Especialista do INPE Fala S/a Condição de “País dos Raios”
Olá leitor!
Segue abaixo uma notícia postada hoje (28/01) no site do
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) destacando que especialista
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) fala sobre a condição de
“País dos Raios”
Duda Falcão
Especialista do INPE Fala Sobre
a Condição de “País dos Raios”
Denise Coelho
Ascom do MCTI
28/01/2013 - 17:25
Foto: Ascom do ELAT
O coordenador do ELAT, Osmar Pinto Júnior |
Os raios e os
trovões já apareciam nos mitos das civilizações do passado, que chegaram a
interpretá-los como manifestações divinas. O imaginário popular também originou
crenças, muitas delas já esclarecidas pela ciência. Em entrevista, o
coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT) do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (INPE/MCTI), Osmar Pinto Júnior, fala sobre esse
fenômeno natural, que também intriga os cientistas.
O Brasil é campeão mundial em incidência de raios e
ocorre em seu território pelo menos uma a cada 50 mortes causadas por descargas
elétricas no planeta. São cerca de 100 vítimas fatais, mais de 200 feridos por
ano e prejuízos anuais da ordem de R$ 1 bilhão.
Doutor em ciências espaciais e autor de quatro livros e
de mais de 100 artigos em revistas nacionais e internacionais, o especialista
fala um pouco sobre os mitos e dá as dicas para evitar acidentes. E esclarece:
sim, um raio pode cair duas – ou mais – vezes no mesmo lugar.
Segundo o site do ELAT, dos
57 milhões de raios registrados por ano no Brasil, a maior incidência ocorre no
Norte e no Centro-Oeste, mas ao se considerar a densidade, ou seja,
proporcionalmente ao território, os estados do Sul ficam à frente. No entanto,
o maior número de mortes ocorre no Sudeste. E, segundo o próprio ELAT, Recife,
na região Nordeste, é a capital do país onde um raio tem maior chance de causar
uma morte, seguida de Salvador, de São Luís e do Rio de Janeiro. Como explicar
esse cenário diferenciado nas diversas regiões e cidades brasileiras?
O Brasil é um país continental, com enormes dimensões.
São cerca de 8,5 milhões de quilômetros quadrados e as condições meteorológicas
mudam muito de uma região para outra. Nós temos a região praticamente
equatorial, na Amazônia e parte do Nordeste, temos uma parte tropical e temos
uma parte até subtropical, no Sul. Em função disso, as tempestades e os tipos
de tempestades e a incidência de raios são diferentes. Nós temos, por exemplo,
regiões com incidência de raios pouco acima de zero raio por quilômetro
quadrado por ano, ou seja, quase não ocorrem raios ou então o fenômeno acontece
a cada dois ou três anos. Por outro lado, temos regiões onde caem 20 raios por
quilômetro quadrado por ano.
Quanto a mortes, não se pode analisar somente a
incidência de raios, é preciso levar em conta a quantidade de pessoas que vivem
no lugar e o hábito delas. Quem tem o costume de estar mais ao ar livre, no
campo, está mais exposto a ser atingido pelos raios. Em compensação numa grande
cidade, num centro urbano, dentro de um carro ou dentro de um prédio, está mais
seguro. Mas numa grande cidade também temos mais pessoas, então há mais alvos a
serem atingidos.
Considerando a incidência de raios, a quantidade e a
disposição das pessoas, chegamos a números interessantes. A cidade com maior
número de ocorrência de mortes por raios é Manaus, uma cidade com quase 2
milhões de habitantes, uma população grande, numa região com alta incidência de
raios e onde um número elevado de pessoas exercem atividades a céu aberto. O
segundo lugar no ranking das cidades no Brasil está São Paulo, onde as pessoas
não têm tantas atividades a céu aberto, em compensação a população ultrapassa
10 milhões de habitantes, numa região também com grande incidência de raios. Já
Recife é a cidade onde o menor número de raio já causa morte, mas em Recife, na
última década, só morreu uma pessoa, e o número de raios é fraco em comparação
com outras cidades.
Diante dessa incidência
diferenciada por região, podemos destacar localidades onde o fenômeno tem maior
impacto?
A região de maior incidência se encontra ao longo do rio
Amazonas, a cerca de 100 quilômetros de Manaus, mas em outras áreas
brasileiras também existe grande incidência. No Sudeste, temos a grande São
Paulo, o vale do Paraíba e o Sul do Rio de Janeiro. No Centro-Oeste, os
registros são, no Sul do Mato Grosso do Sul e na própria capital Campo
Grande. No Sul, o oeste do Rio Grande do Sul, próximo a Uruguaiana.
No Nordeste, principalmente o estado do Piauí, próximo a Teresina. São todas
regiões com grande incidência de raios.
Então a questão populacional
já explica um pouco as últimas estatísticas do ELAT, que mostram que do total
de 1.488 mortes, entre 2000 e 2011, 414 casos aconteceram na região Sudeste –
número bem superior aos de outras regiões brasileiras.
Exatamente, porque nós temos mais de um terço da
população brasileira vivendo na região Sudeste. Então é a região onde tem o
maior número de pessoas, o que acaba levando ao maior número de mortes.
Ainda segundo o ELAT, a cada
50 mortes por raios no mundo, uma é no Brasil. O que faz do país campeão em
descargas elétricas e em fatalidades?
O Brasil é o maior país da região tropical do planeta –
região mais próxima ao centro e mais quente. Por ser mais quente, favorece a
formação de tempestades e de raios. Apesar de o número de mortes no Brasil ser
relativamente alto, média de 130 por ano, o nosso país é campeão de raios, mas
não de mortes. A China é o país campeão de mortes e, de novo, porque a
população ultrapassa 1 bilhão de pessoas. Embora lá as estatísticas não sejam
tão precisas como as nossas, estima-se que morram 700 pessoas atingidas por
raios por ano no território chinês.
Dados do INPE também revelam
a evolução das ocorrências desde o início do século, em que os números apontam
para uma redução de mortes nos últimos três anos em relação à média do período.
Como o senhor avalia essa queda?
Realmente, as estatísticas mostram que o número de mortes
está abaixo de 100 óbitos. Nós tínhamos uma média que chegou a 150, depois caiu
para 130, mas nessa segunda década do século 21 o número de mortes tem caído.
Ainda é cedo para dizer se esse número de mortes se deve a uma maior
preocupação e educação das pessoas no que se refere aos riscos dos raios. Mas a
quantidade de raios não está diminuindo, então, num primeiro momento, somos
levados a concluir que o trabalho de divulgação está surtindo efeito. Hoje
também, com a internet, as informações estão mais disponíveis para as pessoas.
Nos Estados Unidos, o número de mortes caiu, na última década, em função do
aumento da informação.
E, aparentemente, isso que não estava acontecendo no Brasil,
na década passada, começou a acontecer nesta década. O trabalho que o governo,
particularmente o INPE e o MCTI, junto com a imprensa, tem feito de divulgar os
riscos que os raios oferecem à população parece que já está surtindo os
primeiros efeitos em termos da diminuição dos número de mortes.
Quais são as diferenças entre
raio, relâmpago e trovão e que perigo esses fenômenos oferecem ao ser humano?
O trovão é o som, é o barulho causado pelo raio ou pelo
relâmpago. O trovão em si, apesar de causar medo, não causa nenhum dano
às pessoas. É claro que se a pessoa estiver muito próxima, 10 a 20 metros, do
local de queda do raio, a onda de ar que se propaga e causa o trovão pode
arremessar a vítima contra a um objeto, como uma árvore ou uma parede. O
perigo está na descarga elétrica do raio. Essa sim é extremamente intensa, cuja
média é de 20 mil amperes, mil vezes a corrente de um chuveiro elétrico, por
exemplo, e que pode atingir a 200 mil amperes.
É uma descarga que, obviamente, atingindo diretamente a pessoa
mata instantaneamente, mas, em geral, o raio cai próximo à pessoa. É por isso
que as vítimas sobrevivem em muitas circunstâncias. Relâmpago é um nome
genérico para todas as descargas. Os raios são parte dos relâmpagos, são
aqueles relâmpagos que atingem o solo. Os relâmpagos incluem aquelas
descargas dentro das nuvens que não causam danos.
Recentemente o ELAT divulgou
as primeiras imagens dos chamados raios ascendentes no Brasil. Como esse
fenômeno é possível?
Em 99% dos casos os raios começam nas nuvens e se
propagam das nuvens para baixo na atmosfera atingindo o solo. Em 1% dos casos
acontece o contrário, o raio começa no solo e se propaga para cima em direção
às nuvens. Então esses raios são muito raros e acontecem principalmente em
torres instaladas em locais elevados. A proximidade com a nuvem facilita que
uma descarga comece no chão em direção à nuvem. Foi assim que nós filmamos, há
pouco mais de um ano, os primeiros raios ascendentes no Brasil, numa torre de
pouco mais de 100 metros de altura em cima de uma colina na cidade de São
Paulo.
Uma situação que preocupa são as torres de transmissão
que estão sendo construídas na Amazônia, também com mais de 100 metros de
altura. Essas torres altas num local com grande incidência de tempestades como
a Amazônia vai favorecer muito a incidência de raios ascendentes.
Tem confirmação científica a
ideia de que algumas árvores atraem mais os raios que outras?
As pessoas, como os animais, acabam buscando abrigo
embaixo de árvores para fugir da chuva, mas se esquecem que aumentam a chance
de ser atingidas por um raio. Algumas árvores atraem mais os raios de acordo
com as suas características. Quanto mais seiva dentro do caule e mais profundas
as raízes, mais chance existe de a árvore ser atingida. Não é mito dizer que
algumas árvores são mais atingidas do que outras, mas como é difícil para o
leigo identificar e como não há estatísticas em relação a isso, a melhor coisa
a fazer é se afastar de qualquer árvore diante de uma tempestade.
Uma crença popular antiga
está baseada na ideia de que um local não pode ser atingido duas vezes pelo
mesmo raio. Isso já foi desmentido pela ciência?
Esse é o maior mito do povo brasileiro. Os índios que
habitavam a região do Brasil, em 1500, quando os portugueses chegaram aqui,
acreditavam nisso e até hoje muitas pessoas acreditam. Mas é um mito. O raio
cai muitas vezes no mesmo lugar e, em lugares de grande incidência, a chance
aumenta.
Existe também a superstição
de que os espelhos atraem os raios e que, por isso, durante uma tempestade
precisam ser cobertos com um pano. Esse receio tem fundamento?
É apenas um mito muito antigo, não tem por quê as pessoas
se preocuparem com os espelhos.
Em que situações as pessoas
estão mais vulneráveis a se tornar vítimas de raios e como é possível evitar?
Fundamentalmente, a pessoa está mais vulnerável a ser
atingida por um raio quando está a céu aberto. Dentro de um automóvel fechado,
ela está 100% segura. Dentro de uma residência, bastante segura – neste caso,
não 100% porque ela pode ser atingida através da rede elétrica ao, por exemplo,
falar por um telefone com fio, tomar banho num chuveiro elétrico ou ficar
encostada numa geladeira. Ao ar livre a situação se complica e a pessoa corre
risco na beira da praia, no campo, num trator ou numa estrada andando de moto.
Como evitar? É importante sempre procurar um abrigo e é
importante também ter algumas informações básicas. São muitas as situações.
Numa cartilha do INPE, disponível no portal do ELAT/INPE, o usuário pode
conferir essas recomendações no sentido de como agir ao ouvir um trovão ou
perceber a proximidade de uma tempestade.
Fonte: Site do Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação (MCTI)
Um raio que cai sobre alguém, pode ser considerado uma fatalidade. Apesar de que, providências poderiam ser tomadas para minimizar essas ocorrências, principalmente nas áreas nas quais se sabe de antemão que existe alta probabilidade de queda de raios.
ResponderExcluirJá o que estamos constantemente denunciando por aqui, é o total descaso, falta de competência, falta de compromisso e falta de PUNIÇÃO dos nossos "representantes" nos três poderes.
Eu não me iludo mais nem com tragédias anunciadas como essa ocorrida em Santa Maria. Os principais culpados? Além dos causadores diretos, como o idiota que usa fogos de artifício num ambiente fechado, o aquele que superlota um estabelecimento, são as assim chamadas "autoridades".
Quando aconteceu um fato semelhante na Argentina, eles não "esqueceram" de punir o Prefeito da cidade por "falta de cumprimento do dever de fiscalização".
A nossa legislação é pífia sobre esse assunto, e os bombeiros já declararam várias vezes que ela não atende aos requisitos mínimos de segurança que eles mesmo propõem.
Isso tudo, dá uma ideia de o quanto o nosso PEB vai ter que suplantar entre esses mandos e desmandos errados, legislação infame, falta de compromisso, e principalmente falta de sentimento de cumprimento de deveres para com a nação e seu povo.
Mortes não são uma simples estatística, mas só para tornar o descaso com VIDAS ainda mais claro, devo lembrar: No PEB, em decorrência da explosão causada pelo descaso do “governo” para com o programa, morreram 21 profissionais que atuavam num projeto sobre o qual havia riscos inerentes.
Na tragédia do incêndio de Santa Maria, também em última análise causada pelo descaso do “governo”, morreram (até o momento), mais de 230 JOVENS! Com toda a vida pela frente.
É muito triste, mas como eu disse no início. Eu não me iludo mais...