Falta de Profissionais Ameaça o Programa Espacial Brasileiro
Olá leitor!
Segue abaixo
mais uma matéria da jornalista Virgínia Silveira publicada hoje (05/04) no Jornal “Valor Econômico” destacando que a falta de profissionais ameaça o Programa Espacial Brasileiro.
Duda Falcão
Falta
de Profissionais Ameaça
o Programa Espacial Brasileiro
Virgínia
Silveira
Valor Econômico
05/04/2012
A recomposição do quadro de profissionais
para o programa espacial brasileiro é uma promessa antiga do governo, mas a
falta de uma ação mais efetiva tem provocado uma perda sistemática de recursos humanos
no setor, situação que vem piorando com a elevação da faixa etária dos
pesquisadores.
"Se não houver uma decisão neste ano,
as nossas projeções indicam que em 2020 o Departamento de Ciência e Tecnologia
Aeroespacial (DCTA) estará próximo de uma situação de colapso, reduzido a 26%
do efetivo que possuía em 1994", diz o diretor do órgão, brigadeiro Ailton
dos Santos Pohlmann. Segundo ele, a média de idade dos pesquisadores do
Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), responsável pelos principais projetos
espaciais do país na área de foguetes, é superior a 50 anos.
A perda de cérebros no programa espacial é
crescente e com a demora em abrir um novo concurso a situação só tende a
piorar. "A grande dificuldade daqui para a frente será treinar o pessoal
novo, pois os que detêm o conhecimento, adquirido em mais de 20 anos de
trabalho e estudos, já terão saído", alerta o presidente da Associação
Aeroespacial Brasileira (AAB), Paulo Moraes Jr.
O último concurso público autorizado pelo
governo para o DCTA foi feito em 2010, mas apenas 93 funcionários foram
contratados para atender a todo o órgão, que inclui 11 institutos de ensino e
pesquisa e dois centros de lançamento de foguetes. O déficit de pessoal hoje,
de acordo com o brigadeiro Pohlmann, é de mais de mil funcionários. Em 2011,
mais de 70 servidores deixaram o DCTA.
O lançamento do Veículo Lançador de Satélite
(VLS) mais uma vez será afetado pela falta de recursos humanos especializados.
"Desde 2003, quando aconteceu o acidente com o foguete na base espacial de
Alcântara e se perderam 21 especialistas, não houve reposição desse
pessoal", ressalta o brigadeiro.
O problema já foi relatado por diversas
vezes ao governo e mais recentemente, em fevereiro, a direção do DCTA enviou um
relatório ao Ministério da Defesa sinalizando que a situação ficará ainda mais
crítica com o projeto de duplicação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica
(ITA), projeto que conta com o apoio pessoal da presidente Dilma Rousseff.
A ampliação do ITA deverá ocorrer ao longo
dos próximos cinco anos, mas já em 2013 a escola vai oferecer o dobro das vagas
atuais, ou seja, 240. Atualmente, o ITA recebe 120 alunos por ano, mas de
acordo com o reitor, Carlos Américo Pacheco, cerca de 500 estudantes que
prestam o vestibular para o instituto, têm nota mínima para entrar. Este ano o
ITA recebeu um total de 9.400 inscrições, o que representou um aumento de 20%
em relação a 2011.
Para ampliar o número de vagas, o ITA também
precisará contratar 150 professores no período de cinco a seis anos e cobrir cerca
de 50 aposentadorias que deverão acontecer nesse período. A expansão do
instituto terá um custo de R$ 300 milhões e as obras estão previstas para
começar este ano.
"Não é possível duplicar o ITA se não
houver a reposição dos quadros. A ampliação da escola exigirá também um aumento
significativo na capacidade do DCTA de apoiar essa expansão, na parte de
pessoal (contratação de mais professores), infraestrutura de alojamento,
alimentação, laboratórios de pesquisa e segurança, entre outros", diz o brigadeiro
Pohlmann.
No Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE) a situação é mais grave na área de gestão, que em dez anos deve perder
70% do pessoal que trabalha no apoio às atividades finais do instituto, devido
às aposentadorias. O plano diretor do INPE para os anos de 2011 a 2015 mostra
que em 1989 a instituição tinha 1,6 mil servidores, sendo apenas 50 com mais de
20 anos de serviço. Passados 20 anos, o número de funcionários é de 1.131, dos
quais só 300 têm menos de 20 anos de casa. Atualmente, 72% dos engenheiros e
tecnologistas do INPE trabalham há mais de 20 anos na instituição.
A área de engenharia de satélites, que
recebe os principais recursos do orçamento do instituto também preocupa
bastante a direção do INPE. Segundo o coordenador de Gestão Tecnológica do
instituto, Marco Antônio Chamon, em cinco anos o número de funcionários desse
setor deverá cair de 132 para 89. "Em dez anos estimamos que esse número
esteja reduzido a 33 pessoas", afirma.
São essas mesmas pessoas que trabalham hoje
no ambicioso programa de satélites do INPE, que prevê lançar até 2014 três
satélites. Entre 2015 e 2020, estão previstos mais dois satélites em parceria
com a China, um em parceria com a Argentina, um satélite com a Agência Espacial
Americana (NASA) e três satélites nacionais.
"Não temos hoje condições de fazer dois
satélites ao mesmo tempo", afirma Chamon. O satélite CBERS-3, feito com a
China, segundo ele, será lançado no fim deste ano e desde fevereiro uma equipe
de 30 a 50 técnicos e engenheiros do INPE está no país para trabalhar na
integração e testes finais do satélite. "Eles ficarão por lá até o
lançamento do satélite e isso certamente reduziu o ritmo de trabalho de outros
projetos, pois não há substituto para esse tipo de especialista."
O Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação (MCTI) liberou a abertura de concurso público para a contratação de
107 servidores para o INPE em 2012, mas a instituição precisa de um mínimo de
400 contratações para repor especialistas em setores considerados estratégicos,
como meteorologia, controle de satélites, ciência espacial e engenharia de
satélites.
"Assim como nas universidades,
precisamos de mecanismos que nos permitam repor nossos quadros de maneira
sistemática, pois assim é possível preservar o conhecimento e transferi-lo aos
poucos", explica.
"Há oito anos que o sindicato vem
insistentemente cobrando as autoridades do governo federal sobre a contratação
urgente de servidores para o INPE e o DCTA. As poucas contratações que
aconteceram foram temporárias, o que na área de ciência e tecnologia chega a
ser uma estupidez," protesta o vice-presidente do Sindicato Nacional dos
Servidores Públicos Federais na Área de Ciência e Tecnologia do Setor
Aeroespacial (SindiCT), Fernando Morais Santos.
O Centro de Previsão do Tempo e Estudos
Climáticos do INPE (CPTEC), responsável pela produção de informações
meteorológicas diárias e climáticas, possui hoje um total de 148 funcionários.
Desses, cerca de 80 são contratados em regime temporário. "São atividades
que não podem parar e esse pessoal temporário só tem mais dois anos para ficar
no CPTEC", ressalta.
Entre os funcionários temporários do CPTEC,
segundo Chamon, existe um grupo de 15 programadores, responsáveis por manter o
supercomputador do centro em funcionamento, que encerram o contrato com a
instituição no segundo semestre deste ano. "Sem esse pessoal não tem como
fazer a previsão do tempo, pois são eles que colocam as informações que rodam
no supercomputador", afirma Chamon.
Recursos Escassos Ameaçam Projetos
A modernização da base de lançamento de
foguetes em Alcântara, no Maranhão e o desenvolvimento de veículos lançadores e
de satélites estão entre as prioridades do governo federal na área espacial.
Esses projetos já têm, inclusive, recursos garantidos da ordem de R$ 2,2 bilhões
até 2015, conforme previsto no plano plurianual 2012-2015.
Embora estejam na lista de prioridades de
investimentos, alguns projetos ainda sofrem com a insuficiência de recursos. Somados
à falta de especialistas em diversas áreas, os planos do governo nessa área
poderão ser afetados. O lançamento do foguete VLS (Veículo Lançador de
Satélite), por exemplo, que estava previsto para o início de 2013, deverá ser
adiado. "Para cumprir a meta de lançamento no ano que vem precisamos de R$
55 milhões e para este ano só temos disponível um pouco mais de R$ 16
milhões", revela o diretor do DCTA, brigadeiro Ailton dos Santos Pohlmann.
Os projetos que não estão na indústria, como
os foguetes, são os mais afetados pelos constantes contingenciamentos de
recursos e a falta de pessoal. "O setor de aerodinâmica de foguetes do
Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) já teve 18 especialistas. Hoje tem
apenas quatro", comenta o presidente da AAB, Paulo Moraes. O pesquisador,
que trabalha no IAE, ressalta que não está sendo formado um número suficiente
de engenheiros no Brasil para atender às novas iniciativas do governo, das
empresas de tecnologia e também a uma indústria de defesa em fase de crescimento.
Com 11 institutos e dois centros de
lançamento de foguetes, em Alcântara, no Maranhão, e em Natal (RN), o DCTA é o
órgão da Aeronáutica que executa e coordena os principais projetos do governo
na área de defesa. O programa de lançadores VLS e o Cruzeiro do Sul, que seria
uma nova geração de foguetes, são os mais conhecidos.
A lista de responsabilidades do DCTA, no
entanto, inclui ainda outros programas de vulto, como o da aeronave de
transporte militar KC-390, que está sendo desenvolvida pela Embraer, o processo
de seleção das novas aeronaves de combate F-X2 e de todos os mísseis utilizados
pela Força Aérea Brasileira (FAB), que hoje estão sendo produzidos pelas
empresas Mectron, controlada pelo grupo Odebrecht, e Avibrás.
O DCTA também coordena a compra de outras
aeronaves, como os 56 helicópteros que estão sendo adquiridos da Helibrás para
as Forças Armadas, os Super Tucano produzidos pela Embraer, a modernização da
frota de aeronaves F-5 e AMX e o desenvolvimento de veículos aéreos não
tripulados.
Fonte: Jornal
Valor Econômico - 05/04/2012 - Via NOTIMP da FAB
Comentário:
Parabenizo a bela jornalista Virgínia Silveira por mais essa grande e esclarecedora
matéria sobre a real situação do Programa Espacial Brasileiro e a verdadeira atitude
do governo DILMA para com o PEB. Caro leitor, se é o caso da ACS, o governo não
houve a comunidade científica, se é o caso da recomposição do quadro de profissionais para o PEB, o governo não se
mexe, se é caso da necessidade de aumento de recursos financeiros, da mesma
forma o governo não toma atitude, e por fim ainda usa a imagem do programa como
propaganda política passando para sociedade de que o mesmo é prioritário para o
governo. E vale dizer que esse procedimento vem ocorrendo há décadas e o
resultado não poderia ser outro. É preciso
fazer alguma coisa, esses energúmenos irão destruir o futuro da nação,
não só por causa do PEB, mas também pelo constante contingenciamento de
recursos do MCTI e do ME. Alguém tem de chegar firme junto a presidente DILMA Rousseff
chamando-a e a sua equipe econômica de aloprados na xinxa, literalmente cobrando
deles seriedade e compromisso para com a ciência, tecnologia e educação deste
país. Isso não é moeda política presidente DILMA, não se brinca de governo, ou
se governa ou passasse a bola para quem tem competência e compromisso com o
futuro da nação. A sociedade brasileira precisa se mobilizar, ir para ruas se
for o caso e liderar um movimento que cobre desses energúmenos atitudes
eficazes em todas as áreas e não maquiagem política visando sempre à manutenção
do poder. Precisamos de “Gente que Faz” em todos os níveis de governo, e não políticos
de carreira, enroladores de plantão, menestréis e corruptos. Caro leitor, note que segundo a matéria até mesmo a nova previsão de lançar o VLS-1 XVT-01 nos primeiros meses de 2013 já foi literalmente para espaço. Lamentável!
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