Medidas de Raios Cósmicos Podem Levar ao Entendimento da Matéria Escura
Olá leitor!
Segue abaixo uma pequena matéria postada hoje (16/01) no
site da “Agência FAPESP” destacando que segundo um estudo internacional com
participação brasileira aponta que Medidas de Raios Cósmicos podem levar ao
entendimento da Matéria Escura.
Duda Falcão
Notícias
Medidas de Raios Cósmicos Podem Levar
ao Entendimento da
Matéria Escura
José Tadeu Arantes
Agência FAPESP
16 de janeiro de 2017
(Imagem: NASA)
Aglomerado de galáxias Abell 1689: o conceito de matéria
escura
permite fechar o balanço gravitacional de megaestruturas como esta.
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A compreensão
da matéria escura – um dos mais fascinantes temas em aberto da física
contemporânea – pode estar menos distante do que se imaginava. O balanço de
cinco anos de operação do AMS-02
(Alpha Magnetic Spectrometer), o detector instalado na estação espacial internacional (International Space
Station – ISS) com o objetivo de medir raios cósmicos antes de sua interação
com a atmosfera terrestre, oferece resultados promissores nesse sentido.
A apresentação
dos resultados, feita pelo pesquisador principal do experimento, o Prêmio Nobel
de Física Samuel Ting, foi transmitida ao vivo pelo CERN, a Organização
Europeia para a Pesquisa Nuclear em 8 de dezembro de 2016. Orbitando a Terra
cerca de 360 quilômetros acima da superfície, o AMS-02 já registrou até o
momento mais de 90 bilhões de eventos de raios cósmicos.
Pesquisadores
de 56 instituições de 16 países participam do experimento que tem à frente o
Departamento de Energia dos Estados Unidos. Faz parte da equipe a física
Manuela Vecchi, professora do Instituto de Física de São Carlos da Universidade
de São Paulo (IFSC- USP), que conta com o apoio da FAPESP.
“Nestes cinco
primeiros anos de observação, publicamos vários artigos na Physical Review
Letters. Entre
eles, Antiproton
Flux, Antiproton-to-Proton Flux Ratio, and Properties of Elementary Particle
Fluxes in Primary Cosmic Rays Measured with the Alpha Magnetic Spectrometer on
the International Space Station, em agosto de 2016. A abundância e a precisão dos dados obtidos pelo
AMS-02 estão desafiando os modelos convencionais sobre a origem e propagação
dos raios cósmicos”, disse Vecchi à Agência FAPESP.
Na colossal
quantidade de eventos registrados pelo equipamento – constituídos por
partículas produzidas fora do Sistema Solar e que se propagam no espaço com
velocidades próximas à da luz –, de especial interesse foi a detecção de
antimatéria: antielétrons (pósitrons) e antiprótons.
“Trata-se de
uma fração muito pequena da radiação cósmica, da ordem de uma para cada 10 mil
partículas. Detectar essas antipartículas é um grande desafio, pois o fundo de
prótons é enorme e domina os registros. Mas, combinando diferentes técnicas de
detecção, o AMS-02 consegue medi-las com admirável precisão. E isso é
fascinante, porque as antipartículas são ‘janelas’ para a busca indireta de
matéria escura”, afirmou a pesquisadora.
Para entender
tal relação, é preciso recordar uma ideia central da cosmologia contemporânea.
Segundo a teoria do Big Bang, ao se formar, cerca de 14 bilhões de anos atrás,
o Universo possuía a mesma quantidade de matéria e antimatéria. Porém, uma
quebra espontânea de simetria, ocorrida durante uma transição de fase do
universo primordial, gerou um pequeno excedente de matéria – da ordem de uma
partícula extra de matéria para cada 10 bilhões de pares de partículas e
antipartículas. Todo o Universo atualmente conhecido, com suas galáxias,
estrelas, planetas e outros objetos materiais, teria se originado desse
excedente. Yoichiro Nambu, Makoto Kobayashi e Toshihide Maskawa receberam o
Prêmio Nobel de Física de 2008 por seus estudos relativos à quebra espontânea
de simetria.
Isso
explicaria porque não encontramos antimatéria de forma estável atualmente no
Universo. No modelo vigente sobre raios cósmicos, a produção de pósitrons e
antiprótons é explicada em função das interações das partículas materiais
durante sua propagação no meio interestelar. Mas as medidas realizadas por meio
do AMS-02 forneceram um número de antipartículas maior do que o esperado a
partir dos processos astrofísicos convencionais.
“Sabemos que a
propagação de raios cósmicos no meio interestelar leva à produção de pósitrons
e antiprótons. E sabemos também calcular o fluxo esperado dessas antipartículas
em função da energia. Um excesso de eventos em relação às previsões exige que
outros fenômenos físicos sejam considerados para explicar a diferença. Esse
excesso já havia sido detectado pelo satélite PAMELA
em 2008. E foi confirmado, com alta precisão, pelo AMS-02”, informou Vecchi.
É aqui que
entra a matéria escura. Porque uma hipótese bastante plausível é a de que pares
de partículas e antipartículas estejam sendo produzidos, em grande quantidade,
a partir da aniquilação de matéria escura. Deve-se levar em conta que, segundo
os cômputos atuais, 73% do conteúdo do Universo seria constituído por energia
escura, 23% por matéria escura e somente 4% pela matéria conhecida. “Eu não
diria que a matéria escura seja a única fonte da antimatéria dos raios
cósmicos. Mas, sem dúvida, deve ser considerada como uma das possibilidades”,
argumentou a pesquisadora.
Uma forte
candidata a matéria escura é a partícula chamada Wimp – nome formado pelas
iniciais das palavras que compõem a denominação inglesa weakly interacting
massive particle (partícula massiva fracamente interativa). “A Wimp não é
uma partícula do modelo padrão, mas é prevista em extensões do modelo. É
concebida como uma partícula estável, portanto, não sujeita a decaimento.
Quando aniquilada, daria origem a um par partícula-antipartícula”, explicou
Vecchi.
Além da
matéria escura, outras fontes possíveis para o excesso de antipartículas são
objetos astrofísicos mais convencionais, como pulsares ou remanescentes de
supernovas.
O excesso de
antipartículas não é o único dado obtido pelo AMS-02 que desafia o modelo
vigente. Outras medidas também parecem exigir uma revisão radical. Na
composição dos raios cósmicos, 90% são constituídos por prótons (isto é,
núcleos do átomo de hidrogênio ionizado). Depois, vêm 8% de partículas alfa
(isto é, núcleos de hélio, com dois prótons e dois nêutrons). Em menor
quantidade, vêm elétrons, outros núcleos produzidos nas fontes (carbono,
nitrogênio, oxigênio e outros elementos, até o ferro), núcleos resultantes da
fragmentação de outros raios cósmicos durante a propagação pelo meio
interestelar (lítio, berílio e boro). E, compondo uma pequena fração, as
antipartículas. “Os dados que já obtivemos não correspondem ao esperado a
partir do modelo convencional”, sublinhou a pesquisadora.
Outro achado
surpreendente, apesar de ser ainda preliminar, foi a suposta detecção de
anti-hélio. “Em cinco anos, o AMS-02 detectou 3,7 bilhões de eventos de hélio e
somente alguns poucos eventos de anti-hélio. Mesmo assim, esse achado pode ter
grandes implicações fenomenológicas, pois, se confirmado, seria a primeira
detecção de antinúcleos nos raios cósmicos”, comentou Vecchi.
A pesquisadora,
que mantém uma colaboração científica ativa com o CERN, é professora-doutora do
IFSC-USP. Seu auxílio à pesquisa, provido pela FAPESP por meio da modalidade Apoio a
Jovens Pesquisadores, deve se estender até 2019.
(Imagem: NASA)
Fonte: Site da Agência FAPESP
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