Por Que Investir no PEB?
Olá leitor!
Trago agora para você um interessante artigo-opinião
escrito pelo Diretor do SindCT, Gino Genaro, e postado na edição de fevereiro do “Jornal
do SindCT”.
Duda Falcão
CIÊNCIA & TECNOLOGIA
Opinião
Por Que Investir no PEB?
O que motiva as nações a financiarem os seus programas espaciais
é a busca
de autonomia no acesso e uso do espaço — e não a criação
de empregos
ou o fortalecimento de uma indústria espacial (ambos desejáveis)
Gino Genaro*
Jornal do SindCT
Edição nº 45
Fevereiro de 2016
O título deste artigo parece ser um questionamento
simples, mas a resposta não tem sido óbvia nem mesmo para os profissionais e
gestores públicos que atuam diretamente nas atividades espaciais no Brasil. Tal
fato pôde ser constatado em uma audiência pública realizada no Senado Federal
no dia 16 de fevereiro, chamada para se debater o tema “Desafios e perspectivas
do setor aeroespacial brasileiro”.
Participaram do evento representantes dos órgãos públicos
responsáveis pela política e execução das atividades espaciais no país, como a
Agência Espacial Brasileira (AEB), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE) e o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), bem como
representantes do setor industrial (Associação das Indústrias Aeroespaciais do
Brasil, AIAB) e das categorias de trabalhadores que atuam no setor, tanto na
área privada (Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos), quanto na
área pública (SindCT).
Partindo-se de um diagnóstico comum, segundo o qual o
Programa Espacial Brasileiro (PEB) não estaria recebendo o devido apoio e
atenção por parte do Estado, com falta de vagas para concursos públicos,
recursos financeiros em quantidade e regularidade aquém das necessidades para
se tocar os projetos planejados, falta de uma governança capaz de dar mais agilidade e eficiência ao andamento dos programas etc.,
os vários representantes do setor espacial presentes na audiência apresentaram
propostas e conclusões bastante diferenciadas acerca do que fazer para tornar o
PEB de fato um programa estratégico para o país.
Uma primeira divergência importante observada no debate
diz respeito à posição da AIAB sobre qual deveria ser o papel da indústria
nacional que atende ao PEB e o papel dos institutos públicos responsáveis pela
execução do Plano Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), a saber: INPE e
DCTA. Nas palavras de Walter Bartels, presidente da AIAB, “os institutos devem
preparar--se para fazer as licitações”, ou seja, “o instituto tem que fazer a
contratação geral, e a indústria tomar conta do que fazer e ser auditada pelo
instituto”. Trata-se de uma visão totalmente empresarial, corporativista, sem
qualquer compromisso com o desenvolvimento do PEB.
É claro que a indústria nacional tem seu papel no
desenvolvimento e fabricação de muitos dos subsistemas que compõem os foguetes
e satélites, e que a produção é uma atribuição mais da indústria do que dos
institutos públicos de pesquisa. No entanto, relegar a estes institutos o mero papel
de lançar editais de licitação e fiscalizar contratos executados pela indústria
é algo totalmente equivocado. Cabe ao INPE e DCTA cuidar da pesquisa e
desenvolvimento de novas tecnologias, buscar a fronteira do conhecimento em
cada área estudada, tanto na ciência pura, quanto aplicada.
Razão de Ser
Outra divergência observada diz respeito às razões que
justificariam o investimento, pelo governo, dos recursos humanos e financeiros
necessários ao PEB, de modo a fazer dele um programa estratégico. Na opinião do
diretor do INPE, Leonel Perondi, o desenvolvimento do PEB deveria estar
vinculado ao “estabelecimento de uma indústria espacial brasileira”, na medida
em que o mercado de sistemas e artefatos espaciais gira atualmente cerca de US$
300 bilhões em todo o mundo. Assim, segundo Perondi, uma indústria espacial
brasileira forte e desenvolvida poderia disputar pelo menos parte desta fatia
do mercado, gerando empregos de alta qualidade e fortalecendo nosso parque
industrial de produtos de alta tecnologia.
Portanto, de acordo com este raciocínio, a principal
razão para que o governo invista no PEB seria a busca do desenvolvimento de uma
“indústria espacial brasileira”, quando
na verdade a criação e o fortalecimento desta indústria deveria ser o subproduto
de algo maior, mais importante e mais estratégico: a conquista dos meios e da
tecnologia necessários para que o país atinja sua plena autonomia de acesso ao
espaço.
A busca de autonomia no acesso e uso do espaço é o que
motiva 100% das nações a investirem pesadamente em seus programas espaciais, e
não a busca pela criação de empregos e fortalecimento industrial (embora estes
sejam desejáveis). Até porque, se o objetivo for buscar, acima de tudo, o
desenvolvimento da indústria de alta tecnologia, gerando empregos de alta
qualidade, há outros setores mais rentáveis, que geram mais empregos e possuem
cadeia produtiva muito mais ampla, nos quais o governo poderia investir, como a
indústria farmacêutica ou a própria indústria aeronáutica.
Por fim, cabe destacar as opiniões apresentadas pelo principal
responsável oficial pelo planejamento e gestão do PEB: José Raimundo Braga
Coelho, presidente da AEB. Em um discurso bastante formal, por escrito, Coelho
apresentou um enorme rol de atividades levadas a cabo pela agência nos últimos
anos. O que chamou atenção é que todas foram apresentadas como se estivessem
sendo implementadas sem qualquer problema ou contratempo.
É o caso do satélite Sabiá-Mar (parceria
Brasil--Argentina), em que, nas palavras de Coelho, “cada parte arcará com suas
próprias despesas em função das responsabilidades assumidas, sendo que as
responsabilidades deverão ser estabelecidas de tal forma que os custos sejam
igualmente divididos entre elas”. No entanto, sabe-se que os países concluíram
a Fase A deste projeto, mas logo em seguida o Brasil o abandonou, deixando de
alocar os recursos necessários à implementação das fases seguintes.
A Plataforma Multimissão (PMM), que segundo Coelho “é um
conceito moderno em relação à arquitetura de satélites”, é outro projeto da AEB que vem apresentando
dificuldades de toda ordem e enormes atrasos em seu cronograma de
desenvolvimento, nenhum deles mencionado por ele na audiência. Criado em 2001,
este satélite deveria ter inaugurado sua primeira missão em 2006-2007. No
entanto, passados 15 anos, nenhum lançamento foi ainda realizado com base neste
projeto.
Apesar dos discursos oficiais muitas vezes descasados da
realidade concreta, ainda assim audiências públicas como esta são importantes
para se pautar a importância estratégica do PEB para o país, alertando
parlamentares e governo para a necessidade de se tratar o assunto como uma política
de Estado.
*Gino Genaro é especialista do INPE na área de
controle térmico de satélites e diretor do SindCT
Fonte: Jornal do SindCT - Edição 45ª - Fevereiro de 2016
Comentário: Interessante a visão do diretor do SindCT,
especialmente em relação ao motivo que segundo ele leva nações a investir em
atividades espaciais, porém ele finaliza seu artigo ingenuamente acreditando
que eventos como estas audiências públicas contribuem para alertar
parlamentares e governo da necessidade de se tratar este assunto como uma política
de Estado. Acorda Sr. Gino Gerano, o único real interesse desses vermes é saquear
a nação. Estas Audiências só servem para passar a imagem fantasiosa aos interessados como o senhor de que o Congresso está se mobilizando, já que para a Sociedade Brasileira (desinteressada e ignorante no assunto) a mesma tem pouca visibilidade e evidentemente quase nenhuma cobrança. Muito mais impacto teria se todos do setor se unisse e realiza-se uma grande manifestação em frente do Congresso e do Palácio do Governo, ai não só chamaria a atenção da Sociedade, como também da mídia nacional e internacional, e evidentemente, tiraria esses vendedores de ilusão da 'Zona de Conforto' que se encontra no momento, aproveitando-se da ingenuidade e cozinhando vocês em banho maria. Quando vocês irão se convencer que não estão lidando com verdadeiros parlamentares e sim com posudos, vendedores de ilusões, raposas escorregadias e em sua grande maioria corruptos? O que será que esses energúmenos terão ainda de fazer para que vocês acordem?
Comentários
Postar um comentário