Comitê de Busca “Autoindicado” Quer Diretor Que Transforme INPE em “Organização Social”
Olá leitor!
Trago agora para você uma matéria postado na edição
de fevereiro do “Jornal do SindCT”, destacando que Comitê de
Busca quer diretor escolhido transforme o INPE em “Organização Social”.
Duda Falcão
CIÊNCIA & TECNOLOGIA
Obsessivo, Raupp tenta controlar sucessão e definir
futuro do instituto
Comitê de Busca “Autoindicado” Quer Diretor
Que Transforme
INPE em “Organização Social”
Regimento Interno do INPE concede ao Conselho Técnico
Científico (CTC) a
prerrogativa de pedir ao MCTI que instaure o Comitê de
Busca.
O ministro Pansera atropelou a norma para atender lobby
Shirley Marciano
Jornal do SindCT
Edição nº 45
Fevereiro de 2016
Foto: Felipe Christ/Unicamp e EBC
Cerqueira Leite (CNPEM) e Helena Nader (SBPC): lobby deu
certo.
Foi prorrogada de 4 de março, data original, para 24 de
março a data final para entrega dos currículos dos interessados em candidatar-se
ao cargo de diretor(a) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) para
os próximos quatro anos. A etapa seguinte é uma exposição oral pública, pelos
candidatos, das suas respectivas propostas. Posteriormente, o Comitê de Busca
entrevistará os candidatos, separadamente. Por fim, o Comitê de Busca entregará
ao ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Celso Pansera, uma lista de três
nomes em ordem classificatória, a qual é definida pelos próprios membros do
Comitê. Por tradição, os ministros têm optado pelo primeiro da lista.
Os membros do Comitê foram nomeados pelo ministro em
edital publicado no dia 29 de janeiro no Diário Oficial da União (D.O.U): Marco
Antônio Raupp (presidente), do Parque Tecnológico de São José dos Campos;
Rogério Cézar de Cerqueira Leite, presidente do Conselho de Administração da
“organização social” Centro Nacional de Pesquisa em Energia de Materiais
(CNPEM), de Campinas; Helena Nader, presidenta da Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência (SBPC); Reginaldo dos Santos, presidente da empresa
binacional Alcantara Cyclone Space (ACS, em processo de extinção), e igualmente
membro do Conselho de Administração do CNPEM; Luiz Bevilacqua, ex-presidente da
Agência Espacial Brasileira (AEB) e professor da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ).
De acordo com o Regimento Interno do INPE, a prerrogativa
de formalizar o pedido de instauração do Comitê de Busca é do Conselho Técnico
Científico (CTC) do instituto: “Art. 8º O Diretor será nomeado a partir de
lista tríplice elaborada por Comitê de Busca (...). § 1º Observadas as
prerrogativas do Ministro de Estado (...), faltando seis meses para completar
efetivos quarenta e oito meses de exercício, o Conselho Técnico-Científico -
CTC encaminhará ao MCTI a solicitação de instauração de um Comitê de Busca para
indicação de um novo Diretor”.
Porém, dessa vez foi diferente. Raupp, Helena Nader e
Cerqueira Leite foram diretamente fazer lobby no Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação (MCTI). A manobra deu certo: o ministro Pansera atropelou
o Regimento (e a direção atual) e encaminhou as medidas almejadas pelos
lobistas.
A presidenta da SBPC faz parte do CTC, embora não tenha
comparecido no dia de sua posse. Contudo, ela não foi ao MCTI em nome do
conselho e sim por seus próprios interesses. É fácil saber por que o CTC foi
deixado de lado: quem o preside é o diretor do INPE, que foi ignorado pelo
ministro e só ficou sabendo da conspiração quando a cria- ção do Comitê de
Busca foi publicada no D.O.U.
Monopólio
Corre-se o risco de que, mais uma vez, Marco Antônio
Raupp decida o futuro do INPE, agora para o quadriênio 2016-2019. Mas sua
história com o órgão já vem de longa data. Ele foi diretor do instituto de 1985
a 1989. Afastou- -se para se dedicar ao Laboratório Nacional de Computação
Científica (LNCC), mas depois de alguns anos voltou a disputar influência no
instituto.
Em 2005, Raupp fez parte do Comitê de Busca que escolheu
Gilberto Câmara para diretor, o qual foi reconduzido em 2009 pelo próprio
Raupp, desta vez na condição de presidente do Comitê. Depois que Câmara pediu
demissão, em 2011, foi preciso formar um novo Comitê, que elegeu o atual
diretor, Leonel Perondi, escolhido pelo então ministro do MCTI, Aloizio
Mercadante — embora a nomeação oficial tenha sido feita por Raupp, pois ocorreu
num período de transição entre eles. Em 2014, devido a uma minirreforma
política do governo, Raupp foi exonerado do MCTI. Logo em seguida, assumiu o
Parque Tecnológico.
O que se questiona não é seu currículo, mas o monopólio
decisório quanto aos rumos do INPE, bem como sua concepção de governo. Em suas
passagens pelos principais cargos do setor, Raupp não resolveu as questões do
INPE, ao contrário: sua atuação foi frustrante em diversos aspectos. Quando
presidia a AEB, dois diretores do instituto pediram demissão por não suportar a
falta de comprometimento do governo com o Programa Espacial Brasileiro (PEB).
As agruras por que passa o instituto continuam as mesmas: baixo investimento,
falta de recursos humanos e tantas outras sempre denunciadas pelo SindCT.
Hoje, o objetivo do ex- -ministro e de sua “tropa de
choque” (Nader, Cerqueira Leite e outros) é escolher um diretor capaz de
“organizar o meio de campo” para transformar o INPE numa “Organização Social”
(OS), ou seja, privatizar o instituto, como se essa fosse a solução milagrosa
para todos os males.
Na verdade, é sabido que foram criadas dificuldades para
que, agora, sejam vendidas supostas facilidades. E o entra-e-sai de ministros
no MCTI não impede que Raupp continue a exercer a condição de “grande eleitor”
do setor espacial, à revelia da comunidade que “carrega o piano” e toca o
trabalho cotidiano no INPE.
Fonte: Jornal do SindCT - Edição 45ª - Fevereiro de 2016
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