Dez Anos Após do Acidente, Não Há Punições na Justiça
Olá leitor!
Segue abaixo uma matéria postada hoje (22/08) no “Portal
TERRA” destacando que dez anos após o acidente com o VLS-1, não há punições na
justiça.
Duda Falcão
ESPAÇO
Dez Anos Após Acidente Com Foguete
Brasileiro, Não Há Punições na Justiça
Presidente da Associação dos Familiares das Vítimas do
VLS afirma
que processo "muda de mãos" em tentativa de
adiar o desfecho criminal
Vagner Magalhães
Direto de São José dos
Campos (SP)
Portal Terra
22 de Agosto de 2013 - 08h53
Atualizado às 09h31
Foto: Bruno Santos / Terra
"Nos primeiros dois anos, eu entrei em uma depressão muito grande", relata a viúva Doris Maciel Cezarini. |
Doris Maciel Cezarini, 53 anos, lembra em detalhes do dia
22 de agosto de 2003, data em que seu marido, Sérgio Cezarini, então com 47
anos, morreu durante a explosão do Veículo Lançador de Satélites (VLS), na base
de Alcântara, no Maranhão. Sérgio trabalhava com vídeo e registrava os detalhes
da operação. A explosão aconteceu três dias antes do lançamento oficial do
foguete espacial. Nestes 10 anos, a vida de Dóris ficou de "cabeça para
baixo", como ela mesma define. Em menos de uma semana, ela ajudou a criar
a Associação dos Familiares das Vítimas do VLS, da qual é presidente, e lamenta
o tratamento dado às famílias das 21 vítimas. Até hoje, não há responsáveis
pelo acidente e os processos indenizatórios ainda estão distantes de chegar ao
fim.
“Eu lembro exatamente de cada segundo do dia que eu
fiquei sabendo da notícia. Foi um transtorno na vida da
gente,
que de repente ficou de cabeça para baixo”
Doris Maciel Cezarini
viúva de Sérgio Cezarini, uma das vítimas
Ela lembra da dedicação do marido ao trabalho. "Ele
era uma pessoa que gostava muito do que fazia. E era um autodidata.
Aprendia olhando, vendo, mexendo. Ele se dedicava muito ao que fazia. Tanto ele
como todos os companheiros dele. Ele tinha orgulho de falar que trabalhava no
projeto do VLS. Em uma coisa tão importante para o Brasil, para a autonomia
espacial do Brasil. Eles faziam o que podiam com o que tinham lá", diz
ela.
Apesar de Sérgio trabalhar no ambiente de um projeto
espacial, ela conta que na família não havia preocupação quanto à segurança
dele no trabalho. Segundo ela, os principais riscos estavam nas viagens,
constantes, de São José dos Campos – local em que a família vivia –, no
interior de São Paulo, até Alcântara, no Maranhão.
"Com sinceridade, eu jamais imaginei que o meu
marido, no que ele fazia, pudesse correr algum risco desse tipo. A preocupação
nossa eram as viagens. Porque frequentemente, quando era marcada uma missão,
ele me ligava do aeroporto e pedia para que eu fosse buscá-lo, porque o avião
estava quebrado", relata Doris. Sérgio dizia que a peça viria de outra
aeronave, que também estava quebrada, e ia demorar a chegar.
“Nossa preocupação
era sempre no trajeto. Eles iam para essas missões junto com materiais que eram
perigosos", diz ela.
“Precisei de tratamento psicológico e consegui me
recuperar. E ter energia para continuar vivendo”
Doris Maciel Cezarini
Na memória, Doris diz guardar precisamente o que
aconteceu no dia que recebeu a notícia, mas afirma que pelo menos os dois anos
seguintes formam um vácuo na sua memória. "Eu lembro exatamente de cada
segundo do dia que eu fiquei sabendo da notícia. Foi um transtorno na vida da
gente, que de repente ficou de cabeça para baixo. A gente ficou muito tenso,
tentando entrar em contato com eles lá. Fui ligando para todos os telefones que
eu tinha dele. Ninguém sabia informar direito ou não podiam informar porque
estavam todos perdidos lá também. Eu tive a confirmação de que meu marido
estava na explosão de madrugada, através de um amigo dele que estava voltando
no avião que trouxe todos os funcionários que estavam em Alcântara. Mas oficialmente
eu só fiquei sabendo um dia ou dois depois, quando veio gente em casa e
oficializou a morte dele", afirmou.
Ela prossegue, contando como a família viveu nos anos
seguintes: "Foi muito difícil. No começo tem um vácuo na minha vida de uns
dois anos, em que eu não me lembro direito o que é que eu fazia. Para que lado
eu ia... Nos primeiros dois anos eu entrei em uma depressão muito grande e
fazia as coisas porque estava fazendo. Eu consegui pelas minhas filhas, pela
minha família, consegui criar força e comecei a me tratar. Precisei de
tratamento psicológico e consegui me recuperar. E ter energia para continuar
vivendo. Tem algumas viúvas que até hoje tem dificuldade de tratar disso e ter
um sentido na vida de conseguir mudar. É muito difícil lembrar de tudo o que
aconteceu e da forma que aconteceu. É uma coisa que marca para sempre".
“Foi um erro constatado por gerenciamento,
sucateamento de material, falta de verba”
Doris Maciel Cezarini
Passados 10 anos, ela afirma que há um
"esforço" dos envolvidos no caso para que ele caia no esquecimento.
"O que eles querem mesmo é que haja um esquecimento. Para eles, incomoda
muito relembrar sempre essa situação". Doris diz ainda que ver o caso se
arrastando por 10 anos na Justiça é motivo de frustração. "A sensação que
eu tenho, pelo menos do que aconteceu até agora, é que vai demorar muito tempo
para acontecer mais alguma coisa. A parte criminal também é muito frustrante
para a gente, porque gostaríamos que apontasse algum culpado, um gerente,
qualquer coisa que desse um andamento, que tivesse uma satisfação, tanto da
União, como do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), como do projeto do VLS. Que
tivesse uma satisfação sobre o que aconteceu com nossos familiares no
acidente."
“Era uma coisa tão importante para o Brasil, para a
autonomia espacial do Brasil. Eles faziam o
que podiam com o que tinham”
Doris Maciel Cezarini
Para ela, neste período, o processo só vai mudando de
mãos, em uma tentativa de adiamento para um desfecho. "A União ainda pode
recorrer quantas vezes quiser. A gente fica muito frustrada. Somos educados
para (...) se você faz alguma coisa errada, ser punido de alguma forma. Se você
tiver um excesso de velocidade no seu carro, você tem uma multa e tem de pagar
por isso. Nas nossas ações, eu entendo que é a mesma coisa. Nós ganhamos. Foi
um erro que foi constatado por gerenciamento, sucateamento de material, falta
de verba. Nós ganhamos nessa parte. As indenizações são para isso. São uma
punição para um erro que foi cometido."
Familiares de vítimas do
acidente com VLS em Alcântara relembram tragédia
Fotos: Bruno
Santos / Terra
Doris lamenta o tratamento dado às famílias das 21 vítimas
do acidente com o veículo lançador de satélites brasileiro.
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"Foi um erro constatado por gerenciamento,
sucateamento de
material, falta de verba", relata Doris.
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Fonte: Portal Terra - 22/08/2013 -
http://noticias.terra.com.br/
Comentário: Pois é leitor, esse é o país em que vivemos e
estamos construindo. BRA ZIL ZIL ZIL ZIL.
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