SGDC e "Transferência Tecnológica"
Olá leitor!
Segue abaixo um interessante artigo escrito pelo André
Mileski e postado hoje (07/02) no seu blog “Panorama Espacial”, tendo como destaque
a tal transferência tecnológica associada ao “Satélite Geoestacionário de
Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC)”. Vale a pena dar uma conferida.
Duda Falcão
SGDC e "Transferência Tecnológica"
André Mileski
07/02/2014
Existe certa confusão sobre o
processo de transferência tecnológica (TdT) associado ao Satélite
Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC). Não é incomum ver
colocações de que os trinta engenheiros que serão enviados à França para
acompanhar a construção do satélite representam um esforço de TdT. De fato, é
bastante usual na indústria espacial o acompanhamento das fases de projeto e
construção por equipes do cliente, seja ele governamental ou privado (a
operadora brasileira Star One, por exemplo, faz isso com competência
internacionalmente reconhecida). Não se trata, porém, de TdT, ainda que suas
consequências sejam importantes para qualquer programa espacial. Alegar o
contrário significaria afirmar os satélites de comunicações da Venezuela e
Bolívia, adquiridos junto à China, envolveram TdT, uma vez que um grande número
de especialistas de ambos os países foram enviados à Ásia para acompanhamento
em fábrica e treinamentos para operação.
A realidade é que o conceito de
TdT é fluido e, em teoria, bastante abrangente, construído de acordo com os
interesses de cada parte envolvida. No setor de defesa, os casos mais recentes
no Brasil, como a compra de helicópteros e submarinos de companhias francesas
em 2009 e a negociação para a aquisição dos caças suecos, dão o tom do que se
espera de TdT: industrialização local.
O Memorando de Entendimentos
A transferência tecnológica
propriamente dita associada ao SGDC consta do memorando de entendimentos
firmado entre a Agência Espacial Brasileira (AEB) e a fabricante Thales Alenia
Space (TAS) em 12 de dezembro último, quando da assinatura do contrato de
aquisição do satélite. Espera-se que seja um processo executado ao longo de
cinco anos, e embora seu escopo não tenha sido divulgado publicamente, inclui
sistemas eletrônicos de bordo, estruturas de maior porte e aplicações de dados
para os segmentos telecomunicações via satélite, observação e meteorologia,
entre outras áreas.
Segundo a TAS, o programa
previsto no memorando "representa dezenas de milhões de dólares",
mas reportagem da imprensa especializada internacional, citando fonte francesa
não identificada, crava um valor mais específico: 80 milhões de dólares.
No final de novembro,
publicamos uma análise ("Análise: do SGB ao SGDC", novembro de 2013) na qual
afirmamos que a TdT associada ao SGDC tinha uma natureza "soft" e
relativa incerteza, tema que aprofundaríamos mais adiante. Basicamente, seriam
dois os motivos principais: (i) a dependência do orçamento da AEB; e (ii)
duplicidade com o Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE).
Apesar de existir um pacote de
TdT associado ao SGDC, este não integra o contrato de aquisição do satélite,
firmado entre a Visiona e a TAS. Trata-se de um processo (até o momento, apenas
um memorando de entendimentos) paralelo prevendo a aquisição de tecnologias
(para mais detalhes, veja "Entrevistas: José Raimundo Braga Coelho, presidente da AEB",
novembro de 2013). Não há, portanto, envolvimento direto da Visiona na TdT,
iniciativa tocada (e negociada) diretamente entre a fabricante e a AEB. E para
ser viabilizada, a TdT dependerá da disponibilização de recursos no orçamento
da Agência, que não consegue superar a barreira psicológica dos cerca de R$300
milhões anuais, "concorrendo" com outras diversas demandas (CBERS,
Amazônia-1, satélites de coleta de dados, lançadores, apenas para citar
algumas).
O segundo motivo é o PESE, que
tem surpreendido por sua velocidade (ver a postagem "PESE: expectativas para 2014", janeiro de 2014). Ainda
que faltem algumas definições chave associadas ao programa do Ministério da
Defesa (forma de contratação, provavelmente via o conceito de prime
contractor, embora este ainda não esteja plenamente definido. Mais sobre
isso em breve), existe a expectativa de que as aquisições de satélites envolvam
um significativo esforço de envolvimento industrial local. E neste sentido,
haveria o risco de duplicidade entre as ações previstas no memorando do SGDC,
com a TAS, e o pacote a ser negociado para o PESE em processo de concorrência
internacional.
Tal duplicidade também
evidencia um aspecto já analisado em algumas ocasiões pelo blog: a interação
entre o Programa Espacial Brasileiro tocado pelo Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação, e atividades espaciais desenvolvidas noutros setores
governamentais e forças armadas, como o PESE. Principalmente por uma razão óbvia
de racionalização de recursos financeiros, espera-se em algum momento uma
convergência de certas atividades.
Fonte: Blog Panorama Espacial - 07/02/2014
Se por um lado é bom a existência de um programa como o PESE, fico cético quanto ao sucesso do mesmo, visto que como em qualquer programa espacial com envolvimento da indústria local, a pré condição é um mínimo de demanda e regularidade nos pedidos, coisa que sabidamente não se pode contar por aqui.
ResponderExcluir#TENSO !