Opto Eletrônica no Programa Espacial Sino-Brasileiro
Olá leitor!
Segue uma interessantíssima reportagem postada dia (16/06)
no site do Instituto de Física de São Carlos (IFSC), ligado a Universidade de
São Paulo (USP) dando destaque a participação da empresa brasileira Opto
Eletrônica no Programa do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Naturais
(CBERS).
Duda Falcão
Opto Eletrônica no Programa
Espacial Sino-Brasileiro
Assessoria de Comunicação
Seg, 16 de Junho de 2014- 04:25
CBERS
A empresa Opto Eletrônica,
sediada na cidade de São Carlos desde 1985 e fundada por ex-alunos e
pesquisadores do IFSC-USP, acaba de concluir um de seus mais extraordinários trabalhos,
fruto de cerca de dez anos de pesquisa e aplicação, ao enviar neste mês de
junho, para a China, a câmera MUX para o programa CBERS-4, constituindo grande
parte da contribuição brasileira no programa espacial conjunto entre China e
Brasil (CBERS – China-Brazil Earth Resources Satellite),
onde será integrada ao satélite sino-brasileiro. Pesquisadores e técnicos
formados nas diversas unidades do Campus USP – São Carlos (IFSC, EESC, entre
outros), contribuíram para este sucesso nacional, que eleva internacionalmente
não só o nome da empresa são-carlense, como também o país.
Depois da construção do modelo que serviu para teste e
onde foram feitas todas as experiências funcionais e a integração com os outros
equipamentos do satélite, foi finalmente validada a confecção das próximas
câmeras que serão enviadas ao espaço.
Esta é a segunda câmera MUX desenvolvida pela empresa
são-carlense, já que a primeira se perdeu durante o fracassado lançamento do
CBERS-3, em dezembro do ano passado, na China, quando uma falha em um dos
estágios do foguete propulsor gorou todo o esforço desenvolvido. O trabalho da Opto representa um marco para nosso
país, já que é a primeira vez na história que uma câmera de satélite é
desenvolvida cem por cento em território e com tecnologia nacionais. Para Mario
Stefani, Diretor P&D da Opto, foi uma
completa surpresa a empresa ter vencido a licitação para este grande projeto,
uma história que começou há cerca de vinte anos e que nada teve a ver com
programas espaciais.
Na verdade, em 1989, a empresa participou de uma
licitação promovida pela Vale do Rio Doce,
para construir um sistema de laser de baixa potência, um laser de HeNe desenvolvido pelos
pesquisadores oriundos do IFSC-USP, para alinhamento da estrada de ferro; e
tinha que ser de baixa potência porque, nessa época, muita gente acreditava que
o feixe de laser era prejudicial para a saúde, mesmo mortal. Com o sucesso
desse equipamento e com a desmistificação da tecnologia laser, ela começou a
ser aplicada em diversas situações e produtos, a tal ponto que a Opto começou a desenvolver, a
partir desse pequeno equipamento, outros mais sofisticados que, inclusive,
ainda hoje são disponibilizados tanto para equipamentos médicos, quanto para
equipamentos destinados às forças armadas não só do Brasil, como de outros
países.
A tecnologia da Opto foi
percebida pelo INPE (Instituto Nacionais de Pesquisas Espaciais), que, na
época, acabou coincidindo com o início de uma discussão que visava estabelecer
um acordo entre a China e o Brasil para a colocação, em órbita terrestre, de um
satélite de assessoramento remoto dedicado à área de preservação ambiental. Com
a China mostrando-se inflexível e determinada a construir todas as câmeras que
iriam equipar o satélite, argumentando que o Brasil não tinha meios técnicos
nem know-how para tal, coube ao Prof.
Luiz Miranda, do INPE, defender a competência brasileira – e da Opto, em particular -, já que ele
tinha acompanhado todos os anteriores trabalhos realizados pela empresa são-carlense.
Depois de uma briga diplomática intensa, os chineses concordaram com os termos
e a Opto, vencendo a licitação, começou
a construir não só a MUX, como também a WFI.
As Particularidades das Câmeras
MUX e WFI
A câmera MUX (multiespectral regular) é a mais
sofisticada. Ela consegue visualizar seja o que for até vinte metros do solo,
possuindo quatro bandas espectrais que têm a função de controle ambiental: elas
servem justamente para enxergar diversas particularidades, por cálculo da
resposta espectral diferencial, como, por exemplo, se a água está contaminada,
se a vegetação está indo bem, se o solo está sendo bem utilizado, se tem
acidez, se está degradado, se houve áreas sujeitas a incêndios, etc.. Enfim,
essa câmera possui uma série de funções ambientais, só pela análise diferencial
dessas quatro bandas: É uma câmera de alta
resolução, colocada a oitocentos quilômetros de altitude e ela enxerga detalhes
de vinte metros do solo. É como se de São Carlos você conseguisse enxergar um
carro em Brasília. Então, foi um desafio tecnológico muito grande,
explica Mario Stefani.
A outra câmera é a WFI-OMB (campo largo), que tem
resolução do solo de oitenta e seis metros, mas ela enxerga a setecentos
quilômetros. Ela é feita com as mesmas quatro bandas, mas sua função é para uma
monitoração mais ampla, com menos detalhe, servindo para proporcionar uma visão
geral da área que se pretende analisar. Sumariamente, a WFI-OMB faz uma
primeira passagem - a pessoa vê onde é que está dando problema -, e depois muda
para a MUX para observar os detalhes, o que significa dizer que, com essas duas
câmeras, cerca de noventa por cento das aplicações ambientais, críticas para o
Brasil, poderão ser resolvidas.
Segundo Mario Stefani, o projeto sofreu alguns boicotes
ao longo do seu desenvolvimento, até porque a MUX é uma câmera que tem funções
estratégicas na área econômica: Com ela, você vai poder saber
como será a safra de soja ou da cana-de-açúcar. Ela detecta, por exemplo, se
haverá uma seca no norte do Mato Grosso e, se isso acontecer, qual será a
implicação que vai ter em termos económicos. Ela consegue saber onde estão
sendo feitas queimadas, etc.. Temas, como água, agricultura e reflorestamento,
são questões de soberania e a MUX tem essa função estratégica",
acrescenta Stefani.
Na sequência de todo este trabalho e investimento, assim
que o equipamento estiver em órbita, todos os interessados poderão baixar
gratuitamente as imagens captadas pela MUX, através do site do INPE, sendo a
primeira vez que isso será feito no Brasil sem depender de imagens de outros
satélites americanos e europeus, muito bons, só que possuem igualmente outras
finalidades que não interessam ao Brasil. O lançamento do CBERS-4 está
programado para o próximo mês de dezembro.
A Burocracia e o Arcabouço Jurídico
Com o dinheiro recebido no início deste trabalho, a Opto gerou outras oportunidades,
como, por exemplo, na aplicação em produtos da área médica, de defesa, bem como
na criação de uma infraestrutura técnica e humana incomparável que, aliás
coincide com uma das grandes estratégias dos Estados Unidos, conforme explica
Stefani: O americano faz isso muito bem: ele cria esses
programas espaciais – de defesa ou não -, que acabam incentivando as empresas a
gerarem uma série de spin-offs. Então, essa receita é positiva. O problema no
Brasil é a falta de continuidade e esse arcabouço jurídico que existe. Nós até
brincamos, argumentando que, se se o governo compra um foguete ou satélite,
essa compra é abrangida pela mesma lei que prevê a compra de um alfinete ou de
um rolo de papel higiênico. Quando você vai analisar um projeto de satélite, o
próprio tribunal de contas não tem condições técnicas para analisar que é um
projeto de risco tecnológico alto e, por isso - por segurança e até por
questões de código de servidor público -, acaba aplicando as mesmas decisões,
sanções, parâmetros de custo e as mesmas jurisprudências que vão para as
compras de material de uso comum, o que é incompreensível.
Mario Stefani afirma que o Brasil é imaturo em termos de
arcabouço acadêmico, jurídico e empresarial para esses projetos: Se hoje eu chegasse e dissesse que o Brasil vai
ter que fazer um programa Apollo, mesmo que o país tivesse recursos ilimitados,
ele não conseguiria. Não por questões técnicas ou por falta de conhecimento,
mas sim por questões gerenciais e de arcabouço jurídico. O Brasil é incapaz e
não tem mecanismos legais para permitir um projeto desse tipo; essa é a
constatação triste. E é exatamente isso que precisamos passar para a juventude,
que de alguma forma vai ter a responsabilidade de ter que mudar essa legislação,
acrescenta Stefani, complementando que a juventude que hoje está no
IFSC e na EESC tem que ser empreendedora, e receber um pouco deste
conhecimento, experiência de vida empresarial, de forma que viabilize seu
sucesso na criação de riqueza futura para o país.
A Opto Eletrônica S/A
é uma empresa de tecnologia no ramo de optoeletrônica, com atuação nas áreas
médica, industrial, de componentes ópticos, aeroespacial e de defesa. Em
dezembro de 2009, a Opto recebeu o
Prêmio FINEP de Inovação na Categoria Média Empresa. Hoje, a empresa está
constituída em uma planta industrial no município, além de departamento
comercial e assistência técnica na capital paulista, três laboratórios
antirreflexo (São Paulo, Fortaleza, Porto Alegre) e unidades no exterior (Opto-USA).
A área aeroespacial da Opto nasceu em
1994 com o propósito de fazer pesquisa, desenvolvimento de produtos e prestar
consultoria em optrônica aplicada à área aeroespacial. O principal cliente final
da empresa são-carlense é o governo brasileiro, por meio de seus institutos de
pesquisas, agências do setor e forças armadas, uma área que presta igualmente
serviços para outras empresas que necessitem integrar em seus produtos e
subsistemas a equipamentos do setor.
O maior foco desta área está no desenvolvimento, a baixo
custo, de hardwares e softwares que integrem tecnologias de óptica, laser e
eletrônica adequadas tanto a áreas medicas quanto às áreas aeroespaciais. A
equipe Opto é composta, em sua maioria,
por engenheiros (incluindo mestres e doutores), físicos e técnicos, envolvidos
em todas as fases dos programas, desde a especificação e desenvolvimento, ao
longo de todos os testes, avaliações, certificações e operação inicial. A Opto conta ainda com sala limpa,
para montagem e integração de sistemas, e sala escura, para testes ópticos de
precisão, ampla gama de instrumentos para desenvolvimento de testes e validação
de sistemas optoeletrônicos embarcados em missões criticas.
Fonte: Site do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) -
http://www.if.sc.usp.br
Comentário: Pois é leitor, veja a importância dessa
empresa para o programa Espacial do Brasileiro (PEB), e vale lembrar que nos bastidores
corre o boato de que essa empresa estratégica pode ser desnacionalizada (vendida ao grupo
SAFRAN) a qualquer momento, o que seria um verdadeiro crime contra o nosso
patrimônio cientifico e tecnológico, mas nada de se estranhar com a classe
política que temos. Exemplos não faltam como o da Aeroeletrônica (hoje AEL
Sistemas pertencente ao grupo israelense Elbit Systems) Equatorial Sistemas (hoje
pertencente ao grupo europeu Astrium), a Optovac (hoje pertencente ao grupo francês (creio eu) SAFRAN)
entre outras, todas elas empresas de segurança nacional vendidas com o endosso de
uma classe política corrupta, incompetente e irresponsável. A Opto Eletrônica,
junto com a MECTRON (esta felizmente comprada pelo Grupo Odebrecht) e a Orbital
Engenharia, são algumas das poucas que ainda restam e precisam ser protegidas
pela Sociedade Brasileira, caso contrário em pouco tempo o chamado “Cluster
Aeroespacial Brasileiro” não passará de um grupo de empresas subsidiarias de
grandes grupos estrangeiros. A fome dessas empresas estrangeiras é grande, e
aliadas as dificuldade que as empresas brasileiras são obrigadas a viver no seu
dia-dia por conta do desempenho desses energúmenos de Brasília, o caminho está
aberto para essas aquisições, principalmente no Brasil, uma verdadeira casa de “Mãe
Joana” onde todo mundo manda, menos o povo brasileiro.
Como eu venho postando aqui várias vezes, não é apenas a questão desse ou daquele "governo". desse ou daquele ministro, desse ou daquele funcionário civil ou militar que no momento comanda um desses institutos.
ResponderExcluirO problema é muito maior. É institucional, e tem a ver com o modelo de administração pública legalista adotado por aqui.
E para mudar isso, o buraco é muito mais em baixo, uma reforma profunda nas instituições, ou até mesmo, uma nova constituinte.
Ou seja, do jeito que está hoje em dia, esqueçam, não tem jeito de a administração pública conduzir isso com alguma chance mínima de sucesso.
É triste mas é um fato.