Modelo de Governança Divide Opiniões, Mas AEB e DCTA Convergem ao Anunciar “Morte” do VLS
Olá leitor!
Trago agora para você uma matéria postado na edição
de fevereiro do “Jornal do SindCT”, destacando que durante a Audiência
Publica sobre o PEB em Brasília ocorrida em Fevereiro passado, o Modelo de Governança
dividiu opiniões, mas AEB e o DCTA convergiram ao anunciar a “Morte” do VLS.
Duda Falcão
CIÊNCIA & TECNOLOGIA
Comunidade questiona: que programa espacial o governo
brasileiro deseja?
Modelo de Governança Divide Opiniões,
Mas AEB e DCTA Convergem ao
Anunciar “Morte” do VLS
Na audiência realizada em 16 de fevereiro pela CCT do
Senado,
Gino Genaro, representante do SindCT, defendeu a posição
de que as
atividades do PEB deveriam ser executadas por civis e não
pela Aeronáutica
Shirley Marciano
Jornal do SindCT
Edição nº 45
Fevereiro de 2016
Fotos: Shirley Marciano
Leonel Perondi, diretor do INPE, faz sua exposição
na
audiência pública da CCT.
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No dia 16 de fevereiro a Comissão de Ciência, Tecnologia,
Inovação, Comunicação e Informática (CCT) do Senado Federal realizou uma nova
Audiência Pública sobre o Programa Espacial Brasileiro (PEB), na qual diversas
pessoas ligadas ao setor puderam manifestar-se. Os expositores apresentaram
dados alarmantes, que situam o PEB numa condição de extremo abandono. Foram
mencionados problemas de toda ordem: falta de recursos humanos, baixo
orçamento, descontinuidade dos recursos, problemas de governança, iminente falência
das empresas do setor por falta de projetos.
Participaram da Audiência Pública o presidente da Agência
Espacial Brasileira (AEB), José Raimundo Braga Coelho; o diretor geral do
Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), brigadeiro do ar
Alvani Adão da Silva; o diretor do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE), Leonel Fernando Perondi; o
presidente da Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB), Walter
Bartels; o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Antônio
Ferreira de Barros (Macapá); e o diretor de Comunicação do Sindicato Nacional
dos Servidores Públicos Federais na Área de Ciência e Tecnologia do Setor
Aeroespacial (SindCT), Gino Genaro.
Os trabalhos foram conduzidos pelo presidente da CCT,
senador Cristovam Buarque (PPS-DF), e contaram ainda com a participação do
senador Lasier Martins (PDT--RS), autor do requerimento de realização da
audiência. Embora heterogênea, a mesa revelou avaliações coincidentes em alguns
pontos.
Recursos Humanos
É necessário recompor os quadros do INPE, do DCTA e
chamar os 66 concursados para a AEB: até o presente momento a agência não teve
autorização para contratá-los. O INPE possui um pedido junto ao Ministério do Planejamento
de 400 novos servidores, mas até o momento o governo não autorizou a abertura
de vagas. No DCTA o problema se repete. “Vemos como ameaça a política
desfavorável de recursos humanos. Temos grandes dificuldades de recursos
humanosno DCTA”, declarou o brigadeiro Alvani na audiência.
“Hoje, você tem mais da metade de [servidores]
aposentados ou que já têm pleno direito de cumprir os seus requisitos de
aposentadoria. No DCTA, nós tínhamos, em 1987, 3.929 servidores; em 2012,
caíram para 1.700. O INPE já teve 1.800 servidores na década de 1980, [o
número] caiu para 972 agora e, a continuar nesse ritmo, vamos
perder muito mais”, advertiu Genaro, do SindCT.
A crise do PEB também afeta a força de trabalho ocupada
na iniciativa privada. O representante da AIAB disse que a indústria está
correndo risco de falência em decorrência da falta de projetos. “Uma década sem
contratação causa interrupção das atividades da indústria, vai haver uma
extinção de expressiva parcela de conhecimento acumulado na área, a perda da
mão-de-obra de altíssima qualificação”, explicou Bartels.
Perondi, do INPE, reforçou as preocupações do
representante do segmento industrial: “Tenho recebido os diretores e
presidentes dessa indústria e vejo que a situação é de quebra. Ela está
insolvente, com praticamente quatro anos sem novas contratações”.
Baixo Orçamento
Até 2013 o Brasil tinha cerca de US$ 150 milhões anuais
para aplicar no PEB, o equivalente, considerando- -se a cotação da época, a R$ 300
milhões. Para 2016, a situação está ainda pior: o orçamento é de apenas R$ 183
milhões (redução de 46%), e pode vir a sofrer cortes durante o ano. O Brasil
investe pouco e, diferentemente de seus três grandes parceiros dos BRIC (China,
Índia e Rússia), não dispõe de acesso autônomo ao espaço.
Mas, para efeito de comparações, o exemplo recorrente
durante o evento foi o da vizinha Argentina, que hoje é o país mais avançado na
atividade espacial na América Latina, segundo os participantes da audiência. Os
argentinos investiram US$ 1,3 bilhão no programa espacial em 2013. São capazes
de projetar, fabricar, montar e testar satélites, e lançaram dois satélites
geoestacionários num período de 11 meses, o ARSAT-1 e 2.
O Brasil, para adquirir seu satélite desse tipo, criou a joint-venture
Visiona (49%
Telebrás e 51% Embraer) e comprou integralmente um
satélite da empresa francesa Thales Alenia. “Tudo bem que o governo decida por comprar
inteiramente no estrangeiro um satélite geoestacionário operacional para atender
às demandas de telecomunicações do país, mas o que ele não pode é creditá-lo no
PEB, como se fosse investimento e desenvolvimento do nosso programa espacial”, indignou-se
Genaro.
“É necessário reconhecer que o orçamento hoje destinado às
atividades espaciais brasileiras é muito reduzido, tanto em termos absolutos
quanto em termos relativos, quando comparado ao de outras nações com economia
de porte semelhante ao da nossa”, afirmou José Raimundo. “Os orçamentos são insuficientes
e inconstantes”, acrescentou Alvani.
Ao Jornal do SindCT, o brigadeiro disse entender
que “deve se buscar um programa nacional com mais credibilidade, um orçamento
com maior previsibilidade”, caso contrário “não se consegue reter os técnicos,
seja dos institutos ou das empresas, levando, por consequência, a um ambiente
de incertezas”.
Governança (1)
Embora todos os expositores apontem problemas de
governança, há diferenças profundas de avaliação sobre a natureza destes
problemas e sobre quais soluções devem ser adotadas. O presidente da AEB
perfilou-se no grupo que tem defendido um modelo de gestão mais flexível para
os órgãos públicos ligados ao PEB, por exemplo, com mais liberdade para se
contratar e demitir pessoal, ou na aquisição de serviços e produtos, na mesma
linha preconizada pelos defensores das chamadas “Organizações Sociais” (OS),
liderada pelo ex-diretor do INPE e ex-ministro Marco Antonio Raupp.
“É necessário reconhecer que, a despeito dos esforços
pelo aperfeiçoamento do marco legal que rege as atividades de pesquisa e desenvolvimento,
as instituições públicas executoras dos projetos continuam sufocadas pela
burocracia, pelas incertezas jurídicas, pelo temor dos administradores frente
aos órgãos de controle”, afirmou José Raimundo.
Exposição de Gino Genaro, diretor do SindCT.
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O diretor do DCTA tem visão diferente. A seu ver, os
problemas não estão nos órgãos executores. Ele defendeu os pontos de vista do
Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) do setor espacial, que tem a ambiciosa
meta de rever toda a atividade espacial do país, inclusive do seu “modelo de
governança” (conforme a Portaria Interministerial 2.151/15, diretriz I). Compõem
o GTI membros indicados pelas direções do DCTA e INPE.
“Em termos de reorganização, trabalhamos com uma proposta
a ser levada à AEB e aos dois ministros [Defesa e Ciência, Tecnologia e
Inovação], contendo basicamente sugestões para rever o modelo de governança,
talvez com a ideia de se criar um Conselho Nacional de Espaço, com nível de
ministros e com acesso mais direto à Presidência da República; e definir o PEB
como um programa de Estado estratégico para a defesa e o desenvolvimento do
País”, expôs o diretor do DCTA.
Surpreendentemente, a principal gestora do PEB, a AEB,
foi excluída do GTI Espacial. “Eu posso dizer que não estou conformado, mas
aceito isso como alternativa”, desabafou
José
Raimundo à repórter do Jornal do SindCT. Na audiência, porém, o
presidente da agência não se manifestou sobre essa desconfortável situação.
Já o representante do SindCT ressaltou que os problemas
de governança do PEB passam, antes de tudo, pela própria incapacidade da AEB,
como órgão máximo de assessoramento do governo e condução das atividades
espaciais no país, em resolver os problemas do setor. “Nós acreditamos que a
AEB é a primeira responsável pelo programa espacial. Assim, quando o país entra
em um barco furado como foi a criação da Alcantara Cyclone Space (ACS), ou
quando entramos e saímos de forma errada da cooperação em torno da Estação
Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), gastando rios de dinheiro e
desistindo no meio do caminho, são erros,
acima de tudo, da AEB. Afinal, ela foi criada para dar
suporte à Presidência da República nos assuntos da área espacial, e esse
assessoramento, muitas vezes, é feito de maneira equivocada”, declarou Genaro.
Governança (2)
A exposição do brigadeiro Alvani sugeriu que o problema
de governança, na visão dos membros do GTI (onde predomina a influência do Alto
Comando da Aeronáutica), está sobretudo no alto escalão decisório, daí a proposta de se
criar um conselho diretamente vinculado à Presidência da República. A conclusão
é de que, com a AEB subordinada ao MCTI, seria necessária uma instância
diretamente ligada à Presidência da República para que o PEB fosse tratado como
um programa de Estado.
O representante do SindCT, por sua vez, reconheceu que
problemas importantes como a falta de pessoal e de recursos financeiros para o
PEB, mesmo que ainda não equacionados, deixaram de ser o principal entrave para
o avanço do setor espacial no país. “Hoje, acima de tudo, o que se espera do
Estado brasileiro é uma posição clara do que pretende do seu programa espacial.
Da forma como está, sem uma estratégia bem definida, sem uma definição de quais
devam ser os projetos prioritários, sem uma revisão do papel da AEB, nem mesmo
colocando mais gente e dinheiro no PEB o problema será resolvido”, concluiu
Genaro.
O representante do SindCT ressaltou ainda a importância
de o governo transformar o PEB em um programa verdadeiramente civil. Segundo
Genaro, a AEB foi criada em 1994 para dar um recado ao mundo de que o Brasil
teria um programa espacial civil. Porém, é difícil a comunidade internacional
acreditar nisso quando todo o programa de foguetes é executado dentro de um
quartel da Aeronáutica. “Os militares têm um papel fundamental no
desenvolvimento de tecnologias, por exemplo, de toda a parte bélica, mas o
programa de foguetes lançadores de satélite civil tem que ser conduzido por
civis. Apenas criar uma agência espacial civil e dizer que o programa é civil, ninguém
acredita, certo?”, questionou Genaro.
Outro aspecto destacado na audiência foi com respeito
respeito aos motivos que deveriam levar o governo a dispensar mais atenção e
recursos no programa espacial. Na visão do diretor do INPE, “o País ainda pode
almejar ser um ator na futura indústria espacial mundial, gerando oportunidades
de renda e divisas. [Para isso,] há a necessidade de ações urgentes, sendo a principal
a contratação imediata de sistemas espaciais na indústria nacional, de modo a
manter e ampliar a capacitação já existente no setor”.
Nova Prioridade?
A “morte”
do projeto Veículo Lançador de Satélites (VLS) foi anunciada, na audiência,
pelas autoridades do setor espacial. “No estágio em que nos encontramos hoje
com relação à conquista dos meios de acesso ao espaço, consideramos que o VLS
tenha sido um projeto de validação de tecnologias críticas e capacitação de
recursos humanos. A maior prioridade da área de lançadores hoje destina- se ao Veículo Lançador de
Microssatélites (VLM)”, disse José Raimundo.
O diretor do DCTA concordou: “Entendemos que o VLS já
cumpriu o seu papel de desenvolver tecnologia, formação de quadros, preparação
do centro de lançamento. E hoje, efetivamente, a nossa prioridade é o VLM”.
Tais afirmações foram rebatidas, na própria audiência, por
Genaro, do SindCT: “Nós acreditamos que [o VLS] não se encerrou. Nós fizemos três
voos desse foguete, dos quais o terceiro nem foi propriamente um voo, porque
houve o acidente com a morte de 21 técnicos em Alcântara, em 2003. E, desde
então, 13 anos depois, nunca mais fizemos um voo teste desse protótipo, quando
o correto, nessa área, seria haver inúmeros lançamentos, de forma continuada”, protestou o
sindicalista.
OPINIÃO
Deprimente Abandono do VLS
Chega a ser deprimente a forma como o programa VLS teve
seu fim anunciado pelas autoridades responsáveis por sua consecução. Após mais de
três décadas de trabalho, envolvendo centenas de técnicos e engenheiros do DCTA
e das indústrias que atendem ao setor, o programa é dado como encerrado sem que
sua conclusão tenha ocorrido. Pior, o anúncio foi feito em uma audiência
pública do Senado, sem que os próprios profissionais envolvidos no projeto
tivessem sido previamente informados. A sociedade bem que mereceria uma
satisfação em relação aos recursos gastos no programa, especialmente nos
últimos 13 anos, quando o projeto do foguete foi totalmente revisto após o
acidente de 2003.
Fonte: Jornal do SindCT - Edição 45ª - Fevereiro de 2016
Comentário: Não me alongarei dando minha opinião sobre
esta patética Audiência Pública. Para mim pura perda de tempo, pois não
resultará em nada de prático, como aliás nunca resultou. Todo inicio de ano é a
mesma coisa e ano seguinte se repetirá. Pura palhaçada. Quanto ao fim do Programa VLS, grande novidade. Faça-me uma garapa.
Resumindo: que governo de bosta que temos.
ResponderExcluirNa minha concepção pra reformular o PEB, o INPE deveria ser incorporado a AEB, essa virando uma O.S. e subordinada diretamente a Presidência da Republica. Livraria das licitações burocráticas e concursos públicos minguados de meia dúzia de engenheiros e técnicos.Tornaria a Visiona uma empresa integradora, assim como a INVAP argentina, focando o INPE para sua essencial missão 'pesquisa espacial", produção de cargas úteis etc. O IAE seria desmembrado em dois, a parte cívil seria incorporada a AEB e a parte militar continuaria no DCTA. No Novo IAE o projeto chave seria o VLM, construído de forma modular, capaz de ao longos dos anos ser incrementado. Ja concebido no século XXI, de forma que tornaria uma nova família de foguetes. Ou o VLM para micorsateliites e O VLS - Alfa para satélites do porte da PMM. Nesse caso também tornaria a Avibrás a integradora nessa área.
Resumindo: teriamos uma super AEB, na forma de O.S., subordinada diretamente a presidencia da republica, com o INPE e o IAE civil subornidanos a ela, pautado nas duas integradoras nacionais, a Visiona para satelites de observação, comunicação e a Avibrás para os foguetes.