Atmosfera Conturbada
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo publicado na edição de novembro de
2014 da “Revista Pesquisa FAPESP” destacando que um meteorologista da USP em
parceria com um meteorologista da Universidade
da Califórnia (EUA) querem saber
por que venta muito em Vênus e em Titã.
Duda Falcão
CIÊNCIA
Atmosfera Conturbada
Meteorologistas
querem saber por que venta muito em Vênus e Titã
IGOR ZOLNERKEVIC
Edição 225
Novembro de 2014
© ESA/MPS/DLR/IDA, M. PÉREZ-AYÚCAR
& C. WILSON
O planeta Vênus, fotografado pela sonda
europeia Venus
Express: tamanho quase
igual ao da Terra e ventos de 400
quilômetros por hora.
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O dia custa a
passar em Vênus. É que o planeta gira bem devagar. Quase do tamanho da Terra,
Vênus leva 243 dias terrestres para dar uma volta em torno de si. Com rotação
tão lenta, os meteorologistas esperavam que a atmosfera venusiana fosse uma das
mais calmas do Sistema Solar. Mas as sondas enviadas ao planeta observaram uma
ventania constante na alta atmosfera, onde os ventos atingem 400 quilômetros
por hora (km/h). Ventos dessa intensidade só ocorrem na Terra durante furacões
ou, esporadicamente, a altitudes elevadas. Em Vênus, eles sopram o tempo todo,
em especial no equador.
Para tentar
resolver o mistério, o meteorologista João Rafael Dias Pinto, da Universidade
de São Paulo (USP), e Jonathan Lloyd
Mitchell, cientista planetário da Universidade da Califórnia em Los Angeles,
criaram em computador um modelo simplificado de um planeta com atmosfera.
Simulações usando esse modelo, publicado em agosto na revista Icarus,
são as primeiras a descrever corretamente como se mantêm os ventos que varrem
Vênus, fenômeno conhecido como super-rotação atmosférica, também observado em
Titã, a maior lua de Saturno. “Identificamos novos e importantes mecanismos que
ajudam a entender melhor esses ventos”, diz Mitchell.
O segredo da
super-rotação, segundo o novo modelo, está na forma como o calor se distribui
na atmosfera de Vênus e Titã. Nesses corpos, por meio da circulação vertical, o
calor se propaga mais lentamente para o alto e em direção aos polos do que na
Terra. Além disso, um tipo especial de ondulação na atmosfera afeta as
correntes de gases.
Vênus e Titã
são mundos tão diferentes entre si que até parece estranho suas atmosferas se
comportarem de maneira parecida. A temperatura na superfície de Vênus chega a
477 graus Celsius, consequência do efeito estufa de sua atmosfera rica em gás
carbônico. Em Titã, a temperatura é de 180 graus negativos e chuvas de metano
alimentam lagos na sua superfície. Ao descer até o solo de Titã, porém, a sonda
espacial Huygens descobriu em 2005 um perfil de ventos quase idêntico ao
observado em Vênus pelas sondas soviéticas da série Venera nas décadas de 1970
e 1980. Fracos na superfície, os ventos no equador de Vênus e Titã chegam a 360
km/h a uma altitude superior a 50 quilômetros – os ventos a essa mesma altitude
no equador da Terra não passam de 15 km/h.
Além da Rotação
Dias Pinto explica que na Terra as massas de ar que
circundam o globo se movem impulsionadas pela diferença de temperatura entre o
equador e os polos e arrastadas pela rotação do planeta. É por isso que os
meteorologistas esperavam ventos mais fracos em planetas e satélites com
rotação lenta. Os pesquisadores buscavam uma explicação para a super-rotação
desde os anos 1970 e concluíram que, além da rotação mais lenta, é provável que
um padrão específico de oscilações nos movimentos da atmosfera, as chamadas
ondas atmosféricas, ajudem a criar um intenso jato de ar que se concentra no
equador e cobre quase todo o corpo celeste. “É como se a atmosfera inteira se
movesse em um único sentido”, conta Dias Pinto. “O problema é que a maioria dos
modelos atmosféricos de Vênus e Titã, inclusive os mais realistas, tem
dificuldade de reproduzir a super-rotação.”
Ele resolveu estudar a super-rotação durante seu
doutorado e, em uma conferência na França em 2011, conheceu Mitchell, um
especialista em Titã e Vênus interessado em atacar o problema com um modelo
mais simplificado.
“Com um modelo mais idealizado, posso controlar melhor a
dinâmica da atmosfera”, explica Dias Pinto. Ele trabalhou sob a orientação de
Mitchell e dos brasileiros Rosmeri Porfírio da Rocha e Tércio Ambrizzi, do
Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, e
conseguiu simular a super-rotação usando um modelo atmosférico adotado para
fazer previsão do tempo.
Modificando alguns parâmetros desse modelo, Dias Pinto
descobriu que não bastava diminuir a rotação do planeta para acelerar a rotação
da atmosfera. “João demonstrou que o modelo só desenvolve super-rotação se
transportar calor do equador para os polos mais lentamente”, explica Mitchell,
notando que em Vênus e Titã, apesar dos ventos fortes, o ar circula bem devagar
na vertical.
Dias Pinto também identificou em suas simulações uma
forma especial de onda planetária, que surge de oscilações no movimento das
correntes de ar no equador do planeta. “Essas ondas planetárias são as
principais responsáveis por desenvolver e manter a super-rotação”, explica
Mitchell.
“Esses aspectos da super-rotação nunca haviam sido
analisados em detalhe”, diz Sebastien Lebonnois, cientista planetário do
Conselho Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) da França, que estuda a
super-rotação de Vênus e Titã. “Para confirmar essa análise, precisaremos de
observações do vento e da temperatura com uma resolução que é difícil de obter
mesmo na Terra.” Apesar da dificuldade, ele espera obter evidências em dados da
sonda Venus Express, que visita Vênus, ou da Cassini, que sobrevoa Titã.
Projeto: Interação onda-escoamento médio e super-rotação
atmosférica em planetas terrestres (nº 12/13202-8);
Modalidade: Bolsa de Doutorado –
Estágio no Exterior;
Pesquisador responsável: Tercio Ambrizzi
(IAG/USP);
Bolsista: João Rafael Dias
Pinto;
Investimento: R$ 40.381,84
(FAPESP).
Artigo científico
DIAS PINTO, J. R. e MITCHELL, J. L. Atmospheric superrotation in an idealized GCM: Parameter dependence of
the eddy response. Icarus. v. 238. p.93-109. ago.
2014.
Fonte: Revista Pesquisa FAPESP - Edição 225 – Novembro de
2014
Esses trabalhos são sensacionais, e olha só o gasto. Essas descobertas podem muito bem ajudar a prever a meteorologia aqui na Terra.
ResponderExcluirSe as bolsas de pesquisa fossem um pouco maiores, ou se tivesse mais algum incentivo, tipo, vale alimentação, aposto que a ciência no Brasil ia crescer muito. Por exemplo, os alunos de engenharia saem da faculdade e tem que escolher entre uma bolsa de mestrado de 1200, sem alimentação, sem moradia, sem plano de saúde, sem férias, sem nada, com um salário em uma empresa normal que pode ser por volta de 3000, com plano de saúde, vale alimentação, décimo terceiro, férias, etc.., em uma empresa privada de engenharia. A escolha não é tão difícil assim. E não é que o aluno é mercenário, é simplesmente desproporcional. Além disso, a perspectiva depois do mestrado é sempre uma incógnita.
A escolha pela vida academica não deveria significar que o aluno está abrindo mão de algo. Muito pelo contrário.
Abs
Eduardo
Concordo com os dados, Eduardo. Não há como discordar deles...
ExcluirNo entanto, isso é apenas uma gota num oceano de descalabros que vem assolando o país em todas as esferas.
Mas ficando apenas na esfera acadêmica, vejam mais uma ponta de iceberg que está acontecendo na USP, que segundo dados divulgados, gasta mais de 120% do seu orçamento com pessoal, e agora, para tentar "arrumar a casa", está fazendo um plano de demissão voluntária que vais custar aos contribuintes a bagatela de R$ 400 milhões.
Tudo bem que comparada com os gastos em propinas e roubalheiras de toda sorte que vem nos assolando essa quantia é realmente irrisória, mas alguém acredita de coração que isso vai resolver ou mudar alguma coisa?
A mim, cada vez mais parece, que a sociedade brasileira tem que passar por uma mudança daquelas cataclísmicas para que tenhamos alguma chance de ver todos esses problemas resolvidos.
Abs.
Sim, concordo também que a solução para aumentar a produtividade da ciência no Brasil não quer dizer que devemos aumentar a quantidade de pesquisadores públicos.
ExcluirAs empresas deveriam investir muito nisso, como ocorre em diversos outros lugares do mundo. A empresa ajuda a fazer pesquisa e inovação. Claro que e a economia e tributação nacional não ajuda, mas a mentalidade do empresário muitas vezes é até avessa a inovação, por mais que as propagandas de grandes empresas na tv digam o contrário.
Bem, sobre esse tema ainda, parece que não ser possível demitir funcionário público é uma coisa que tira o equilíbrio de muita coisa. Demitir o funcionário deveria ser o direito de todo patrão, claro que dando todos os direitos e pagando tudo que lhe é devido segundo as leis trabalhistas. Se não, realmente só vira um cabide de empregos em que todos querem sugar as tetas do governo, sem meios muito eficientes de incentivar o funcionário a trabalhar.
Sobre os dados do artigo em si, realmente intrigante, como o planeta "molengão" (Vênus), que leva 243 dias terrestres para dar uma volta em torno de si, tem uma atmosfera tão "atribulada".
ResponderExcluirRealmente uma curiosidade a ser estudada e justificada, pois tudo indicaria que o comportamento deveria ser justamente o contrário.
Abs.