Fortalecer as Instituições Públicas

Olá leitor!

Segue abaixo o editorial postado no site do “Jornal do SindCT” de Fevereiro de 2014, jornal esse editado pelo “Sindicato dos Servidores Públicos Federais na Área de C&T (SindCT)”.

Duda Falcão

Editorial

Fortalecer as Instituições Públicas

Jornal do SindCT
Fevereiro de 2014


Já surgem críticas à escolha do caça sueco Gripen NG pelo Brasil. É natural que se expressem assim os derrotados, que afirmam que o avião nem mesmo é ainda uma realidade, mas uma promessa em desenvolvimento. O problema é que as outras propostas não traziam oportunidades de transferência tecnológica.

Há os que inacreditavelmente se alegraram com a falha do Foguete Longa Marcha, no lançamento do CBERS-3, duro golpe na sofrida marcha rumo ao desenvolvimento espacial brasileiro. Como consequência, não consolidamos importantes conquistas, como o desenvolvimento da Câmara Mux, especial menção, mas não única participação brasileira.

A decisão de adiantar o lançamento do CBERS-4 causa irreparável perda da oportunidade de integração do satélite no INPE, com prejuízos ao treinamento de nossos técnicos. Há também os que torcem para que falhe o lançamento programado para este ano do Sisnav, versão do Veículo Lançador de Satélites (VLS), que busca certificar o Sistema de Navegação do foguete, última fronteira tecnológica para um lançamento do veículo completo.

Não queremos suscitar uma onda paranoica, mas é fora de dúvida que se promove uma sabotagem ideológica que busca convencer a sociedade da existência de uma suposta incapacidade do país de superar desafios por meio da dedicação, trabalho e criatividade do seu povo. Supridor de commodities e bens primários, o Brasil nunca deixaria de trocá-los por “espelhos pós-modernos”, bens sofisticados, como sempre fez, desde os mocambos entre “descobridor e descoberto”.

É importante e essencial explorarmos os dons da natureza, da nossa extensão territorial e do clima, mas também é certo que devemos nos desenvolver tecnologicamente. O fato de pertencermos a uma elite de técnicos especializados deveria ser apenas motivo de orgulho e motivação dos mais puros ideais de progresso. Entretanto, vivemos um apagão nos institutos públicos de pesquisa, como tantos no Brasil, pela falta de investimentos de vontade política, de coragem.

Consequentemente, vivemos um clima de baixa autoestima e de expectativa da proximidade da aposentadoria. PEC 290: um crime Enquanto isto, neste exato momento, na Câmara dos Deputados, se apresenta o início do fim da Carreira de C&T e o desmanche da infraestrutura de pesquisa no Brasil. Está em tramitação a PEC 290, que abre a possibilidade de cessão de pessoal, equipamentos, materiais e instalações públicas para a iniciativa privada: um crime, tudo em nome de promover a atividade inovadora no país.

Ora, a criação que deu origem à Embraer — o projeto do avião Bandeirante, que voou pela primeira vez em outubro de 1968 — surgiu num instituto público de pesquisas, numa época em que nem se falava em inovação. Para inovar é preciso investir em infraestrutura, em capacitação, gestão de conhecimentos, suscitar projetos e manter a máquina funcionando.

Estratégias de criação de um parque tecnológico avançado passam pela valorização da atividade científica institucional. O que a PEC 290 propõe é casuísmo de prestígio individual, não propicia a recuperação da estrutura laboratorial e nem a renovação dos quadros de pessoal, ao contrário: subtrai recursos dos institutos já tão carentes e esquecidos.

Ainda hoje, não obstante o descaso, nossos institutos produzem ilhas de prosperidade onde se desenvolvem artefatos de elevadíssimo nível tecnológico, na maior parte das vezes em cooperação com a indústria, em processos de fomento que de fato promovem ambientes férteis à inovação, desejo de todos.

Precisamos sim de um arcabouço jurídico que facilite a relação público-privada, mas não da forma como está proposta. Admitimos a necessidade de repensar a estrutura dos institutos e as leis que regem a gestão pública, com adequações que facilitem a atividade técnico-científica no Brasil. Entretanto, é preciso resguardar os bens das instituições públicas e fortalecê-las, sob pena de que esta aventura que desponta não se sustente, pois sem recomposição e sem uma política de renovação de pessoal os institutos logo entrarão em colapso e também tudo o que pretende a PEC 290.


Fonte: Jornal do SindCT - Edição 28ª - Fevereiro de 2014

Comentário: Concordo em grande parte com as colocações do autor deste editorial do Jornal do SindCT (quando o autor diz: “Entretanto, vivemos um apagão nos institutos públicos de pesquisa, como tantos no Brasil, pela falta de investimentos, de vontade política e de coragem”, eu trocaria, por exemplo a palavra coragem por falta de vergonha na cara), mas em minha opinião para que tudo funcione como gostaríamos e não só no PEB, a Sociedade Brasileira (e aí incluída a classe política) terá de passar por uma mudança cultural que infelizmente ainda está muito longe de acontecer.

Comentários

  1. Só me respondam uma coisa: a quem interessa "fortalecer as instituições públicas" ? Como se isso fosse bom para o país...

    Se vivêssemos na China, ou na antiga União Soviética, talvez. Mas num (teoricamente) regime democrático capitalista, o que precisa ser fortalecido é a legislação que trata do regime privado e sua relação com o estado.

    Em Cuba, na Venezuela e na Ucrânia, as "instituições públicas" estão bem fortes. E daí?

    Esse programas populistas e eleitoreiros que começam a fazer água por todos os lados são o que? "instituições públicas"...

    E chega um ponto em que a corda não estica mais, e a mudança vai ser mandatória, queiram eles ou não.

    Alias, outra das "instituições públicas" que muitos elogiaram na figura de uma só pessoa acaba de inocentar os PTralhas do crime de formação de quadrilha, afinal aquilo deve ter sido apenas uma conjunção astral desfavorável que colocou todos eles no lugar errado na hora errada.

    Eu reformularia uma das frases do artigo para: Estratégias de criação de um parque tecnológico avançado passam pela valorização da atividade científica privada.

    Como já manifestei em outros posts, deveria haver uma lei que obrigasse as universidades privadas a manterem centros de pesquisa e desenvolvimento ativos e produtivos. Elas não podem continuar sendo simples fornecedoras de diplomas (salvo é claro as exceções que só comprovam a regra).

    Abs.

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