10 Anos Depois do Acidente, o CLA Ressurge Para Conquistas Espaciais
Olá leitor!
Dando sequência à
apresentação do Caderno Especial do jornal “O
Estado do Maranhão”, publicado na edição do dia (22/08) com
quatro páginas e intitulado “CLA 10 Anos da Tragédia”, trago agora
para você a segunda página desse grande e excelente trabalho do jornal
maranhense. Segue abaixo a segunda página do caderno.
Duda Falcão
ESPECIAL – CLA
10 Anos da Tragédia
10 Anos Depois
do Acidente, o CLA
Ressurge Para Conquistas
Espaciais
Uma década após
o acidente que destruiu a plataforma de lançamento
e matou 21
técnicos brasileiros, o Centro de Lançamento de Alcântara
busca retomar as
atividades de grande porte no Brasil
e planeja o
desenvolvimento da evolução do VLS
O Estado do
Maranhão
22/08/2013
Eram 13h26 do
dia 22 de agosto de 2003, em Alcântara, no Maranhão. Nesse dia, um incêndio mudou
de forma drástica os rumos do Programa Espacial Brasileira, com um saldo de 21 técnicos
do Comando Técnico Aeroespacial mortos e uma longa pausa nas atividades aeroespaciais
de grande porte desenvolvidas pelo país. Naquela
tarde de 2003, no Centro de Lançamento
de Alcântara (CLA), os profissionais trabalhavam
dentro da Torre Móvel de Integração
(TMI), a plataforma de lançamento do Veículo Lançador
de Satélites (VLS), da qual o
foguete deveria fazer seu primeiro voo marcado
para três dias depois da tragédia. A
atividade representaria uma tentativa do
país de qualificar um lançador de grande porte capaz de colocar
satélites em órbitas geoestacionárias.
Dez anos depois da tragédia, o
Brasil se prepara para retomar as atividades com o VLS, a partir do ano que
vem. A previsão é que em 2014 aconteçam dois lançamentos do veículo. O voo completo
deve ser realizado em 2015. Depois desse processo, o foguete seria considerado qualificado
para outras atividades, inclusive, lançamentos comerciais. Paralelamente às atividades
do VLS, o Brasil já planeja a evolução do foguete, com desenvolvimento de novos
modelos.
Calendário
- De acordo com
o cronograma do Programa Nacional de Atividades Espaciais, divulgado pela
Agência Espacial Brasileira (AEB), as atividades de grande porte serão retomadas
definitivamente a partir do ano que vem, não só com o VLS, mas com a preparação
de outros foguetes.
Em 2015, acontecerá o voo completo,
que deve levar a bordo uma carga útil (experimentos científicos a serem
testados no espaço). Em 2016 e 2017, se todas as atividades programadas forem
bem-sucedidas, o foguete receberá a qualificação, o que dará ao Programa
Espacial Brasileiro o aval para a fabricação da sequência da família do VLS, com
os modelos VLS Alfa e Beta.
Esses novos modelos já se encontram
em fase de desenvolvimento de projeto e a previsão de lançamento é 2018 e 2020,
respectivamente. Durante as etapas de fabricação, é de interesse do Brasil
estabelecer parcerias com outros países em atividades de consultoria
tecnológica. “Os projetos desses lançadores já estão concebidos, mas é claro
que uma tecnologia complexa não demora menos de 10 anos para a concepção, pois
não se trata apenas de desenvolver o foguete. Temos que dominar todos os
estágios. Nós estamos estudando os países estratégicos para uma parceria em
consultoria. Lógico que escolheremos o melhor para a gente. A nossa intenção
mesmo é desenvolver em conjunto, ter esse intercâmbio de conhecimento”, disse o
presidente da AEB, José Raimundo Coelho, em entrevista exclusiva a O
Estado.
Atividades
- Em 2015, além
das atividades com o VLS, a AEB planeja ainda atividades com o Veículo Lançador
de Microssatélite (VLM), em parceria com o Programa Espacial da Alemanha. O objetivo
desse programa é dotar o país de capacidade de acesso ao espaço, com meios e recursos
próprios, além de explorar o nicho de mercado para lançamentos comerciais de microssatélites.
Em sua primeira versão, o foguete de três estágios movido a combustível sólido
tem capacidade prevista de lançar 150 kg de carga útil em órbita baixa.
No entanto, aquele dia de agosto
que resultou na morte dos técnicos ainda é uma ferida aberta para quem trabalha
nas atividades espaciais. “É muito difícil falar que o Programa Espacial está
totalmente recuperado quando perdemos 21 profissionais. Todos eles eram nossos
colegas. Reafirmo o nosso sentimento de perda e sempre fico emocionado toda vez
que falo sobre esse assunto. Foi uma lição muito dura que tivemos e nos trouxe
aprendizados. A nossa nova torre é o que se pode chamar de mais moderna em
termos de segurança e tecnologia para lançamentos. A torre pode se adaptar a
outros tipos de lançadores, não só para a família VLS, mas o que chama a
atenção são os cuidados com a segurança” declarou o presidente da AEB, José
Raimundo Coelho.
CRONOLOGIA
Torre de lançamento com o VLS dias antes das tragédia em Alcântara |
Acidente
Aconteceu na Montagem do Foguete
Fotos/Arquivo
Faltavam três dias
para o lançamento do Veículo Lançador de Satélites (VLS). O clima era de tensão
e expectativa no CLA, em Alcântara. Os técnicos faziam procedimentos para
preparar o lançamento do foguete - que precisa ser montado dentro da plataforma
– quando, inesperadamente, o equipamento foi acionado e começou o incêndio. Não
houve tempo para fuga. O modelo da plataforma na época não tinha alternativas
de um sistema de escape e os profissionais ficaram presos. O incêndio demorou
cerca de três minutos. Depois, o cenário era de destruição e desespero.
“Ouvimos uma
ignição. Aí, eu olhei para trás, falei ‘caramba...’. Aí, foi o desespero. Só vi
o foguete queimando e pensei, puxa vida, minha equipe lá. Três estão lá dentro.
E a torre queimando”, disse José dos Santos Ferreira, sobrevivente do acidente,
em entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, exibido no dia 4 deste
mês.
Os laudos oficiais
divulgados pelo Instituto da Aeronáutica sobre o acidente atestam que uma pane no
sistema elétrico provocou o acionamento dos motores. Essa seria a terceira
tentativa de o Brasil tentar realizar o experimento com um veículo lançador de
satélites, a primeira aconteceu em 1997, quando o foguete chegou a ser lançado na
operação denominada Brasil. Na operação, o protótipo transportava um Satélite
de Coleta de Dados (SCD- 2 A), mas, durante os primeiros segundos de voo,
devido a uma falha na ignição de um dos propulsores do primeiro estágio. Para
evitar uma queda fora da trajetória, foi acionado o comando de autodestruição.
Operação - A segunda tentativa
aconteceu dois anos depois. Em dezembro de 1999, durante a operação Almenara
foi realizado o segundo voo. Naquela ocasião, o VLS levaria a bordo um satélite
científico desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE),
mas por causa de outra falha no sistema pirotécnico, dessa vez no segundo
estágio, também houve a necessidade da autodestruição.
Em 2003,
aconteceria a terceira tentativa de lançamento na missão denominada Operação
São Luís, que tinha como objetivo colocar dois satélites em órbita a 750 km de
altitude. Os satélites eram do INPE e da Universidade do Norte do Paraná.
Fonte: Jornal O Estado do Maranhão – Caderno Especial - pág. 02 -
22/08/2013
Comentário: Apesar da matéria começar com dois erros,
já que o VLS-1 não é um lançador
de grande porte, e sim de médio porte,
e muito menos capaz de colocar
satélites em órbitas geoestacionárias, e além disso, de não está correta a informação de que seja previsão do CLA de realizar dois
lançamentos do VLS-1 em 2014 (o que está previsto na realidade é uma operação
de lançamento 'simulada' intitulada “Operação Santa Bárbara” e o lançamento do
VLS-1 VSINAV), no geral, essa matéria foi muito bem conduzida pelo seu autor. Entretanto
a expectativa aqui apresentada em nossa opinião está extremamente exagerada, já
que programa espacial é coisa muito séria e se faz com comprometimento e não
com contos da carochinha, comprometimento esse que não existe no inconsequente e populista Governo DILMA
ROUSSEFF. Aproveito para agradecer ao leitor maranhense Edvaldo Coqueiro pelo
envio desse Caderno Especial e amanhã seguiremos apresentando a terceira página
do mesmo.
A GEOPOLÍTICA DO Programa Nacional de Atividades Espaciais da Agência Espacial Brasileira (AEB)
ResponderExcluirTudo que está escrito no texto de autoria do jornalista Mauro Santayana é VERO. Só que ele foi muito diplomático e sucinto em sua análise sobre uma questão tão crucial como essa.
Foguetes e satélites [e respectivas ciências, tecnologias, centros de pesquisas e lançamentos, fábricas, empregos etc.] são partes intrínsecas da mais estratégica das atividades humanas hoje: a tal da TIC - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO!!!
No caso do CLA faltou ao MS conhecer melhor a geopolitica do Maranhão, do Congresso, da AEB, do EMFA e do governo americano, para entender porque estamos sempre bisonhamente no rabo do foguete, comendo pó e fogo e matando gente. Dentre outros fatores de suma relevãncia não citados por MS, destaco:
1) O absurdo e deletério desinteresse e desinformação da sociedade brasileira, em geral, e do Maranhão, em particular, quanto a necessidade imperiosa, inafastável, irredutível dque tem todo país de dimensões continentais de dispor de infraestrutura, mecanismos e instrumentos de geoprocessamento logístico tanto para segurança pública interna e defesa/ataque, como para mapeamento e monitoramento de seu território e de suas riquezas naturais [ex; fronteiras, Amazônia; mar territorial, fontes de energia; poços e plataformas de petróleo; agronegócios, regiões metropolitanas, centros urbanos etc.];
2) Nessas quase três décadas ficou patente o absoluto descaso da classe política, das autoridades públicas estaduais e municipais e das elites empresariais no Maranhão quanto ao CLA e a tudo que lhe é inerente e imanente enquanto potencial pólo nacional de alta tecnologia, segurança nacional e negócios globais de comunicação. Basta dizer que o projeto do CLA - nesse contexto de dimensões continentais e interesses globais - é refém de QUILOMBOLAS e de um imenso varal de anacronismo jurídicos e orçamentários absurdos;
3) O Maranhão, como um grande MACONDO brasileiro, sendo o mais pobre estado do Brasil em termos de IDH e distribuição e renda, não cuida sequer do Centro Histórico de Alcântara, Patrimônio Cultural Nacional, e nem tem política alguma para interagir com o CLA de forma estratégica.
4) O Governo Federal, o Governo do Maranhão e, de modo amplo, a classe política maranhense sempre "venderam" e planejaram muito mal e iniciaram pessimamente - há cerca de 30 anos - a implantação do CLA, culminando com a pira funerária que se tornou a plataforma de lançamentos em 21/08/2003, matando 21 técnicos brasileiros.
5) A população brasileira, de modo geral, vê o CLA com escárnio, chacotas e enorme descrédito, ante a pantomima que se tornou o interminável debate político e orçamentário sobre a "capacidade nacional" de fazer face às grandes potências no campo do desenvolvimento aeroespecial. Enquanto o Brasil se mantiver genuflexo em seu alinhamento compulsório e submisso aos interesses americanos [empresariais, corporativos e governamentais] não haverá chance alguma de se avançar significativamente nesse campo.
Ronald de Almeida Silva [Rio, RJ; 1947]
Arquiteto urbanista [FAU-UFRJ 1972]
Trabalha e reside no Maranhão desde 1976.
Ex-Secretário Adjunto de Estado da Industria, Comércio e Turismo [1993-94] e Subsecretário de Planejamento do Maranhão [1991-92].
O FUTURO DO CLA – CENTRO DE LANÇAMENTO DE ALCÂNTARA
ResponderExcluirPor Mauro Santayana
A notícia de que a utilização da Base Espacial de Alcântara para o lançamento de peças e foguetes com componentes norte-americanos estaria entre os assuntos que seriam discutidos por Dilma e Obama, caso tivesse sido realizada a visita de Estado aos EUA, nos leva a refletir sobre outro aspecto importante da relação entre os dois países e o futuro da política espacial brasileira.
Apesar do compromisso – a meu ver equivocado – de o Brasil não desenvolver armamento atômico, os EUA tem deixado clara a sua oposição ao desenvolvimento autônomo de foguetes de longo alcance pelo nosso país, e, a partir deles, de mísseis que pudessem vir a ser utilizados para transportar ogivas nucleares.
A política espacial brasileira tem, no momento, duas vertentes: uma, comercial, está voltada para a futura utilização do Centro Espacial de Alcântara – localizado, estrategicamente, na linha do Equador, o que permite uma economia em combustível de cerca de 30% – para o lançamento de satélites, por meio da ACS - Alcântara Cyclone Space (ACS), empresa binacional criada pelos governos do Brasil e da Ucrânia.
A outra, mais estratégica, é a de prosseguir com o desenvolvimento, independente, do VLS – Veículo Lançador de Satélites, projeto que já passou por inúmeros percalços, entre eles, a polêmica explosão de um foguete e de uma plataforma de lançamento, em 2003, na qual morreram 21 técnicos brasileiros.
O prosseguimento dos dois programas tem esbarrado em vários fatores.
A disputa pela área em que se situa a Base de Alcântara, entre a Aeronáutica e comunidades quilombolas remanescentes - restringindo o espaço destinado às atividades espaciais - é o mais imediato deles.
O segundo é a negativa dos EUA em permitir o lançamento desde o território brasileiro de equipamentos com peças e componentes norte-americanos - o que inclui a maioria dos satélites construídos nos países ocidentais.
É esse tema que seria tratado pela Presidente Dilma nos Estados Unidos.
Como já é detentora de tecnologia espacial, o interesse da Ucrânia é comercial e não estratégico. O país acredita, ingenuamente, que poderia ter acesso a mais clientes se o Brasil aceitasse as restrições norte-americanas. Mas os ucranianos se esquecem que os EUA (ou suas empresas), que já concorrem com outros países, como a França, não teriam – mesmo se fossem atendidos - o menor interesse em facilitar a entrada de mais um concorrente, como é o caso da ACS, no mercado internacional de lançamento de satélites.
Transferindo-se, no futuro, a base de lugar - ou expandindo as instalações para fora da área em disputa - o Brasil teria duas saídas.
Como foi feito com a França, no caso do submarino nuclear brasileiro, tentar um acordo com a Ucrânia para a conversão do projeto da ACS em um programa não mais comercial, mas estratégico - pagando pela tecnologia.
Ou concentrar todos os esforços no VLS, desenvolvendo localmente as peças que não podemos importar, com a contratação de cientistas estrangeiros.
Por Mauro Santayana