Pesquisa Propõe Nova Interpretação Para Emissões Solares
Olá leitor!
Segue abaixo uma matéria postada hoje (14/08) no site da
“Agência FAPESP”, destacando que um estudo com participação brasileira propõe
nova interpretação para Emissões Solares.
Duda Falcão
Especiais
Pesquisa Propõe Nova
Interpretação Para Emissões Solares
Por José Tadeu Arantes
14/08/2014
(Imagem: NASA)
Estudo realizado por pesquisadores do
Mackenzie e dos
Estados Unidos explica a
radiação em frequências próximas ao infravermelho
distante produzidas pelas explosões do Sol.
|
Agência
FAPESP – Uma
explicação para as radiações de altas frequências produzidas pelas explosões
solares acaba de ser proposta com base em processo físico observado em
aceleradores de partículas de laboratório. O artigo detalhando o estudo – The
contribution of microbunching instability to solar flare emission in the GHz to
THz range of frequencies, de John Michael Klopf, do College of William and
Mary (Williamsburg, Virginia, Estados Unidos), e Pierre Kaufmann, Jean-Pierre
Raulin e Sérgio Szpiegel, os três da Universidade Presbiteriana Mackenzie – foi
publicado em 10 de agosto no periódico The Astrophysical Journal.
O trabalho
foi realizado no âmbito do Projeto Temático “Emissões da atividade solar do submilimétrico ao infravermelho (SIRA)”,
apoiado pela FAPESP.
A proposta
foi comprovada por meio de simulação computacional que tomou como base
processos físicos ocorridos em aceleradores de partículas de laboratórios e investigou
como esses processos ocorreriam em um contexto regido pelos parâmetros solares.
“Os resultados mostraram-se muito convincentes. Foi um dos raros casos em que a
simulação de plasmas espaciais a partir dos plasmas de laboratório resultou
bem-sucedida”, disse Kaufmann à Agência FAPESP.
O processo
físico em questão é o da radiação síncrotron coerente, que pode ocorrer quando
feixes de elétrons são acelerados até atingir velocidades próximas à da luz.
Essa radiação é produzida ao mesmo tempo que a bem conhecida radiação
síncrotron incoerente, gerada pelos mesmos feixes, e depende
da interação dos elétrons com os campos magnéticos.
Se as ondas
que descrevem os elétrons ficam em coerência de fase, ao liberarem energia
todos os elétrons o fazem ao mesmo tempo. É isso que constitui a radiação
síncroton coerente, caracterizada pela emissão de pulsos de energia de
altíssima intensidade.
“Nos
aceleradores, as partículas são aceleradas artificialmente por meio de campos
magnéticos. No Sol, o processo está associado às manchas solares, que são polos
magnéticos”, explicou o pesquisador do Mackenzie.
“Há um
grande confinamento de partículas na região situada acima da mancha, na
atmosfera solar. Tipicamente, esse confinamento tende a desaparecer em até dois
meses terrestres, que é o tempo de duração das manchas solares, balizado pelo
período de rotação do Sol”, afirmou Kaufmann. “Por causa de algum mecanismo que
ainda ignoramos,pode acontecer de, em vez de se desmanchar, o plasma de
partículas ser acelerado e expulso do Sol na forma de uma explosão, que os
autores de língua inglesa chamam de flare (abrilhantamento ou
fulguração), porque a região emite grande quantidade de radiação em um
intervalo de tempo muito curto.”
Para ter
ideia da magnitude do fenômeno, basta considerar que o número de partículas
envolvidas em uma explosão solar é estimado em 1030 (o algarismo 1
seguido de 30 zeros, isto é, um nonilhão ou mil bilhões de bilhões de bilhões).
E que a energia liberada é aproximadamente 100 bilhões de vezes maior do que a
da bomba atômica lançada pelos Estados Unidos sobre a cidade japonesa de
Hiroshima durante a Segunda Guerra Mundial.
As radiações
eletromagnéticas geradas pelas explosões solares são estudadas desde os anos
1950. Os estudiosos, no entanto, haviam identificado apenas radiações nas
faixas de frequência do rádio e das micro-ondas. Há cerca de uma década, porém,
graças a um radiotelescópio brasileiro instalado nos Andes argentinos,
descobriu-se que as explosões emitiam também radiação em frequências bem mais
altas, próximas ao infravermelho distante, também conhecida como faixa
terahertz.
“Isso trouxe
um grande problema de interpretação”, comentou Kaufmann. “Para explicar esse
tipo de emissão, simultânea às emissões em rádio na faixa de micro-ondas,
estamos propondo agora a analogia com a radiação síncrotron coerente,
previamente observada nos aceleradores de partículas.”
A explicação
considera a possibilidade de os elétrons se aglutinarem com estados similares
de energia e fase – o que pode ser causado, por exemplo, quando o feixe de
elétrons se propaga por regiões afetadas por campos magnéticos irregulares. “Os
aglomerados de elétrons podem, então, emitir subitamente radiação sincrotrônica
em conjunto, de forma coerente. O fenômeno é denominado microbunching”,
informou o pesquisador.
Segundo
Kaufmann, o físico John Michael Klopf, primeiro autor do artigo, é um
especialista em física de aceleradores e trabalhou muito tempo no grande
acelerador do Laboratório Jefferson, nos Estados Unidos, um dos primeiros a detectar
a ocorrência do fenômeno de microbunching.
“Nas regiões
solares em que acontecem as explosões, os campos magnéticos são muito complexos
e podem perfeitamente dar origem a aglomerados de elétrons semelhantes aos
detectados nos laboratórios”, disse o pesquisador.
Fonte: Site da Agência FAPESP
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