Físicos Brasileiros Propõem Modelo Experimental Para Detectar Férmion de Majorana
Olá leitor!
Segue abaixo uma notícia postada hoje (17/11) no site da “Agência
FAPESP” destacando que Físicos Brasileiros propõem Modelo Experimental para
detectar Férmion de Majorana.
Duda Falcão
Notícias
Físicos Brasileiros Propõem Modelo
Experimental Para
Detectar
Férmion de Majorana
Por José Tadeu Arantes
17 de novembro de 2014
(Imagens: Antonio Carlos Ferreira Seridonio)
Journal of Applied Physics traz
artigo descrevendo um possível
experimento para detectar a partícula proposta
pelo físico italiano
Ettore Majorana, que foi comparado a Isaac Newton por
Enrico Fermi .
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Agência FAPESP –
Em 1938, Ettore Majorana, um físico italiano de 31 anos, desapareceu sem deixar
vestígios. Seu orientador, Enrico Fermi, que naquele mesmo ano ganhou o prêmio
Nobel de Física, o comparou ao inglês Isaac Newton (1643-1727), posicionando-o
vários degraus acima dos maiores expoentes de uma época fértil em gênios
científicos.
As habilidades
matemáticas de Majorana eram prodigiosas. Costumava esboçar proposições
teóricas sofisticadas em maços de cigarro, que, depois, amassava e jogava fora,
classificando aqueles escritos como pueris. Em março de 1932, propôs, alguns
meses antes do alemão Werner Heisenberg (1901-1976), um modelo do núcleo
atômico como constituído por prótons e nêutrons. Mas, apesar da insistência de
Fermi, recusou-se a publicar qualquer artigo a respeito.
Quando
desapareceu, suspeitou-se de que havia sido sequestrado pelo regime fascista de
Benito Mussolini, porque sabia demais. Depois, verificou-se que planejara
meticulosamente a desaparição.
Outras hipóteses foram apresentadas: fugiu porque,
sabendo do potencial destrutivo da energia nuclear, não queria ser obrigado a
trabalhar para os fascistas na produção da bomba atômica; fugiu porque, movido
por uma intensa aspiração mística, decidiu isolar-se em um mosteiro ou
transformar-se em andarilho. Há suspeitas de que tenha se refugiado na
Argentina, passando a ganhar a vida como engenheiro. Mas não existe prova
conclusiva sobre quaisquer dessas suposições.
Dos poucos
trabalhos que publicou, o mais famoso foi Teoria simmetrica dell’elettrone
e del positrone (Teoria simétrica do elétron e do pósitron), datado de
1937. Nele, apresentou a hipótese de uma partícula que teria a si mesma como
antipartícula. A existência do neutrino acabara de ser postulada por Fermi e
Wolfgang Pauli, e Majorana sugeriu que o neutrino poderia ser essa partícula.
Genericamente,
essa partícula hipotética, que é sua própria antipartícula, recebe o nome de
férmion de Majorana. Oito décadas depois de sua proposição, o férmion de
Majorana continua a suscitar forte interesse na comunidade dos físicos. As
pesquisas atuais em relação a ele enfocam não apenas o neutrino, mas também
quase-partículas constituídas por excitações em supercondutores.
“No contexto da
matéria condensada [em que o número de constituintes do sistema (átomos,
elétrons etc.) é extremamente elevado, produzindo interações muito intensas
entre eles], os férmions de Majorana poderiam se manifestar não como partículas
reais, a exemplo dos prótons ou dos elétrons, mas como quase-partículas, ou
partículas aparentes, que descrevem o estado do supercondutor”, disse o físico
Antonio Carlos Ferreira Seridonio, professor do Departamento de Física e
Química da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no campus de Ilha Solteira
(SP), à Agência FAPESP.
Seridonio é
coautor do artigo “Probing the antisymmetric Fano
interference assisted by a Majorana fermion”, recentemente
publicado como matéria de capa pelo periódico Journal of Applied Physics.
O artigo propõe
um modelo experimental para a obtenção do férmion de Majorana. Tal modelo foi
concebido por um grupo de pesquisadores e pós-graduandos da Unesp em Ilha
Solteira e em Rio Claro e da Universidade Federal de Uberlândia (UFU),
liderados por Seridonio, Valdeci Mariano de Souza (Unesp-Rio Claro) e Fabrício
Macedo de Souza (UFU).
O primeiro autor
do artigo, Fernando Augusto Dessotti, é doutorando sob a orientação de
Seridonio. E o segundo, o mestrando Luciano Henrique Siliano Ricco,
tem o apoio da FAPESP em pesquisa que trata do tema da matéria publicada.
Um sistema
considerado forte candidato a exibir os férmions de Majorana enquanto
quase-partículas é o chamado “fio de Kitaev”, proposto pelo físico russo Alexei
Kitaev (nascido em 1963), atualmente professor do California Institute of
Technology (Caltech), nos Estados Unidos.
“Em 2001,
trabalhando na Microsoft, Kitaev dedicou-se ao objetivo de encontrar uma
unidade básica para a computação quântica [o qubit ou bit quântico], que fosse
capaz de resistir a perturbações externas do meio, possibilitando assim a
construção do computador quântico. O modelo apresentado por ele consistiu em um
fio finito supercondutor. Quando tal fio se encontra em uma condição
específica, chamada de fase topológica, seria possível isolar um majorana em
cada uma de suas pontas. E esse par de quase-partículas comporia o bit
quântico”, relatou Seridonio.
O artigo
publicado por Seridonio e seu grupo no Journal of Applied Physics descreve uma via experimental para a
detecção dessas quase-partículas. “Os componentes do aparato experimental que
propomos já foram produzidos experimentalmente. Falta integrá-los. Acreditamos
que é uma questão de tempo para que isso ocorra. E o nosso trabalho aponta um
caminho para isso”, afirmou.
O aparato
utiliza um interferômetro de elétrons (empregado no estudo do comportamento
ondulatório dos elétrons) semelhante ao interferômetro de Bohm-Aharonov
[idealizado no final de década de 1950 pelo físico norte-americano naturalizado
brasileiro David Bohm (1917 – 1992) e pelo físico israelense Yakir Aharonov
(1932), então seu orientando].
“Nossa ideia foi
acoplar esse interferômetro a um fio de Kitaev na fase topológica. O transporte
de elétrons no interferômetro ficaria afetado pelos majoranas presentes nas
pontas do fio de Kitaev. E, por meio da alteração produzida nos espectros das
ondas eletrônicas, seria possível caracterizar os majoranas”, explicou
Seridonio.
“Para o futuro,
utilizaremos o interferômetro proposto para explorar uma outra classe de
majoranas, os que geram uma corrente de quase-partículas nas bordas de um
supercondutor”, acrescentou o pesquisador.
O artigo Probing the antisymmetric Fano interference assisted by a Majorana
férmion (doi:
10.1063/1.4898776), de F.A. Dessotti e outros, pode ser lido em http://scitation.aip.org/content/aip/journal/jap/116/17/10.1063/1.4898776
Imagens
de interferometria. À esquerda, com o interferômetro
desacoplado do fio de
Kitaev. À direita, com o interferômetro
hibridizado com um fio de Kitaev
semi-infinito.
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(Foto: Wikipedia)
Ettore Majorana
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Fonte: Site da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo (FAPESP)
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