a proposta brasileira do
plano, que, com certeza, deverá incluir o desenvolvimento dos futuros satélites
da série CBERS e outros satélites, incluindo potenciais aplicações e técnicas
de calibração de sensores e geoprocessamento, coordenado pela Agência Espacial
Brasileira e pela Administração Nacional Espacial da China (CNSA).
Urge
agora efetivar essa providência. Em junho próximo, o primeiro-ministro da
China, Wen Jiabao, virá ao Brasil participar da Rio+20 e avistar-se com nossas
autoridades. Seria de todo conveniente que um primeiro esboço do plano ficasse
pronto por essa época. Há que acelerar o passo.
Eis
algumas outras ações que poderão integrar o plano:
-
Fortalecer a colaboração dos dois países, baseada no trabalho conjunto entre
Inpe CRESDA, para aumentar a distribuição internacional dos dados dos satélites
CBERS-03 e CBERS-04, com novas estações terrestres de recepção de seus dados,
visando ampliar as aplicações ambientais de monitoramento dos ecossistemas
terrestres e outras aplicações de interesse global.
-
Implementar o Programa CBERSs for Africa, colocando em prática os Memorandos de
Entendimento para a recepção de imagens do CBERS-3, assinados com a África do
Sul, a Espanha (para a implantação da Estação terrestre de Maspalomas, nas
Ilhas Canárias) e Egito (para a implantação da Estação de Aswan).
-
Elaborar e assinar o Memorando de Entendimento entre MCTI e CMA (Administração
Meteorológica da China) destinado a criar o Centro Brasil-China de Pesquisa
Meteorológica por Satélite, tendo como agências implementadoras o Inpe e o NSMC
(Centro Nacional de Satélites Meteorológicos da CMA).
-
Fortalecer o trabalho conjunto entre Inpe e CEODE (Centro de Observação da
Terra e da Geoinformação Digital) no mapeamento de aplicações para a
agricultura; no desenvolvimento de acesso aberto e gratuito de ferramentas
computacionais; na modelagem ambiental; nos sistemas de monitoramento de
desastres naturais e tecnologia espacial para o estudo das mudanças ambientais
globais.
-
Fortalecer a colaboração entre Inpe e CSSAR (Centro de Ciência Espacial e de
Pesquisa Aplicada), com a realização de observações conjuntas e estudos da
ionosfera e atmosfera média e alta em baixas latitudes.
-
Dar continuidade ao acordo que estabelece o apoio das estações terrestres do
Brasil aos voos tripulados das missões Shenzhou, em colaboração com o Centro
Chinês de Lançamento e Rastreamento (CLTC - China LaunchandTracking Center).
Essa
lista, claro, poderá ser mudada e/ou enriquecida com novos projetos. O
importante a frisar é que o Plano Decenal é oportunidade imperdível, que deve
ser aproveitada com o máximo empenho de parte a parte.
Tive
a grata chance de conversar a respeito com o embaixador Li Jinzhang, logo após
o seu discurso na recepção. Ele concordou sem pestanejar que esse é um assunto
de suma relevância para o futuro das relações sino-brasileiras. E também para o
presente - eu ousaria acrescentar.
*José Monserrat
Filho é chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da Agência Espacial
Brasileira. Artigo enviado ao JC Email pelo autor.
Fonte: Site do Jornal da Ciência de 20/04/2012
Comentário: Ora leitor, desde que abordamos aqui pela primeira
vez esse Plano Decenal (veja a nota “Brasil e China Estudarão Plano Espacial de 10 Anos”) e apesar de reconhecermos os
grandes benefícios que um plano/acordo com a China bem elaborado poderia trazer
ao nosso país, deixamos claro
que não acreditávamos que esse plano pudesse dar o retorno esperado devido à
falta de comprometimento do governo brasileiro para com o PEB. Além disso, defendemos
na época que o Brasil não podia e não deveria perder a oportunidade de elaborar
junto com a China um plano que realmente ao final dos dez anos trouxesse
benefícios reais que não ficassem restritos a visão estapafúrdia e opaca do
governo brasileiro, já que o universo de oportunidades abertas num eventual
acordo espacial com a China poderia ajudar a alavancar definitivamente o
programa espacial do país em diversas frentes, bastando para isso visão,
comprometimento e atitute. Lendo esse artigo do Sr. José Monserrat Filho,
percebo que mesmo que o plano seja implantado (aos trancos e barrancos e com
pouca possibilidade de êxito) os objetivos aqui apresentados, apesar de
relevantes, são extremamente tímidos em face ao universo de oportunidades que
poderiam ser estabelecidas entre os dois países, e vou ainda mais além, em
minha opinião, mesmo que esses tímidos objetivos sejam alcançados ao final dos
dez anos, muito provavelmente o grande ralo tecnológico que hoje separa os
dois países em favor da China será muito maior.
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