Gravidade Zero
Olá leitor!
Segue abaixo um interessantíssimo artigo publicado na
edição de agosto de 2014 da “Revista Pesquisa FAPESP” tendo como destaque as
missões espaciais que estavam previstas para serem realizadas
pelo Brasil no ano de 2014.
Duda Falcão
TECNOLOGIA
Gravidade Zero
Etanol e oxigênio líquido compõem combustível
de foguete
suborbital desenvolvido no Brasil
YURI VASCONCELOS
Revista Pesquisa FAPESP
Edição 222 - Agosto de 2014
© LÉO RAMOS
Foguete suborbital VSB-30.
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A
expectativa é alta nas instalações do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE),
braço de pesquisa do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA),
localizado em São José dos Campos, no interior de São Paulo. O órgão, vinculado
ao Ministério da Defesa, planeja lançar no segundo semestre deste ano quatro
foguetes suborbitais, que ultrapassam 100 quilômetros de altitude num voo em
forma de parábola e propiciam ambiente de microgravidade. O primeiro a ir ao
espaço, o veículo de sondagem VS-30, terá como carga útil o chamado Estágio
Propulsivo de Foguete a Propelente Líquido (EPL), um conjunto composto pelo
primeiro motor-foguete produzido no país a empregar combustível líquido e seu
respectivo sistema de alimentação. Esses dois equipamentos, de elevado conteúdo
tecnológico, são essenciais para que o país avance no domínio da tão almejada
tecnologia de veículos lançadores de satélite. O combustível líquido a ser
testado no foguete brasileiro apresenta um aspecto inovador: é formado por uma
mistura de etanol feito a partir da cana-de-açúcar e oxigênio líquido, o que
inclui o Brasil entre as nações que contribuem para a inovação tecnológica
sustentável no setor aeroespacial.
A campanha
de lançamento do VS-30/EPL, batizada de Operação Raposa, está prevista para
começar em 12 de agosto no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), situado a
30 quilômetros de São Luís, a capital maranhense. Se tudo ocorrer como
programado, o foguete deverá ser lançado ao espaço depois de três semanas, no
início de setembro. Além dele, o IAE planeja lançar ainda este ano o veículo
suborbital VS-40M. Esse foguete, projetado no início dos anos 1990, lançará no
espaço o Satélite de Reentrada Atmosférica (Sara), que abrigará uma série de
experimentos em microgravidade. Nessa condição, é possível realizar vários
tipos de experimentos científicos destinados, por exemplo, a conhecer melhor a
estrutura de proteínas para criar novos medicamentos. Com a ausência de
gravidade, os cristais de proteínas ficam maiores porque na Terra o crescimento
deles é limitado. Conhecendo melhor a estrutura das proteínas que fazem parte
de um parasita é possível desenvolver fármacos mais eficazes contra várias
doenças. Na microeletrônica, a microgravidade propicia o preparo mais fácil do
silício ultrapuro para estudos de semicondutores.
© LÉO RAMOS
Foguete sonda IV, em São José dos Campos.
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O último
lançamento, previsto para o segundo semestre, do qual estão sendo preparados
dois foguetes, é do tipo VSB-30, um bem-sucedido veículo suborbital construído
em parceria com o Centro Aeroespacial Alemão (Deutsche Zentrum für Luft- und
Raumfahrt, ou DLR, na sigla em alemão). Dotado de dois propulsores, o VSB-30
fez seu voo inaugural há 10 anos, em outubro de 2004. Desde então já foram
lançados com sucesso 14 foguetes.
Grupo Seleto
“O Brasil
tem um programa consistente de desenvolvimento de foguetes suborbitais. Esses
veículos espaciais de baixo custo são ideais para a realização de pesquisas
científicas da atmosfera e da ionosfera e para o estudo de novos materiais e de
processos em ambientes de microgravidade”, afirma o pesquisador e chefe da
subdiretoria de espaço do IAE, coronel Avandelino Santana Júnior. “Esses
foguetes também ajudam na formação de recursos humanos para a área espacial e
têm se mostrado o objeto ideal para a manutenção de programas de cooperação com
instituições estrangeiras de pesquisa desse setor.” Desde o início de suas
atividades, no fim dos anos 1960, quando ainda era chamado de Instituto de
Atividades Espaciais, o IAE já desenvolveu sete diferentes modelos de foguetes
suborbitais: Sonda II, Sonda III, Sonda IV, VS-40, VS-30, VS-30/Orion e VSB-30.
Esse feito insere o país no seleto grupo de nações que dominam a tecnologia de
fabricação desses veículos, ao lado de Estados Unidos, França, China e
Inglaterra. O emprego de um propelente líquido à base de etanol (ou álcool
etílico) para mover os seus motores é, segundo Santana Júnior, mais um avanço
na área. “Até onde temos conhecimento, é inédito o uso de etanol como
combustível líquido em veículos desse gênero.”
O
desenvolvimento do Motor L5, movido a etanol e oxigênio líquido (LOX), é fruto
de um programa de pesquisa em propulsão líquida iniciado no IAE há cerca de 15
anos. Seu objetivo final é movimentar foguetes orbitais, empregados para
colocar satélites no espaço, com um combustível líquido mais seguro do que o
propelente à base de hidrazina, um líquido corrosivo e tóxico, que precisa ser
importado. O etanol e o oxigênio líquido, por sua vez, são menos agressivos ao
ambiente, mais fáceis de manusear e emitem baixo nível de fuligem. O L5 foi
concebido e projetado pelo IAE com recursos da Agência Espacial Brasileira
(AEB), enquanto o sistema de alimentação do motor-foguete (Samf) foi
desenvolvido pela Orbital Engenharia, empresa de São José dos Campos, e
viabilizado por meio de recursos públicos de aproximadamente R$ 2 milhões da
Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Um passo importante rumo ao
lançamento do Estágio Propulsivo de Foguete a Propelente Líquido (EPL) foi dado
em dezembro de 2013. Os engenheiros do IAE e da Orbital realizaram com êxito um
teste em solo do modelo de voo desse estágio. Na ocasião, verificou-se que
todos os componentes do sistema funcionaram conforme esperado. O ensaio
consistiu da queima em um banco de prova do motor L5 integrado ao sistema de
alimentação, equipamento responsável por armazenar e injetar a mistura de
etanol e oxigênio líquido no motor.
Depois do
sucesso do ensaio em solo, o conjunto de propulsão líquida precisa ser testado
numa operação real de voo – e esse é o objetivo da Operação Raposa. No lançamento
programado para o início de setembro, o VS-30/EPL irá decolar movido por um
estágio propulsor dotado de combustível sólido. Vinte e quatro segundos depois
do lançamento, esse motor se desprenderá da carga útil – no caso, o EPL, que
sofrerá ignição. O motor L5 converterá a energia química contida no combustível
armazenado nos tanques – etanol e oxigênio líquido – em uma força propulsora
para gerar um impulso de cinco quilonewtons, energia suficiente para empurrar
um bloco de cinco toneladas.
Movida pelo
propelente líquido, a carga útil descreverá uma trajetória parabólica, própria
dos foguetes suborbitais, até cair no mar. A missão será considerada exitosa se
tanto o sistema de alimentação do motor-foguete quanto o motor L5 funcionarem
perfeitamente em voo. “Estamos confiantes de que o lançamento será um sucesso”,
diz o engenheiro do IAE Eduardo Dore Roda, gerente das linhas de foguetes VS-30
e VSB-30. “O propelente líquido permite uma queima controlada, o que é ideal
para foguetes lançadores de satélites. O último estágio desses veículos
normalmente utiliza propulsão líquida, que permite controlar a inserção do
foguete em órbita”, diz ele. Segundo Roda, o domínio dessa tecnologia em
motor-foguete de pequeno porte, como o VS-30, é um estágio significativo na
direção do desenvolvimento de motores maiores. Os foguetes orbitais completam
pelo menos uma trajetória inteira ao redor da Terra em altitude acima de 100
quilômetros.
O sucesso da
linha de foguetes suborbitais do IAE tem extrapolado as fronteiras do país. Das
14 missões já realizadas com o modelo VSB-30, 11 partiram do Centro de
Lançamento de Esrange, situado a 200 quilômetros do Círculo Polar Ártico,
próximo à cidade de Kiruna, na Suécia – as outras três missões partiram de
Alcântara, no Maranhão. O projeto desses veículos nasceu no início dos anos
2000. “Eles foram fabricados em conjunto com o Centro Aeroespacial Alemão para
atender a uma demanda do Programa Microgravidade da Agência Espacial Europeia
(ESA). Até aquela época, o DLR utilizava foguetes britânicos Skylark para
enviar seus experimentos ao espaço, mas a produção do veículo seria
descontinuada e os alemães precisavam de um veículo que o substituísse”, revela
o engenheiro Eduardo Roda. O VSB-30 foi projetado para levar uma carga útil de
400 quilos a 260 quilômetros de altitude, com tempo de microgravidade superior
a seis minutos. O voo dos foguetes suborbitais é de curta duração e durante
alguns minutos ele se encontra em condição de microgravidade. Nesse breve
período, uma série de experimentos científicos pode ser executada.
© SWEDISH SPACE CORPORATION (SSC)
Lançamento do VSB-30 V14 em novembro de 2011,
no campo de
Esrange, na Suécia.
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Até o
momento, as agências espaciais do Brasil, Suécia, Noruega e Alemanha, além da
própria ESA, já fizeram lançamentos com o VSB-30. Mais dois veículos serão
lançados em outubro e novembro deste ano a partir do Centro de Lançamento de
Andoya, na Noruega, e um terceiro deverá ser lançado do Brasil em 2015, no
âmbito do Programa de Microgravidade da Agência Espacial Brasileira. “O foguete
de sondagem é uma alternativa barata para a realização de experimentos
científicos em ambiente de microgravidade. E o VSB-30, um veículo suborbital
com dois estágios a propulsão sólida, é um foguete muito bem-sucedido”, afirma.
A cooperação
entre o IAE e o DLR alemão remonta a 1969, quando o Centro de Lançamento da
Barreira do Inferno (CLBI), no Rio Grande do Norte, foi usado para o lançamento
de experimentos científicos do Instituto Max Planck para Física Extraterrestre,
da Alemanha. A cooperação se fortaleceu nos anos seguintes e redundou na
construção do VSB-30, produzido integralmente no IAE e com 70% de seus
componentes fornecidos por parceiros comerciais brasileiros. “O acordo entre o
IAE e o DLR para o desenvolvimento comum de um foguete de sondagem de dois
estágios com base no motor S30 já existente no Brasil surgiu em 2000. Quatro anos
depois, em 23 de outubro de 2004, o VSB-30 concluiu com sucesso o seu voo de
qualificação”, relembra o coronel Avandelino Santana Júnior.
Há dois
anos, o DLR empregou em suas missões outro foguete suborbital nacional, o
VS-40M, mais potente do que o VSB-30. Dotado de dois estágios propulsivos e
capaz de transportar uma carga útil de 500 quilos a 640 quilômetros de
altitude, o VS-40M levou ao espaço o experimento hipersônico alemão de
reentrada atmosférica Shefex II (Sharp Edge Flight Experiment). Esses experimentos
avaliam, entre outros objetivos, o comportamento de materiais usados na
construção de veículos espaciais tripulados quando submetidos às severas
condições de reentrada na atmosfera terrestre.
© THILO KRANZ (DLR)
Lançamento do VSB-30 V16 em abril de 2012,
do campo de
Esrange, na Suécia.
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Sistema Inercial
A reentrada
é também um dos objetivos do Sara, fabricado no IAE e que será lançado do
Centro da Barreira do Inferno em novembro deste ano, a bordo do VS-40M, na
Operação São Lourenço. O satélite é uma plataforma espacial para experimentos
em ambiente de microgravidade, destinado a operar a 300 quilômetros de altitude
por, no máximo, 10 dias. Depois desse período, o Sara fará sua reentrada na
atmosfera e cairá no oceano Atlântico, de onde será recuperado para avaliação
dos experimentos levados ao espaço. “Entre os vários experimentos a bordo do
Sara, vale destacar o teste de um sistema inercial, que, no futuro, deverá
equipar o VLS-1”, afirma o engenheiro Nelson Snellaert Tavares, gerente do
projeto do VS-40M. Esses sistemas de orientação são responsáveis pelo guiamento
do veículo.
Equipado com
dois propulsores com propelente sólido, o VS-40 fez seu voo inaugural em 1993.
Ele foi concebido com o propósito de testar em voo o funcionamento, no vácuo,
do motor S44, similar ao quarto e último estágio do VLS-1 – o outro propulsor
do VS-40, batizado de S40, equivale ao terceiro estágio do VLS-1. Cinco anos
depois, uma segunda unidade do foguete foi lançada de Alcântara. Devido ao bom
desempenho desses dois voos, o IAE concluiu que o veículo poderia ser aplicado
para experimentos em ambiente de microgravidade e ser mais um dentre os
foguetes de sondagem desenvolvidos pelo órgão. “Em 2008, o DLR mostrou
interesse pelo foguete. Apesar de naquela época o VS-40 já ser um veículo muito
confiável, fizemos modificações e melhoramos sua segurança de operação, de
montagem e de integração. Daí, ele passou a ser denominado VS-40M, uma versão
modificada da original”, diz Tavares.
A missão
inaugural do VS-40M aconteceu em 22 de junho de 2012, quando foi lançado do
Centro de Lançamento de Andoya, na Noruega, levando a bordo o experimento
Shefex II, avaliado em € 7 milhões. “A missão atingiu plenamente os seus
objetivos”, diz o gerente do projeto VS-40M. Segundo o engenheiro Nelson
Tavares, os alemães já demonstraram interesse em adquirir um novo foguete e o
IAE também foi sondado por uma empresa internacional do setor aeroespacial
interessada em uma unidade do veículo. “Já estamos pensando em melhorias e
otimizações futuras a fim de tornar o VS-40M ainda mais competitivo do ponto de
vista comercial para órgãos e empresas que necessitem de vetores para voos
suborbitais e em ambiente de microgravidade”, diz ele.
Fonte: Revista Pesquisa FAPESP - Edição 222 – Agosto de
2014
Comentário: Pois é leitor, apesar do artigo ser interessante
e trazer informações que talvez alguns de nossos leitores desconheçam, não é
preciso ser um entendido no assunto para perceber que em relação às missões
citadas o artigo está completamente fora de órbita. No entanto, vale dizer que
esse era mesmo o cronograma de missões suborbitais que estavam previstas pelo
IAE para serem realizadas no ano de 2014, além é claro das operações de voo simulado
e do teste de voo tecnológico, ambos do Projeto do VLS-1. Assim se levarmos em
conta que esse artigo tenha sido escrito por volta de maio/junho e só publicado
agora, podemos inocentar o autor do artigo. Na realidade leitor quem tem uma presidentA
como DILMA ROUSSEFF não precisa de inimigos e portanto o resultado não poderia
ser outro. Representante exemplar do populismo exacerbado e da estupidez administrativa
de uma classe corrupta e sem qualquer credibilidade perante aqueles mais esclarecidos
(infelizmente minoria da minoria), essa senhora desde que assumiu o governo só
fez boicotar com seus cortes no orçamento, ano após ano, toda a
programação das instituições envolvidas com o Programa Espacial Brasileiro,
além de apoiar o desastroso acordo espacial com a Ucrânia. Não é por acaso que
de seis em seis meses o IAE e as instituições envolvidas com os lançamentos são
obrigados a se reunirem (normalmente no CLA) para reprogramar as missões
previstas, situação esta que ocorreu por diversas vezes durante o período de
governo dessa senhora (erva daninha) que infelizmente está no poder de nossa
pátria. Diante disto, das missões citadas, a única que realmente irá acontecer em
2014 (no final da tarde de hoje) é a “Operação Raposa”, e mesmo assim não da
forma como estava inicialmente prevista pelo IAE e pela Orbital Engenharia,
como já abordado por mim em um de meus comentários no dia de ontem. Vale também
esclarecer que as duas outras missões (além da missão do SARA) citadas neste
artigo (as do foguete VSB-30) são referentes às missões previstas pelo 4º AO
(Anuncio de Oportunidade) do Programa Microgravidade da AEB, que na realidade inicialmente
tinham previsão de lançamento para julho
de 2014 (1ª Chamada) e julho de 2015 (2ª Chamada), tendo inclusive este anuncio
também previsto o lançamento de um terceiro VSB-30, este para maio de 2016 (3ª
Chamada). Enfim leitor, com os governos que temos e com a mentalidade política vigente,
a única coisa certa no PEB é que não há nada certo.
E ai, lançou ou não lançou? Quero notícias!
ResponderExcluirOlá Anônimo!
ExcluirAté o momento nada foi divulgado.
Abs
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)