Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) Sugere a Criação do Conselho Nacional do Espaço
Olá leitor!
Trago agora para você uma interessante matéria postada na
edição de fevereiro do “Jornal do SindCT”, destacando que o Grupo
de Trabalho Interministerial (GTI) está sugerindo a criação de um Conselho
Nacional do Espaço.
Duda Falcão
CIÊNCIA & TECNOLOGIA
Metas ambiciosas, prazo curto, resultados magros
Grupo de Trabalho Interministerial Sugere
a Criação do
Conselho Nacional do Espaço
Shirley Marciano
Jornal do SindCT
Edição nº 45
Fevereiro de 2016
Foto: DCTA
Brigadeiro Alvani, diretor-geral do DCTA. |
Criado pela Portaria 2.151, de 2 de outubro de 2015, o
Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), que reúne as pastas da Defesa e da
Ciência, Tecnologia e Inovação, foi composto por meio de indicações dos dois
órgãos executores do Programa Espacial Brasileiro (PEB): INPE e DCTA. A missão
do GTI Espacial é ambiciosa, abrangendo praticamente tudo que diz respeito ao
setor, mas os prazos fixados foram curtos demais frente às dimensões da tarefa.
O relatório final deveria ter sido entregue em 31 de
dezembro de 2015, conforme definido na portaria 2.151, mas isso não ocorreu até
o fechamento desta edição do Jornal do SindCT. A reportagem
soube, extraoficialmente, que o documento não teria ido além de definir diretrizes.
Não houve aprofundamento de nenhuma das questões que eram objeto dos trabalhos
do GTI Espacial.
A ideia declarada, contudo, envolvia nada menos do que
apresentar propostas que visem resolver os maiores gargalos do setor: um novo
modelo de governança; um novo modelo de contratação de pessoal e de aquisição
de bens, serviços e obras; a revisão do Programa Nacional de Atividades Espaciais
(PNAE 2016-2025); a criação de um “projeto Mobilizador” para os próximos cinco anos, que inclua as
indústrias, e que tenha por meta uma Missão Completa brasileira: lançador,
satélite, centro de lançamento e centros de operações terrestres.
Durante a audiência realizada no Senado, o brigadeiro
Alvani Adão da Silva, diretor-geral do DCTA, antecipou parte do que foi
discutido no GTI. A principal novidade seria a criação do Conselho Nacional de
Espaço, de nível ministerial e “com acesso mais direto à Presidência da República” (veja p. 4).
Exclusão da AEB
A forma de composição do GTI tem sido contestada, por não
permitir maior participação da comunidade (por exemplo por meio de audiências
nas quais os servidores pudessem manifestar-se) e por excluir a Agência
Espacial Brasileira (AEB). “Inicialmente, quando tomamos conhecimento, ficamos
muito ressentidos. Depois começamos a pensar melhor, e hoje eu tenho um
posicionamento completamente diferente. Qualquer iniciativa que vier para o bem
do PEB será aceita”, declara José Raimundo Coelho,
presidente da agência, ao Jornal do SindCT, em tom diplomático.
“Nós temos um conselho que discute o PNAE e ele está
aberto para receber sugestões de todos os tipos. Portanto, [isso inclui]
sugestões desse grupo criado por uma portaria interministerial. Seria natural
que a AEB participasse das discussões, não necessariamente para comandar as
discussões. Porém, por lei, as decisões têm que ser tomadas dentro do ambiente
da AEB. Posso dizer que não estou conformado, mas aceito isso como alternativa”,
acrescenta.
“A ideia é fazer um levantamento de propostas a serem
apresentadas à AEB e também aos ministérios da Defesa e da Ciência, Tecnologia e
Inovação. O intuito está correto, porque é uma contribuição de dois órgãos,
DCTA e INPE, sob a visão de quem executa o Programa Espacial”, alega Leonel
Perondi, diretor do INPE.
Porém, a ausência da AEB sugere algumas reflexões. Parece
que existem dois grupos distintos dispostos a tomar a frente das definições do
PEB. De um lado os defensores de “Organizações Sociais” (OS), como o ex-ministro Marco Antônio Raupp e o
presidente da AEB, para os quais o problema de governança reside nos executores
(INPE e DCTA). Do outro lado estariam as direções do INPE e do DCTA e os
membros do GTI, por elas indicados.
Nesta linha de raciocínio, o Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação teria dado uma “arma” para cada grupo: aos membros do
GTI, o poder de formular eventuais mudanças no PEB; ao presidente do Comitê de
Busca, o poder de escolha do diretor do INPE para o próximo quadriênio (2016-2019).
Prioridades
O PEB vem atravessando momentos difíceis por falta de
verbas para o setor. Mas seria um engano atribuir a redução do investimento
estatal à crise econômica ou a eventuais dificuldades financeiras do governo.
Em épocas passadas, quando o país ainda não figurava entre as dez maiores
economias do mundo, houve uma aplicação de recursos no setor comparativamente maior
do que a registrada nos anos recentes.
Trocando em miúdos, é tudo uma questão de escolha de
prioridades. “Na década de 1980 foi investido muito no desenvolvimento do setor
aeronáutico e espacial, tanto que toda a infraestrutura e mão de obra qualificada
que temos hoje são resultantes dessas decisões tomadas pelo governo à época”,
lembra Perondi.
Embora parecesse ser uma iniciativa louvável do governo
com o objetivo de dar ao programa espacial o valor estratégico que ele
representa, o GTI Espacial acabou desprestigiado pelo próprio governo que o
criou, ao não observar os prazos para designação formal dos membros do
colegiado. Desse modo, o GTI trabalhou de maneira informal, envolvendo poucas
pessoas e sem consultar o conjunto dos servidores que tocam as atividades
espaciais no país, chegando a conclusões superficiais e apresentando propostas
muito aquém das necessárias à solução dos enormes problemas por que passa o
PEB.
Fonte: Jornal do SindCT - Edição 45ª - Fevereiro de 2016
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