Astrônomos Brasileiros Identificam Estrela Rara na Via Láctea
Olá leitor!
Segue abaixo uma nota postada ontem (19/01) no site da
Agência FAPESP, destacando que Astrônomos Brasileiros identificam estrela rara
na Via Láctea.
Duda Falcão
Notícias
Astrônomos Brasileiros Identificam
Estrela Rara na Via
Láctea
Diego Freire
Agência FAPESP
19 de janeiro de 2016
(Foto: ESO/Beletsky/DSS1 + DSS2 + 2MASS)
Telescópio NTT e a estrela ultrapobre em metais
2MASS
J18082002-5104378 (no retângulo amarelo)
|
Estrelas primitivas, surgidas quando o universo ainda era
muito jovem, são de difícil identificação por conta de seu brilho, que costuma
ser pouco intenso. Não é o caso da rara 2MASS J18082002-5104378,
recém-identificada na Via Láctea por um grupo de pesquisadores brasileiros e
dos Estados Unidos liderados por astrônomos da Universidade de São Paulo (USP),
uma descoberta que pode ser peça-chave para ampliar a compreensão sobre os
primórdios da nossa galáxia.
Minutos após o Big Bang, apenas os elementos químicos
hidrogênio e hélio foram produzidos. Os elementos mais pesados, chamados de
metais, só surgiriam muito tempo depois, no interior das estrelas – que, ao
explodirem, ejetam material rico em metais ao meio interestelar, de tal maneira
que novas estrelas têm um conteúdo cada vez maior desses elementos. Portanto,
aquelas com a menor quantidade de metais são as mais primitivas, como a 2MASS
J18082002–5104378, que tem menos de 1/10000 vezes a quantidade de ferro do Sol.
A procura de estrelas pobres em metais é uma das áreas
mais ativas da astronomia, quando se trata de estudar as primeiras fases da
galáxia. A maioria dos esforços atuais está concentrada em estrelas fracas, de
pouco brilho, o que dificulta uma observação mais detalhada.
“Existe um bom número dessas estrelas, mas a maioria
delas é fraca, difícil de ser estudada em detalhe com telescópios. Trata-se de
estrelas muito antigas e de órbitas muito caóticas, formadas quando a galáxia
estava colapsando e afastadas da nossa vizinhança solar. Mas essa, em especial,
está passando um pouco mais próximo do nosso sol, o que a torna mais
brilhante”, conta Jorge Luis Meléndez Moreno, do Instituto de Astronomia,
Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG).
Meléndez é responsável pela pesquisa "Espectroscopia
de alta precisão: impacto no estudo de planetas, estrelas, a galáxia e
cosmologia", realizada com o apoio da FAPESP. O objetivo é caracterizar
com precisão determinados tipos de estrelas para estudar em detalhes a formação
dos planetas, os processos de evolução estelar, a evolução química da galáxia e
a nucleossíntese primordial – a formação de elementos químicos por reações
nucleares no Big Bang.
A “nova” estrela velha tem pelo menos 13 bilhões de anos.
Os pesquisadores chegaram à estimativa considerando os aglomerados de estrelas
mais antigos da galáxia, que têm essa idade e são mais ricos em metais. Seu
tamanho é cerca de 88% da massa do Sol e a temperatura na sua superfície é de
5.440 K, quase a mesma da estrela central do Sistema Solar, 5.778 K. Além de
ferro, foram detectados em sua atmosfera sódio, silício, cálcio e níquel,
elementos químicos em quantidade 1/10000 menor que seu conteúdo no Sol.
Em uma primeira estimativa, sua distância aproximada da
Terra é de 2.500 anos-luz. De acordo com os pesquisadores, um valor preciso
será obtido por meio do satélite Gaia, da Agência Espacial Europeia, que está
medindo a distância de muitas estrelas.
Arqueologia Galáctica
A colaboração internacional liderada por Meléndez começou
sua busca por estrelas pobres em metais relativamente brilhantes em 2013. No
ano seguinte, a equipe observou a 2MASS J18082002–5104378 com o New Technology
Telescope (NTT), do Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês), no
norte do Chile, identificando-a como uma promissora estrela muito pobre em
metais e, consequentemente, formada nos primórdios da galáxia.
“É muito raro encontrar uma estrela tão pobre em metais e
tão brilhante. Elas são preciosas relíquias para a arqueologia galáctica, para
desvendar a história da nossa Via Láctea”, destaca Meléndez.
Diante do achado, a estrela foi observada em mais
detalhes entre 2014 e 2015, usando o espectrógrafo UVES no telescópio de oito
metros de diâmetro Very Large Telescope (VLT), no Observatório Paranal do ESO,
localizado no topo do Cerro Paranal, uma montanha com 2,6 mil metros de
altitude no deserto do Atacama. A espectroscopia espalha a luz nas diversas
cores que a compõem, possibilitando observar com detalhes os elementos químicos
presentes na estrela.
Os astrônomos confirmaram, então, que a estrela tem uma
quantidade tão pequena de elementos químicos pesados que foi classificada como
ultrapobre em metais (UMP, na sigla em inglês).
A estrela 2MASS J18082002–5104378 é a mais brilhante UMP
conhecida até agora, com brilho de 11.9 magnitudes, sendo suficientemente
brilhante para ser observada com telescópios pequenos, a partir de 10 cm.
Apenas a estrela CD -38 245, descoberta há mais de 30 anos pelos astrônomos
australianos M. S. Bessell e J. Norris, tem um brilho similar. Todas as outras
estrelas UMP são pelo menos seis vezes mais fracas.
A equipe pretende agora obter observações detalhadas da
estrela no ultravioleta, com o telescópio espacial Hubble, para estudar um
grande número de elementos químicos sem a limitação da interferência da
atmosfera terrestre.
Os resultados obtidos pela equipe foram publicados na
revista Astronomy & Astrophysics, no artigo 2MASS J18082002-5104378: The
brightest (V = 11.9) ultra metal-poor star. Além de Meléndez, assinam o
trabalho Gabriel Perez e Marcelo Tucci-Maia, também do IAG-USP; Vinicius Moris
Placco, da University of Notre Dame; Iván Ramírez, da University of Texas at
Austin; e Ting S. Li, da Texas A&M University.
Fonte: Site da Agência FAPESP
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